Vida de procrastinador
O processo criativo de uma pessoa que deixa tudo pra depois é uma das
coisas mais torturantes já experimentadas pelo homem. Porque procrastinar,
embora às vezes garanta um resultado mais aprimorado (ou apenas apressado e
desleixado, mas deixemos isso de lado), não faz nada mais do que ferrar com
nossa sanidade.
Antes mesmo de vislumbrarmos o sucesso em qualquer coisa, junto ao
trabalho duro e à força de vontade, lá está a nossa inabilidade em pôr em
prática. Quem vê de fora pode pensar que um procrastinador nada mais é do que
um preguiçoso inveterado. Está enganado. Sim, normalmente há também preguiça,
mas procrastinar envolve todo um processo de angústia e desespero que um
simples deixar de fazer não contém.
Porque quem procrastina quer fazer, quer produzir, e sabe que, de uma
forma ou de outra, vai ter que cumprir com a obrigação. Mas simplesmente
não consegue fazer isso num tempo normal. Nosso tempo é dilatado. Daí os
atrasos de prazo, as noites mal dormidas ou não dormidas e a culpa persistente.
Eu, por exemplo, que escrevo para o jornal e constantemente para a
faculdade, normalmente, na preparação emocional antes de um texto, levo uma
semana inteira. Procrastinadores sabem bem o que é a preparação emocional. É
aquele momento em que você vai da dificuldade de encontrar uma ideia razoável
até construir o gás de pô-la em prática e aí ter de encontrar forças para pegar
o lápis ou ligar o computador e então passar mais um infinito tempo pensando em
como pôr aquelas coisas todas no papel. Comigo já aconteceu de levar três meses
me preparando para escrever um texto e no final só conseguir produzi-lo na
véspera da entrega.
Eu estava mergulhada numa dessas ondas de procrastinação, estourando o
prazo desse artigo que você lê agora, e não conseguia botar nada para fora.
Comecei a procurar assuntos interessantes e de repente me encontro no Google
pesquisando tudo sobre os dissabores e barracos entre Adriane Galisteu e Ana
Hickmann. Não me pergunte como.
Acordada desde meia-noite. Quando vi, já eram nove da manhã. Resolvi
então sair do claustro do quarto, procurar algo que me inspirasse. Rumei para
um café, ao melhor estilo parisiense de obter inspiração. Alguns minutos após
isso, aqui estou eu. Tomei um frappé de capuccino no café que na verdade é um
supermercado e começo a escrever no espacinho apertado da tela do celular,
porque levar o computador debaixo do braço seria utópico demais.
E, alguns goles depois, o texto sai. Eis-me aqui, escrevendo sobre nada, mas escrevendo. O mais angustiante, porém, é pensar que não posso fazer das idas ao café uma rotina, uma vez que, integrada ao dia a dia, perderia o efeito e seria só mais um obstáculo à sempre desafiante tarefa de produzir um texto. Mas... Esta semana escapei. Essa é a vida de um procrastinador.
E, alguns goles depois, o texto sai. Eis-me aqui, escrevendo sobre nada, mas escrevendo. O mais angustiante, porém, é pensar que não posso fazer das idas ao café uma rotina, uma vez que, integrada ao dia a dia, perderia o efeito e seria só mais um obstáculo à sempre desafiante tarefa de produzir um texto. Mas... Esta semana escapei. Essa é a vida de um procrastinador.
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