Cenário obscuro do governo federal
ADRIMAURO GEMAQUE
O
Governo Federal enviou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei Orçamentária
(PLOA) para 2015, que prevê quase a metade dos recursos somente para juros e
amortizações da dívida pública. O valor destinado à dívida em 2015 sofreu
aumento de 35% em relação ao previsto em 2014. No PLOA para 2015, foi previsto
um total de despesas de R$ 2,863 trilhões, das quais R$ 1,356 trilhão (47%)
destinam-se ao pagamento de juros e amortizações da dívida pública (PLOA 2015,
pág 97). Este valor representa 13 vezes os recursos previstos para a saúde, 13
vezes os recursos previstos para educação, ou 54 vezes os recursos previstos
para transporte (PLOA 2015, pág 181), segundo a Auditoria Cidadã da Dívida.
Este
projeto prevê também aumento do salário mínimo (acima da inflação indicada pelo
IBGE) de apenas 2,3%. Mantendo-se este ritmo, serão necessários 61 anos para
que o salário mínimo atual (R$ 724) atinja o salário exigido pela Constituição
(R$ 2.915,07, de acordo com o cálculo do DIEESE), capaz de atender às
necessidades vitais básicas dos trabalhadores e às de sua família com moradia,
alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e
previdência social.
A
eterna justificativa oficial para este aumento pífio é que a Previdência Social
não teria recursos para aumentar as aposentadorias. Entretanto, a Previdência
está inserida na Seguridade Social (composta também pelas áreas de saúde e
assistência), e esta apresenta superávit gigantesco, de mais de R$ 70 bilhões
por ano. O problema é que o governo utiliza a maior parte do orçamento federal
para pagar a questionável dívida pública, interna e externa.
Dos
R$ 1,356 trilhão previstos para o pagamento da dívida em 2015, R$ 868 bilhões
(64%) são apresentados como sendo “refinanciamento” da dívida (PLOA 2015 , pág
II), valor este que é constantemente desprezado por analistas neoliberais e
pessoas ligadas ao governo, alegando que se trataria de uma mera “rolagem”, ou
seja, o pagamento de amortizações (principal) da dívida por meio da emissão de
novos títulos. Segundo estes especialistas, isto representaria apenas a troca
de títulos velhos por novos, sem custo para o governo.
A
CPI da Dívida que foi instalada em 2009 e teve seus trabalhos concluídos em
2010, na Câmara dos Deputados, revelou que grande parcela da “rolagem” não
representa o pagamento de amortizações, mas sim, o pagamento de juros, sendo
que o governo não divulga tal parcela. Além do mais, se a atual questionável
dívida não existisse, as novas dívidas, que estão sendo feitas para pagar a tal
“rolagem”, poderiam servir para investimentos nas diversas áreas sociais.
O
Estoque da Dívida Pública do Brasil, referente a dezembro de 2013, apresentou
os seguintes números: a dívida interna alcançou 2,986 trilhões de reais,
enquanto que a dívida externa atingiu a cifra de 485 bilhões de dólares. Em
2014, até 14/05, a dívida já consumiu 460 bilhões de reais (54%) dos gastos do
governo federal. Portanto, considerando apenas 4 meses e meio deste ano, o
governo federal gastou com a dívida pública uma proporção maior do que os 47%
estimados para 2015.
Em
plena campanha eleitoral para as eleições gerais de 2014, apenas dois
candidatos se manifestaram em relação ao pagamento da dívida pública. Este tema
não é abordado nos debates pelos presidenciáveis que estão alinhados com o
financiamento de campanha ligado a grandes conglomerados financeiros. Não
coincidentemente, são candidatos “nanicos”, isto é, que não aparecem à frente
nas pesquisas, os únicos que já abordaram este tema, porém, as perguntas e as
respostas ficaram entre eles, parecendo evitar incomodar os favoritos.
Por
conta do pagamento de juros da dívida, o governo federal promove corte nos
orçamentos dos ministérios e, por conseguinte, nos órgãos a eles vinculados. Os
órgãos federais vinculados ao executivo estão sucateados. Não há recursos para
investimentos em equipamentos, viaturas e capacitação de servidores, muito
menos para a contratação de novos servidores para repor os quadros atuais que
estão aposentando. Para demonstrar esta realidade tomo como exemplo o
IBGE. O orçamento previsto pelo
Instituto, através do PLOA 2015, era de R$ 766 milhões. Sofreu um corte de R$
562 milhões (73%), que seriam destinados à Contagem da População 2016 e ao
Censo Agropecuário 2015, pesquisas de importância relevante, e que trará, caso
este corte não seja revisto, sérios prejuízos aos diversos segmentos da
sociedade. O IBGE vai fechar 2014 com orçamento em torno de R$ 193 milhões,
enquanto o orçamento de 2015, permanecendo inalterado, ficará em 204 milhões de
reais (Portal G1,02/09).
O
debate sobre o pagamento da dívida pública tem que ser ampliado. Não observamos
dentro do Congresso Nacional qualquer discussão depois da CPI da Dívida. O Brasil vive há muitos anos sangrando suas riquezas para pagar os
juros da dívida, deixando de investir em vários setores que certamente
contribuiriam com o bem estar e a melhoria das condições de vida da população.
Portanto, temos que ir fundo na investigação do processo de endividamento
brasileiro. A dívida pública impede investimentos em educação, saúde, ciência,
tecnologia, agricultura familiar, reforma agrária, criação de emprego e renda,
como também a construção de casas e obras de saneamento básico.
Adrimaurop Gemaque
(adrimaurosg@gmail.com)
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