O SAPO DA
PRAÇA BARÃO
(Crônica de Carlos Bezerra)
Há muitos anos, havia na Praça Barão do Rio Branco,
um sapo. Esclareça-se que não era um sapo qualquer. Era um senhor sapo. Um sapo
rotundo. Provavelmente, o maior do mundo.
Pois não é que, como tantas outras coisas neste
Amapá, que já teve de tudo um pouco, o sapo sumiu! E sumiu prá nunca mais
voltar. Se voltou, ninguém sabe, ninguém viu.
Talvez meus poucos leitores estejam estranhando a
súbita saudade que me deu de um sapo. Não outro sapo, repito, mas este sapo.
Acontece que o sapo em referência , como se diz em
linguagem burocrática, ficava bem em frente à antiga agência dos Correios,
situada na Praça Barão, e era feito de cimento. Não o Barão, mas o sapo,
esclareça-se.
Era uma escultura. Sem muito valor artístico é
verdade, mas depois de um tempo, até mesmo um sapo de cimento pode ser cultura.
Se o bumbum da Carla Perez é cultura, por que não o sapo da Praça Barão? E
agora, pergunto de modo um tanto quanto sherlokiano: onde andará o sapo da
Praça Barão? Dolorosa interrogação, porque duvido que alguém saiba.
A mesma pergunta poderia ser feita para tantas
coisas que sumiram, ou na esteira do sapo, ou quem sabe, por uma porta do
tempo, para outra dimensão sequer suspeitada ainda, como o farol da Fortaleza
de São José e os leões de bronze do antigo Fórum.
Os atuais leões são muito parecidos, mas não são
originais. Quem sabe, são clones em gesso dos leões de bronze? Que sei eu de
clones e de leões que perderam a sua masculinidade? Estes são leões pouco
sérios, porque perderam nas mãos de algum escultor beato, eu disse beato,
aquele penduricalho anatômico, na maioria das vezes inservível, que a maioria
dos homens carrega apenas para fazer peso.
Na esteira do sapo e dos leões de bronze, foram-se
também a palmeira que ficava no centro da Praça Barão; os coqueiros que ficavam
em frente ao antigo Fórum; os prédios antigos, varridos pelo vento da
modernidade, misturado com a burrice patogênica dos que sempre nos governaram;
o chafariz da Praça Veiga Cabral, e tantas outras coisas que fizeram com que
Macapá, um dia fosse chamada de "A cidade joia da Amazônia".
Hoje, não somos mais uma joia. Quando muito, uma
bijuteria. Própria das zonas francas da vida.
Convém não esquecer que, tudo indica, tenha sumido,
também na esteira do sapo, dos leões, do farol, da palmeira e dos coqueiros, a
nossa antiga vergonha na cara, a nossa honestidade intrínseca, o nosso modo
misto de altivez e simplicidade, a nossa fé de que um dia as coisas poderiam
ser bem melhores.
Tudo foi embora. Não se sabe como nem para onde. Um dia iremos nós
também. Publicada no livro
"Nossa História - Empresas, Instituições e Personalidades", de Yuri
Bezerra,
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