desindustrialização precoce do Brasil - Parte II
A crise do emprego e do rendimento tem a ver com o processo de desindustrialização precoce do Brasil. Uma das formas de medir a desindustrialização é quando a produção industrial perde participação no PIB. A desindustrialização precoce tem caráter negativo, pois prejudica a criação de emprego formal, reduz o estoque de capital por trabalhador e interrompe o processo de avanço tecnológico que viabiliza o aumento da produtividade. O gráfico abaixo retirado do Panorama da indústria de transformação brasileira, da FIESP (2014), mostra que a participação da indústria no PIB está abaixo daquela que existia antes do governo Juscelino Kubitschek. O ritmo de queda se acelerou depois da abertura do governo Fernando Collor e voltou a cair muito nos últimos 10 anos. Em geral, a sobrevalorização cambial (a chamada "doença holandesa") contribui para a desindustrialização precoce, que por sua vez, contribui para a redução da produtividade e para a "especialização regressiva" da estrutura produtiva do país.
Em mais um capítulo do processo de desindustrialização e da crise da cadeia produtiva da Petrobras, a direção do estaleiro do Estaleiro Mauá, em Niterói, divulgou uma circular no dia 02 de julho de 2015 comunicando o fechamento das portas da empresa até que se adeque as questões financeiras. O comunicado pedia que os trabalhadores permanecessem em casa. Se confirmarem esse fechamento haverá mais dois mil trabalhadores demitidos. O Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói repudiou as posições da direção do Estaleiro Mauá e a péssima gestão financeira da empresa. O sonho do pré-sal como alavancador da indústria nacional está indo por água abaixo. O Estaleiro Mauá - um dos mais tradicionais do país - é apenas um exemplo da situação de caos que vive o setor da indústria da transformação no país e aponta para um agravamento da crise do desemprego. O desemprego também cresce no município gaúcho de Charqueadas, onde a Petrobras rompeu um contrato com a empresa Iesa Óleo e Gás (envolvida na Operação Lava Jato) para a construção de 24 módulos para seis plataformas, que agora serão produzidas na Ásia.
O fim do mito do pré-sal agrava a situação da industrialização brasileira. Desde a década de 1980 o Brasil tem investido mais na construção de shopping centers do que na construção de fábricas. O contrário do que fazem os países do Leste Asiático. Ou seja, o Brasil tem privilegiado o consumo ao invés do investimento. A baixa formação bruta de capital fixo faz com que o país não incorpore novas tecnologias, não melhore a infraestrutura e não garanta o aumento da produtividade do trabalho. Também não gera oportunidades de emprego no ritmo necessário para acompanhar a população em idade economicamente ativa.
Como visto, a industrialização está em baixa e o desemprego está em alta, qualquer que seja a fonte utilizada. O rendimento também está em baixa. As perspectivas para o restante do ano de 2015 não são boas e o Brasil pode estar desperdiçando os últimos anos das condições demográficas favoráveis. Subaproveitar o potencial da força de trabalho e regredir na estrutura produtiva é o mesmo que jogar fora qualquer possibilidade de progresso e eliminar qualquer futuro promissor para o país. A crise política só agrava a situação econômica. O governo Dilma Rousseff está completamente perdido e o povo brasileiro vai pagar a conta dos malfeitos. O Brasil tem uma população 20 vezes maior do que a da Grécia. Nosso tombo pode ser, portanto, 20 vezes maior e mais grave.
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