sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

José Alberto Tostes




Árvore d’Água no Projeto Cidade



Autor: José Alberto Tostes

Nesta semana nos dias 09 e 10 de dezembro no SEBRAE/AP, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo organizou o Seminário de Arquitetura e Urbanismo sobre o Projeto Cidade. Nesta oportunidade, convidamos para realizar a palestra o arquiteto e urbanista Roberto Montezuma que também é Presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco. A experiência desenvolvida em Recife abrange diversos Grupos de Pesquisa, pesquisadores, instituições da sociedade civil, setores de governo municipal e estadual.

A apresentação realizada por Montezuma deixa claro que devemos investir em um Projeto de Estado, evitar os projetos de governo que refletem apenas o contexto momentâneo e transitório. O projeto de Estado vai além dos governos, é um projeto da sociedade. O reconhecimento deste trabalho foi a premiação realizada em Lima no Peru pela ONU-Habitat como uma das 10 melhores práticas de intervenções urbanas no mundo. Para melhor elucidar o contexto, transcrevo a própria intervenção do arquiteto e urbanista em um artigo publicado na página do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco.
O  relato de Roberto Montezuma: “ Que cidades precisamos criar para o futuro? O Século 21 torna imperativo o desafio de projetar o território das cidades – mais do que nunca o lugar da vida coletiva – visando consolidá-las como sustentáveis, integradas, inclusivas, acessíveis, democráticas e criativas. O Recife se encontra também diante desta urgência. O incremento de área construída intensificada nos últimos anos resultou na degradação de seus ecossistemas. Devido à falta de planejamento enfrentamos hoje a saturação das estruturas urbanas e a baixa qualidade de vida. Para reinventar o Recife, inovador e criativo, devemos partir de uma visão urbanística que considera três categorias urbano-morfológicas:
1. Áreas Verdes: partes do território urbano onde predomina a presença da vegetação em níveis distintos de estruturação: remanescentes de Mata Atlântica e de manguezais, a vegetação de bosque e/ou extensos gramados dos parques de recreação, a vegetação das praças, as áreas verdes privadas e públicas devolutas, dentre outros.
2. Áreas Azuis: território assentado em partes das bacias hidrográficas dos rios Capibaribe, Beberibe e Tejipió, que formam um mundo aquático com mais de 80 canais, riachos e lagoas, capilarizados por todo o território, muitos com trajetos hoje ocultos.
3. Áreas Cinzas: espaços constituídos pelos bairros adensados, com grande massa que ainda dá as costas às águas e aos verdes, com exceção apenas da orla de Boa Viagem, do Centro Histórico (com bordas ainda pouco construídas) e de trechos descontínuos da Beira-Rio do Capibaribe.
Estas três categorias devem se fundir numa tese radical. A cidade não pode mais ser pensada, tratada e usada como “cidade genérica”, que desconsidera as singularidades especialíssimas de sua paisagem. Não pode mais ser pensada por partes fragmentadas, sem coesão mínima e sistêmica indispensável para tratar sua complexidade. A tese radical proposta parte da estrutura natural da cidade, garantindo que o potencial inerente a processos naturais seja considerado no planejamento dos espaços urbanos. Pede soluções que integrem diferentes elementos da natureza, ao invés de ir contra ela, e que também correspondam a demandas sociais e econômicas presentes e futuras.
O Recife demonstra, apesar de seu estado atual, que ainda tem potencial para ser, por incrível que possa parecer, uma vibrante Cidade-Parque, um exemplo internacional de reurbanização. Como? Em 2012 o rXa (Recife Exchange Amsterdam), evento internacional multidisciplinar que reuniu brasileiros e holandeses, analisou as potencialidades naturais do Recife que estrutura-se a partir de um “anfiteatro” natural onde a plateia são bordas de colinas, muitas delas cobertas com remanescentes da Mata Atlântica, nascedouros de riachos e canais que alimentam os rios, cujos sedimentos formam o chão-espetáculo da “cidade das águas”.
Este “chão” de potencialidades foi batizado de Árvore d’Água, que representa uma visão da possível integração espacial por onde outrora a água se esparramava pelas terras e formava ilhas. A Árvore d´Água propõe uma lógica potente, pronta para reverter a degeneração urbana, integrar os territórios dos atuais bairros em bairros-parques que se reinventam a partir de conceitos urbanísticos, articulando bordas, marcando centralidades e construindo transversalidades através de novas promenades, que reverta a forma de tratar o transporte, o uso de energia e o uso do solo, mitigando mudanças climáticas e desastres naturais “.
O artigo de Montezuma deixa evidente a imensa preocupação sistêmica com um trabalho de longo prazo, como pode ser perfeitamente possível idealizar uma proposta que privilegie, primeiro a cidade. O Projeto Cidade, é algo que pode perfeitamente ser replicado. De acordo com Montezuma em sua visita de 04 dias em Macapá, acredita ser perfeitamente possível desenvolver em Terras Tucujus o Projeto Cidade, irá depender de diversas instituições e do grau de mobilização da sociedade, a Universidade terá um papel importante como a instituição catalizadora de todo este processo.
Lamentamos a pouca participação dos setores públicos neste tipo de evento. A questão que devemos evidenciar, a cidade precisa de pessoas inovadoras nos mais diversos setores, descobrir, propor, trocar ideias, inventar, reinventar, reorganizar, e acima de tudo todos terem a capacidade de interagir e aceitar o processo de sinergia de que todo trabalho não tem concepções rigidas, precisa sim teorias e metódos que possam suportar todo um trajeto que vai além dos governos.

Nos últimos três anos o Conselho de Arquitetura e Urbanismo promoveu em todo o Brasil um amplo debate sobre a qualidade de vida nas cidades brasileiras, que começa com pequenas ações de natureza ética, o comportamento individual e coletivo é fundamental para começarmos as ações necessárias de transformações cruciais para termos um futuro melhor. O modelo atual de gestão está esgotado, não cabe mais aos prefeitos e governadores serem os redentores, é preciso mobilização dos agentes sociais para avançar em uma agenda que seja capaz de propor e executar o Projeto Cidade. Parabéns a todos os envolvidos no Projeto Cidade em Pernambuco, em especial ao meu colega, o arquiteto e urbanista Roberto Montezuma.

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