Cidades na Amazônia no século
XVIII
Por
José Alberto Tostes
Um
dos temas importantes no contexto da Amazônia, sem dúvida tem sido compreender
a gêneses de formação histórica de nossas cidades, mas recentemente no ano de
2014, estive participando na cidade de Lisboa de um evento científico onde tive
a oportunidade de apresentar um trabalho denominado: História e Cidade na
Amazônia, basicamente dois livros contribuíram para estruturar este trabalho,
um com a mesma denominação de História e Cidade na Amazônia, de autoria, de
Yara Vicentini e o segundo: As Cidades da Amazônia no Século XVIII, de autoria,
de Renata Malcher.
O
trabalho de Renata Malcher foi produzido na Faculdade de Arquitetura do Porto,
um importante trabalho de cunho epistemológico, pois propõem através da
reconstituição histórica de grande qualidade interpretativa verificar a
reinterpretação da refundação pombalina da Amazônia como também as questões
mais maduras da colonização portuguesa: o urbanismo. Um dos grandes méritos do
trabalho está pesquisa documental e iconográfica para formar o enredo desta
construção histórica. O Amapá está contemplado nesta análise com a
particularidade das reflexões sobre Macapá e Mazagão.
Para
os estudiosos da área de Historia e Teoria d Arquitetura e do Urbanismo, da
área do Urbanismo e da própria disciplina de História é importante realizar
esta leitura com um critério mais apurado. O trabalho está dividido em duas
partes, a primeira apresenta a questões conceituais: Das Cidades e dos
Conceitos com a abordagem sobre as formas urbanas da expansão portuguesa e
Pombal e as Cidades, já na segunda parte dividida em quatro tópicos: Da
Amazônia e das Cidades; A Reforma Pombalina na Amazônia; Macapá, a Vila do
Amazonas; Belém, a Capital e Por último, Mazagão, a Memória das Conquistas.
Tais
reflexões e aportes históricos ajudam a entender melhor o processo de
colonização das cidades citadas, pois de acordo com a autora conjuga-se uma
cadeia de relações que remete a uma série de conjecturas. Quais as conexões que
se instituíam sobre o espaço colonial? Necessariamente, a uma abordagem que não
se poderia realizar uma simples comparação com a Metrópole. As conexões e
relações centro-periferia se estabeleciam somente entre dois espaços, de quem
planejava o funcionalismo do Urbanismo Colonial e quem assimilava as regras
vigentes.
Um
dos pontos mais elevados da obra está em situar corretamente à urbanização no
século XVIII, o que exigia entender o Urbanismo Colonial, recheado de
polêmicas. É sempre válido destacar que compreender melhor os apostolados
históricos, requer juntar um quebra-cabeça complexo, depende essencialmente em
cruzar diversas fontes de informações que fazem parte da construção
metodológica da proposta. Um dos exemplos está na obra na análise comparativa
das metodologias urbanizadoras dos portugueses e espanhóis nas suas colônias.
Para
este tipo de trabalho, onde o pesquisador irá pautar o objeto de análise em
diversos documentos oficiais, os desenhos, plantas da época são bastante
esclarecedores quanto ao traçado das cidades estudadas. Os textos e desenhos
revestem-se de importância similar para o trabalho de pesquisa efetuado pela
autora. Os desenhos, por expressarem a linguagem do que havia sido planejado,
sendo possível aliar com os textos e outros documentos para construir a linha
de raciocínio.
Sobre
as cidades pesquisadas cabem aqui, as reflexões pertinentes: na página, 152 do
livro apresenta um Mapa de Povoação da Antiga Macapá (1754), dos registros
Pombalinos 627, fl.8. – esta figura denota a formação básica do núcleo
histórico da cidade, o que se segue de forma complementar nas páginas seguintes
da obra. O recorrido avança até a chegada da construção da Fortaleza de
São José de Macapá, onde na página 186, aparece a Planta datada de (1739). Todo
o capítulo destinado à análise de Macapá está repleto de desenhos, plantas e
mapas que explicam a maneira meticulosa como tudo foi idealizado pelo governo
português, contribui de sobremaneira para avaliar a aplicação do Urbanismo
Português no período Colonial, nas páginas, 196-198, a autora cita um conjunto
de notas dos documentos oficiais consultados, permitindo assim, outros avanços
sobre novas interpretações a serem delineadas para o futuro.
Sobre
Belém, assim como a análise sobre Macapá, o capítulo transcorre com uma rica
transcrição dos fatos históricos, dos desenhos, mapas que mostram o processo de
evolução e ocupação desta cidade, das páginas 218-228, pode ser visto mais
claramente a linha construtiva de todo o processo de implantação neste período.
Belém, no relato da autora é a capital, a sede do poder, a única cidade que tem
de fato este título. O espaço da sede do poder é, por contingência, também o
espaço disputa do poder. A evolução urbana faz-se com disputas sucessivas,
repercutindo as tensões que a sociedade vivia na época.
E
quanto a Mazagão? De acordo com a autora, representa a utopia de que se nutriu
o programa de Reforma urbana. É a vila dos não colonos, dos que se negaram a
assumir o território enquanto espaço de trabalho e de cultura. Não colonos
estes, como muitos outros, que desde o começo da ocupação da Amazônia a
povoavam, ainda é destacado no livro um trecho para ser interpretado: “É
curioso que a falência mais notória do processo urbanizador se tenha dado na
mais “branca” das cidades fundadas na Amazônia, Mazagão”.
As
conclusões da autora concebem um universo sobre o imaginário idealizado para o
espaço amazônico em relação às três cidades estudadas, dos projetos, das
reformas, das ideias, da retórica, do sistema educativo, da preocupação do
período Pombalino em instituir uma “nova retórica” para o seu novo discurso. De
acordo com as ideias conclusas, os anos posteriores na região seriam recheados
de conflitos, que vai desencadear outros fenômenos que de alguma forma
influenciaram a visão contemporânea sobre este lugar até dos dias atuais. Este
livro é finalizado com os apêndices e um Inventário da Documentação consultada,
o que resulta em uma inestimável fonte de consulta para a produção de trabalhos
posteriores. Convido a você a realizar a leitura desta obra, permitirá entender
e avaliar melhor os preceitos históricos de formação das cidades de Belém,
Macapá e Mazagão no século XVIII.
Nenhum comentário:
Postar um comentário