quinta-feira, 28 de maio de 2015

ANTENADOS



Ainda há a dizer sobre greve

Estamos vivendo neste momento na antessala de uma greve nacional de professores que já se anuncia e se encorpa há alguns meses. É então o momento de lembrarmos a legitimidade dessa organização, do movimento, ainda que nosso lado mais prático tenda a se impacientar com as implicações que elas geram, como o atraso de cronograma. Mas, bem, se não for exatamente pelos transtornos que causa, ela perderia seu efeito catalisador principal.
Num muro da minha faculdade, se lia o seguinte: "País educador não corta verba da educação". Sabemos que as federais já foram polos de apoio ao governo PT, uma vez que um dos motes do partido vinha sobre uma campanha de valorização do professor e do ensino superior público. Se não se via essa valorização em termos ideais, pelo menos era possível encontrar muito mais amparo agora do que existira antes, na época de FHC, a quem muitos apontavam como o responsável pelo sucateamento das federais em favor das faculdades particulares, do capital privado, toda aquela orientação neoliberal.
 Esse era o contexto das universidades públicas do Brasil até então. Ainda que lutando, é claro, por melhores salários, negociação, reajuste, havia uma maior sensação de segurança do que em outras épocas.
Mas então o PT, que antes era visto como um razoável redentor do ensino público superior, enfrentando esta intensa crise gestora de agora, afogando-se na explosão tardia da própria liberalidade com que sempre conduziu a corrupção de seus mecanismos, instituições e homens, aumentando impostos sobre todos os setores possíveis para tentar dar conta de uma crise econômica nervosa e crônica, acaba cortando verbas também da educação.
 E assim apareceu -- e alguns dias depois logo sumiu, silenciada por tinta e autoritarismo acadêmico -- a pichação no muro da UFC. Toda manifestação, toda intervenção em favor da educação é bem-vinda. Não é tirando da educação, para tapar outros buracos, que se conseguirá chegar a qualquer lugar que valha a pena.
Bem, em tempos de absurda violência, omissão, truculência e esmagamento, com que, por exemplo, os professores no Paraná foram tratados enquanto se manifestavam por melhores condições de trabalho, e quando não está fácil pra ninguém e mesmo assim em alguns discursos já brotam traços de um esforço bastante estúpido de deslegitimação do movimento dos professores em todo o país, sejam da educação básica ou superior, vale lembrar e citar esse pixo bastante pertinente deixado por alguma alma angustiada assim ali num dos muros do CH1, na UFC.
Enerva, é claro, qualquer atraso, qualquer desvio na rota bem traçada e tão coesa (será?) das nossas vidas acadêmicas, profissionais. Mas que a gente não esqueça por que motivo se luta, e não perca de vista que a causa é só uma.
Não se pode falar aqui no Brasil em “carreira” pra professor, parece até crime querer que a profissão seja algo menos sofrido do que é, algo que se afaste da ingênua e acachapante noção de que magistério é vocação, é sacerdócio, inevitável abnegação.
Mas ninguém deve querer ser herói quixotesco de uma estrutura falida, improvisando um coração com tripas. Não dá. Nada de engolir a ideia de que lecionar se faz por amor e qualquer recompensa compensa. Tem que “dessubprofissionalizar” a imagem do professor sim, entender a função social da escola, para então prescindir dela, se for o caso.
A gente precisa comer, pagar contas, na mesma medida em que não se pode em hipótese alguma abrir mão de uma educação decente, sobretudo em se tratando de uma sociedade como a nossa, formada toscamente, claudicante, que ainda titubeia e se devora em barbárie, se nutre da própria gangrena.

Tem mesmo é que condenar a estrutura e reerguer qualquer outra coisa que funcione, que não instrumentalize a gente, professores (porque o que se instrumentaliza se descarta com a mesma banalidade de coisa). Todo esforço nesse sentido é mais do que válido, é urgente, é básico!

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