Esta crônica poderia se chamar também "vida de universitário", mas nasce exatamente da experiência de um universitário, uma universitária, no contexto específico da fila do restaurante da universidade.
O restaurante da UFC desperta em mim um mix muito variado de emoções. Almoçar no RU é sempre uma jornada de autoconhecimento, um experimento antropológico. Logo de cara me vejo diante da difícil escolha: enfrentarei a fila do frango ou enfrentarei a fila da carne?
Escolho a fila do frango, sempre mais segura, embora sempre mais lotada, fugindo da procedência duvidosa da mistura bovina.
Me vejo então esperando que chegue minha vez de apanhar pratos e talheres, apertada entre uma horda de outros estudantes famintos e inquietos. Amiga minha pergunta, na fila: "Quando será que vão deixar as fichas de papel e voltar a usar o cartão eletrônico?". Olho então para a ficha laranja em minha mão, que me comprou um almoço razoável por R$ 1,10, e respondo à minha amiga: "Provavelmente semestre que vem já estará tudo regulado".
Mas é nesse momento que percebo: não estaremos mais aqui no semestre que vem do próximo ano. Eu e minhas amigas já estaremos formadas, não desfrutaremos mais da miscelânea de sentimentos aflorada ali no RU.
A fila avança e me pego pensando em como o tempo passa. Embora lento, ali na fila que não termina nunca, a faculdade passou por nós como que num piscar de olhos, trem descarrilando. Até me emociono. E atinjo o ápice da comoção quando vou chegando cada vez mais perto da abertura que dá passagem ao salão onde servem a comida, e leio na parede a placa que diz: "Entrada de comensais".
Ali me sinto a própria convidada de um jantar num palácio. Entrada de comensais. Não somos mais estudantes, mas condessas e condes, prontos para desfilar em nossos trajes de veludo, recepcionados por lacaios solícitos e talheres de prata. Tudo parece um sonho. A universidade nunca foi tão bonita quanto no momento diário em que adentro o RU cercada por damas e cavalheiros.
Quase choro de alegria. Mas então as emoções mudam no instante em que olho para o lugar em que se serve o suco em elegantes copos de plástico e vejo o líquido cor de rosa grosso nos copos. Meu mundo cai. O sonho comensal no salão do palácio volta a ser o que era antes: galpão calorento, lotado e barulhento, e, como se não bastasse, o suco ainda é de goiaba.
Mas faz parte. Amanhã voltarei a me sentir palaciana. E quem sabe o suco seja abacaxi. E tudo será sonho e doçura outra vez.
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