PIRÂMIDE INVERTIDA
Comércio é a base da
economia do Amapá
Em
toda economia o setor primário (agropecuária, agricultura, mineração, pesca) é
quem sustenta a pirâmide econômica. Depois, seguem-se os setores secundário
(indústria e construção civil) e terciário (comércio e serviços). No Amapá, a
chamada pirâmide econômica está invertida tendo o comércio como sustentação,
sendo seu maior consumidor o funcionalismo público. Hoje, de acordo com o IBGE,
o segmento representa nada menos que 85,92% na economia do Amapá. Indústria e
construção civil ficam com 10,83% e a agropecuária e agricultura têm somente 3,25%.
O governador Waldez Góes disse apostar na tecnologia e nos investimentos para
mudar essa realidade e tirar o Amapá da economia do contra cheque.
José
Marques Jardim
Da
Redação
O
Amapá é um Estado que hoje vislumbra um futuro de fortalecimento econômico
apostando na cultura de grãos. A soja, que em outras regiões representa uma boa
alternativa se apresenta como solução para garantir o fim da economia do contra
cheque, o que significa dizer que grande parte da economia local é mantida pelo
funcionalismo público. O “aquecimento” é sentido a partir do dia 30 de cada mês
quando inicia o pagamento municipal e vai até três ou quatro dias depois do dia
5 do mês seguinte, com o vencimento dos funcionários federais. O restante do
mês é de espera, dizem os comerciantes.
Com
esse aspecto, o comércio, que se encaixa no setor terciário está na base da
pirâmide econômica, o que representa do ponto de vista dos estudiosos, um
fenômeno de inversão. No Amapá, ele é sustentação da economia e não o setor
primário, que fica em segundo plano, seguido do setor secundário. Na linguagem
dos economistas, o Estado tem uma pirâmide invertida.
Na
ordem correta de toda economia está o setor primário, que agrega a agricultura,
pesca, minérios e produção energética. O setor secundário vem depois, com a
produção de bens, indústria, construção e manufatura. O setor terciário fica no
topo, reunindo a prestação de serviços, bancos e o comércio.
Tudo
ocorre por conta da falta de investimentos no setor primário. O Amapá, ao longo
dos anos, nunca executou uma política agrícola com foco na produção de larga
escala. O Estado é desprovido de grandes plantações, fazendas e granjas. O
resultado disso é que quase a totalidade do que vai para a mesa do amapaense
vem de fora. Do tomate, arroz e feijão ao frango, tudo é comprado de outras
regiões e o dinheiro que circularia aqui, se houvesse um setor primário forte,
vai para outro Estado.
O
que fica depois da aquisição e venda dos produtos é tão somente o lucro do
empresário e o capital que vai repor a mercadoria. Em resumo o Amapá não
produz, apenas compra, vende e compra de novo.
Para
se ter uma ideia, a última pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística revelou que o setor de comércio e serviços (terciário)
representa nada menos que 85,92% na pirâmide econômica do Amapá. Em segundo
estão indústria e construção civil (secundário) com 10,83% e a agropecuária e
agricultura (primário) respondem por apenas 3,25% da economia local. Os números
confirmam a teoria de inversão explicada pelos economistas, ou seja, o comércio
e os serviços sustentam o Amapá na base da pirâmide em vez da agropecuária e
agricultura.
A SAÍDA ESTÁ NO PRÓPRIO
CAMPO...
O Tribuna
Amapaense em sua edição de 20 a 26 de junho passado abordou a preocupação do
Estado em mudar essa realidade. A matéria tratou da preocupação da atual gestão
com a realidade do Estado. Um dos caminhos é o investimento no setor que
deveria sustentar a tão falada pirâmide econômica e com isso reverter a ordem
dos setores.
Waldez
Góes disse ao Tribuna que tem visto na agricultura um dos pilares para
fortalecer a economia do Amapá. Além dos grandes investimentos do agronegócio,
a agricultura familiar tem sido tratada em primeiro plano pela atual gestão.
Para o governador, com os devidos incentivos, a produção do homem do campo pode
sim, contribuir para que o Estado tenha uma agricultura forte.
O
setor tem crescido. De acordo com o censo agropecuário publicado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ainda em 2006, existem no Amapá
nada menos que 2.863 estabelecimentos da agricultura familiar. O total
corresponde a 81% dos estabelecimentos rurais do Estado. A pesquisa ainda
revela que este setor é responsável por 79% das pessoas (10.371) ocupadas no
meio rural e 37% do valor bruto da produção agropecuária do Amapá.
DADOS DA PRODUÇÃO...
As
famílias agricultoras correspondem a 93% do feijão, 89% da mandioca e 78% do
café produzidos nas terras do Amapá. Já em 2014, o IBGE divulgou novos dados
dando conta que a mandioca ocupa o primeiro lugar entre os gêneros agrícolas
produzidos no Amapá, com uma produção de 160 mil toneladas. O volume é colhido
em uma área de aproximadamente 15 mil hectares. Neste caso, os incentivos para
aquisição de máquinas são mais que necessários. A retomada, este ano, do
Programa de Produção Integrada (PPI), é, segundo Waldez, um passo para o avanço
da agricultura. Outros mais e mais largos virão.
A
agricultura familiar é hoje um dos focos da gestão de Waldez Góes, que em seu
primeiro mandato (2003 a 2010) criou o PPI para incentivar e beneficiar os
pequenos agricultores do Estado. Depois de quatro anos de estagnação e
"maquiagem" com a mudança de nome do programa, as ações voltam a
acontecer. Hoje, ainda segundo o governador, o Estado já pode hoje financiar o
produtor e ainda comprar o que ele produz. A produção, no entanto, ainda não
consegue mexer nos percentuais econômicos, mas se mostra como um começo que
deixa otimista tanto os agricultores quanto o próprio governador.
A GRANDE AGRICULTURA...
Se
por um lado a nova gestão foca na ajuda ao pequeno produtor e acredita no
resultado de seu trabalho par impulsionar a economia, por outro acredita também
nos grandes investimentos. Desde seu primeiro mandato (2003 a 2010) que o
governador Waldez Góes já via com bons olhos a implantação da cultura da soja
no Amapá e sonha com o Estado transformado em um corredor do produto
considerando sua localização geográfica privilegiada.
Waldez
assumiu em 2003 um Amapá que vinha de quase oito anos de atraso por conta da
utopia de um Plano de Desenvolvimento Sustentável (PDSA) anunciado como se
fosse a “descoberta da pólvora” pela gestão anterior.
Do
ponto de vista dos economistas, o plano só funciona em Estados e países bem
desenvolvidos e de economia forte.
O
governador pedetista, naquela época já flertava com o mercado da soja sabendo
que essa cultura poderá significar um impulso significativo. O Estado, segundo
especialistas, tem um solo e clima propícios para o cultivo do grão que
representa uma gorda fatia de lucros para outras regiões da Federação e
investidores.
Com
o novo mandato em mãos, as conversas com os produtores recomeçaram em março
quando foi discutido o projeto de instalação de indústrias que produzem fécula
e soja. O município em questão é Serra do Navio. Equipes da prefeitura e do
governo do Amapá continuam tratando do assunto. O foco é o desenvolvimento da
região pela diversificação das atividades econômicas. Hoje, Serra do Navio depende
economicamente da mineração, incluída no setor primário. A variação para uma
nova cultura significaria reforço econômico, também dentro do mesmo setor.
NÚMEROS ANIMADORES...
De
acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Amapá terá
safras recordes de soja mostradas no Levantamento Sistemático da Produção
Agrícola. A previsão de 2014 foi de 253,96% na produção do grão. O percentual
foi 45,6 mil toneladas a mais do que a safra de 2013 que ficou em 12,9 mil.
O
crescimento foi atribuído ao aumento da área de plantio. Em 2013, a soja
ocupava uma área de 4.528 hectares e rendia em média 2.850 toneladas por
hectare com resultado final de 12.906 toneladas. No ano seguinte o salto
produtivo foi para 15.825 hectares plantados, tendo previsão de 2.887 toneladas
por hectare. O aumento também abrangeu a produtividade para 45.682 toneladas
por hectare, de acordo com os dados do instituto.
Para
um Estado que vem buscando meios para sair da economia do contra cheque e
reverter sua pirâmide econômica, o investimento na agricultura é prioridade.
PIB DE ONTEM E HOJE, BONS SINAIS...
De
forma simplificada o Produto Interno Bruto é a soma em valores monetários de
todos os bens e serviços finais produzidos por um Estado, País ou cidade
durante determinado período. Ele é um dos indicadores mais usados na macroeconomia para
quantificar a atividade econômica de uma região.
No
PIB é considerado somente bens e serviços finais e se exclui todos os bens de consumo intermediário. O
objetivo é evitar a dupla contagem, que acontece quando valores gerados na
cadeia de produção aparecem duas vezes na soma do Produto Interno Bruto.
No
Amapá, o registro do PIB pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
tem registros desde 1999. Naquele ano o registro foi de R$ 2.128,307 bilhões. A
escala é crescente até 2012, com o registro de R$ 10. 419, 539 bilhões. Um ano
antes, o PIB chegou a R$ 8.968,032 bilhões. O crescimento foi de 4,9%, acima da
média do País (2,9%) e da região Norte (3,5%), um bom sinal.
RENDA PER CAPTA TAMBÉM
CRESCE...
Junto
ao PIB, existe outro elemento que caminha de “mãos dadas”, é a renda per capita ou rendimento per capita.
Ela é um indicador que ajuda a economia a ter conhecimento sobre o grau de
desenvolvimento econômico, também de um País ou região. Em termos simples,
renda per capta nada mais é que a soma dos salários de toda a população,
dividido pelo número de habitantes. Consiste na divisão da renda nacional, produto
nacional bruto (PNB), menos os
gastos de depreciação do capital e impostos indiretos pela sua população.
No
Amapá, a renda per capta medida em 2012 foi de R$ 14. 914, 84. Em 2011 era de
R$ 13.105,24.
O
crescimento pesquisado pelo IBGE e divulgado em um histórico de escalas até
2012 revelou que 48,7% do PIB do Estado está diretamente ligado ao
funcionalismo público. Naquele ano o comércio ficou com a segunda colocação, 13,6%.
Na
leitura dos investidores, o Amapá pode virar o “jogo econômico” e dar uma
goleada na cultura do contra cheque passando a ter um setor primário forte. A
iniciativa para isso já existe e deve ser associada à tecnologia e incentivos
concretos. Hoje, a gestão trabalha para solucionar problemas que ainda impedem
esse crescimento que deve deslanchar nos próximos anos mudando o cenário
econômico do Estado.
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