sexta-feira, 24 de outubro de 2014

ENTRELINHAS







Reeleição e aprendizagens


O candidato à reeleição é, via de regra, consideravelmente beneficiado ao disputar um processo eleitoral. Os pleitos ocorridos desde que o mecanismo foi adotado demonstram isso. Aqueles que concorrem à reeleição começam a disputa com ampla vantagem ou conseguem crescer ao longo do processo na medida em que apresentam as realizações de seus governos. E, em consequência, a reeleição é obtida na grande maioria dos casos. No pleito de 2014, pelo menos no que tange ao cenário federal e ao Amapá, essa regra parece não ter sido seguida uma vez que os principais institutos de pesquisa apontam Camilo consideravelmente atrás de Waldez e Dilma sem conseguir distanciar-se de Aécio. Os resultados finais das urnas podem surpreender e desbancar os institutos, mas ainda assim, é interessante, considerada cada eleição em seu contexto, buscar razões que justifiquem a exceção à regra.
No Amapá, o PSB historicamente entra em processos eleitorais com pelo menos 30% das intenções de voto, independente do candidato apresentado para a disputa. No pleito de 2014, apesar de Camilo estar no governo, que como vimos costuma beneficiar os candidatos à reeleição, e estarmos próximos da votação do segundo turno, portanto com a campanha plenamente realizada, as pesquisas eleitorais indicam que a ele se destinarão pouco mais de 30% dos votos. Ou seja, candidato à reeleição, chefe do executivo estadual, mostrando em campanha todas suas realizações dos últimos 4 anos e enfrentando Waldez, sobre o qual repousa pesadas críticas e denúncias de corrupção e desvio de recursos públicos, ainda assim Camilo com muita dificuldade ultrapassa o valor que costumava ser o percentual inicial de voto do seu partido.
Dentre as razões apontadas para tanta dificuldade, costumam ser apontadas características pessoais de Camilo no trato com as pessoas, a quem costumam diferenciar de seu pai, e uma dificuldade em negociar que se mostrou evidente no caso da nomeação do reitor da UEAP e no confronto com várias categorias profissionais do estado, cujo ápice ocorreu na negociação com os professores do estado. É cedo para supor que Camilo tenha queimado o partido, mas parece relativamente claro que tenha se desgastado pessoalmente para o cargo executivo. Lógico que, considerando os militantes que o PSB e os Capiberibe têm no Amapá, Camilo deve continuar granjeando eleições como parlamentar, mas a menos que novos elementos venham mudar o contexto atual, parece que sua possibilidade de retorno ao executivo em um curto espaço de tempo recai dentro de um cenário muitíssimo desfavorável.
As dificuldades de Dilma, que diferente de Camilo provavelmente ganhará as eleições, apresentam semelhanças e diferenças com o caso do governador. Primeiro, enquanto o PSB assumiu o governo inesperadamente na esteira das ações da PF que desnudaram a corrupção na gestão do PDT, Dilma assumiu na bonança dos 8 anos de Lula. Apoiada na avaliação do governo e no carisma do então presidente, Dilma não teve maiores problemas para sua primeira eleição. Assumida a presidência, suas ações seguiram na lógica de um partido que aceitou ser o gerente do capital para assumir o poder, conforme a Carta ao Povo Brasileiro de 2002 (melhor dizer Carta ao Mercado) deixa explícito. Passa então, a executar ações que os partidos da ordem liberal vinham enfrentando dificuldades para executar e promove uma série de reformas que vão afetando as classes trabalhadoras sempre no sentido de retirada de direitos. A exemplo de Camilo e sem o carisma de Lula, Dilma se desgasta ao ser intransigente na negociação com os trabalhadores do serviço público e faz crescer um rechaço ao PT, que os militantes querem crer resultado apenas da influência da grande mídia. Embora essa tenha seu papel, não podem ser minimizadas as consequências das opções e escolhas adotadas pelo partido.
A lógica de governança durante os 12 anos do PT no executivo federal foi atender os interesses do capital, priorizando o pagamento da dívida e a (ir)responsabilidade fiscal, enquanto adotava algumas ações de ordem assistencialista. Essas não vieram acompanhadas por políticas de efetiva redistribuição de renda que permitissem uma efetiva superação da pobreza. O PT sofreu um desgaste ao manter-se na corda bamba para atender o capital enquanto fazia pequenas concessões aos mais desfavorecidos para atender suas alas mais radicais e minimamente fazer jus ao seu passado. Assim, apesar de todos os esforços de Dilma e do PT, o capital voltou a olhar com carinho para a chance de colocar seu filho mais querido, no caso, o PSDB, de volta ao controle do país. E, na medida em que a conjuntura indicou que essa era uma possibilidade efetiva, eles apoiaram o retorno via Aécio, mas sem abrir mão do PT que, como indicam as pesquisas, pode continuar no poder.
Quaisquer que sejam os resultados das urnas neste domingo, vença Dilma ou Aécio, Camilo ou Waldez, cabe àqueles que estiveram disputando uma reeleição analisar com calma as razões que tornaram tão difícil a permanência no cargo, mesmo quando essa é a regra. Há vários fatores a considerar, mas características pessoais, dureza no trato com os servidores e retiradas de direitos parecem ser significativos como elementos do processo. Certamente cada partido fará sua análise e as aprendizagens virão. Espera-se que as aprendizagens sirvam para que políticos e governantes (os que se elegerem neste domingo e no futuro), pelo menos aqueles que se consideram socialistas e mais a esquerda do espectro, passem a olhar e tratar a população com um pouco mais de carinho e consideração.

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