Waldez
retoma diálogo transfronteiriço
Reinaldo Coelho
O
governador do Amapá, Waldez Góes, recebeu no Palácio do Setentrião, o ministro
conselheiro da Embaixada da França, Gael de Maisonneuve. A reunião com a
comitiva francesa teve como objetivo definir data e local da visita do
embaixador francês ao Estado para
participar do Encontro da Cooperação Transfronteiriça Brasil - França/Amapá -
Guiana.
O
encontro contou com a presença dos secretários de Estado e representantes de
entidades da área do comércio e empreendedorismo. Durante a reunião foram
abordados temas como: a abertura da ponte binacional, rediscussão de
intercâmbio na educação, desenvolvimento econômico e social, comércio
bilateral, banda larga e saúde.
O
vice-presidente da Federação do Comércio do Amapá e presidente do Sindicato dos
Móveis e Eletrodomésticos no Amapá. Jaime Nunes afirmou que as entidades do
comércio estão dispostas a buscar um acordo para aproximar a Guiana do Amapá.
"Nós temos grandes potenciais tanto aqui, quanto na Guiana Francesa. Tenho
certeza de que nossas entidades da área do comércio estarão dispostas a buscar
um acordo para nos aproximar a Guiana",
Para
o secretário Jorge Amanajás uma prioridade para o sucesso da cooperação é a
estruturação da Zona Franca. O secretário de Relações Institucionais, Jorge
Amanajás, tratou das relações comerciais possíveis entre Amapá e Guiana.
Explicou também que é preciso trabalhar a regulamentação da zona franca e que a
abertura da ponte binacional traria desenvolvimento para os dois lados da
fronteira. "Nós buscaremos os mercados consumidores mais próximos na
América do Sul, dentre eles a Guiana Francesa. Poderíamos comercializar
produtos do Brasil inteiro pela fronteira do Amapá", afirmou Jorge.
Gael
de Maisonneuve também apresentou pautas em que a França sente dificuldades ao
tratar da relação Amapá - Guiana. Ele afirma que um dos maiores problemas é a
criação constante de garimpos no território francês, e que a facilitação ao
acesso transfonteiriço envolve uma série de fatores e problemáticas sociais.
"É
um desejo da França fortalecer a relação com os países latinos. Já firmamos
vários acordos e trabalhamos a participação da Guiana Francesa no
Mercosul", explicou o Ministro Conselheiro da Embaixada Francesa.
Amapaenses
não tem reciprocidade no acesso a Guiana Francesa
Amapaenses terão que
emitir novo documento para entrar na Guiana
A mobilidade de
brasileiros e franceses entre o Estado do Amapá e a Guiana Francesa terá mais
um obstáculo a ser ultrapassado a partir de 2 de fevereiro e que a partir desta
data os amapaense terão que ter uma nova documentação para entrar na Guiana
Francesa.
Os moradores de
Oiapoque, a 590 quilômetros de Macapá, terão que entrar com pedido de expedição
de um novo documento para poder transitar em Saint-Georges, cidade na divisa
entre o Amapá e Guiana Francesa. Um acordo entre autoridades do Brasil e da França
resultou na exigência da carta transfronteiriça, autorização dada aos cidadãos
oiapoquenses para poderem entrar em território francês.
Até a data de validade
da medida, o trânsito de pessoas por apenas um dia continua livre entre as duas
cidades. O novo documento permite que o morador de Oiapoque possa circular por
um dia em Saint-Georges. A autorização, no entanto, será emitida apenas aos
habitantes com mais de um ano na cidade, no extremo Norte do Amapá. A mesma
regra será adotada às pessoas da cidade francesa em visitas a Oiapoque. A
medida desagradou os comerciantes, que tentam viabilizar o apoio da bancada
federal do estado amapaense para revisão do acordo, em Brasília.
O presidente da
Associação Comercial de Oiapoque (Acoe) Joacyr Rabelo diz que a carta
transfronteiriça afetará a economia local porque os consumidores mais rentáveis
de Oiapoque são turistas franceses que utilizam o município amapaense como
entrada em território brasileiro.
"Nossos
compradores não são os moradores de Saint-Georges, mas os turistas que usam
esse percurso e não tem um ano habitando a cidade francesa, algo que
impossibilita emitir a carta", explicou.
O mesmo efeito teria o
comércio de Saint-Georges, que tem os brasileiros em trânsito como os maiores
consumidores, segundo a Acoe. Para retirar a carta transfronteiriça para Guiana
Francesa, a pessoa deve morar ao menos um ano em Oiapoque, com apresentação de
comprovante de residência; e estar em dia com a Justiça Eleitoral. O documento
é emitido pela Polícia Francesa. Em caso de falta de cumprimento dos critérios,
o brasileiro poderá entrar em território francês somente com o visto.
Acordo
prejudicial ao Amapá
Um acordo bilateral
específico entre França e Brasil, dedicado a ampliar os esforços conjuntos
contra a exploração ilegal de ouro, foi assinado em 2008, pelos então
presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Nicolas Sarkozy, e ratificada no fim de
2013. O ato da assinatura ocorreu no lançamento da obra de uma ponte unindo os
dois países sobre o Rio Oiapoque, que até hoje não foi inaugurada.
Pelo acordo os países
deverão atuar em conjunto contra o garimpo ilegal de ouro em uma faixa de 150
quilômetros em ambos os lados da fronteira entre a Guiana Francesa e o estado
do Amapá. A aprovação do pacto pela Câmara e pelo Senado aconteceu após cinco
anos de tramitação, graças à passagem do presidente francês François Hollande
pelo Brasil. E não obteve apoio de alguns parlamentares do Amapá e os
amapaenses não foram consultados, principalmente os que vivem naquela região
fronteiriça.
Essa situação do
menosprezo da união com as terras amapaenses, que são negociadas ao bel prazer
do governo federal e falta de pulso dos governantes amapaense e que fizeram que
fossem criados o Parque do Tumucumaque, sem o conhecimento dos cidadãos e as
prometidas compensações até hoje não chegou aos municípios atingidos.
Agora é o município de Oiapoque
que de acordo com os ambientalistas de plantão “a extração ilegal do ouro
ameaça a preservação do patrimônio ambiental do Planalto das Guianas e
compromete a saúde e a segurança das populações que extraem os seus meios de
subsistência da floresta” e por isso os países “se comprometeram a implantar um
regime interno completo de regulamentação e controle das atividades de pesquisa
e lavra de ouro nas zonas protegidas ou de interesse patrimonial”.
Um ano depois da
declaração da ‘guerra do ouro’ o que se observa é uma paralização total dos pactos.
O Amapá, único estado afetado pela convenção, onde seus cidadãos reclamam que o
texto não foi previamente debatido com a população e coloca em risco a
soberania nacional, por permitir a atuação de força policial francesa em
território brasileiro. O texto prevê confisco e destruição de bens utilizados
na extração clandestina de ouro dentro da faixa de 150 km de cada lado da
fronteira.
Um dos maiores
combatentes a não aprovação do acordo foi o desembargador Gilberto Pinheiro.
Marcou presença em todos os debates e enriqueceu-os com o seu vasto conhecimento da Legislação Ambiental
nacional e internacional, pois é constantemente convidado para eventos onde são
debatidos os assuntos que envolvem o meio ambiente e a sociedade.
O desembargador do TAJP, falou à reportagem
sobre o Acordo entre Brasil e França da mineração e o uso de mercúrio nos
garimpos fronteiriços:
“Esse Acordo, como
tantos outros acordos, eles não nos ouviram. Nenhum parlamentar, ninguém foi
ouvido da região, foi de cima pra baixo, igual chuva que chega e cai. Segundo,
vai acabar com o transporte fluvial, com o transporte de ouro. Mas a minha
preocupação não é só isso, é também com as exceções que estão ali e os tipos
abertos que dependem de subjetivismo. O que é a extração ilegal? E além de
alguns termos de destruição de objetos, por exemplo, aqui no Brasil quando nós
apreendemos um carro, apreendemos um avião ilegal, ninguém destrói. E nós
estamos colocando isto, que não existe no nosso ordenamento jurídico. Então,
nessa cooperação que nós estamos aqui, isso precisa ser estudado, não podemos
assinar um Acordo desses, porque se nós assinarmos, na realidade, é como se
fosse um cheque em branco”.
Violência
na fronteira
Pois a policia francesa,
que tem nesse acordo seu maior aliado e é considerada rigorosa, chegando a
provocar baixas de dois lados. Em junho de 2012, dois militares franceses foram
mortos e dois foram feridos. Em abril do mesmo ano, cerca de 100 garimpeiros
brasileiros foram presos na Guiana Francesa. Já em 2010, outros 1.500
estrangeiros em situação irregular haviam sido presos. Em 2013, um barqueiro
brasileiro foi morto por um policial francês na Guiana. Ele estaria
transportando produtos clandestinos para um garimpo.
O garimpeiro João Leno
Bogonha da Silva, 36 anos, estava trabalhando em um garimpo chamado Pedral, na
Guiana Francesa. Já havia conseguido 29 gramas de ouro quando a polícia abordou
o local, queimou barracos e motores. Leno ficou só com a roupa do corpo. “A
polícia queimou minha carteira de identidade, carteira de reservista e o meu
passaporte. Ficamos o dia inteiro em uma canoa para só então sermos levados
para o Oiapoque”, lembrou.
Leno trabalhou na
limpeza de uma lanchonete para poder conseguir R$ 40,00. Com muita dificuldade
conseguiu chegar em Macapá. “A humilhação é grande”, reclama. Para complementar
a renda, ele atua como flanelinha, guardando carros na região da rodovia
Juscelino Kubitschek, próximo do Marco Zero do Equador.
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Comércio
entre os dois estados (Amapá x Guiana francesa)
A ponte sobre o Rio
Oiapoque pode ser um meio de crescimento do comercio e do turismo entre os dois
países. Afinal, os países abrigam o maior bloco de florestas tropicais
preservadas do planeta, os parques nacionais Montanhas do Tumucumaque e
Amazônico da Guiana, enquanto a inauguração próxima da nova ponte sobre o rio Oiapoque
pode dinamizar muito o comércio legal e o transito de turistas entre os dois
países.
Algo semelhante ao que
ocorre em Foz do Iguaçu, região abrangida pelos parques nacionais das Cataratas
do Iguaçu (Brasil) e Iguazú (Argentina). O lado da ponte que compete ao governo
francês encontra-se completamente construído enquanto a parte que compete ao
Brasil e em especial ao Amapá encontra-se inacabado.
O
comércio entre o Amapá (Oiapoque) e Guiana Francesa no aspecto comercial ainda é pífia, marca de
séculos de rivalidades e indiferença. Ainda precisam ser formatados diferentes
mecanismos de regulação do trânsito de mercadorias e serviços para que as
interações comerciais se desenvolvam. No tocante às exportações, a única semelhança
entre os dois territórios são as remessas de ouro (aproximadamente 44%).
Outro fator é a questão
da mobilização, que acontece através do Turismo: o fluxo de franceses que
cruzam a fronteira é muito maior que o contrário. Um dos principais fatores é a
disparidade entre os valores das moedas de circulação no Brasil e na França,
Real e Euro, respectivamente (em média, a cotação do Euro sobre o Real é de R$ 2,70).
Barreiras
para o acesso o brasileiro na Guina Francesa
Uma barreira, limitando
o número de brasileiros na Guiana Francesa, é a necessidade do visto de
entrada. Para se ter autorização de entrada neste departamento francês, é
necessário que o brasileiro pague o valor de R$ 158, possuir seguro saúde, e,
caso deseje levar seu próprio carro, pagará um valor considerável para
habilitar seu uso em solo francês.
Alguns comerciantes ou
particulares brasileiros que levam para aGuiana Francesa produtos alimentícios
que não são encontrados no comércio local ou são muito caros, como é o caso da
carne de gado. Já o comércio varejista é desenvolvido por brasileiros,
majoritariamente residentes de forma legal, que encontram vantagens em comprar
equipamentos eletroeletrônicos na GuianaFrancesa.
A garimpagem e o
consequente contrabando de ouro é uma atividade desenvolvida principalmente por
brasileiros que entram ilegalmente emterritório francês, extraem o ouro e o
vendem no mercado negro brasileiro. É importante destacar que essa atividade
ilegal é um dos maiores motivos dos impasses existentes para o desenvolvimento
da cooperação transfronteiriça entre o Amapá e a Guiana Francesa.
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