O que significa o direito à
cidade na contemporaneidade?
José
Alberto Tostes
Quando
Henri Levrebve escreveu a primeira edição do livro: ‘O direito à cidade’, o
mundo ainda estava impregnado pela grande efervescência da década de 1960, da
essência da música pop, do movimento hippie e da crise política da chamada
Guerra Fria entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética, sem dúvida, que
os anos de 1960, marcaram o cenário internacional. No Brasil estava
caracterizado pela Ditadura Militar e pelas frentes de abertura do território
nacional, os grandes projetos na Amazônia faziam parte de uma pauta para ocupar
uma vasta região.
Na
arquitetura e engenharia brasileira foi fértil em relação à realização de
grandes obras de porte, sem pensar nas consequências econômicas posteriores,
entre os anos 60 e 70 do século XX foram construídos no Brasil, um número de
expressivo de pontes, viadutos, estádios, estradas, etc.
O
desenvolvimento das cidades era dado pelas primeiras preocupações com as
questões ambientais com os primeiros eventos internacionais para discutir a
matéria.
Cada
lugar ou País seguia o seu próprio modelo de concepção, para dar exemplo, de
como no caso brasileiro, as questões urbanas tem sido um agravante, nos anos
70, São Paulo começou uma jornada para implantar a rede de Metrô, paralelamente
a cidade do México, hoje em dia, possui um pouco menos de 50 km de extensão, e
a cidade do México, mais de 300 km, fato que evidencia a enorme dificuldade
para se lidar com aspectos conceituais sobre como pensar o direito à cidade.
Arquitetura
e sociedade abriam outro debate importante, nas escolas de arquitetura a
discussão de projetos se limitava aos aspectos morfológicos, inserir o debate
social urbano ainda era algo incipiente e distante da formação de professores e
da realidade da grande maioria dos acadêmicos, mas, este debate proporcionou a
descoberta que não basta à técnica, era preciso de outros elementos para compor
a discussão sobre arquitetura e sociedade, questões políticas, sociais,
culturais e filosóficas, soluções arquitetônicas racionais esbarravam nas
questões políticas e sociais.
É
interessante ressaltar como as resistências do passado eram expressivas, muito
embora, o acadêmico tivesse uma formação técnica mais consistente, a discussão
política era tolhida ainda pela influência do período da Ditadura Militar que
perdurou até meados da década de 1980. Arquitetura e sociedade buscavam
aproximar a técnica do social, pela primeira vez nos debates do curso de
arquitetura, os movimentos sociais foram convidados para expor sobre a sua
realidade, de falar sobre a dinâmica do lugar, sobre a sua história. O
resultado foi significativo, pois mostrou a imensa distância entre os projetos
propostos e a realidade social.
Então,
o direito à cidade era mais que algo puramente conceitual, residia na perspectiva
de compreender a necessidade da participação social como um fator diferencial
na construção de novos referenciais, no caso brasileiro, as resistências eram
grandes por conta da ideia de conspiração contra o governo militar, tal
constatação nos leva a crer que um dos maiores problemas urbanos do Brasil, se
acentuou na década de 1960, na maneira como habitação foi conduzida no Brasil,
milhares foram construídas alheias à realidade e dinâmica da cidade, os resultados
estão até hoje, dando “dor de cabeça” para todos. Para se ter ideia sobre esta
afirmação, basta assistir ao filme: “Cidade de Deus”, o enredo mostra
exatamente o que aconteceu quando se trata do direito de morar apenas como um
fato quantitativo.
Para
muitos estudiosos, o Brasil avançou de forma expressiva quando se trata de
perceber a legislação urbana e ambiental, a partir dos anos 90 até os dias atuais,
isso é fato, muito embora, ocorram muitas críticas ao Estatuto da Cidade, esta
Lei ficou 11 anos sendo discutida no Congresso Nacional, atravessou toda a
década de 1990, algo para ser pensado, todavia, quando se compara o sistema
posto no País em relação à integração dos princípios do Estatuto, que garantem
diversas ideias defendidas por Levrebve, como maior participação social, gestão
democrática e a racionalidade na atividade do planejamento atrelado a dinâmica
social, é pífia.
O
que significa o direito à cidade em nossa contemporaneidade? As cidades
crescerem além da conta; aumentou o número de habitantes no Planeta Terra; os
recursos naturais ficaram mais escassos; a violência alcançou números
impressionantes; os investimentos não conseguem dar conta do volume de
necessidades nas áreas de transportes públicos e demandas por novas habitações
virou um “inverno”.
Se
o direito à cidade deveria garantir minimamente o papel do Estado, por outro, a
população deixou de cumprir a sua parte, os níveis de organização social
dependem de quem está no executivo, na esteira deste assunto, vamos aliar outro
ponto para ser avaliada, a formação de novas redes sociais como afirma Manuel
Castells, nunca tivemos tanta informação e desinformação ao mesmo tempo. A
internet está a serviço de todos, porém, depende de como a notícia será
divulgada.
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