sexta-feira, 28 de agosto de 2015

PIRÂMIDE INVERTIDA - Comércio é a base da economia do Amapá

PIRÂMIDE INVERTIDA
Comércio é a base da economia do Amapá



Em toda economia o setor primário (agropecuária, agricultura, mineração, pesca) é quem sustenta a pirâmide econômica. Depois, seguem-se os setores secundário (indústria e construção civil) e terciário (comércio e serviços). No Amapá, a chamada pirâmide econômica está invertida tendo o comércio como sustentação, sendo seu maior consumidor o funcionalismo público. Hoje, de acordo com o IBGE, o segmento representa nada menos que 85,92% na economia do Amapá. Indústria e construção civil ficam com 10,83% e a agropecuária e agricultura têm somente 3,25%. O governador Waldez Góes disse apostar na tecnologia e nos investimentos para mudar essa realidade e tirar o Amapá da economia do contra cheque.

José Marques Jardim
Da Redação

O Amapá é um Estado que hoje vislumbra um futuro de fortalecimento econômico apostando na cultura de grãos. A soja, que em outras regiões representa uma boa alternativa se apresenta como solução para garantir o fim da economia do contra cheque, o que significa dizer que grande parte da economia local é mantida pelo funcionalismo público. O “aquecimento” é sentido a partir do dia 30 de cada mês quando inicia o pagamento municipal e vai até três ou quatro dias depois do dia 5 do mês seguinte, com o vencimento dos funcionários federais. O restante do mês é de espera, dizem os comerciantes.


Com esse aspecto, o comércio, que se encaixa no setor terciário está na base da pirâmide econômica, o que representa do ponto de vista dos estudiosos, um fenômeno de inversão. No Amapá, ele é sustentação da economia e não o setor primário, que fica em segundo plano, seguido do setor secundário. Na linguagem dos economistas, o Estado tem uma pirâmide invertida.
Na ordem correta de toda economia está o setor primário, que agrega a agricultura, pesca, minérios e produção energética. O setor secundário vem depois, com a produção de bens, indústria, construção e manufatura. O setor terciário fica no topo, reunindo a prestação de serviços, bancos e o comércio.  
Tudo ocorre por conta da falta de investimentos no setor primário. O Amapá, ao longo dos anos, nunca executou uma política agrícola com foco na produção de larga escala. O Estado é desprovido de grandes plantações, fazendas e granjas. O resultado disso é que quase a totalidade do que vai para a mesa do amapaense vem de fora. Do tomate, arroz e feijão ao frango, tudo é comprado de outras regiões e o dinheiro que circularia aqui, se houvesse um setor primário forte, vai para outro Estado.
O que fica depois da aquisição e venda dos produtos é tão somente o lucro do empresário e o capital que vai repor a mercadoria. Em resumo o Amapá não produz, apenas compra, vende e compra de novo.
Para se ter uma ideia, a última pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística revelou que o setor de comércio e serviços (terciário) representa nada menos que 85,92% na pirâmide econômica do Amapá. Em segundo estão indústria e construção civil (secundário) com 10,83% e a agropecuária e agricultura (primário) respondem por apenas 3,25% da economia local. Os números confirmam a teoria de inversão explicada pelos economistas, ou seja, o comércio e os serviços sustentam o Amapá na base da pirâmide em vez da agropecuária e agricultura.

A SAÍDA ESTÁ NO PRÓPRIO CAMPO...


O Tribuna Amapaense em sua edição de 20 a 26 de junho passado abordou a preocupação do Estado em mudar essa realidade. A matéria tratou da preocupação da atual gestão com a realidade do Estado. Um dos caminhos é o investimento no setor que deveria sustentar a tão falada pirâmide econômica e com isso reverter a ordem dos setores. 
Waldez Góes disse ao Tribuna que tem visto na agricultura um dos pilares para fortalecer a economia do Amapá. Além dos grandes investimentos do agronegócio, a agricultura familiar tem sido tratada em primeiro plano pela atual gestão. Para o governador, com os devidos incentivos, a produção do homem do campo pode sim, contribuir para que o Estado tenha uma agricultura forte.
O setor tem crescido. De acordo com o censo agropecuário publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ainda em 2006, existem no Amapá nada menos que 2.863 estabelecimentos da agricultura familiar. O total corresponde a 81% dos estabelecimentos rurais do Estado. A pesquisa ainda revela que este setor é responsável por 79% das pessoas (10.371) ocupadas no meio rural e 37% do valor bruto da produção agropecuária do Amapá.

DADOS DA PRODUÇÃO...


As famílias agricultoras correspondem a 93% do feijão, 89% da mandioca e 78% do café produzidos nas terras do Amapá. Já em 2014, o IBGE divulgou novos dados dando conta que a mandioca ocupa o primeiro lugar entre os gêneros agrícolas produzidos no Amapá, com uma produção de 160 mil toneladas. O volume é colhido em uma área de aproximadamente 15 mil hectares. Neste caso, os incentivos para aquisição de máquinas são mais que necessários. A retomada, este ano, do Programa de Produção Integrada (PPI), é, segundo Waldez, um passo para o avanço da agricultura. Outros mais e mais largos virão.
A agricultura familiar é hoje um dos focos da gestão de Waldez Góes, que em seu primeiro mandato (2003 a 2010) criou o PPI para incentivar e beneficiar os pequenos agricultores do Estado. Depois de quatro anos de estagnação e "maquiagem" com a mudança de nome do programa, as ações voltam a acontecer. Hoje, ainda segundo o governador, o Estado já pode hoje financiar o produtor e ainda comprar o que ele produz. A produção, no entanto, ainda não consegue mexer nos percentuais econômicos, mas se mostra como um começo que deixa otimista tanto os agricultores quanto o próprio governador.

A GRANDE AGRICULTURA...
Se por um lado a nova gestão foca na ajuda ao pequeno produtor e acredita no resultado de seu trabalho par impulsionar a economia, por outro acredita também nos grandes investimentos. Desde seu primeiro mandato (2003 a 2010) que o governador Waldez Góes já via com bons olhos a implantação da cultura da soja no Amapá e sonha com o Estado transformado em um corredor do produto considerando sua localização geográfica privilegiada.
Waldez assumiu em 2003 um Amapá que vinha de quase oito anos de atraso por conta da utopia de um Plano de Desenvolvimento Sustentável (PDSA) anunciado como se fosse a “descoberta da pólvora” pela gestão anterior.
Do ponto de vista dos economistas, o plano só funciona em Estados e países bem desenvolvidos e de economia forte.
O governador pedetista, naquela época já flertava com o mercado da soja sabendo que essa cultura poderá significar um impulso significativo. O Estado, segundo especialistas, tem um solo e clima propícios para o cultivo do grão que representa uma gorda fatia de lucros para outras regiões da Federação e investidores.
Com o novo mandato em mãos, as conversas com os produtores recomeçaram em março quando foi discutido o projeto de instalação de indústrias que produzem fécula e soja. O município em questão é Serra do Navio. Equipes da prefeitura e do governo do Amapá continuam tratando do assunto. O foco é o desenvolvimento da região pela diversificação das atividades econômicas. Hoje, Serra do Navio depende economicamente da mineração, incluída no setor primário. A variação para uma nova cultura significaria reforço econômico, também dentro do mesmo setor.

NÚMEROS ANIMADORES...
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Amapá terá safras recordes de soja mostradas no Levantamento Sistemático da Produção Agrícola. A previsão de 2014 foi de 253,96% na produção do grão. O percentual foi 45,6 mil toneladas a mais do que a safra de 2013 que ficou em 12,9 mil.
O crescimento foi atribuído ao aumento da área de plantio. Em 2013, a soja ocupava uma área de 4.528 hectares e rendia em média 2.850 toneladas por hectare com resultado final de 12.906 toneladas. No ano seguinte o salto produtivo foi para 15.825 hectares plantados, tendo previsão de 2.887 toneladas por hectare. O aumento também abrangeu a produtividade para 45.682 toneladas por hectare, de acordo com os dados do instituto.
Para um Estado que vem buscando meios para sair da economia do contra cheque e reverter sua pirâmide econômica, o investimento na agricultura é prioridade.

PIB DE ONTEM E HOJE, BONS SINAIS...
De forma simplificada o Produto Interno Bruto é a soma em valores monetários de todos os bens e serviços finais produzidos por um Estado, País ou cidade durante determinado período. Ele é um dos indicadores mais usados na macroeconomia para quantificar a atividade econômica de uma região.
No PIB é considerado somente bens e serviços finais e se exclui todos os bens de consumo intermediário. O objetivo é evitar a dupla contagem, que acontece quando valores gerados na cadeia de produção aparecem duas vezes na soma do Produto Interno Bruto.
No Amapá, o registro do PIB pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística tem registros desde 1999. Naquele ano o registro foi de R$ 2.128,307 bilhões. A escala é crescente até 2012, com o registro de R$ 10. 419, 539 bilhões. Um ano antes, o PIB chegou a R$ 8.968,032 bilhões. O crescimento foi de 4,9%, acima da média do País (2,9%) e da região Norte (3,5%), um bom sinal. 

RENDA PER CAPTA TAMBÉM CRESCE...
Junto ao PIB, existe outro elemento que caminha de “mãos dadas”, é a renda  per capita ou rendimento per capita. Ela é um indicador que ajuda a economia a ter conhecimento sobre o grau de desenvolvimento econômico, também de um País ou região. Em termos simples, renda per capta nada mais é que a soma dos salários de toda a população, dividido pelo número de habitantes. Consiste na divisão da renda nacional, produto nacional  bruto (PNB), menos os gastos de depreciação do capital e impostos indiretos pela sua população.


No Amapá, a renda per capta medida em 2012 foi de R$ 14. 914, 84. Em 2011 era de R$ 13.105,24.   
O crescimento pesquisado pelo IBGE e divulgado em um histórico de escalas até 2012 revelou que 48,7% do PIB do Estado está diretamente ligado ao funcionalismo público. Naquele ano o comércio ficou com a segunda colocação, 13,6%.

Na leitura dos investidores, o Amapá pode virar o “jogo econômico” e dar uma goleada na cultura do contra cheque passando a ter um setor primário forte. A iniciativa para isso já existe e deve ser associada à tecnologia e incentivos concretos. Hoje, a gestão trabalha para solucionar problemas que ainda impedem esse crescimento que deve deslanchar nos próximos anos mudando o cenário econômico do Estado.


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