sexta-feira, 25 de julho de 2014

ANTENADOS





Bem-vindo ao clube dos apáticos - 
BARBARA COSTA

 Não ganhamos a Copa. Mas isso é assunto passado. Vale mencionar, porém: Dunga está de volta. Quem ainda lembra quão zangados ele nos deixou ao guiar a seleção brasileira a mais uma daquelas derrotas sofridas?...  Mas isso também é assunto morto... Voltaremos a ele daqui a quatro anos. O que permanece da Copa, entretanto, é a conversa de que futebol compra a política.
  Nossa moeda se mostrou desvalorizada: não vencemos Copa alguma. Mas, mesmo assim, com as eleições à porta, apontam as pesquisas que a atual presidente seria reeleita, embora não tenha feito o truque do Hexa acontecer. Dilma (PT) soma 38% das intenções de voto. Aécio Neves (PSDB) tem 28% e Eduardo Campos (PSB) tem 8%. Os dados são do Ibope. 
 A corrida rumo à tomada do trono ou manutenção do cetro já esquentou. Um ano realmente espetacular para o povo brasileiro! A gente chega até a se sentir jovem de novo, em meio ao movimento, às disputas...
 Mas tem jovem que já cansou. Não se sente nada mais que vazio e distante. Para falar a verdade, aqui vai um exemplo, eu mesma não sabia quem eram os candidatos à presidência da república este ano antes de fazer uma breve pesquisa a fim de escrever este texto. 
 Eu voto há pouquíssimas eleições. Desde 2010. E o exercício já me esgotou. Existe escolha real? Existe modo de driblar as próprias falhas do sistema e conseguir que as coisas boas, úteis, necessárias sejam feitas? Existe algo na política além da disputa de poder e dinheiro?
 É estranho um jovem de 20 anos não se animar ou se importar realmente com a situação política e os entusiasmantes debates que começam a pipocar? Era de se esperar um pouco de vergonha ou embaraço que atenuassem a indiferença e o tédio, de minha parte, mas a verdade está aí como está, crua: a política repele, enoja. Deveria ser simples, deveria funcionar, mas é um jogo escorregadio e mal.
 Não, um momento. É necessário corrigir, aparar algumas arestas dessa apatia. Obviamente, não há como se desligar da realidade política e social totalmente. Você sempre se importa com a situação do país. Ou... tipo isso. Não há como evitar o pesar de nossos problemas, dificuldades, erros... Lamentar o Brasil está entranhado em nós, na rotina, nas ruminações íntimas... 
 Não deixo de me perguntar, dia a dia, quão idiota é o fato da alguém se importar e escrever, por exemplo, sobre um novo filme, uma nova moda, um novo livro, trivialidades, consumo, quando neste país uma porção imensa da população não tem dinheiro para consumir qualquer uma dessas coisas. Há alguma importância nas frivolidades da vida, ou importa até mesmo pensar sobre a importância das frivolidades da vida, se nem todos podem se dar ao luxo de deixar-se enganar por elas? Não têm como comprá-las.
 Por outro lado, faz algum sentido buscar tão implacavelmente o tema da fome no mundo, se eu, em minha miserável torre de estudos, livros, filmes, o que seja, nunca fome sofri? Nunca fui molestada, violentada, injustiçada, nunca morri.  Existe alguma verdade ou legitimidade em falar do que não se experimenta realmente na carne, só se racionaliza? E nas coisas que falam da vida, mas ignoram as mazelas? Penso nisso... E com frequência, ultimamente. Talvez seja o momento que vive o país.
 Mas o Brasil não vive momento nenhum, aí é que está. Não estamos saboreando nada politicamente especial agora. As eleições não trazem nada de novo. Viver no Brasil é ter de engolir uma eternidade política inerte fragmentada em dezenas de eventos, pingados aqui e ali ao longo dos anos, nos dando a impressão de que algo acontece, quando, na verdade, tudo o que se passa é que vamos de uma eleição a outra sem realmente alcançar a felicidade.
 Sim, por que se trata disso, não é? No final, todo ser humano, todo ser social, não deseja viver em paz, com suas liberdades e escolhas asseguradas e tudo o mais? É para isso que servem as eleições, os políticos, é para isso que servem os livros, os filmes... Para mostrar o caminho da felicidade ou garantir o acesso a ele, não? Pena que nem sempre funciona. 
 Ah! Nossa coluna talvez esteja ficando abatida demais... Por esta semana, então, estamos já terminando. Antes, contudo, cabe dizer que a completa insipidez das promessas e ambições políticas é a culpada pela minha inapetência e pela sua aí também. Não tenhamos vergonha de assumir o nosso esgotamento e total atordoamento... 
 E é ainda mais estranho pensar que um Sarney possa dizer que, ultimamente, a política, para ele, tem se mostrado "desestimulante". Ou que um Lula venha condenar a podre corrupção do país... Os nomes contra os quais costumávamos esbravejar há algumas eleições são os mesmos que nos vêm dizer agora aquilo que há alguns anos temos sentido: a política não faz ninguém feliz.

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