Acredito que o jornalismo amapaense deve muito ao Hélio Pennafort.
Trabalhei com ele no jornal do Luiz Melo e confesso ter aprendido muito com
essa convivência. O Hélio nasceu no Oiapoque, onde também começou sua produção
jornalística e literária, através do Jornal Vaga-lume. Foi repórter de A Voz
Católica, Rádio Educadora São José e TV Amapá além de ter publicado diversos
livros e escrito e dirigido curtas metragens e documentários para televisão com
temas regionais.
Atuou como correspondente do Jornal do Brasil e foi colaborador do Jornal da Tarde e de O Estado de São Paulo, sem falar que foi um dos nossos maiores cronistas. Aliás, não existe melhor forma de homenagear o Hélio do que registrando suas divertidas histórias.
Atuou como correspondente do Jornal do Brasil e foi colaborador do Jornal da Tarde e de O Estado de São Paulo, sem falar que foi um dos nossos maiores cronistas. Aliás, não existe melhor forma de homenagear o Hélio do que registrando suas divertidas histórias.
PP-CCM
Essa foi contada ao Hélio pelo comandante João Batista Oliveira Costa,
sobre um fato que presenciou no antigo aeroporto de Macapá.
"Aconteceu no dia 23 de janeiro de 1958, quando esperávamos o avião
da Cruzeiro, na época um DC-3, que levaria para o Rio de Janeiro o corpo do
deputado Coaracy Nunes, morto dois dias antes num desastre de avião no Carmo do
Macacoari.
Havia muita gente no aeroporto e a tristeza era geral. Quando o avião
estacionou, o Jomar Tavares (que quando morou por aqui foi jogador, juiz e
técnico de futebol) conversava com mais dois na minha frente. De repente ele se
espantou ao reparar o prefixo do avião: PP-CCM.
Tomado de superstição, ele apontou para a aeronave, avisando a seus
parceiros que muita coisa ruim poderia acontecer ao Território. É que já ouviu
falar que coisa boa não acontece quando uma tragédia pode ser reproduzida por
um grupo de letras que, coincidentemente, se tornem visível no momento.
E tornou a mostrar o prefixo do aparelho. "Não estou te entendendo,
Jomar, que é que tem a ver o futuro do Território com o prefixo do avião",
disse um dos amigos. Jomar segurou o amigo pelo braço e explicou: O prefixo do
avião é PP-CCM, que em linguagem aeronáutica significa "Papa Papa -
Charlie Charlie Mike", mas o diabo que pode significar também: PUTA PARIU
- COARACY CAIU MACACOARI."
Cordeiro Gomes
O Hélio também conta uma história do Carlos Cordeiro Gomes. Figura
simpática e bastante popular, Cordeiro Gomes recebeu certa vez o convite para
interpretar um tirano capitão-do-mato, numa peça em que se questionavam esses
conflitos de terras, escrita por um colega seu, já falecido.
Esse colega, além de autor da peça, representava o papel de um caridoso
engenheiro agrônomo que teve de se defrontar com as maldades do coronel dono da
terra - e patrão do personagem de Cordeiro -, em defesa dos pobres posseiros.
Em determinada cena, o coronel manda o seu capitão-do-mato (Cordeiro)
aplicar um corretivo no engenheiro (o poeta autor da peça). Cordeiro não se fez
de rogado. Usufruindo tudo que tinha direito de sua vida artística, pronunciou
com muita empostação de voz uma dúzia de palavras ofensivas, pegou uma chibata
de umbigo de boi e bateu pra valer no franzino ator.
Mas bateu mesmo, bateu forte, tanto que o cara não aguentou e em cena
aberta pulou para fora do alcance do Cordeiro e perguntou gritando: "Ei,
Cordeiro, por que toda essa porrada?" E o cordeiro: "É pra ti
aprender a escrever, seu porra."
Abenetando
Essa outra, o Hélio chega a registrar num de seus livros. Começa assim:
"Tamanha quaresma e me aparece no Bar do Abreu um carnavalesco
saudoso do período de esbórnia. "Minha escola perdeu" - dizia
choroso. "Mas perdemos por uma picica, picica mesmo. Os nossos brincantes
pareciam que estavam todos baçudos".
Tradução às crianças. Picica: má-sorte, erra-quando-pensa-que-acerta.
Baçudo: fora de forma, cansaço que vem acompanhado de uma dorzinha à altura do
baço, também conhecida como dor-de-veado.
E aqui vai uma estorinha que pode ter alguma coisa de picica. Levado por
amigos, o Fernando Canto participou de uma animada festança lá para as
"blelbas" do furo do Assacu. Conhecendo a rígida disciplina que
nesses lugares impera no salão, Fernando, depois de muita excitação, conseguiu
aproximar-se de uma brejeira cabocla, triste e solitariamente encostada na
desnivelada parede de paxiúba:
- A senhorita me permite esta contradança?
- O que?
- Vamos dançar?
- Num dá. Eu só danço abenetando.
Fernando encabulou. Desencabulou. Novamente convidou. Mas qual... a dama
encasquetou:
- Já disse, só danço abenetando.
Sociólogo de vastos recursos, imaginou tratar-se de algum passo novo e,
quem sabe, poderia adaptar-se a ele no decorrer da contradança. Insistiu: - Mas
sim, vamos dançar?
- De novo? Puxa, só danço abenetando.
- Pois eu sei dançar abenetando.
- Mas quando?... A Bené num tá."
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