Tráfico e execuções
Vulnerabilidade nas fronteiras
Faltam policiais para patrulhar as fronteiras
do Brasil facilitando a entrada de drogas e armas e fazendo crescer as
execuções de rivais na briga por pontos de venda e domínio de rede consumidora.
A briga entre facções faz aumentar a criminalidade local. A polícia pode evitar
roubos e assaltos, mas, não pode prever um crime de execução.
Reinaldo Coelho
As
deficiências na segurança da fronteira brasileira passaram a ter mais
relevância desde que a crise na Venezuela chegou ao ápice e multiplicou o
número de imigrantes que buscam refúgio nos Estados brasileiros. A carência de
investimentos para ampliação do efetivo de segurança nas regiões próximas aos
vizinhos sul-americanos, facilita a entrada de estrangeiros sem qualquer tipo
de controle. Dessa forma, cede-se também espaço ao contrabando de armas e
drogas no território nacional, alimentando a escalada da violência. Além desses
crimes, fazem parte da lista o ingresso de veículos e produtos piratas;
agressões ambientais e trabalho análogo à escravidão.
FRONTEIRAS fragilizadas: Avanço do trafico |
A problemática
que envolve a questão do tráfico de drogas se expandiu cada vez mais no meio
social. É uma guerra por poder e também por mercado. Um dos resultados desse
crescimento sãos os crimes de execução realizados pelos grupos criminosos que
querem dominar o mercado e a rota de tráfico no Amapá.
Coronel Rodolfo Pereira, comandante-geral da Polícia Militar no Amapá |
A matança
entre grupos rivais dentro dos presídios das regiões Norte, Nordeste e Sudeste esconde
uma intensa disputa pelo controle das rotas internacionais do tráfico de
drogas, que está crescendo e colocando suas garras para fora, enfrentando os
órgãos policiais amapaenses com revides, que até agora os criminosos tem levado
a pior.
Os amapaenses
têm assistido a essas sucessões de crimes que têm em comum a utilização das
drogas como causa predominante para a sua ocorrência. Diariamente está na pauta
dos noticiários o assassinato com evidencias de execução, principalmente de
jovens do sexo masculino. Todos esses lamentáveis episódios esquentam a
discussão da política de atendimento ao usuário de drogas, em especial nesse
momento de intensa criminalidade e violência urbana, decorrente do narcotráfico
que percorre o Brasil de Norte a Sul.
Combate às execuções
Charles Correa, titular da delegacia de Oiapoque na frente do combate ao crime na fronteira norte do Brasil |
O início do
mês de setembro foi marcado pela violência. Pelo menos 11 homicídios
aconteceram no Amapá, segundo a Polícia Militar. Destes, sete apresentaram
características de execução e quatro vítimas tinham passagem pela polícia,
informou a corporação.
O comandante-geral
da Polícia Militar, coronel Rodolfo Pereira, enfatizou que em grande parte dos
casos a suspeita é de envolvimento com tráfico de drogas ou vingança. Ele
reforça que apesar do número de homicídios ser considerado alto, houve uma
diminuição em outros tipos de crimes, como assaltos e furtos.
“Quatro vítimas tinham envolvimento com o
crime, o que dificulta muito o trabalho da PM, pois as mortes são motivadas por
vingança ou envolvimento com tráfico de drogas. Embora esse número seja
considerado alto, em relação a outras modalidades de crime, como roubos e
furtos, conseguimos fazer uma redução em todo o estado”, disse.
Rodolfo
Pereira explicou que os casos de execução a Polícia Militar não têm como prevê
e é difícil impedir que os homicídios ocorram. “Em todos os casos nós fazemos
diligências para buscar os autores, mas não obtivemos resultados. Vamos
continuar investigando, junto com a Polícia Civil, para chegar aos autores e
efetuar as prisões”, frisou.
O comandante
ressalta que ainda não há informações sobre alguns desses crimes e completa que
o policiamento será reforçado também no interior do Amapá. “Estamos mudando a
estratégia de policiamento para evitar que essa situação atípica ocorra no
estado”, disse.
O analista
estatístico Adrimauro Gemaque destacou que o problema social é grave no Amapá.
Os jovens entre 15 a 29 anos que não estudam e nem trabalham encontram no
crime, muitas vezes, uma fonte de renda. Quando não é autor, é comparsa ou
vítima. A degradação da juventude é muito grande. “Estamos perdendo a nossa
juventude. Eu fiz um levantamento agora e constatei que 73% dos encarcerados no
IAPEN (Instituto de Administração Penitenciária) são abaixo de 29 anos de
idade. O orçamento do estado é de R$ 5 bilhões, mas 35% estão comprometidos com
a dívida pública, sem margem para investimentos, por isso o governo tem que
captar recursos da União para aplicar na segurança pública”, explicou.
Investimentos
Destaque-se
que os investimentos que o governo do Estado do Amapá, na atual administração,
vem fazendo para estruturar a segurança pública amapaense tem sido constante e
crescente.
Em março deste
ano, o governador Waldez Góes anunciou investimentos superiores a R$ 171
milhões na segurança pública. Os recursos são oriundos de emenda impositiva ao
orçamento da União (R$ 90,6 milhões) com contrapartida estadual (R$ 2 milhões),
que foram articulados pelo governador Waldez Góes junto à bancada federal; de
24 convênios federais que estão em andamento (R$ 27,7 milhões), do Tesouro
Estadual e do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES (R$
7,5 milhões), e do Fundo Penitenciário Nacional – FUNPEN (de R$ 44 milhões).
Com referência
os R$ 90 milhões de emendas impositivas o Ministério da Justiça, em julho,
contingenciou R$ 42.813.748,00 do total alocado, aprovando R$ 47.872.807,00. O
governador explicou que o Amapá tem o direito a pelo menos uma emenda
impositiva por ano e foi o único Estado da Federação que priorizou a segurança
pública, ao solicitar os recursos do governo federal. “Vamos cobrar
alternativas para resolver as questões do contingenciamento e readequação dos
critérios do Ministério da Justiça. Nós estamos dispostos a cumprir todas as
exigências, contudo, é necessária uma flexibilização”, frisou Góes na ocasião.
Já foram
adquiridas e substituídas desde 2015, 160 viaturas para a Polícia Civil,
Militar, Corpo de Bombeiros e Polícia Técnico-Científica, além da aquisição do
helicóptero do Grupamento Tático Aéreo (GTA), cujo investimento foi de R$ 12
milhões. Além de estar em plena execução os concursos para policia Militar 300
vagas e 900 reservas cadastradas e para a Policia Civil foram oferecidas 25
vagas imediatas para Delegados e até 76 para formação de cadastro reserva. Além
de 120 vagas imediatas e até 380 reservas para agentes. Para Oficiais da
Polícia Civil, o edital prevê 60 vagas imediatas e até 240 cadastros reserva,
totalizando 900 vagas. As provas do concurso da Policia Militar já aconteceram
e da Policia Civil acontecem neste domingo (9).
Policiamento
O Amapá possui
730,4 km de extensão em fronteira com o território francês, dos quais 427,2 km
são por rios e 303,2 km por divisor de águas e mais 52 km com Suriname. A
Policia Federal do Amapá tem atualmente, apenas um delegado e um escrivão estão
lotados na delegacia de Oiapoque. O déficit compromete as investigações e
demais trabalhos da Polícia Federal no município e na capital, Macapá.
Mesmo com
ações periódicas das forças federais em conjunto com órgãos policiais estaduais
e da Guiana Francesa, que trazem excelente resultados, porém os criminosos usam
o vácuo entre uma ação e outra para agirem com celeridade, produzindo sucessos
nos tráficos que operam. O que se faz necessário é a instalação permanente dos
órgãos policiais federais e constante vigilância para poder assim fechar as
fronteiras para as facções que as usam para disseminação de suas atividades
ilícitas.
Ações da policia civil do Amapá e da policia da Guiana na fronteira dos dois países |
A Polícia
Civil em Oiapoque, junto com a polícia francesa, vem obtendo sucesso nas
últimas operações fronteiriças de combate à criminalidade na fronteira. A
parceria entre os órgãos de segurança pública de ambos os países já acontece há
cinco anos. Foi fortalecida quando uma quadrilha de brasileiros que
aterrorizava em Saint Georges (Guiana Francesa) foi presa. A partir desse
momento, a cidade francesa concedeu uma carta de gratidão à polícia amapaense,
e teve interesse em unir forças para combater o crime na região.
Esse sucesso
repercutiu no Congresso Nacional que deliberou a criação do Centro de
Cooperação Brasil e França (CCP), pelo decreto nº 8344 de 13 de novembro de
2014. O centro reúne policiais brasileiros e franceses com o objetivo de
aprimorar o intercâmbio regular de informações e a investigação de ocorrências.
É na região da
fronteira entre o Oiapoque e a Guiana Francesa que acontece o combate ao
transporte clandestino, de sujeitos trazendo armas para assaltos em Macapá,
drogas para abastecer as “bocas de fumo” e à garimpagem ilegal. Em um ano a
Polícia Civil prendeu cerca de cem pessoas suspeitas de cometer crimes
ilícitos.
Recursos e logísticas são necessários
Um dos
gargalos para uma eficiência fiscalização e prevenção no combate ao tráfico de
drogas e armas é a imensidão dos rios e da floresta Amazônica que se torna
aliada dos criminosos. Eles conseguem driblar, em alguns casos, o baixo efetivo
de combate ao narcotráfico existente na região.
Porém, a
principal dificuldade é o reduzido aporte humano e material. Proteção de
fronteira não é uma atribuição do estado e sim da União. O governo do estado
defende um engajamento maior das Forças Armadas na proteção da fronteira. É
preciso que o governo federal entenda que o tráfico de drogas e de armas é um
problema nacional.
Responsabilidade federal
A fiscalização
e o combate à criminalidade (contrabando, tráfico de drogas e pessoas) são de
responsabilidade da União. Sendo o país de dimensões continentais e estando as
fronteiras por muitos anos abandonadas pelo poder público o tráfico de drogas
fica facilitado, o que barateia o frete, transporte e o preço da droga que
chega aos grandes centros distribuidores e posteriormente ao destino final.
Porém, a
deficiência é grande, se tratando de recursos humano é pior, pois para operar
nos 16.886 km de fronteiras terrestres, o efetivo policial federal é de
aproximadamente mil servidores (incluindo agentes, escrivães, peritos,
delegados e papiloscopistas). Com estes números que são absolutamente
irrisórios, esse efetivo deverá realizar além da fiscalização fronteiriça todas
as demais atribuições das delegacias da PF nessas regiões, restando, para o
controle migratório propriamente dito, míseros 200 homens para monitorar a
linha que vai do Chuí (RS) ao Oiapoque (AP). Esses dados são do Tribunal de Contas da
União, por meio de Auditoria Operacional registrada no TC 014.387/2014-0.
Muitos planos
Em junho deste
ano, o Palácio do Planalto lançou o Plano Nacional de Segurança Pública e,
entre as ações colocadas como prioritárias, foram definidas medidas com o
objetivo de investir no reforço do controle de fronteiras. O programa ainda
está em fase inicial, restringindo-se nesta primeira etapa a tentar conter a
violência no Rio de Janeiro. No entanto, para o futuro, estão previstas a
intensificação de operações de repressão ao contrabando internacional,
estimular a presença das Forças Armadas em ações de busca, além de fortalecer a
estrutura de fiscalização nas rodovias federais e nos portos que são de
responsabilidade da União.
O governo
brasileiro procura ainda aproximar o diálogo com outros países a fim de
aperfeiçoar o combate às atividades ilícitas na fronteira.
Juntas, as 588
cidades brasileiras, que têm países sul-americanos como vizinhos, abrigam quase
11 milhões de habitantes, que se queixam da desconexão entre as iniciativas
federais e as demandas municipais. A maioria que vive nessa parte do País está
situada nas faixas de pobreza e sofre de invisibilidade na distribuição dos
investimentos públicos.
Eliminar cada
uma das distorções constatadas nas regiões fronteiriças também exige a
integração dessas comunidades esquecidas na sociedade brasileira.
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