Bem-vindo
ao clube dos apáticos -
BARBARA COSTA
Não
ganhamos a Copa. Mas isso é assunto passado. Vale mencionar, porém: Dunga está
de volta. Quem ainda lembra quão zangados ele nos deixou ao guiar a seleção
brasileira a mais uma daquelas derrotas sofridas?... Mas isso também é
assunto morto... Voltaremos a ele daqui a quatro anos. O que permanece da Copa,
entretanto, é a conversa de que futebol compra a política.
Nossa moeda se mostrou desvalorizada: não vencemos Copa alguma. Mas, mesmo
assim, com as eleições à porta, apontam as pesquisas que a atual presidente
seria reeleita, embora não tenha feito o truque do Hexa acontecer. Dilma (PT)
soma 38% das intenções de voto. Aécio Neves (PSDB) tem 28% e Eduardo Campos
(PSB) tem 8%. Os dados são do Ibope.
A
corrida rumo à tomada do trono ou manutenção do cetro já esquentou. Um ano
realmente espetacular para o povo brasileiro! A gente chega até a se sentir
jovem de novo, em meio ao movimento, às disputas...
Mas
tem jovem que já cansou. Não se sente nada mais que vazio e distante. Para
falar a verdade, aqui vai um exemplo, eu mesma não sabia quem eram os
candidatos à presidência da república este ano antes de fazer uma breve pesquisa
a fim de escrever este texto.
Eu
voto há pouquíssimas eleições. Desde 2010. E o exercício já me esgotou. Existe
escolha real? Existe modo de driblar as próprias falhas do sistema e conseguir
que as coisas boas, úteis, necessárias sejam feitas? Existe algo na política
além da disputa de poder e dinheiro?
É
estranho um jovem de 20 anos não se animar ou se importar realmente com a
situação política e os entusiasmantes debates que começam a pipocar? Era de se
esperar um pouco de vergonha ou embaraço que atenuassem a indiferença e o
tédio, de minha parte, mas a verdade está aí como está, crua: a política
repele, enoja. Deveria ser simples, deveria funcionar, mas é um jogo
escorregadio e mal.
Não,
um momento. É necessário corrigir, aparar algumas arestas dessa apatia.
Obviamente, não há como se desligar da realidade política e social totalmente.
Você sempre se importa com a situação do país. Ou... tipo isso. Não há como
evitar o pesar de nossos problemas, dificuldades, erros... Lamentar o Brasil
está entranhado em nós, na rotina, nas ruminações íntimas...
Não
deixo de me perguntar, dia a dia, quão idiota é o fato da alguém se importar e
escrever, por exemplo, sobre um novo filme, uma nova moda, um novo livro,
trivialidades, consumo, quando neste país uma porção imensa da população não
tem dinheiro para consumir qualquer uma dessas coisas. Há alguma importância
nas frivolidades da vida, ou importa até mesmo pensar sobre a importância das
frivolidades da vida, se nem todos podem se dar ao luxo de deixar-se enganar
por elas? Não têm como comprá-las.
Por
outro lado, faz algum sentido buscar tão implacavelmente o tema da fome no
mundo, se eu, em minha miserável torre de estudos, livros, filmes, o que seja,
nunca fome sofri? Nunca fui molestada, violentada, injustiçada, nunca morri.
Existe alguma verdade ou legitimidade em falar do que não se experimenta
realmente na carne, só se racionaliza? E nas coisas que falam da vida, mas
ignoram as mazelas? Penso nisso... E com frequência, ultimamente. Talvez seja o
momento que vive o país.
Mas
o Brasil não vive momento nenhum, aí é que está. Não estamos saboreando nada
politicamente especial agora. As eleições não trazem nada de novo. Viver no
Brasil é ter de engolir uma eternidade política inerte fragmentada em dezenas de
eventos, pingados aqui e ali ao longo dos anos, nos dando a impressão de que
algo acontece, quando, na verdade, tudo o que se passa é que vamos de uma
eleição a outra sem realmente alcançar a felicidade.
Sim,
por que se trata disso, não é? No final, todo ser humano, todo ser social, não
deseja viver em paz, com suas liberdades e escolhas asseguradas e tudo o mais?
É para isso que servem as eleições, os políticos, é para isso que servem os
livros, os filmes... Para mostrar o caminho da felicidade ou garantir o acesso
a ele, não? Pena que nem sempre funciona.
Ah!
Nossa coluna talvez esteja ficando abatida demais... Por esta semana, então,
estamos já terminando. Antes, contudo, cabe dizer que a completa insipidez das
promessas e ambições políticas é a culpada pela minha inapetência e pela sua aí
também. Não tenhamos vergonha de assumir o nosso esgotamento e total
atordoamento...
E é
ainda mais estranho pensar que um Sarney possa dizer que, ultimamente, a
política, para ele, tem se mostrado "desestimulante". Ou que um Lula
venha condenar a podre corrupção do país... Os nomes contra os quais
costumávamos esbravejar há algumas eleições são os mesmos que nos vêm dizer
agora aquilo que há alguns anos temos sentido: a política não faz ninguém
feliz.
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