sábado, 25 de novembro de 2017

Artigo do Rei

TEXTO REVISADO – Ok




O Brasil vive uma guerra civil diária

O Brasil vive uma guerra civil não declarada, com a violência vitimando não apenas jovens e adolescentes, em sua maioria negros e pobres, mas também policiais civis e militares. Essa foi uma das afirmações do representante da Associação Nacional de Praças (ANASPRA), cabo Elisandro Lotin de Souza, durante a audiência pública interativa promovida pela CPI do Assassinato de Jovens há dois anos na CPI do Assassinato de Jovens do Senado.
No país que se orgulha da índole pacífica e hospitaleira de seu povo, a sociedade organizada ou não para esse fim promove a matança impiedosa e fria de crianças e adolescentes. Pelo menos sete milhões de menores, segundo estudos do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), vivem nas ruas das cidades brasileiras.
Mas quanto a afirmação de que o Brasil está em uma verdadeira Guerra Civil, a resposta é: Não. O Brasil não está em uma situação de guerra. Mas temos um problema sério. Qual é? Eu entendo que seja um problema de delinquência crônica, no sentido que ela atinge toda a sociedade, na esfera moral, prática, política e espiritual. Não de um jeito religioso, mas no equilíbrio das emoções.
Um dos elementos mais pobres desse diálogo seria a tentativa de explicar a escala da violência como uma situação semelhante a uma guerra. Embora existam taxas altas de criminalidade, as estatísticas não refletem os números reais de um conflito. Também não ajuda muito a repetição de cenas de sangue em programas de televisão, o que aumenta a sensação diária de insegurança.
Lendo uma matéria sobre o assunto, destaco aqui a conclusão que chegou o paulista André Liohn (40), um reconhecido fotógrafo de conflitos armados no mundo. Nos últimos dez anos fez a cobertura de acontecimentos brutais e da situação de refugiados em países da África e do Oriente Médio, produzindo reportagens para revistas e jornais de peso.
Em dezembro de 2011 foi um dos primeiros jornalistas a cruzar ilegalmente a fronteira entre a Turquia e a Síria para documentar a então recente guerra civil. Pouco depois, desembarcou na explosiva Líbia para cobrir os desdobramentos da Primavera Árabe.
Sua cobertura cravou seu nome na fotografia como o primeiro brasileiro a ganhar o desejado prêmio ‘Robert Capa’, pela série de imagens dos confrontos da cidade sitiada de Misrata, na Líbia, que deixou centenas de mortos. “Ali eu vi pessoas que são (pessoas), não serem mais”. Abalado com o sofrimento de perder amigos assassinados (inclusive jornalistas), Liohn foi cobrir um projeto de ajuda humanitária no Congo, na África. Em 2013 pegou uma forte malária e voltou ao Brasil para tentar se recuperar.
“Nesse momento as pessoas me perguntavam sempre: o que é pior? A guerra lá fora ou a guerra que nós temos aqui dentro? Sempre achei a pergunta descabida porque a pessoa não sabe o que é uma guerra”, conta Liohn.
Ele decidiu testar a hipótese de que o Brasil vive uma guerra velada,   
“O Brasil tem números de mortes comparáveis às de uma guerra? Mentira. A Síria tem uma população de 22 milhões de pessoas e 210 mil pessoas já morreram na guerra. Se a gente for pegar que o Brasil tem pelo menos 10 vezes a população da Síria, deveríamos ter tido mais de 600 mil mortes.
Apesar disso a violência pode acontecer a qualquer um. “Eu entendi que realmente num caso de delinquência crônica existe alguma semelhança com a situação de guerra. A principal é que vivemos constantemente sob a ameaça de uma morte violenta, independente de classe, sexo, religião ou visão política”.
O assalto. A polícia. O tiro. A facada. O preconceito. A emboscada. O medo. Para muita gente o simples ato de sair de casa é uma situação de alerta. Pode ser paranoia. Pode ser uma realidade. A verdade é que as pessoas não se sentem seguras na rua.
Ao falar sobre os efeitos psicológicos desse estado de alerta permanente, Liohn acredita que o mais evidente é que “adotamos comportamentos violentos preventivamente para nos defender da morte violenta”. O pensamento é parecido com o do filósofo Jean-Paul Sartre, para quem a violência sempre se faz passar por uma resposta à violência alheia.

Tudo isso pode estimular uma “blindagem” em relação ao sofrimento do outro. Em uma situação em que vivemos a possibilidade de morrer, a gente vai assumir uma posição de que se isso for acontecer, que aconteça longe de mim. Não comigo ou com pessoas que eu amo. Isso é uma semelhança entre delinquência crônica e estado de guerra. (continua)

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