Ainda há a dizer sobre greve
Estamos vivendo neste momento na antessala de uma greve
nacional de professores que já se anuncia e se encorpa há alguns meses. É então
o momento de lembrarmos a legitimidade dessa organização, do movimento, ainda
que nosso lado mais prático tenda a se impacientar com as implicações que elas
geram, como o atraso de cronograma. Mas, bem, se não for exatamente pelos
transtornos que causa, ela perderia seu efeito catalisador principal.
Num muro da minha faculdade, se lia o seguinte: "País
educador não corta verba da educação". Sabemos que as federais já foram
polos de apoio ao governo PT, uma vez que um dos motes do partido vinha sobre
uma campanha de valorização do professor e do ensino superior público. Se não
se via essa valorização em termos ideais, pelo menos era possível encontrar
muito mais amparo agora do que existira antes, na época de FHC, a quem muitos
apontavam como o responsável pelo sucateamento das federais em favor das
faculdades particulares, do capital privado, toda aquela orientação neoliberal.
Esse era o contexto
das universidades públicas do Brasil até então. Ainda que lutando, é claro, por
melhores salários, negociação, reajuste, havia uma maior sensação de segurança
do que em outras épocas.
Mas então o PT, que antes era visto como um razoável redentor
do ensino público superior, enfrentando esta intensa crise gestora de agora,
afogando-se na explosão tardia da própria liberalidade com que sempre conduziu
a corrupção de seus mecanismos, instituições e homens, aumentando impostos
sobre todos os setores possíveis para tentar dar conta de uma crise econômica
nervosa e crônica, acaba cortando verbas também da educação.
E assim apareceu -- e
alguns dias depois logo sumiu, silenciada por tinta e autoritarismo acadêmico
-- a pichação no muro da UFC. Toda manifestação, toda intervenção em favor da
educação é bem-vinda. Não é tirando da educação, para tapar outros buracos, que
se conseguirá chegar a qualquer lugar que valha a pena.
Bem, em tempos de absurda violência, omissão, truculência e
esmagamento, com que, por exemplo, os professores no Paraná foram tratados
enquanto se manifestavam por melhores condições de trabalho, e quando não está
fácil pra ninguém e mesmo assim em alguns discursos já brotam traços de um esforço
bastante estúpido de deslegitimação do movimento dos professores em todo o
país, sejam da educação básica ou superior, vale lembrar e citar esse pixo
bastante pertinente deixado por alguma alma angustiada assim ali num dos muros
do CH1, na UFC.
Enerva, é claro, qualquer atraso, qualquer desvio na rota bem
traçada e tão coesa (será?) das nossas vidas acadêmicas, profissionais. Mas que
a gente não esqueça por que motivo se luta, e não perca de vista que a causa é
só uma.
Não se pode falar aqui no Brasil em “carreira” pra professor,
parece até crime querer que a profissão seja algo menos sofrido do que é, algo
que se afaste da ingênua e acachapante noção de que magistério é vocação, é
sacerdócio, inevitável abnegação.
Mas ninguém deve querer ser herói quixotesco de uma estrutura
falida, improvisando um coração com tripas. Não dá. Nada de engolir a ideia de
que lecionar se faz por amor e qualquer recompensa compensa. Tem que
“dessubprofissionalizar” a imagem do professor sim, entender a função social da
escola, para então prescindir dela, se for o caso.
A gente precisa comer, pagar contas, na mesma medida em que
não se pode em hipótese alguma abrir mão de uma educação decente, sobretudo em
se tratando de uma sociedade como a nossa, formada toscamente, claudicante, que
ainda titubeia e se devora em barbárie, se nutre da própria gangrena.
Tem mesmo é que condenar a estrutura e reerguer qualquer
outra coisa que funcione, que não instrumentalize a gente, professores (porque
o que se instrumentaliza se descarta com a mesma banalidade de coisa). Todo
esforço nesse sentido é mais do que válido, é urgente, é básico!
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