sábado, 17 de junho de 2017

TERROR NAS PEQUENAS CIDADES




TERROR NAS PEQUENAS CIDADES


Alerta Vermelho. BOPE/COE/AP treina técnicas de combate a quadrilhas do 'Novo cangaço'.

Reinaldo Coelho

‘Novo Cangaço’ é como estão sendo denominadas as ações de algumas quadrilhas que invadem e sitiam cidades de pequeno e médio porte, atacam empresas de valores, agencias bancárias, planejam e organizam o assalto e durante a abordagem   usam armamento pesado, de grosso calibre, coletes a prova de balas e durante a ação transformam os cidadãos em reféns e escudo humano e fogem de camionetes e depois se camuflam na mata. Usam táticas de guerrilha, o que remete a possibilidade de muitas vezes serem ex-militares das forças armadas e ex-policiais. Eles têm treinamento de guerrilha para ficarem dias e até meses na mata sem serem localizados. Nem com helicóptero é possível rastreá-los no meio do matagal.
Assalto realizado por quadrilhas que usam o método do novo cangaço

Em todos os Estados que essas quadrilhas vêm agindo, os órgãos de repreensão do estado têm agido intensamente no combate a esses ‘novos cangaceiros’, porém, no Estado de Mato Grosso, aconteceram   operações intensas de combate às quadrilhas nos últimos anos, com sucesso que incluiu a prisão de um homem apontado pela polícia como Lampião do século 21, por praticamente fechar as cidades atacadas. Essas técnicas utilizadas pelos agentes policiais mato-grossense afastou os meliantes do Estado do Centro-Oeste.   Parte desses grupos migraram de Estados nordestinos como Maranhão e Ceará e após o cerco da polícia, passaram a agir também no Acre e em Rondônia.

BOPE do Amapá faz treinamentos contra modalidade de crime conhecida como 'Novo Cangaço'
 
Tenente Coronel Pedro Matias
 comandante do BOPE- Amapá
O Amapá ao tomar conhecimento dessas ações e pela análise de inteligência do segurança pública estão se aproximando das cidades amapaenses procurou se antecipar as ações desses ‘cangaceiros modernizados’ e está montando estratégias de combate e treinando suas equipes especializadas a conhecerem as técnicas utilizadas pelas quadrilhas e montar o contra-ataque com a prevenção. Para isso convidou a Policia Militar do Mato Grosso e do Pará, para com a repassar a experiência por eles conseguida no combate a essas ações de bandidagem, visto que há quase quatro anos vinham sofrendo com as invasões e domínios das pequenas cidades mato-grossenses, hoje conseguindo dominar e afastar as quadrilhas.

Treinamentos em parcerias

Na última segunda-feira (12) aconteceu a abertura do curso de treinamento para combate a essa modalidade de crime. O curso foi dividido em duas etapas, teórico e prática. A primeira aconteceu no Museu Sacaca, com aula inaugural ministrada pelo Comandante do BOPE, Tenente Coronel Paulo Matias e de oficias da Polícia paraense e do Major Marcos Paccola, da Policia Militar de Mato Grosso.
Major Paccola, oficial
da Policia Militar de Mato Grosso,
 ministrou o treinamento a COE-AP

Major Paccola, foi um dos palestrantes do Curso de Enfretamento das ações das quadrilhas denominadas ‘Novo Cangaço’ e que vem sendo utilizadas por grupos de bandidos na maioria dos Estados brasileiros. Os Estados da Região Norte, passaram a ser os novos alvos dessa quadrilha que já agiram no Acre, Amazonas e Rondônia. Pará e Amapá que tem a maioria das suas cidades com grande cobertura florestal, tornando-se excelentes locais para o modo operante desses bandidos, que após cometerem seus atos criminosos se escondem nas matas, dificultando o acesso policial.
Então através desse curso o Amapá se antecipa as ações dos meliantes e coloca as suas equipes de Operações Especiais do Amapá em alerta vermelho, especificamente aos membros da Companhia de Operações Especiais (COE). De acordo com o oficial militar mato-grossense, Paccola, isso é muito bom, pois o treinamento e o alerta darão as equipes de segurança condições um enfrentamento seguro para os policiais e principalmente para o cidadão.

O Coronel Matias, explicou a reportagem que a polícia militar já está capacitada para atuar em situações de crises com reféns, os grupos especiais tiveram treinamentos nessa especifica modalidade de crime e os oficias do BOPE foram treinados e capacitados para enfrentamento do crime.
Essa experiência com a técnica de gerenciamento de crise com reféns vem contribuir para combater essa nova modalidade criminosa, que é totalmente diferente com que os órgãos de segurança já lidaram. Como sempre o Estado do Amapá, vem sempre atuando de maneira preventiva e pensado sempre à frente da criminalidade”.
O Comandante do BOPE/AP ressalta que para o fortalecimento das equipes amapaenses as parcerias com as policias de outros Estados vem contribuir para o sucesso ao combate à criminalidade. “Agora já vislumbrando esse crime conhecido como ‘Novo Cangaço’ nós já procuramos parceria com outras policias da federação brasileira, como é caso do Estado do Mato Grosso, para que pudessem trazer essa experiência de atuação à frente a esse tipo de criminalidade, para que em uma situação que possa ocorrer aqui no nosso Estado, nós estejamos preparados para agir da maneira mais correta possível”, explicou o Cel. Matias.

Esse novo tipo de criminalidade vinha ocorrendo com maior incidência nos Estados nordestinos, e está se espalhando para outros Estados e de acordo com a compreensão do Coronel Matias, “mais cedo ou mais tarde ele chega ao Estado do Amapá, não tenho dúvidas quanto a isso, mas estamos nos preparando para enfrentá-los”.
A COE, que tem o comando do Capitão Lima Lúcio, é a que toma frente dos gerenciamentos de crise em todo o Estado, explicou a reportagem, que a COE tem uma atuação muito presente no interior do Amapá. “O nosso Estado tem uma cobertura vegetal muito grande e acesso por rios e além desses criminosos do novo cangaço, é interessante que troquemos experiências para podermos atuar rotineiramente no Estado. O que aqui vai ser lecionado e essa aprendizagem vai atender as nossas necessidades no combate a qualquer crime semelhante. O combate a esse novo delito e de estarmos preparados para enfrentar essa nova situação”.
A nova metodologia de ação ministrada pelo oficial mato-grossense, no que se refere a caça dos bandidos nas florestas, que é uma das características deles se esconderem em mata fechada traz benefícios para que a possa a COE atuar no combate de outros crimes da mesma natureza. “Esses membros dessas quadrilhas tem um grande conhecimento de matas e ali se entocam com a certeza de que as polícias não vão capturá-los. Então a COE tendo essa preparação ela vai adquirir esses novos conhecimentos com essa troca de experiência e também empregá-los em natureza que são recorrentes aqui no Estado”, definiu o Capitão Lima Lucio.

O comandante da COE ainda explicou que a experiência dos policiais do COE/Pará e de Mato Grosso vem acrescentar as técnicas já utilizadas pela companhia em combates no Amapá. “A nossa atuação é em combate aos crimes de maior complexidade, como situações com explosivo, ocorrência com reféns, em área de mata e onde haja necessidade de resgate de refém. São várias as situações e entre elas a operação em áreas de selva”.
A reportagem recebeu do representante da polícia militar de Mato Grosso, Major Marcos Paccola, a explicação  que através  da sua palestra aos membros do BOPE/COE do Amapá será repassada a conhecimento que tiveram no combate aos membros das quadrilhas que criminosamente invadiram cidades do Estado de Mato Grosso, explodindo agências bancárias, assaltando pontos lotéricos e de correio e fazendo do cidadão   reféns.
O que estamos trazendo são as experiências que o Mato Grosso vivenciou e vivência, mas se organizou de uma maneira que deu resultado, que hoje é disseminado em todo o Brasil e em especial os Estados como o Amapá, Pará, Amazonas e Tocantins que tem uma marca comum, que são as matas. Esse treinamento em sua maior parte está voltado em buscar os meliantes dentro das matas”.
O oficial militar explicou que a atuação dessas quadrilhas são organizadas e principalmente se ajudam mutuamente. E que elas   atuam em locais onde tem muito dinheiro, atacam as mineradoras, aeronaves que transportam valores, tudo que tenham dinheiro, estão diretamente ligados   ao tráfico internacional de drogas e armas. “Elas são quadrilhas gigantescas que estão espalhadas em todos os Estados da Federação e se organizam de diversas formas, com o único objetivo de arrecadar o maior número de numerários. Eles atacam os locais de autoatendimento, carro forte, bases de valores, bancos, nas modalidades mais diversas e dependendo da região as quadrilhas desenvolveram seus próprios métodos de atuação. Eles são do sul, do nordeste, mas todos   tem um planejamento parecido e o principal as quadrilhas hoje se organizam e se integram, ajudando muitos umas às outra, coisa que temos dificuldade em fazer no sistema atual de segurança pública no Brasil. Se aqui ainda não aconteceu ainda, mas com certeza o Estado do Amapá pode ser a próxima vítima e ai nossas considerações pela Polícia do Pará e do Amapá em se anteciparem, pois quando chegou conosco, só fomos nos preparar quando chegou um Estado completamente crítico na época chegamos a ter, dia sim dia não, quase 154 arrombamentos de terminais em um ano e 17 situações do ‘Novo Cangaço’ no Estado, a companhia passava o tempo todo operando e essas experiências é que serão transmitidas para os colegas do Amapá”.
O Capitão Paccola finaliza dizendo que essa nova modalidade criminosa é uma afronta a todo o aparato de segurança e a todo o Estado. “Eles dominam temporariamente todo o território de uma cidade, passam a ser os donos e dão as ordens. Tem cidades que eles roubam três ou quatro bancos, lotéricas, joelheiras, fazem um “limpa” na cidade, o que lembra a situação da época do cangaço, porém agora não tem nada ideológico, mas somente a finalidade de criminalizar e captar recursos para a compra de mais armamentos”. 



Novos cangaceiros
Novo Cangaço


Essa nova categoria de assaltos a bancos vem causando terror nas cidades interioranas brasileiras. O modus operandi dos “novos cangaceiros” tem semelhança com o velho cangaço. Este, não raro, fazia uso de reféns – o bando também era grande, de 10 a 15 membros –, e preferia atacar pequenas cidades.
Lampião, com seu bando, conseguiu dominar o sertão durante anos. De acordo com o historiador Adauto Leitão, os cangaceiros tinham modo destemido de atuação. “Era um grupo organizado que não se estabilizava em uma cidade. Atuava fortemente armado, sitiava o local e fazia a polícia refém das suas ações. Os cangaceiros de Lampião gostavam de desafiar os policiais”, afirma. O mesmo acontece atualmente nos ataques às agências bancárias no interior do Ceará.

Diferenças

Apesar da semelhança, existem diferenças. A atuação do bando de Lampião, de acordo com o historiador, tinha um cunho sociológico. O objetivo era invadir as cidades e fazer justiça a seu modo. Lembrado como Robin Hood, Lampião era conhecido por roubar dos ricos para dar aos pobres. Tornou-se personagem do imaginário brasileiro. “Fazia ‘caridade’, assistindo as pessoas do meio rural que tinham necessidades”.
O ‘Novo Cangaço’ já faz parte de outra conotação. “São grupos criminosos, que saqueiam os bancos, sejam privados ou públicos. O que interessa é recurso financeiro para alimentar grupos organizados como o PCC [Primeiro Comando da Capital], por exemplo”.
Além disso, segundo Leitão, o cangaço original tinha um viés da cultura nordestina, seja no traje ou alimentação. Agia armado em seus cavalos. “Lampião e os cangaceiros eram nordestinos natos. Esses novos são de vários Estados. As quadrilhas têm integrantes cearenses, paulistas, cariocas, qualquer brasileiro. Não existe esse conceito de ser nordestino”, conclui.

Medo

A principal diferença, no entanto, é o temor que os novos cangaceiros deixam nas pessoas. A violência assusta. A sensação de insegurança aumenta. Desde o último ataque ao banco de Baturité a tranquilidade no município acabou. “A gente está preocupada, porque a qualquer momento pode acontecer de novo”, lamenta um morador da cidade de Baturité, a 93 KM de Fortaleza, que – por medo – preferiu não se identificar. As pessoas andam com medo e não gostam nem de comentar o que acontec6eu.

Não há policiais suficientes para a cidade. Se você precisar de uma viatura e pedir socorro, é melhor chamar logo o rabecão, porque a polícia vai demorar mais de uma hora para te atender”, lamenta Teógenes da Silva, comerciante. O senhor Januário de Abreu, aposentado, se revolta com a situação que a cidade vive. “Eu só queria que minha cidade fosse segura de novo. Hoje, tudo mudou”, desabafa com os olhos vermelhos, entristecido.

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