sexta-feira, 7 de abril de 2017

PIONEIRISMO





"As práticas nocivas à sociedade devem ser combatidas na infância para não termos jovens marginais e drogados. Eduquem e terão filhos cidadãos de bem".

Alberto Lima Ramalho, O gravador.






REINALDO COELHO

Cabelos brancos, olhar doce e sereno, esse é Alberto Lima Ramalho, mais conhecido  como Alberto, O Gravador, 73 anos, morador do centro comercial , zona Leste de Macapá. Com fineza e doçura, em uma mesinha de gravador de brinde adornada com água, café e instrumentos de trabalho na Avenida Coaracy Nunes, ele abriu seu coração para nos contar um pouco de sua história.

Nascido em Fortaleza (CE) é o mais velho de 16 irmãos nascidos da união de Joaquim Ramalho Filho e Zilda Ramalho. Na cidade, ele ficava observando os gravadores de caneta, isqueiro, troféus, relógios, cordões, pulseiras e outros objetos de valor, com o nome de pessoas. Ficava horas vendo "aquela arrumação".


Embora não tivesse tempo para dedicar-se aos estudos, aprendeu a ler a escrever e foi trabalhar em lojas que vendiam canetas, relógios e outros objetos, alvo da "cobiça profissional". De tanto olhar aprendeu o ofício. Adquiriu logo a ferramenta para fazer os primeiros riscos.


Precisava aperfeiçoar a caligrafia. "Fazer letras bonitas era a consagração. Foi quando comprei o livro Sempre é Tempo, do professor Antônio de Franco e este livro de caligrafia era tudo que eu precisava". Sou autodidata, relembra "Alberto Gravador", apelido herdado da profissão, para sair gravando pelo Nordeste.

Ele conta que estudou até o ginasial no colégio Dom Bosco, mas não concluiu os estudos, pois conheceu a jovem Maria Etelinda Freitas Ramalho quando tinha quinze anos e aos 20 se casaram em 1960. Ele detalha brincando que "meu pais fizeram tantos filhos, que eu envergonhado fiquei frustrado e não fiz nenhum. São 53 anos de casamento e eterno namoro".


A decisão de vir até Belém (PA) se deu pelos familiares dela ali residirem, foi quando resolveu passar dez dias em Macapá e já se passaram 50 anos. "Em 1964 vim para Macapá e estou fixado aqui. Graças a Deus não me dei mal".

Um tanto emocionado, mas firme nas palavras, Alberto Ramalho  conta como foi o início da sua carreira. Aos 23 anos, devido à necessidade de se estabelecer, começou a trabalhar vendendo canetas no mercado central em frente à Fortaleza de São José de Macapá. "O meu artigo principal de venda era a caneta, mas vendia de tudo um pouco. Eu era o que hoje chamam de empreendedor ambulante ou camelô. Naquela época não éramos perseguidos".

Atuou como ourives e gravador de jóias, ocupação que exerce até hoje. "Me dediquei à gravação de jóias e artefatos de metal e canetas. Hoje, a procura é pequena, está tudo moderno. Mas ainda se faz alguma coisa. O trabalho artesanal nunca acaba".

Logo em seguida aluguei um ponto ao lado do tradicional Bar Du Pedro, que até hoje ali existe. "Meu empreendimento foi crescendo e a clientela também, então montei um armarinho na Cândido Mendes, alí, onde é hoje o Banco do Brasil. Infelizmente veio o trágico incêndio que destruiu todo o comércio. Isso muito me afetou economicamente, pois já tinha aberto mais uma filial da empresa na Cândido Mendes com a Coaracy Nunes. Para minha sorte, eu já tinha adquirido esse prédio onde hoje está minha lojinha e residência. "Minha casa, oficina e loja, que fica na Coaracy Nunes, 55, desde quando aqui cheguei, ficava num 'gapó' entre pontes. Este centro todinho era de ponte. A água fazia parte de quase tudo aqui", relembra apontando para "a área que começa na Fortaleza de São José até a Rua São José", relembra. "Para você ter uma idéia  em 1963 só haviam oito carros de praça". "Macapá era uma 'fartura'. Faltava tudo e era fila para comprar até um quilo de alimentos. Vivíamos momentos difíceis Mas hoje a cidade está uma beleza, começando a se transformar numa metrópole. Eu me sinto bem aqui".

Lembranças



Levamos Alberto a recordar dos tempos do Mercado Central e ele rapidamente rebateu: "muitos dizem que bom foi a passado e eu digo, bom é hoje. O Mercado Central tem uma grande história para Macapá. Porque ali era o ponto de encontro de todos os moradores. Era ali que se fazia fila para comprar carne, do pobre ao alto escalão do governo, e se aproveitava para trocar ideias, fazer negócios, namorar e "futricar". Naquela época não tinha supermercado ou açougues. Tudo começava na madrugada até a noite, com uma gelada no Bar Du Pedro.

Mensagem



Ele aconselha que a juventude tem que procurar estudar, porque a vida só é florida para quem estuda e trabalha. "Quem não luta pela vida, muito cedo se atrapalha. Eles devem procurar sentir o que precisam para suas vidas e consequentemente para os filhos e netos e a educação é o melhor. Bens materiais não importam. Não existe bem maior que a sabedoria. Se alguém tem o saber, vive e passa para os filhos. Se ele não tem, o que vai passar para sua geração. Os pais têm que ter responsabilidade na educação dos filhos e consequentemente formá-los.  O professor e a escola são responsáveis pela formação, e os pais pela educação. As práticas nocivas à sociedade devem ser combatidas na infância, para não termos jovens marginais e drogados. Eduquem e terão filhos cidadãos de bem". Alberto conclui seu relato com ar de satisfação dizendo que é um homem muito realizado: "Eu acho que para uma história bonita como a que eu pude viver, não há ponto final"

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