A macumba cristã e o respeito
às religiões afro-brasileiras
Nobilíssimos, religiões de
matriz africana sempre fizeram parte da história do Brasil e contribuíram em
vários aspectos para nossa cultura, seja através da culinária ou de costumes
que acabaram sendo aderidos por todos nós. Trazida nos porões dos navios negreiros,
as religiões africanas, foram desenvolvendo-se no Brasil e criando várias
vertentes, entre elas as famosas são: umbanda, candomblé e o Terecô de Codó.
Embora não seja a maior
religião do Brasil, dados apontam que existam 70 milhões de brasileiros ligados
a terreiros de forma direta ou indireta.
Não numerosa, porém, rica em
costumes, tradições e conhecimentos, elas têm sobrevivido bravamente as
calúnias, preconceitos e ataques realizadas por segmentos do cristianismo, em
especial: igreja universal do reino de Deus, a IURD; a igreja mundial do poder
de Deus, Mundial [do 'Apostolo' Valdomiro Santiago] e igrejas menores,
geralmente, sem nomes famosos que pregam uma versão distorcida e radical da
Bíblia. Ao contrário da igreja católica, essas igrejas não se importam com a
formação teológica de seus líderes, deixando-os livres para pensamentos e
interpretações e criando cada vez mais 'seitas de bairro’.
O curioso é que para captar
cada vez mais fiéis, essas denominações contratam pessoas com passados obscuros
para darem seus famosos testemunhos. E não para por aí, praticam vendas de
toalhinhas milagrosa, banho da felicidade, manto milagroso, vassoura mágica, e
outros tipos de "produtos" que têm por objetivo solucionar de
imediato problemas na vida dos frequentadores, de forma milagrosa. E,
geralmente, custam bem caro, cito como exemplo: uma toalha de rosto que no
varejo custa em média R$1,20, nas correntes de oração, nome dado aos dias que é
feito esse tal ritual, elas custam por volta de R$150,00 com a alegação de
estarem dotadas de superpoderes celestiais.
Eu costumo dizer que é a
macumba cristã, com o devido respeito aos que fazem o cristianismo sério e sem
explorar a fé alheia.
Sinceramente, não consigo
entender como esses líderes, num dia estão atacando as religiões
afro-brasileiras por conta dos seus banhos de axé ou de seus rituais mágicos e
no outro dia estão usando das doutrinas e práticas destas religiões para captar
fiéis para suas igrejas.
Historicamente, portugueses
sempre cercearam o direito de culto religioso aos escravos, alegando que era
feitiçaria. Porém, os escravos acharam uma forma de continuar a cultuar suas
divindades e entidades espirituais, associando cada divindade do panteão
africano com um santo católico. Sem esse truque, talvez essas religiões já não
existissem mais.
O meu apelo hoje é para que
respeitemos mais essas religiões. Vestir branco no réveillon, comer acarajé e
distribuir bombons no dia de Cosme e Damião são pequenos exemplos de como essas
religiões já influenciaram no nosso dia-a-dia, então, é hora, de no mínimo
mantermos o respeito e aceitar a laicidade do Estado, para que todos possamos
gozar de uma sociedade mais justa, igualitária e que todos possam ter o direito
de exercer sua fé sem serem rotulados, agredidos ou mortos.
Aproveito o ensejo para pedir aos senhores
líderes dessas denominações que pensem melhor sobre suas propostas e sermões.
Tomei conhecimento de quatro casos: um no Amapá, dois no Pará e um em São
Paulo, que pastores estariam incentivando fiéis destas igrejas a atacarem
pessoas que estivessem usando colares de contas e vestindo branco às
sextas-feiras [uma característica dos frequentadores da umbanda e do
candomblé]. Fica o pedido e um toque ao Ministério público que se atente a
isso.
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