TERROR NAS PEQUENAS CIDADES
Alerta Vermelho. BOPE/COE/AP treina técnicas de combate a quadrilhas do
'Novo cangaço'.
Reinaldo Coelho
‘Novo Cangaço’ é como estão sendo denominadas
as ações de algumas quadrilhas que invadem e sitiam cidades de pequeno e médio
porte, atacam empresas de valores, agencias bancárias, planejam e organizam o
assalto e durante a abordagem usam armamento pesado, de grosso calibre,
coletes a prova de balas e durante a ação transformam os cidadãos em reféns e escudo
humano e fogem de camionetes e depois se camuflam na mata. Usam táticas de
guerrilha, o que remete a possibilidade de muitas vezes serem ex-militares das
forças armadas e ex-policiais. Eles têm treinamento de guerrilha para ficarem
dias e até meses na mata sem serem localizados. Nem com helicóptero é possível
rastreá-los no meio do matagal.
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Assalto realizado por quadrilhas que usam o método do novo cangaço |
Em todos os Estados que essas quadrilhas vêm
agindo, os órgãos de repreensão do estado têm agido intensamente no combate a
esses ‘novos cangaceiros’, porém, no Estado de Mato Grosso, aconteceram operações intensas de combate às quadrilhas
nos últimos anos, com sucesso que incluiu a prisão de um homem apontado pela
polícia como Lampião do século 21, por praticamente fechar as cidades atacadas.
Essas técnicas utilizadas pelos agentes policiais mato-grossense afastou os
meliantes do Estado do Centro-Oeste.
Parte desses grupos migraram de Estados nordestinos como Maranhão e
Ceará e após o cerco da polícia, passaram a agir também no Acre e em Rondônia.
BOPE do Amapá faz treinamentos contra modalidade de crime conhecida como
'Novo Cangaço'
O Amapá ao tomar conhecimento dessas ações e
pela análise de inteligência do segurança pública estão se aproximando das
cidades amapaenses procurou se antecipar as ações desses ‘cangaceiros
modernizados’ e está montando estratégias de combate e treinando suas equipes
especializadas a conhecerem as técnicas utilizadas pelas quadrilhas e montar o
contra-ataque com a prevenção. Para isso convidou a Policia Militar do Mato
Grosso e do Pará, para com a repassar a experiência por eles conseguida no
combate a essas ações de bandidagem, visto que há quase quatro anos vinham
sofrendo com as invasões e domínios das pequenas cidades mato-grossenses, hoje
conseguindo dominar e afastar as quadrilhas.
Treinamentos em parcerias
Na última segunda-feira (12) aconteceu a
abertura do curso de treinamento para combate a essa modalidade de crime. O
curso foi dividido em duas etapas, teórico e prática. A primeira aconteceu no Museu
Sacaca, com aula inaugural ministrada pelo Comandante do BOPE, Tenente Coronel Paulo
Matias e de oficias da Polícia paraense e do Major Marcos Paccola, da Policia
Militar de Mato Grosso.
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Major Paccola, oficial da Policia Militar de Mato Grosso, ministrou o treinamento a COE-AP |
Major Paccola, foi um dos palestrantes do
Curso de Enfretamento das ações das quadrilhas denominadas ‘Novo Cangaço’ e que
vem sendo utilizadas por grupos de bandidos na maioria dos Estados brasileiros.
Os Estados da Região Norte, passaram a ser os novos alvos dessa quadrilha que
já agiram no Acre, Amazonas e Rondônia. Pará e Amapá que tem a maioria das suas
cidades com grande cobertura florestal, tornando-se excelentes locais para o
modo operante desses bandidos, que após cometerem seus atos criminosos se
escondem nas matas, dificultando o acesso policial.
Então através desse curso o Amapá se antecipa
as ações dos meliantes e coloca as suas equipes de Operações Especiais do Amapá
em alerta vermelho, especificamente aos membros da Companhia de Operações Especiais
(COE). De acordo com o oficial militar mato-grossense, Paccola, isso é muito
bom, pois o treinamento e o alerta darão as equipes de segurança condições um
enfrentamento seguro para os policiais e principalmente para o cidadão.
O Coronel Matias, explicou a reportagem que a
polícia militar já está capacitada para atuar em situações de crises com
reféns, os grupos especiais tiveram treinamentos nessa especifica modalidade de
crime e os oficias do BOPE foram treinados e capacitados para enfrentamento do
crime.
“Essa
experiência com a técnica de gerenciamento de crise com reféns vem contribuir
para combater essa nova modalidade criminosa, que é totalmente diferente com
que os órgãos de segurança já lidaram. Como sempre o Estado do Amapá, vem
sempre atuando de maneira preventiva e pensado sempre à frente da criminalidade”.
O Comandante do BOPE/AP ressalta que para o
fortalecimento das equipes amapaenses as parcerias com as policias de outros Estados
vem contribuir para o sucesso ao combate à criminalidade. “Agora já vislumbrando esse crime conhecido como ‘Novo Cangaço’ nós já
procuramos parceria com outras policias da federação brasileira, como é caso do
Estado do Mato Grosso, para que pudessem trazer essa experiência de atuação à
frente a esse tipo de criminalidade, para que em uma situação que possa ocorrer
aqui no nosso Estado, nós estejamos preparados para agir da maneira mais
correta possível”, explicou o Cel. Matias.
Esse novo tipo de criminalidade vinha ocorrendo
com maior incidência nos Estados nordestinos, e está se espalhando para outros
Estados e de acordo com a compreensão do Coronel Matias, “mais cedo ou mais tarde ele chega ao Estado do Amapá, não tenho dúvidas
quanto a isso, mas estamos nos preparando para enfrentá-los”.
A COE, que tem o comando do Capitão Lima
Lúcio, é a que toma frente dos gerenciamentos de crise em todo o Estado, explicou
a reportagem, que a COE tem uma atuação muito presente no interior do Amapá. “O nosso Estado tem uma cobertura vegetal
muito grande e acesso por rios e além desses criminosos do novo cangaço, é
interessante que troquemos experiências para podermos atuar rotineiramente no
Estado. O que aqui vai ser lecionado e essa aprendizagem vai atender as nossas
necessidades no combate a qualquer crime semelhante. O combate a esse novo
delito e de estarmos preparados para enfrentar essa nova situação”.
A nova metodologia de ação ministrada pelo oficial mato-grossense, no que se refere a caça dos bandidos nas florestas, que é uma das características deles se esconderem em mata fechada traz benefícios para que a possa a COE atuar no combate de outros crimes da mesma natureza. “Esses membros dessas quadrilhas tem um grande conhecimento de matas e ali se entocam com a certeza de que as polícias não vão capturá-los. Então a COE tendo essa preparação ela vai adquirir esses novos conhecimentos com essa troca de experiência e também empregá-los em natureza que são recorrentes aqui no Estado”, definiu o Capitão Lima Lucio.
A nova metodologia de ação ministrada pelo oficial mato-grossense, no que se refere a caça dos bandidos nas florestas, que é uma das características deles se esconderem em mata fechada traz benefícios para que a possa a COE atuar no combate de outros crimes da mesma natureza. “Esses membros dessas quadrilhas tem um grande conhecimento de matas e ali se entocam com a certeza de que as polícias não vão capturá-los. Então a COE tendo essa preparação ela vai adquirir esses novos conhecimentos com essa troca de experiência e também empregá-los em natureza que são recorrentes aqui no Estado”, definiu o Capitão Lima Lucio.
O comandante da COE ainda explicou que a
experiência dos policiais do COE/Pará e de Mato Grosso vem acrescentar as
técnicas já utilizadas pela companhia em combates no Amapá. “A nossa atuação é em combate aos crimes de
maior complexidade, como situações com explosivo, ocorrência com reféns, em
área de mata e onde haja necessidade de resgate de refém. São várias as
situações e entre elas a operação em áreas de selva”.
A reportagem recebeu do representante da
polícia militar de Mato Grosso, Major Marcos Paccola, a explicação que através
da sua palestra aos membros do BOPE/COE do Amapá será repassada a conhecimento
que tiveram no combate aos membros das quadrilhas que criminosamente invadiram
cidades do Estado de Mato Grosso, explodindo agências bancárias, assaltando
pontos lotéricos e de correio e fazendo do cidadão reféns.
“O que
estamos trazendo são as experiências que o Mato Grosso vivenciou e vivência,
mas se organizou de uma maneira que deu resultado, que hoje é disseminado em
todo o Brasil e em especial os Estados como o Amapá, Pará, Amazonas e Tocantins
que tem uma marca comum, que são as matas. Esse treinamento em sua maior parte
está voltado em buscar os meliantes dentro das matas”.
O oficial militar explicou que a atuação
dessas quadrilhas são organizadas e principalmente se ajudam mutuamente. E que elas
atuam em locais onde tem muito dinheiro,
atacam as mineradoras, aeronaves que transportam valores, tudo que tenham dinheiro,
estão diretamente ligados ao tráfico internacional de drogas e armas. “Elas são quadrilhas gigantescas que estão
espalhadas em todos os Estados da Federação e se organizam de diversas formas,
com o único objetivo de arrecadar o maior número de numerários. Eles atacam os
locais de autoatendimento, carro forte, bases de valores, bancos, nas
modalidades mais diversas e dependendo da região as quadrilhas desenvolveram
seus próprios métodos de atuação. Eles são do sul, do nordeste, mas todos tem um
planejamento parecido e o principal as quadrilhas hoje se organizam e se
integram, ajudando muitos umas às outra, coisa que temos dificuldade em fazer
no sistema atual de segurança pública no Brasil. Se aqui ainda não aconteceu
ainda, mas com certeza o Estado do Amapá pode ser a próxima vítima e ai nossas
considerações pela Polícia do Pará e do Amapá em se anteciparem, pois quando
chegou conosco, só fomos nos preparar quando chegou um Estado completamente
crítico na época chegamos a ter, dia sim dia não, quase 154 arrombamentos de
terminais em um ano e 17 situações do ‘Novo Cangaço’ no Estado, a companhia
passava o tempo todo operando e essas experiências é que serão transmitidas para
os colegas do Amapá”.
O Capitão Paccola finaliza dizendo que essa
nova modalidade criminosa é uma afronta a todo o aparato de segurança e a todo
o Estado. “Eles dominam temporariamente
todo o território de uma cidade, passam a ser os donos e dão as ordens. Tem
cidades que eles roubam três ou quatro bancos, lotéricas, joelheiras, fazem um
“limpa” na cidade, o que lembra a situação da época do cangaço, porém agora não
tem nada ideológico, mas somente a finalidade de criminalizar e captar recursos
para a compra de mais armamentos”.
Essa nova categoria de assaltos a bancos vem
causando terror nas cidades interioranas brasileiras. O modus operandi dos
“novos cangaceiros” tem semelhança com o velho cangaço. Este, não raro, fazia
uso de reféns – o bando também era grande, de 10 a 15 membros –, e preferia
atacar pequenas cidades.
Lampião, com seu bando, conseguiu dominar o
sertão durante anos. De acordo com o historiador Adauto Leitão, os cangaceiros
tinham modo destemido de atuação. “Era um
grupo organizado que não se estabilizava em uma cidade. Atuava fortemente
armado, sitiava o local e fazia a polícia refém das suas ações. Os cangaceiros
de Lampião gostavam de desafiar os policiais”, afirma. O mesmo acontece
atualmente nos ataques às agências bancárias no interior do Ceará.
Diferenças
Apesar da semelhança, existem diferenças. A
atuação do bando de Lampião, de acordo com o historiador, tinha um cunho
sociológico. O objetivo era invadir as cidades e fazer justiça a seu modo.
Lembrado como Robin Hood, Lampião era conhecido por roubar dos ricos para dar
aos pobres. Tornou-se personagem do imaginário brasileiro. “Fazia ‘caridade’, assistindo as pessoas do
meio rural que tinham necessidades”.
O ‘Novo Cangaço’ já faz parte de outra
conotação. “São grupos criminosos, que
saqueiam os bancos, sejam privados ou públicos. O que interessa é recurso
financeiro para alimentar grupos organizados como o PCC [Primeiro Comando da
Capital], por exemplo”.
Além disso, segundo Leitão, o cangaço
original tinha um viés da cultura nordestina, seja no traje ou alimentação.
Agia armado em seus cavalos. “Lampião e
os cangaceiros eram nordestinos natos. Esses novos são de vários Estados. As
quadrilhas têm integrantes cearenses, paulistas, cariocas, qualquer brasileiro.
Não existe esse conceito de ser nordestino”, conclui.
Medo
A principal diferença, no entanto, é o temor
que os novos cangaceiros deixam nas pessoas. A violência assusta. A sensação de
insegurança aumenta. Desde o último ataque ao banco de Baturité a tranquilidade
no município acabou. “A gente está preocupada,
porque a qualquer momento pode acontecer de novo”, lamenta um morador da
cidade de Baturité, a 93 KM de Fortaleza, que – por medo – preferiu não se
identificar. As pessoas andam com medo e não gostam nem de comentar o que
acontec6eu.
“Não há
policiais suficientes para a cidade. Se você precisar de uma viatura e pedir
socorro, é melhor chamar logo o rabecão, porque a polícia vai demorar mais de
uma hora para te atender”, lamenta Teógenes da Silva, comerciante. O senhor
Januário de Abreu, aposentado, se revolta com a situação que a cidade vive. “Eu só queria que minha cidade fosse segura
de novo. Hoje, tudo mudou”, desabafa com os olhos vermelhos, entristecido.
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