"As práticas
nocivas à sociedade devem ser combatidas na infância para não termos jovens
marginais e drogados. Eduquem e terão filhos cidadãos de bem".
Alberto Lima Ramalho, O gravador.
REINALDO COELHO
Cabelos brancos, olhar doce e sereno, esse é
Alberto Lima Ramalho, mais conhecido
como Alberto, O Gravador, 73 anos, morador do centro comercial , zona
Leste de Macapá. Com fineza e doçura, em uma mesinha de gravador de brinde
adornada com água, café e instrumentos de trabalho na Avenida Coaracy Nunes,
ele abriu seu coração para nos contar um pouco de sua história.
Nascido em Fortaleza (CE) é o mais velho de 16
irmãos nascidos da união de Joaquim Ramalho Filho e Zilda Ramalho. Na cidade,
ele ficava observando os gravadores de caneta, isqueiro, troféus, relógios,
cordões, pulseiras e outros objetos de valor, com o nome de pessoas. Ficava
horas vendo "aquela arrumação".
Embora não tivesse tempo para dedicar-se aos
estudos, aprendeu a ler a escrever e foi trabalhar em lojas que vendiam
canetas, relógios e outros objetos, alvo da "cobiça profissional". De
tanto olhar aprendeu o ofício. Adquiriu logo a ferramenta para fazer os
primeiros riscos.
Precisava aperfeiçoar a caligrafia. "Fazer
letras bonitas era a consagração. Foi quando comprei o livro Sempre é Tempo, do
professor Antônio de Franco e este livro de caligrafia era tudo que eu
precisava". Sou autodidata, relembra "Alberto Gravador", apelido
herdado da profissão, para sair gravando pelo Nordeste.
Ele conta que estudou até o ginasial no colégio
Dom Bosco, mas não concluiu os estudos, pois conheceu a jovem Maria Etelinda
Freitas Ramalho quando tinha quinze anos e aos 20 se casaram em 1960. Ele
detalha brincando que "meu pais fizeram tantos filhos, que eu envergonhado
fiquei frustrado e não fiz nenhum. São 53 anos de casamento e eterno
namoro".
A decisão de vir até Belém (PA) se deu pelos
familiares dela ali residirem, foi quando resolveu passar dez dias em Macapá e
já se passaram 50 anos. "Em 1964 vim para Macapá e estou fixado aqui.
Graças a Deus não me dei mal".
Um tanto emocionado, mas firme nas palavras,
Alberto Ramalho conta como foi o início
da sua carreira. Aos 23 anos, devido à necessidade de se estabelecer, começou a
trabalhar vendendo canetas no mercado central em frente à Fortaleza de São José
de Macapá. "O meu artigo principal de venda era a caneta, mas vendia de
tudo um pouco. Eu era o que hoje chamam de empreendedor ambulante ou camelô.
Naquela época não éramos perseguidos".
Atuou como ourives e gravador de jóias,
ocupação que exerce até hoje. "Me dediquei à gravação de jóias e artefatos
de metal e canetas. Hoje, a procura é pequena, está tudo moderno. Mas ainda se
faz alguma coisa. O trabalho artesanal nunca acaba".
Logo em seguida aluguei um ponto ao lado do
tradicional Bar Du Pedro, que até hoje ali existe. "Meu empreendimento foi
crescendo e a clientela também, então montei um armarinho na Cândido Mendes,
alí, onde é hoje o Banco do Brasil. Infelizmente veio o trágico incêndio que
destruiu todo o comércio. Isso muito me afetou economicamente, pois já tinha
aberto mais uma filial da empresa na Cândido Mendes com a Coaracy Nunes. Para
minha sorte, eu já tinha adquirido esse prédio onde hoje está minha lojinha e
residência. "Minha casa, oficina e loja, que fica na Coaracy Nunes, 55,
desde quando aqui cheguei, ficava num 'gapó' entre pontes. Este centro todinho
era de ponte. A água fazia parte de quase tudo aqui", relembra apontando
para "a área que começa na Fortaleza de São José até a Rua São José",
relembra. "Para você ter uma idéia
em 1963 só haviam oito carros de praça". "Macapá era uma
'fartura'. Faltava tudo e era fila para comprar até um quilo de alimentos.
Vivíamos momentos difíceis Mas hoje a cidade está uma beleza, começando a se transformar
numa metrópole. Eu me sinto bem aqui".
Lembranças
Levamos Alberto a recordar dos tempos do
Mercado Central e ele rapidamente rebateu: "muitos dizem que bom foi a
passado e eu digo, bom é hoje. O Mercado Central tem uma grande história para Macapá.
Porque ali era o ponto de encontro de todos os moradores. Era ali que se fazia
fila para comprar carne, do pobre ao alto escalão do governo, e se aproveitava
para trocar ideias, fazer negócios, namorar e "futricar". Naquela
época não tinha supermercado ou açougues. Tudo começava na madrugada até a
noite, com uma gelada no Bar Du Pedro.
Mensagem
Ele aconselha que a juventude tem que procurar
estudar, porque a vida só é florida para quem estuda e trabalha. "Quem não
luta pela vida, muito cedo se atrapalha. Eles devem procurar sentir o que
precisam para suas vidas e consequentemente para os filhos e netos e a educação
é o melhor. Bens materiais não importam. Não existe bem maior que a sabedoria.
Se alguém tem o saber, vive e passa para os filhos. Se ele não tem, o que vai
passar para sua geração. Os pais têm que ter responsabilidade na educação dos
filhos e consequentemente formá-los. O
professor e a escola são responsáveis pela formação, e os pais pela educação.
As práticas nocivas à sociedade devem ser combatidas na infância, para não
termos jovens marginais e drogados. Eduquem e terão filhos cidadãos de
bem". Alberto conclui seu relato com ar de satisfação dizendo que é um
homem muito realizado: "Eu acho que para uma história bonita como a que eu
pude viver, não há ponto final"
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