Boa-nova capilar
A novidade é que pintei meu cabelo de rosa. Não ele todo, uma
parte. E já me satisfaz. Há quem se pergunte agora o que é que têm a ver com
matéria jornalística os novíssimos cabelos rosa da autora. Bem, pra falar a
verdade, não têm nada. Mas vocês sabem como sou, quero só uma desculpa trivial
e passageira, como a tinta nos cabelos, para ficar filosofando toscamente sobre
a vida. Vamos comigo.
Acontece que já há muitos anos eu sonhava com estes tais
cabelos coloridos. Passei incólume pela adolescência, sem nunca testar nem
mesmo papel crepom nos fios. Era uma falta, uma lacuna que existia aqui. Eu
precisava um dia ter a coragem, a vontade, a disposição, a audácia de ir em
frente com o projeto. Nunca rolava.
Até que, numa dada manhã, não muito distante de hoje, percebi
que já estávamos às portas de junho de 2015, mês de meu aniversário, e que,
portanto, eu completaria 21 anos de idade sem nunca, nunca ter tingido os
benditos cabelos com as cores que se esperam dos desvarios pré-adolescentes.
Eu seria uma mulher balzaquiana, 30 anos, muito em breve, com
este desejo nunca atendido? Eu seria esta pessoa que, por conta da idade,
jamais pintaria os cabelos de rosa? Não desejei este futuro. E, me contemplando
resoluta do espelho, fui em frente com a empreitada, escoltei algumas amigas...
E realizei finalmente o sonho, o sonho das madeixas coloridas.
O que aprendi dessa história na verdade é que continuo a
fazer pouco e pensar muito, estática. Foram anos e anos até me permitir um
adereço assim, coisa tão banal, que vai saindo no banho. Fiquei com a mensagem
implícita: preciso planejar menos, se os projetos forem ficar para sempre só
como planos.
Outra coisa que percebi é: que vida triste deve ser essa em
que você já não pode fazer muitas coisas legais, espontâneas, porque está
velho, ou porque a sociedade diz que você está velho, ou porque uma voz
pequenininha no seu interior grita: "Se manca, cara! Isso já não é coisa
pra sua idade!". Eu certamente serei uma dessas pessoas. Uma dessas que
deixam de fazer milhares de coisas bacanas porque pensam que já estão
inadequadas demais para isso e aquilo, porque não se sentem confortáveis, acham
que ficarão melhores com um chazinho e uma casa cheia de gatos, sem
perspectivas mais interessantes.
Uma coisa é certa, porém: meu cabelo pintei. E com este novo
cabelo, meus amigos, essas mechinhas cor-de-rosa que coloco atrás da orelha, me
veio também toda uma nova consciência de mim mesma.
Engraçado como parece que, quando a gente muda algo,
principalmente na aparência, fica mais sensível à própria existência no mundo.
E mesmo quando ninguém está olhando, eu sei: tenho o cabelo rosa.
Isso tudo pode não significar absolutamente nada, é claro.
Mas fica o convite para pensar: o que é que você tem adiado? E se fizer hoje,
agora? Não seria mais feliz, mais pleno? Toda uma gama de possibilidades e
perspectivas pode se abrir diante de você... No meu caso, a mudança que eu
postergava nem era lá grande coisa. Mas já rendeu texto, veja só, e muitos
elogios. E esta é a minha deixa. Aqui me despeço. Já a sua deixa é a seguinte:
pare de adiar!
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