Presidencialismo
sem líder
Amadeu Roberto
Garrido de Paula*
O título já enuncia o paradoxo. O
regime exige a figura de um líder, um "l'homme fatal", o aventureiro
corso que veio do nada, sem projetos, para dominar por dominar. Daí sua
admiração histórica, até pelos inimigos. Na marra, tornou a insalubre Paris a
semente da cidade entre as mais belas do mundo. "Ele é admirado precisamente
por essa razão, por ser o ponto culminante de força de vontade elevada a seu
nível mais alto - da possibilidade de impor a sua vontade aos outros, como um
fim em si mesmo." (Isaiah Berlim).
Seu potencial íntimo conquistou o
mundo exterior e mandou a corte portuguesa para a Bahia e o Rio de
Janeiro.
O lulopetismo, ao voar num avião
incapaz de superar uma turbulência ética fatal, indiretamente lançou um
paraquedas com o vice-presidente eleito na barra de suas saias.
Presidente do grande partido de
sustentação, o PMDB, teria tudo para mudar este país. De maneira radical, pois
não há outra. É necessário, porém, algo mais, que não depende da política, mas
da natureza dos homens. Há poucos homens dotados de uma luz interior e
poderosa, que construíram a história. Se necessário, entregam sua via ao auto
sacrifício, seja correto ou não seu ideal. À evidência, Temer não é um deles. O
discurso monocórdico sobre a reforma da previdência demonstra sua mediocridade.
Seu Ministro da Fazenda chega ao ponto de apontar a previdência como causa
única de nosso estado deplorável.
Trocou vários ministros, modificou
vários planos anunciados, alterou pronunciamentos e arrependeu-se. É a
inanidade em pessoa. Dirão que não somos patriotas, porque não temos
outros, somos obrigados a caçar com gato. Diz que sim, mas não lidera
politicamente as forças parlamentares, que poderão defenestrá-lo a qualquer
momento. E engoliremos alguém indicado por esse admirável Congresso.
Não há a mencionada "força de
vontade" diretamente voltada aos objetivos nacionais necessários. Gilmar
Mendes, Ministro de um poder não eleito e que não pode transformar o País,
parece querer auxiliá-lo emitindo duas "decisões monocráticas", que
inviabilizam os Sindicatos, isto é, com bravura, levanta de madrugada com seu
archote para matar de vez o lobo que ataca nossos semoventes: o
"peleguismo sindical". Uma visão completamente enviesada do tema. E a
sensibilidade do assunto - relações entre o capital e o trabalho - induz a
responsabilidade direta do Presidente da República, não decisões
"virtuais" de uma Corte Judiciária e de um único Ministro.
Em nenhuma conduta se vê em Temer a
força interior, do eu-profundo, do talento nato para conduzir, indispensável
mesmo nas democracias. Pior, não há heróis futuros. Sem eles, nada feito.
Afastando seu próprio culto da personalidade, o PT impediu que
eles fossem criados. As instituições funcionariam por si mesmas, é a
liberdade das democracias. Está visto que não. Aí o Supremo interfere, como se
em algum lugar do mundo tivesse saído vencedor um governo de juízes. Em
suma, como no dito popular, estamos num mato sem cachorro. Salvo
se percebêssemos a necessidade do parlamentarismo não emergencial,
mas sadio, que funciona na maior parte das democracias ocidentais.
Amadeu Roberto Garrido de Paula, é
Advogado, um renomado jurista brasileiro com uma visão bastante crítica sobre
política, assunto internacionais, temas da atualidade em geral.
Esse texto está livre para
publicação.
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