Greve nas
universidades federais
O
documento do Banco Mundial intitulado “La enseñanza superior: las lecciones
derivadas de la experiencia” aponta os caminhos desse desmonte do setor
público, enquanto fortalece a iniciativa privada. Esse processo esteve em curso
com Fernando Henrique Cardoso e ganhou novas formas com a expansão precarizada
organizada por meio do Reuni (Programa de Apoio a
Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades.
Federais) de Lula e Dilma. O caos já vinha se formando e a “crise” econômica
chegou para avolumar ainda mais os problemas.
Uma das formas apontadas pelo
governo federal para solucionar os custos com o ensino superior é reduzir os
gastos com os professores e servidores técnicos-administrativos. Assim, a
institucionalização das Organizações Sociais (OS) permitirá essa redução de
custos tão sonhada pelos gestores da União. A solução é simples: os governos
passarão a contratar por meio das OS em vez de contratar professores pelo
Regime Jurídico Único (RJU), com estabilidade no emprego, direitos sociais e um
salário que, embora razoável para os que estão no final da carreira, com
doutorado e dedicação exclusiva (proibido de ter outro emprego), só não está em
queda livre pela ação do Sindicato Nacional das Instituições Federais de Ensino
Superior (ANDES-SN).
Na prática, isso significa que
haverá uma entidade que contratará docentes na lógica do menor valor. Aqueles
que se dispuserem a lecionar com o menor custo para a OS serão os contratados.
Então, vejamos o impacto dessa política. Pró-reitor de uma universidade federal
disse com todas as letras que as pessoas procuram as instituições federais de
ensino, não tanto pelas instalações, mas pelos professores de altíssima
qualidade e pela pesquisa institucionalizada. Pois bem, na medida em que os
recursos para a manutenção das pesquisas tornam-se cada vez mais escassos, fica
claro que este é um item que muito em breve não será elemento relevante para
que alguém opte pela universidade federal.
Resta da alegação do pró-reitor, a
questão dos docentes. Considerando que pela OS a contratação será de forma
precarizada e terceirizada, fica fácil vislumbrar o que ocorrerá com o quadro
docente das universidades federais em pouquíssimo tempo. Os terceirizados de
hoje da universidade, funcionários que executam as atividades de segurança e
limpeza, passam meses sem receber e veem pulverizados os mais diversos direitos
a que fazem jus como trabalhadores. Na hora que o governo viu-se em
dificuldades financeiras cortou os recursos utilizados para pagamentos desses
funcionários.
A mesma lógica passará a ser
empregada para os professores e servidores técnico-administrativos. Uma vez que
houver pressão econômica, bastará ao governo desconsiderar direitos, atrasar
pagamentos e, se for o caso, dispensar todo mundo. Não esqueçamos que as
remunerações, como vimos antes, serão irrisórias. Ficam no ar algumas questões.
Quais são os bons professores que virão à universidade pública trabalhar nessas
condições? Os professores de altíssima qualidade que segundo o pró-reitor são
hoje o chamariz da universidade pública trabalharão assim?
Além disso, se o governo poderá
manter professores contratados nessas tenebrosas condições e com baixo custo,
por que ele manterá o investimento na carreira de docentes e técnicos? Resta a
obviedade de que essas se tornarão carreiras em extinção. Isso significa, entre
outras coisas, reajustes sempre abaixo da inflação, o que certamente fará com
que muitos dos professores ora elogiados pelo pró-reitor busquem caminhos outros
de sobrevivência, abandonando a universidade assim que possível.
Vivemos, portanto, a crônica
anunciada da morte das universidades federais. Já vimos o mesmo fenômeno
acontecendo na educação antes: o ensino público de base era, há alguns anos, a
referência de qualidade. Não, as universidades públicas não deixarão de
existir, mas só recorrerão a elas aqueles que não conseguirem qualquer outro
caminho mais atrativo. Esse é apenas um resumo do cenário que se apresenta, e
que explicita parte das razões para a greve das universidades federais que começou
no último dia 28 de maio. Sendo conhecedores desta situação só resta afirmar: É
preciso reagir! É um dever defender a universidade pública agora!
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