Nota oficial sobre o caos na universidade
A Escola de Engenharia
da UFF soltou uma nota explicitando a grave situação de suas condições de
funcionamento. É interessante lermos sobre a situação em que se encontram as
universidades federais para depois fazermos uma análise. Segue o texto.
A TODA A COMUNIDADE
ACADÊMICA DA ESCOLA DE ENGENHARIA
Vimos, inicialmente,
esclarecer a todos alguns assuntos, sobre os quais estamos
"debruçados" desde meados de 2014, mas, infelizmente, sem sucesso, em
virtude da grave situação por que passa o País e, como consequência, as
Universidades Federais.
Desde outubro último,
fomos informados pela Reitoria, através do seu setor de compras, que os
materiais pedidos com muita antecedência por nossos Departamentos e pela
própria Escola, na verba de Livre Ordenação (LO), referentes ao
"Custeio" de nossa Unidade e Departamentos não seriam comprados. Essa
verba, que pertencia a nossa Unidade e que dividimos com nossos 8
departamentos, foi recolhida, bem como as verbas de todas as demais Unidades de
Ensino da UFF.
Da mesma forma, em
2015, vem ocorrendo o mesmo com a verba destinada à manutenção de nossa Unidade
e respectivos Departamentos, já que tínhamos dividido uma parcela de R$
45.000,00 para cada Departamento - verba essa já prevista no orçamento da UFF.
Entretanto, já estamos no meio do ano e, conforme informação da Reitoria, não
existe perspectiva de nos enviar o "financeiro", o que nos leva a
crer que também não teremos como comprar os materiais e contratar os serviços
solicitados para o corrente ano.
Como todos sabem, a Escola
de Engenharia, além dessa verba de Livre Ordenação, possui uma receita própria
(fonte 0250) que dá origem ao nosso PDI (Plano de Desenvolvimento
Institucional), através do qual são fomentados diversos projetos, em andamento,
tais como: Minibaja; Fórmula SAE Elétrico, Fórmula SAE, Aerodesign, Barco
Solar, e ainda, apoio a pesquisas, apoio a empresas juniores etc.
Sabedores de que, em
2015, teríamos um ano muito difícil, nos preparamos, ainda em 2014, para
produzir um crédito de R$ 267.000,00, de modo que, apesar da sensível queda das
arrecadações mensais, pudéssemos fazer frente a todas as nossas despesas em
2015.
Entretanto, no início
de março de 2015, fomos informados pela PROPLAN, através do memorando nº 03, de
09/03, do Departamento de Contabilidade e Finanças, de que o Governo Federal
também havia recolhido todo o recurso da fonte 0250 (Receita Própria).
Consequentemente, o montante de que dispúnhamos, que seria o nosso
"pequeno fôlego", face à escassez de recursos oriundos do Governo
Federal, foi reduzido a nada, e tivemos que recomeçar, vivendo com uma quantia
mínima de recursos para manutenção da Escola, que é a que é encaminhada
mensalmente da UFF para a FEC, oriunda das taxas institucionais pagas pelos
projetos e cursos autofinanciáveis. Mas, mesmo estes, caíram muito, tendo em
vista a crise nas Empresas de grande porte do País, tal como a Petrobras, que
estão recolhidas em seus atuais problemas, e não estão abertas a novos projetos
com as Universidades no momento.
Assim, sentimo-nos na
obrigação de lhes informar que nos encontramos hoje em sérias dificuldades para
mantermos nossa Unidade aberta e funcionando minimamente, pois os estoques que
possuíamos com o que nos foi fornecido no ano de 2013 estão chegando ao fim,
quais sejam:
" Nosso estoque de
papel para provas e xerox está no final;
" Nosso estoque de
lâmpadas para suprir os projetores de datashow se esgotou;
" Nosso material
de limpeza, incluindo papel sanitário, também chegou ao fim, pois, com a
dificuldade que tem tido para receber suas faturas, a firma terceirizada de
limpeza reduziu gradativamente o fornecimento de material;
" Com a drástica
redução de nossos recursos de receita própria, não estamos tendo como
prosseguir com a manutenção nos aparelhos de ar condicionado, pois a empresa
que executa os referidos serviços está sem receber;
" Da mesma forma,
estamos sem recursos para confeccionar carimbos, chaves para portas das salas
de aula e laboratórios, para aquisição de material para reposição de lâmpadas,
material de iluminação, material hidro-sanitário, material de pintura, material
de carpintaria, equipamentos de multimídia etc.;
" Equipamentos
como elevadores e máquinas de reprografia (xerox) estão funcionando
precariamente, porque as firmas respectivas também estão sem pagamento;
" Também as firmas
terceirizadas responsáveis pela vigilância, portaria, recepção e serviços
administrativos estão com atraso em seus recebimentos.
Enfim, diante desse
grave quadro, todos podemos constatar que está muito difícil manter a Unidade
funcionando em condições mínimas que sejam e, por essa razão, vimos ao
conhecimento de todos, pedir sua compreensão para esse difícil momento em nossa
Unidade e em nossa Universidade.
Asseguramos que, de
nossa parte, todos os esforços estão sendo empreendidos, diuturnamente, na
busca de, ao menos, minimizar essa crise, mas estamos muito limitados em nossas
possibilidades.
Agradecemos a sua
atenção e, reiteradamente, contamos com sua compreensão!
Direção da Escola de
Engenharia. Niterói, 09/06/2015
Esse é o relato oficial
da Escola de Engenharia da UFF que, coerentemente, afirma estar fazendo todos
os esforços para manter a unidade funcionando, pois o governo recolheu,
inclusive, os recursos obtidos via receita própria (aqueles conseguidos pela
unidade sem depender de recursos do governo). Embora apresente a condição da
UFF, o relato descreve um caos espraiado no conjunto das universidades
federais. Esse caos, agora instalado, foi explicitado nas análises do ANDES-SN
ao debruçar-se sobre as políticas de estruturação e financiamento do ensino
superior implantadas pelo governo federal. Essas políticas, embora com nuances
diferentes, sempre tiveram o mesmo
propósito, quer com o estrangulamento de recursos perpretado por Fernando Henrique,
quer no desmonte disfarçado de expansão efetuado pelo Reuni de Lula e Dilma. O
caos instalado pelas políticas governamentais foi apenas intensificado pela
crise, mas não é decorrente dela.
Mas como dizem alguns
colegas: "Não há razão para greve, pois a universidade não está com os
problemas que o pessoal do sindicato alega", "Esse pessoal não quer
saber de defender a universidade, não. Fazem greve porque não querem
trabalhar!" ou "Greve só serve para prejudicar o aluno". Diante
do cenário descrito em um comunicado oficial, resta uma pergunta: será?
Se a greve é o caminho
para impedir que a universidade fique sem os serviços de limpeza e segurança,
sem recursos financeiros, sem lâmpadas, papel, material de xerox e mesmo papel
higiênico (tudo no relato oficial), então quem prejudica o aluno? Aquele que
aceita o caos implantado pelo governo, que fura a greve, diz que ela não adianta e que ao fazê-lo
afirma estar defendendo os alunos? Ou aquele que luta contra o caos implantado
pelo governo que paralisa a institução por falta de recursos, que defende a
universidade, inclusive com greve, para que o governo disponibilize mais
recursos para a universidade e garanta seu funcionamento não apenas para os
alunos atuais, mas inclusive para os futuros?
Cada
um pode escolher sua resposta. Eu fico com aqueles que trabalham duro na
universidade nos períodos normais (dedicados aos alunos, ministrando aulas,
fazendo pesquisa e extensão) e que participam da greve (e de suas atividades)
quando essa, por necessidade e decisão da categoria, é deflagrada!
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