sexta-feira, 28 de agosto de 2015

ARTIGO DO TOSTES



Cidades na Amazônia no século XVIII



Por José Alberto Tostes

Um dos temas importantes no contexto da Amazônia, sem dúvida tem sido compreender a gêneses de formação histórica de nossas cidades, mas recentemente no ano de 2014, estive participando na cidade de Lisboa de um evento científico onde tive a oportunidade de apresentar um trabalho denominado: História e Cidade na Amazônia, basicamente dois livros contribuíram para estruturar este trabalho, um com a mesma denominação de História e Cidade na Amazônia, de autoria, de Yara Vicentini e o segundo: As Cidades da Amazônia no Século XVIII, de autoria, de Renata Malcher.
O trabalho de Renata Malcher foi produzido na Faculdade de Arquitetura do Porto, um importante trabalho de cunho epistemológico, pois propõem através da reconstituição histórica de grande qualidade interpretativa verificar a reinterpretação da refundação pombalina da Amazônia como também as questões mais maduras da colonização portuguesa: o urbanismo. Um dos grandes méritos do trabalho está pesquisa documental e iconográfica para formar o enredo desta construção histórica. O Amapá está contemplado nesta análise com a particularidade das reflexões sobre Macapá e Mazagão.
Para os estudiosos da área de Historia e Teoria d Arquitetura e do Urbanismo, da área do Urbanismo e da própria disciplina de História é importante realizar esta leitura com um critério mais apurado. O trabalho está dividido em duas partes, a primeira apresenta a questões conceituais: Das Cidades e dos Conceitos com a abordagem sobre as formas urbanas da expansão portuguesa e Pombal e as Cidades, já na segunda parte dividida em quatro tópicos: Da Amazônia e das Cidades; A Reforma Pombalina na Amazônia; Macapá, a Vila do Amazonas; Belém, a Capital e Por último, Mazagão, a Memória das Conquistas.
Tais reflexões e aportes históricos ajudam a entender melhor o processo de colonização das cidades citadas, pois de acordo com a autora conjuga-se uma cadeia de relações que remete a uma série de conjecturas. Quais as conexões que se instituíam sobre o espaço colonial? Necessariamente, a uma abordagem que não se poderia realizar uma simples comparação com a Metrópole. As conexões e relações centro-periferia se estabeleciam somente entre dois espaços, de quem planejava o funcionalismo do Urbanismo Colonial e quem assimilava as regras vigentes.
Um dos pontos mais elevados da obra está em situar corretamente à urbanização no século XVIII, o que exigia entender o Urbanismo Colonial, recheado de polêmicas. É sempre válido destacar que compreender melhor os apostolados históricos, requer juntar um quebra-cabeça complexo, depende essencialmente em cruzar diversas fontes de informações que fazem parte da construção metodológica da proposta. Um dos exemplos está na obra na análise comparativa das metodologias urbanizadoras dos portugueses e espanhóis nas suas colônias.
Para este tipo de trabalho, onde o pesquisador irá pautar o objeto de análise em diversos documentos oficiais, os desenhos, plantas da época são bastante esclarecedores quanto ao traçado das cidades estudadas. Os textos e desenhos revestem-se de importância similar para o trabalho de pesquisa efetuado pela autora. Os desenhos, por expressarem a linguagem do que havia sido planejado, sendo possível aliar com os textos e outros documentos para construir a linha de raciocínio.
Sobre as cidades pesquisadas cabem aqui, as reflexões pertinentes: na página, 152 do livro apresenta um Mapa de Povoação da Antiga Macapá (1754), dos registros Pombalinos 627, fl.8. – esta figura denota a formação básica do núcleo histórico da cidade, o que se segue de forma complementar nas páginas seguintes da obra.  O recorrido avança até a chegada da construção da Fortaleza de São José de Macapá, onde na página 186, aparece a Planta datada de (1739). Todo o capítulo destinado à análise de Macapá está repleto de desenhos, plantas e mapas que explicam a maneira meticulosa como tudo foi idealizado pelo governo português, contribui de sobremaneira para avaliar a aplicação do Urbanismo Português no período Colonial, nas páginas, 196-198, a autora cita um conjunto de notas dos documentos oficiais consultados, permitindo assim, outros avanços sobre novas interpretações a serem delineadas para o futuro.
Sobre Belém, assim como a análise sobre Macapá, o capítulo transcorre com uma rica transcrição dos fatos históricos, dos desenhos, mapas que mostram o processo de evolução e ocupação desta cidade, das páginas 218-228, pode ser visto mais claramente a linha construtiva de todo o processo de implantação neste período. Belém, no relato da autora é a capital, a sede do poder, a única cidade que tem de fato este título. O espaço da sede do poder é, por contingência, também o espaço disputa do poder. A evolução urbana faz-se com disputas sucessivas, repercutindo as tensões que a sociedade vivia na época.
E quanto a Mazagão? De acordo com a autora, representa a utopia de que se nutriu o programa de Reforma urbana. É a vila dos não colonos, dos que se negaram a assumir o território enquanto espaço de trabalho e de cultura. Não colonos estes, como muitos outros, que desde o começo da ocupação da Amazônia a povoavam, ainda é destacado no livro um trecho para ser interpretado: “É curioso que a falência mais notória do processo urbanizador se tenha dado na mais “branca” das cidades fundadas na Amazônia, Mazagão”.

As conclusões da autora concebem um universo sobre o imaginário idealizado para o espaço amazônico em relação às três cidades estudadas, dos projetos, das reformas, das ideias, da retórica, do sistema educativo, da preocupação do período Pombalino em instituir uma “nova retórica” para o seu novo discurso. De acordo com as ideias conclusas, os anos posteriores na região seriam recheados de conflitos, que vai desencadear outros fenômenos que de alguma forma influenciaram a visão contemporânea sobre este lugar até dos dias atuais. Este livro é finalizado com os apêndices e um Inventário da Documentação consultada, o que resulta em uma inestimável fonte de consulta para a produção de trabalhos posteriores. Convido a você a realizar a leitura desta obra, permitirá entender e avaliar melhor os preceitos históricos de formação das cidades de Belém, Macapá e Mazagão no século XVIII.

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