CEA NA MIRA
CPI QUER VASCULHAR
CONTRATOS
Suspeitas de irregularidades
em processos milionários de licitação e contratação de empresas podem colocar a
Companhia de Eletricidade do Amapá no “olho do furacão”. No alvo estão as
empresas Nortemi e MIX. Diretor Presidente será ouvido novamente em agosto pela
Assembleia Legislativa. Outro que deve ser convocado é o advogado Cassius Clay
Lemos Carvalho, que apesar de ser assessor jurídico da CEA, também é advogado
da Nortemi e deu parecer favorável à empresa para que esta fosse contratada sob
a conivência do então presidente José Ramalho e diretores da época.
As constantes interrupções
no fornecimento de energia elétrica nos bairros da cidade e municípios do Amapá
e os protestos inflamados da população são hoje os menores problemas que a
Companhia de Eletricidade do Amapá enfrenta. Por trás das paredes da CEA,
recentemente privatizada, muita coisa tem acontecido e vazado para a opinião
pública que hoje não vê mais a empresa como patrimônio do Estado e sim como
mais uma entre tantas que não tem outro objetivo a não ser o lucro.
O mais recente escândalo foi
a denúncia de que o procurador jurídico da CEA é também advogado da empresa que
fechou um contrato milionário com a companhia, graças à suposta adulteração de
documentos que beneficiaria a empresa Nortemi. O caso tornou-se público há um
ano, mas o Ministério Público até hoje não tomou qualquer providência.
Diretores da CEA estariam
envolvidos. Entre eles o presidente à época, José Ramalho e os ex-diretores
Azolfo Gemaque e Ubiracy Amaral, além do representante da Nortemi, Roberto dos
Reis. A Procuradoria Geral do Estado (PGE) pediu cópias dos contratos da
companhia nos últimos quatro anos. Mas o foco principal dos auditores é o
contrato datado de 3 de maio de 2013 entre CEA e Nortemi.
Prática comum na gestão passada,
a contratação foi emergencial com dispensa de licitação. O valor beira os R$ 42
milhões. A Nortemi ficaria responsável pela construção de linhas de
subtransmissão e uma subestação no município de Laranjal do Jari, no Sul do
Estado. As obras seriam para interligar o sistema local ao sistema elétrico
nacional.
Tudo corria bem até a
denúncia publicada em junho do ano passado dando conta de que páginas do
contrato foram adulteradas em favor da Nortemi. Um dos exemplos é a página 4 do
contrato. Lá, o item 11 foi aumentado de cinco para nove linhas. Ele trata de
uma caução de R$ 2 milhões. O valor teria que ser depositado pela Nortemi em
nome da CEA. Com a mudança a caução ficou sendo facultativa e descontada
durante o pagamento das faturas.
A Nortemi deve só para a
Prefeitura de Macapá, mais de R$ 3 milhões em multas, taxas e tributos. O que
se pergunta é como a empresa consegue as certidões para receber as faturas
junto à CEA. A suspeita é de que certidões falsas estejam sendo apresentadas.
Outra situação curiosa é a rapidez com que o contrato foi assinado. pelo que se
tem de registro, a proposta da Nortemi chegou à CEA no dia 26 de abril de 2013
e foi preciso apenas uma semana ára que ela já estivesse contratada.
O número do processo é o
067/2013, analisado pela assessoria jurídica da Companhia de Eletricidade do
Amapá que expediu parecer favorável e é exatamente aí que começa a questão. Um
destes assessores favoráveis à contratação atua como advogado da Nortemi. O
Código de Ética da Ordem dos Advogados do Brasil não permite que advogados
atuem em duas partes envolvidas na mesma causa. No caso de Cassius Clay Lemos
Carvalho, este protocolo foi quebrado. Ele atuaria no setor jurídico da Nortemi
desde bem antes da assinatura do contrato com a CEA. Clay teria defendido a
Nortemi em uma ação na 2ª Vara de Laranjal do Jari durante a semana em que o
contrato com a CEA seria assinado. Nesta ação a empresa não teria pago uma
dívida de R$ 633,95 a um auto posto.
O processo
0001017-38.2013.8.03.0008 confirma a atuação dele como advogado da Nortemi. A
prática se repetiu várias vezes durante o ano passado. Todas em causas
trabalhistas.
Existe a especulação de que
o advogado tenha defendido a empresa até mesmo em ações contra funcionários da
Nortemi que trabalharam para a CEA na vigência do contrato. Caso as denúncias
se confirmem o advogado deve responder criminalmente. Aos olhos da lei, segundo
o Código de Processo Penal, a atuação do advogado denominada tecnicamente de
tergiversação ou patrocínio infiel simultâneo é tida como crime contra a
administração da justiça. Inclui-se aí, o advogado ou procurador que venha
prejudicar o interesse de quem deveria resguardar e que é a ele confiado. Em
resumo, incluí-se na situação o profissional do Direito que atua defendendo as
duas partes. A pena é de seis meses a três anos de cadeia. Cassius Clay deverá
ser chamado a prestar esclarecimentos à polícia.
NA ALAP...
![]() |
Presidente da CEA na ALAP |
Os imbróglios protagonizados
pela Companhia de Eletricidade do Amapá estão sendo observados de perto pela
Assembleia Legislativa. O Diretor-Presidente da CEA já foi convocado para
explicar qual a razão de tantos apagões na cidade sem satisfações à população.
Ele falou aos deputados mas acabou não convencendo ninguém.
Diante da persistência do
problema que continua tanto em Macapá como nos outros municípios, Ângelo do
Carmo deverá ir ao Plenário da ALAP novamente em agosto, no retorno do recesso
parlamentar. Outro convocado é o advogado Cassius Clay.
Em sua primeira convocação,
quando as interpelações dos deputados se resumiam a apagões, Ângelo do Carmo
disse que o problema era resultado de duas décadas onde não houve nenhum
investimento, e que o governo passado não teria deixado qualquer recurso para
ser usado na recuperação das redes. Disse também que a CEA estaria colocando em
prática várias medidas para regularizar o fornecimento de energia.
CPI...
A falta de convencimento no
discurso do presidente da CEA gerou uma insatisfação geral dos parlamentares
que se uniu à grande quantidade de denúncias contra a Companhia envolvendo
supostas irregularidades em contratos com prestadoras de serviços. Já se fala
até na criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar as
contratações.
Um dos focos é um outro
contrato tido como duvidoso com a Mix Engenharia. A empresa está há mais de
cinco anos prestando serviços para a CEA. O contrato terminou e ela tenta
continuar no posto mesmo sem o processo de licitação.
A MIX perdeu para a Elinsa
do Brasil no fim do ano passado a ampliação e reforma da rede elétrica do
município de Macapá e seus distritos. O valor do contrato é de mais de R$ 15
milhões. Mas a reviravolta veio em seguida, dado pela MIX, que conseguiu a
anulação do processo. A Elinsa recorreu à Justiça e aguarda decisão do Superior Tribunal de
Justiça. Especula-se uma relação de proximidade entre o "staf" da MIX
e a direção da CEA. Por outro lado, a MIX também acusa da Elinsa de usar
documentos falsos na licitação.
![]() |
Advogado da Nortemi Cassius Clay, é assessor jurídico da CEA |
Nenhum comentário:
Postar um comentário