Waldez Góes propõe crescimento compartilhado para o Amapá
Maiara Pires
Mergulhados em lamentações
intermináveis de dívidas e problemas de toda ordem, os municípios amapaenses se
viram ‘içados’ neste início de ano por propostas conjuntas de desenvolvimento
econômico de suas regiões. A notícia chegou aos seus ouvidos em forma de alento
e eles se agarraram a cada proposta como num bote salva-vidas. Os emissários
das boas-novas garantiram que tratam-se de medidas efetivas e possíveis de
serem colocadas em prática.
É que os gestores do setor econômico
do governo amapaense se reuniram durante quatro dias com equipes de 13
prefeituras locais para debater o Plano de Trabalho Conjunto do Executivo
Estadual. Entre as ações que poderão ser trabalhadas, o plano destaca o Consórcio
dos Municípios que deverá ser implantado no formato do Consórcio Interestadual
para o Desenvolvimento da Amazônia. E, ainda, a implantação do polo de
desenvolvimento regional das cidades que formatará propostas unindo os
municípios por regiões.
Macapá e Santana ficaram de fora
porque terão um plano diferenciado voltado para a região metropolitana. Oiapoque
também não participou das discussões porque terá um plano específico focado no
processo de abertura da Ponte Binacional, que liga o município a cidade de
Saint Georges na Guiana Francesa. Um fato inédito que acompanha esse processo é
a participação do município de Almeirim (PA) nas discussões, para desenvolver a
vocação agrícola do eixo Sul do Amapá.
Ocorrido de 21 a 24 de fevereiro, em
Macapá, o encontro buscou identificar projetos comuns e auxiliar no desenvolvimento
econômico das cidades com foco no fortalecimento do setor primário, mais
especificamente, da agricultura. Antes disso, a equipe técnica do Governo do
Amapá visitou município por município para conhecer as potencialidades de cada
região e fez o convite para o encontro de gestores em Macapá.
Gestão compartilhada
Presente no último dia do evento
ocorrido no Instituto Estadual de Florestas do Amapá (IEF), o emissário da
prefeitura de Almeirim, o secretário de Desenvolvimento Econômico, Arlindo
Vasconcelos, se mostrou entusiasmado com a iniciativa do Governo do Amapá de
aproximação com o município paraense. “Isso nunca aconteceu desde que Almeirim
se emancipou cidade. Tivemos a felicidade de saber que o Amapá pode se unir ao
Pará e desenvolver a região conjuntamente”, comentou.
Arlindo veio acompanhado da
secretária de Meio Ambiente de Almeirim, Silvia Nascimento, que por sua vez,
trouxe uma preocupação a respeito da falta de políticas públicas das empresas
privadas que se instalam na região. A gestora também veio ao Amapá com a
esperança de desenvolver pesquisas quanto à vocação econômica do município a
fim de canalizar da melhor forma a produção e renda do extrativismo, por
exemplo, que segundo ela, está desordenado. Falando também como presidente do Sindicato
dos Produtores Rurais de Almeirim, Silvia relatou que a cidade paraense também
sofre com a falta de regularização fundiária, assistência técnica e escola
técnica com cursos voltados para a agricultura.
Ao expor aos gestores amapaenses os
anseios de Almeirim, Vasconcelos identificou que as demandas dos municípios do
Amapá são muito parecidas com as da cidade paraense. “Nosso potencial é para a produção de
farinha, melancia, arroz, milho, feijão, banana. Porém, a agricultura familiar
está parada porque o produtor está desmotivado sem incentivo nenhum para
desenvolver a sua produção. Dos 73 mil km² de extensão territorial, apenas 20
mil m² é utilizado na agricultura”, lamentou o secretário de Desenvolvimento
Econômico, acrescentando que a sua expectativa é que essa realidade se
modifique a partir desse trabalho conjunto do Amapá com o Pará.
O gestor frisou que, além da produção
agrícola, é necessário pensar no escoamento dos produtos e revelou a ansiedade
dos moradores de Almeirim com a conclusão da obra da Ponte do Rio Jari, que
liga Monte Dourado, distrito de Almeirim, ao município de Laranjal do Jari
(AP). “A conclusão dessa ponte será de fundamental importância. Pois, será uma
alternativa para o escoamento da produção, assim como a PA-473 que liga Monte
Dourado à sede de Almeirim que ansiamos para conclusão da obra”, enfatizou.
Integração
Com relação à ponte do Rio Jari, o
governador do Amapá, Waldez Góes, esteve em Brasília (DF) esta semana, e
acertou com o diretor-geral do Departamento Nacional de Trânsito (Dnit), Valter
Casimiro Silveira, a continuidade de obras fundamentais para o estado e para a
Região Norte, entre elas a retomada do projeto. “O ministro da Integração
Nacional, Helder Barbalho, é paraense e tem interesse assim como o Amapá, de nós
retomarmos o projeto sobre o rio Jari, da construção da ponte para,
definitivamente, interligar o Amapá com o Pará”, ressaltou Góes.
No dia 8 de março, o governador
amapaense retorna à Brasília para formatar uma solução definitiva para o
impasse que paralisou há mais de dez anos a referida obra. A expectativa dos
dois estados é que esta ligação rodoviária permita maior integração
socioeconômica do Amapá com o Pará. Uma das soluções propostas é o Governo do Amapá
assumir a obra ou firmar convênio com a prefeitura de Laranjal do Jari para dar
apoio técnico e operacional e aporte de recursos por meio de contrapartidas. Também
está em estudo, a possibilidade de o Dnit incluir a ponte do rio Jari no
trajeto da BR-156, assumindo sua construção. A estrutura tem 12 pilares já
fincados no rio, dos quais, 10 estão em bom estado e dois precisam de pequenos
reparos, após leves incidentes com barcos.
Outro município que teve a esperança
renovada com o Plano de Trabalho Conjunto desenhado pelo Governo do Amapá, foi
Vitória do Jari, localizado no extremo Sul do estado. “O nosso objetivo
principal é fazer com que os nossos produtores acreditem que é possível
sobreviver da agricultura e exportar essa produção, para que a gente não fique
dependente dos empreendimentos privados que se instalam na região do Vale do
Jari”, reforçou o secretário de Agricultura de Vitória do Jari, Jorge Bastos.
O gestor lamentou que 80% dos
produtos consumidos no município como hortfruti, peixe e farinha sejam
comprados de fora da cidade. “Essa parceria com a equipe econômica do Estado
com certeza vai facilitar para que as coisas realmente aconteçam”,
entusiasmou-se.
Consórcio Interestadual
O secretário de Estado da Ciência e
Tecnologia do Amapá (Setec), Robério Nobre, um dos coordenadores do Plano de
Trabalho Conjunto, avalia como positivo o entendimento dos gestores municipais
de compreenderem a importância de unir as diferenças para trabalhar
consorciados. “O instrumento do consórcio foi estabelecido por lei em 2005 e
nunca foi utilizado no nosso país. Então, vamos utilizar esse instrumento tão
eficiente que se for bem elaborado, bem executado trará resultados eficientes
de gestão. Se não formos buscar soluções conjuntas e integradas para que
tenhamos eficiência na aplicação dos nossos recursos, não vamos conseguir
sucesso”, considerou.
À frente da apresentação do plano nas
reuniões, Nobre tentava incutir nos gestores municipais que eles não precisam
depender necessariamente do governador do Amapá, Waldez Góes, ou do governador
do Pará, Simão Jatene, ou da figura de prefeitos para definir políticas de
atuação integradas. “Não deixe que essa preocupação [das demandas dos
municípios] durma no travesseiro. Fiquem com ela latente porque é desse jeito
que a gente vai construir esse processo”, pediu o secretário de Ciência e
Tecnologia ao comentar que esta iniciativa é um dos passos para a consolidação
do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal,
desenhado no 13º Fórum de Governadores da Amazônia Legal, ocorrido em Macapá no
final de janeiro de 2017. Ele adiantou que outros municípios das ilhas do Pará
serão visitados por gestores amapaenses para a identificação de demandas
comuns.
Antes de falar da presença do
ribeirinho nesse contexto, Robério Nobre lembrou que o desenvolvimento da
Amazônia começou pelo estuário amazônico, a área mais rica que tem na região,
onde existe a maior concentração de minério, floresta, água, pesca, fauna,
flora. “Ninguém prestou atenção no valor disso em termos de riqueza. Os
municípios estão dentro desse estuário e precisamos nos apropriar de
conhecimento que é a melhor forma de se desenvolver. Temos uma riqueza natural
e não podemos descuidar do ribeirinho que integra esse complexo que não é só o
açaí, o peixe e outros elementos. A riqueza também é povo que vive aí”,
enfatizou o gestor amapaense considerando que esse cuidado com o ribeirinho só
pode ser feito num processo de integração interestadual. “É o Pará e o Amapá se
juntando para conseguirem usar melhor essa riqueza”, completou.
Vocações agrícolas
O secretário de Estado do
Desenvolvimento Rural do Amapá (SDR), Osvaldo Hélio, também integra a linha de
frente do Plano de Trabalho Conjunto do Executivo Estadual. Ele disse que foi
montada uma estratégia para se trabalhar por território devido à similaridade
de vocações agrícolas que existe em cada região.
Segundo a SDR, os municípios de
Pracuuba, Amapá, Tartarugalzinho e Calçoene, por exemplo, tem uma
característica em comum com vocações voltadas para a pesca, a pecuária e
agricultura com foco na mandioca e açaí. Já as cidades de Ferreira Gomes, Porto
Grande e Serra do Navio, tem como forte a fruticultura com foco no abacaxi,
além da banana, cupuaçu, hortaliças, mandioca e açaí. Mazagão, Laranjal do Jari
e Vitória do Jari, tem na sua base o extrativismo da castanha e açaí, além da
psicultura, camarão e farinha de mandioca. Macapá, Santana, Cutias e Itaubal
tem vocações na produçãi de grãos e mandioca. “Cada município tem várias
atividades econômicas. Mas, estas que foram elencadas são as que mais se pratica
e onde a nossa política pública estará focalizada”, complementou o titular da
SDR.
Osvaldo Hélio ressaltou que a
preocupação do Governo do Amapá foi buscar essa integração para que seja
trabalhada uma agenda compartilhada e se otimize os recursos financeiros,
estruturais e de pessoal para potencializar as vocações municipais. “Essa ajuda
aos municípios vem valorizar a produção agrícola”, reforçou o secretário de
Desenvolvimento Rural. A partir desse planejamento será estabelecida uma agenda
de trabalho para a execução das políticas públicas focadas na produção de
alimentos e setor florestal.
O titular da SDR frisou, ainda, que
com o advento da Zona Franca Verde, certamente as matérias-primas destas
regiões estarão sendo ofertadas para as indústrias que virem se instalar em
Macapá, Santana e Mazagão. “E com Almeirim, não será diferente porque ele
compõe uma geopolítica do Vale do Jari. Monte Dourado está do outro lado do
rio. Então, não podemos ficar de costas para o Estado do Pará, temos que olhar
de frente”, finalizou.
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