sexta-feira, 8 de setembro de 2017

BRUNO BELÉM

A macumba cristã e o respeito às religiões afro-brasileiras


Nobilíssimos, religiões de matriz africana sempre fizeram parte da história do Brasil e contribuíram em vários aspectos para nossa cultura, seja através da culinária ou de costumes que acabaram sendo aderidos por todos nós. Trazida nos porões dos navios negreiros, as religiões africanas, foram desenvolvendo-se no Brasil e criando várias vertentes, entre elas as famosas são: umbanda, candomblé e o Terecô de Codó.
Embora não seja a maior religião do Brasil, dados apontam que existam 70 milhões de brasileiros ligados a terreiros de forma direta ou indireta.

Não numerosa, porém, rica em costumes, tradições e conhecimentos, elas têm sobrevivido bravamente as calúnias, preconceitos e ataques realizadas por segmentos do cristianismo, em especial: igreja universal do reino de Deus, a IURD; a igreja mundial do poder de Deus, Mundial [do 'Apostolo' Valdomiro Santiago] e igrejas menores, geralmente, sem nomes famosos que pregam uma versão distorcida e radical da Bíblia. Ao contrário da igreja católica, essas igrejas não se importam com a formação teológica de seus líderes, deixando-os livres para pensamentos e interpretações e criando cada vez mais 'seitas de bairro’.

O curioso é que para captar cada vez mais fiéis, essas denominações contratam pessoas com passados obscuros para darem seus famosos testemunhos. E não para por aí, praticam vendas de toalhinhas milagrosa, banho da felicidade, manto milagroso, vassoura mágica, e outros tipos de "produtos" que têm por objetivo solucionar de imediato problemas na vida dos frequentadores, de forma milagrosa. E, geralmente, custam bem caro, cito como exemplo: uma toalha de rosto que no varejo custa em média R$1,20, nas correntes de oração, nome dado aos dias que é feito esse tal ritual, elas custam por volta de R$150,00 com a alegação de estarem dotadas de superpoderes celestiais.

Eu costumo dizer que é a macumba cristã, com o devido respeito aos que fazem o cristianismo sério e sem explorar a fé alheia.
Sinceramente, não consigo entender como esses líderes, num dia estão atacando as religiões afro-brasileiras por conta dos seus banhos de axé ou de seus rituais mágicos e no outro dia estão usando das doutrinas e práticas destas religiões para captar fiéis para suas igrejas.

Historicamente, portugueses sempre cercearam o direito de culto religioso aos escravos, alegando que era feitiçaria. Porém, os escravos acharam uma forma de continuar a cultuar suas divindades e entidades espirituais, associando cada divindade do panteão africano com um santo católico. Sem esse truque, talvez essas religiões já não existissem mais.

O meu apelo hoje é para que respeitemos mais essas religiões. Vestir branco no réveillon, comer acarajé e distribuir bombons no dia de Cosme e Damião são pequenos exemplos de como essas religiões já influenciaram no nosso dia-a-dia, então, é hora, de no mínimo mantermos o respeito e aceitar a laicidade do Estado, para que todos possamos gozar de uma sociedade mais justa, igualitária e que todos possam ter o direito de exercer sua fé sem serem rotulados, agredidos ou mortos.


Aproveito o ensejo para pedir aos senhores líderes dessas denominações que pensem melhor sobre suas propostas e sermões. Tomei conhecimento de quatro casos: um no Amapá, dois no Pará e um em São Paulo, que pastores estariam incentivando fiéis destas igrejas a atacarem pessoas que estivessem usando colares de contas e vestindo branco às sextas-feiras [uma característica dos frequentadores da umbanda e do candomblé]. Fica o pedido e um toque ao Ministério público que se atente a isso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ARTIGO DO GATO - Amapá no protagonismo

 Amapá no protagonismo Por Roberto Gato  Desde sua criação em 1988, o Amapá nunca esteve tão bem colocado no cenário político nacional. Arri...