HOMENAGEM
PÓSTUMAS *1938 +2015
“Quero ver esse
Amapá desenvolvido com muitas indústrias se instalando aqui, dando emprego para
essa juventude...” Professor Pereira.
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A EDITORIA de Pioneirismo do Jornal Tribuna Amapaense, republica uma
entrevista com o Professor Manoel Pereira da Silva, realizada em sua residência
e publicada em março de 2012 na Edição 298. Infelizmente, na noite de 18 de
fevereiro, perdemos nosso querido Professor Pereira, aos familiares e amigos os
pêsames da equipe do Tribuna Amapaense. Que ele descanse em paz.
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Da Reportagem
“Nós adorávamos jogar bola na
chuva. Brincávamos na lama dando aquele “carrinho” deslizando pelo chão”, lembra, com ternura de
sua infância, o Pioneiro desta edição: Manoel Pereira da Silva. Com 76 anos,
nascido no distrito do Maruanum e com apenas cinco anos de idade, mudou-se para
Macapá junto com sua mãe e seus irmãos logo após seu pai, Prudêncio
Rodrigues da Silva, falecer. Sua família sempre foi grande (sete irmãos: quatro
mulheres e três homens) e, como sua mãe era a única para sustentá-los, resolveu
trabalhar cedo para poder ajudá-la financeiramente.
Aos sete anos de idade, algumas
pensões próximas à sua casa o contrataram para entregar marmita. Junto com seu
irmão, eles entregavam as marmitas depois que voltavam da Escola Barão do Rio
Branco. Fazia entrega de qualquer mercadoria, o famoso “mandado”, que a pessoa
te paga para você ir pegar ou deixar alguma coisa em determinado lugar. “Depois
que saíamos do Barão, no horário de 11h a 11h30, íamos correndo para pensão que
ficava no bairro Jesus de Nazaré. De lá, entregávamos a marmita e depois
fazíamos “mandado” para quem precisasse. Naquela época tinha muito emprego na
cidade, mas era somente para pessoas que já tinham uma determinada idade. Nós
éramos muito novos, ainda”, diz Manoel Pereira.
Apesar de trabalhar muito cedo,
ele afirma que sua infância foi muito feliz. Soltava pipa, brincava de bola na
rua, fazia competição de pião – quem conseguia fazer o pião rodar
por mais tempo, ganhava – e muitas brincadeiras saudáveis, não ocasionando mal
a ninguém. Apenas não podia comprar algumas coisas, e as mordomias eram um
tanto limitadas. Foi esportista, também. E foi através do esporte que ingressou
num dos locais o qual iria trabalhar por muito tempo de sua vida, na
antiga Divisão de Segurança Pública.
Conseguiu esse emprego porque era nadador, e seu técnico, Capitão Euclides da
Cunha, tinha um projeto de inclusão social que fornecia ajuda para os atletas
que fossem de famílias carentes. No início, com apenas nove anos, realizava
serviços de Office boy. Com o passar do tempo, tornou-se diarista, já recebia
um salário no final do mês. Como precisava trabalhar, resolveu largar os
estudos na quinta série, para poder ter mais tempo para se dedicar ao trabalho.
Depois que se inseriu no serviço
público os cargos só foram crescendo. Foi se estabilizando e, já rapaz,
casou-se pela primeira vez com 24 anos, e começou a construir sua própria
família. Sempre foi um filho muito apegado a sua mãe, Apolônia Pereira da
Silva, e resolveu trazer sua esposa para morarem junto a ela. Moraram com dona
Apolônia por um ano, e depois começaram a construir sua própria casa, que
ficava num terreno a três casas de sua amada mãezinha. ”Quando me casei trouxe
minha esposa para morar com a gente. Dividimos a casa durante um ano, e depois
soube que minha irmã não estava utilizando a casa dela que ficava bem pertinho
da nossa, pois o marido dela trabalhava na ICOMI e eles viviam no interior. A
casa estava um pouco abandonada, então, conversei com ela para alugá-la,
enquanto eu construía a minha no terreno que ficava bem em frente à casa da
nossa mãe. Naquele tempo, era fácil comprar terreno, tinha muitos para vender,
a cidade era pequena, com poucos bairros”, conta professor Pereira.
Em 1962, com 26 anos, resolveu
voltar a estudar. Fez um exame de admissão muito rigoroso e, após sua
aprovação, começou a estudar no Colégio Comercial do Amapá (CCA), atual Escola
Estadual Gabriel de Almeida Café. No CCA, conclui o ginasial e fez um curso
técnico de contabilidade. Não satisfeito ainda, fez faculdade de Pedagogia e
Administração no Núcleo de Educação da Universidade Federal do Pará (hoje é a
Universidade Federal do Amapá). E ainda mais, fez um curso de especialização em
Educação Física. Formou-se em todos esses cursos. E a partir daí, surgiram mais
profissões que enchem seu currículo de vida.
Manoel Pereira iniciou sua
carreira na área de Segurança Pública, local em que foi subindo de cargo com o
passar dos anos. Foi Office boy; Policial Civil; Escrivão; Chefe geral da
Economia Popular; Chefe de transporte e, mesmo assim, não estava satisfeito.
Com todas suas graduações, através de concurso público, conseguiu lecionar nas
escolas mais reconhecidas da cidade: Lecionou Educação Física no Alexandre Vaz
Tavares (AVT); História e Educação Fís. no Castelo Branco; e ensinou na escola
que tinha reiniciado os estudos, Colégio Comércio do Amapá. Decidiu pedir
exoneração da Secretaria de Segurança para se dedicar apenas a educação. Em
seguida, passou sete anos sendo diretor do Escola José de Anchieta. Foi uma
presença muito forte na educação e, em 1989, resolveu se aposentar desta
profissão. Além disso, teve outras profissões de praxes, como presidente de
clube de futebol. “Joguei futebol pelo são José. Depois nós fundamos um clube
com o nome Santa Cruz (os co-fundadores foram: Armando Leite; Vagalume; Marajó;
Doutor). Joguei futebol no Santa Cruz, e fui presidente do clube, também. Fui
convidado e eleito para ser presidente do Cristal, fiquei durante um ano e
pouco. Ah, corri na São Silvestre! Sempre fui esportista, mas não levava isso
como profissão, era bom porque conhecíamos muitas pessoas importantes”,
relembra Pereira. Sem dúvida é um homem com vários predicados! Ufa!
Sempre foi acostumado com família
grande, e sua vida foi marcada por três casamentos. Dentro dessas uniões,
obteve no total doze filhos, que são seus orgulhos, pois exclama: “Todos meus
filhos são muito honestos. Estudaram e conseguiram sucesso em suas profissões.
Tenho orgulho em saber o caminho que escolheram e seguiram”. E, deixa sua
mensagem para seu estado querido: “Quero ver esse Amapá desenvolvido com muitas
indústrias se instalando aqui, dando emprego para essa juventude que termina
seus cursos técnicos, universitários; os que têm profissões como pedreiro,
carpinteiro, encanador. Tudo que tenha campo para trabalhar e sustentar suas
famílias. Quanto a minha vida... Ah, quero viver mais um pouquinho!”, finaliza,
dando risadas.


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