A política
de “fazer mais com menos” e o estrangulamento do IBGE
Logo após a retificação de
dados da PNAD 2013, o IBGE voltou ao noticiário nacional. A Presidente do órgão
pediu desculpas e assumiu os erros; a ministra do Planejamento considerou “inadmissível”
a situação; e a Presidente Dilma se disse “surpresa”. Afirmou ainda que “a
história do sucateamento [do IBGE] há que ser provada”.
A
sociedade cobra esclarecimentos a respeito do acontecido. Para contribuir com o
debate, a ASSIBGE – Sindicato Nacional vem a público informar sobre os motivos
que estão levando o IBGE a uma crise institucional e apontar soluções concretas
para sua superação.
Orçamento
para as pesquisas caiu nos últimos anos*
Em
2007, o orçamento empenhado do IBGE foi de 1.464,6 milhões (R$ 1,5 bi). Em
2013, foi de 1.889,5 (R$ 1,9 bi). Nesse meio tempo, de maneira geral, pode-se
dizer que o orçamento do IBGE, em termos nominais, esteve estagnado, com
exceção do ano de Censo (2010), que exige naturalmente mais recursos, e do ano
em que foi operada a Pesquisa Nacional de Saúde (2013).
Atualizando
o orçamento para valores de 2013, considerando que a inflação do período,
medida pelo IPCA, foi de 45,9%, vemos que, como a evolução do orçamento do IBGE
nestes anos, em termos nominais, foi de 29%, há uma QUEDA REAL no orçamento
empenhado do IBGE nos últimos anos de 11,6%.
Se
formos desmembrar o orçamento do IBGE neste mesmo período, veremos que as
despesas com pessoal e encargos subiram 22%, em termos reais (cresceram de R$
927,7 milhões para R$ 1.648,3 milhões, variação nominal de 77,7%) . Entretanto,
o restante das despesas, que é o que impacta na realização das pesquisas, para
o cumprimento cotidiano do plano de trabalho da instituição, teve uma queda
real de 69,2% (passou de R$ 536,9 milhões para R$ 241,2 milhões, queda nominal
de 55,1%).
A
rubrica para custeio das pesquisas abriga os valores de remuneração dos
trabalhadores temporários. A impressionante queda real no orçamento das
pesquisas se deu justamente no período em que houve massificação do trabalho
temporário no IBGE (menos de 2.100, em 2007, para mais 4.800, em 2013), o que
demonstra também a deterioração das condições salariais de uma parcela
crescente da força de trabalho do instituto.
Essa
era a situação até 2013. Em 2014, o IBGE sofreu um primeiro corte orçamentário
em março e um segundo em setembro. Quanto a este último corte, o IBGE
solicitara a inclusão de R$ 776 milhões no Orçamento de 2015 para a realização
das pesquisas previstas para o pr óximo período. No entanto, no fechamento da
Lei do Orçamento Anual, o governo cortou cerca de R$ 572 milhões, reduzindo a
menos de um terço o montante inicialmente previsto para as pesquisas,
provocando o adiamento da Contagem Populacional e do Censo Agropecuário. Cabe
lembrar que o corte orçamentário para o ano de 2014 já havia provocado o
adiamento da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), atrasando em dois anos a
atualização dos padrões de mensuração da inflação de acordo com a cesta de
compra das famílias brasileiras.
A
mesma ministra que hoje considera “inadmissível” o erro de divulgação da PNAD
2013 foi responsável pelo corte de verbas do IBGE para 2015. A mesma Presidente
do IBGE que hoje pede desculpas, justificou o corte afirmando que “não estamos
numa redoma” e que “o IBGE não é uma ilha”. E a mesma Presidente da República
que afirma que não sabe “quem inventou o sucateamento do IBGE”, pode encontrar
nesses dados, dos quais dispõe, uma boa pista de resposta.
Mais
trabalho com menos pessoal capacitado
De
acordo com dados do próprio governo/IBGE, em 1989 o IBGE contava com 13.500
servidores, cerca de 2.200 de Nível Superior e 11.300 de Nível Intermediário.
Em agosto de 2014, o IBGE contava com 5.999 servidores efetivos, dos quais 61%
(3.667) têm mais de 26 anos de serviço e 42% (2.492) têm mais de 31 anos de
serviço. São servidores que estão saindo do IBGE.
Dilma
afirma que contratou 834 servidores efetivos no IBGE em seu governo. É verdade.
Só que as vagas abertas por concurso público no IBGE em todo o Governo Dilma
mal cobrem as aposentadorias que aconteceram desde o ano passado. E de acordo
com o próprio IBGE, cerca de 30% dos novos servidores que ingressaram nos
últimos anos por concurso deixaram o IBGE, sobretudo porque a carreira é pouco
estimulante e os salários s ão baixos, em comparação com outros órgãos da
administração pública.
A
falta de força de trabalho efetiva (concursada) tem sido suprida com a
contratação incessante de trabalhadores temporários, com salários aviltados
(cerca de R$ 1.000,00), que atuam em pesquisas contínuas e tamb ém acabam
assumindo os mais diversos tipos de tarefas para as quais não há previsão no
edital do processo seletivo a que são submetidos. A instabilidade envolvida
neste tipo de contrato impede a elaboração e consecução de uma política de
recursos humanos focada na formação e capacitação permanente do quadro técnico.
A
pressão pelo aumento de produtividade em um contexto de estrangulamento
orçamentário, esvaziamento do quadro técnico, desmotivação provocada pelos
baixos salários e pouca participação nas decisões são as variantes
determinantes no processo de precarização do IBGE, que aumentam as
possibilidades de erros e, com o tempo, podem colocar em risco a qualidade das
informações.
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