Semana Santa
Paixão de Cristo ou traição de Judas?
Régis Sanches
regis.sanches@yahoo.com.br
Ponto culminante da Semana Santa, a Paixão de Cristo transformou-se este ano num culto a Judas Iscariotes, o apóstolo que, por 30 moedas, entregou Jesus Cristo aos soldados romanos que o crucificaram. Tudo por conta do Edital da Fundação Municipal de Cultura da Prefeitura de Macapá, considerado pelo presidente da Federação Amapaense de Teatro (FATE), Daniel de Rocha, um elemento de traição à classe artística. Ele culpa diretamente a diretora presidente da Fumcult, Márcia Correa, pelo tom discriminatório e pelo amadorismo da concorrência que, segundo Daniel, foi elaborado "à toque de caixa".
"Não estamos falando de Marabaixo ou Batuque, cultura tradicional que embala harmoniosamente o nosso povo, mas da maior história da humanidade: vida, morte e ressureição do nosso Senhor Jesus Cristo", diz o manifesto assinado pelo presidente da FATE, em desagravo ao edital.
Ele lembra que há vinte anos "o primeiro espetáculo montado em Macapá, intitulado Uma Cruz Para Jesus, serviu de inspiração para o encontro anual de atores e artistas plásticos na esquina da Fortaleza com o Rio Mar". Desde então, o movimento artístico expandiu-se e multiplicou a encenação da Paixão de Cristo em mais de 50 espaços da capital e demais municípios do estado.
De Rocha reforça que "esse processo deu-se naturalmente pelo número de pessoas interessadas no tema nos últimos vinte anos e que não teve sua origem em projeto de Governo". Ele acrescenta que "Todos os anos (não sabemos se por jus ao enredo), o movimento teatral enfrenta uma verdadeira saga para conseguir apoio financeiro para as montagens". E faz um contraponto: "Diferente do Carnaval, no qual o profano tem seu investimento garantido".
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“À toque de caixa”
Segundo o presidente da FATE, os produtores agonizavam à espera de apoio financeiro para a encenação da Paixão de Cisto, quando foram surpreendidos pelo que ele qualifica de “Edital da Traição”. “A Fundação de Cultura da Prefeitura de Macapá, responsável pelo investimento de recursos públicos no setor, ‘elaborou’ e apresentou a toque de caixa uma chamada pública, no mínimo, suspeita, para a qual foi criada uma comissão de avaliação composta por três produtores, inclusive de peças sobre a Semana Santa, onde um deles é diretor de um grupo que tem apoio privilegiado, ou seja, não precisou concorrer para a sua montagem”, acusa.
Uma das distorções apontadas pelo produtor é o valor total disponível. Segundo o edital, foram destinados R$ 80.000,00 sendo R$ 18.000,00 para logística (despesas administrativas) e o restante dividido para 20 grupos em três categorias: quatro grupos de R$ 5.000,00; seis grupos de R$ 4.000,0; e 10 grupos de R$ 3.000,00. “O curioso é que os valores apresentados não batem, quando informam R$ 18.000,00 para despesas e R$ 74.000,00 para grupos e por aí seguem as contradições”, destaca.
Daniel também criticou os “prazos extremamente sufocantes para grupos, que concorreram a uma categoria e foram rebaixados para outras (de menores valores)”. Ele diz ainda que “as demais produções foram pegas de surpresa e não tiveram tempo para se inscrever, as que foram vítimas do certame e, por fim, o tratamento que vem se repetindo na Fumcult/PMM quando o assunto é produção teatral”.
Por fim, o artista considerou que toda a classe teatral do Amapá se sentiu frustrada com esse tipo de comportamento. Por essa razão, “a Federação Amapaense de Teatro (FATE) e o Sindicato dos Artistas (Sated/AP) vêm de público repudiar essa prática tão injusta para com a cultura da nossa gente”.
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Fumcult corrige valores
MARCIA CORRÊA, DIRETORA-PRESIDENTE DA FAMCULT |
O Edital da Semana Santa foi lançado em 28 de março. A Comissão de Seleção avaliou as propostas dos espetáculos, considerando os itens: qualificação dos profissionais, qualidade técnica, plano estratégico de divulgação, alcance do público e tempo de experiência do grupo. Integraram a comissão o teatrólogo Amadeu Lobato, e os produtores, atores e contadores de história Alice Araújo e Josias Monteiro.
Segundo a comissão, o grupo com maior pontuação foi o Santarte, formado por jovens da Pastoral do Menor, do bairro Jardim Felicidade. Segundo o produtor Márcio Aires, o espetáculo vem sendo desenvolvido desde 2005. Encenado na sexta-feira, 18, o espetáculo incluiu música, dança e teatro. “Somos 80 profissionais envolvidos na apresentação, que conta a história bíblica de Jesus Cristo”, resumiu Aires. A apresentação aconteceu na arena esportiva do bairro Jardim Felicidade.
O presidente do grupo Teatração, Pedro da Silva, destacou que o edital ajudou o grupo a fazer o projeto e a organizar melhor as ações da companhia. O produtor Márcio Aires, do Santarte, arremata: “Precisamos de incentivos e recursos para realizar nosso trabalho. A cultura aqui no estado ainda não nos possibilita vivermos dela, por isso, editais como esse nos ajudam a fazer o espetáculo, os recursos são poucos e ainda sofremos discriminação. Os artistas são trabalhadores também e merecemos respeito”.
As apresentações da Semana Santa acontecem no período de 14 a 20 de abril, em espaços públicos como praças e ruas, acessível a todos.
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