‘Ratos D’águas’
Navegação na Amazônia à mercê da criminalidade
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Um soldado do Grupamento Tático Aéreo do Amapá (GTA-AP) patrulha um canal próximo ao Porto de Santana Foto - Dado Galdieri-The New York Times |
Patrulhar os rios e igarapés da Amazônia em
busca de piratas parece um jogo de gato e rato. Os ataques de piratas aos navios e outros
tipos de embarcações ocorrem com maior incidência no Estreito de Breves, que
fica situado em território paraense e serve de ligação fluvial entre os estados
do Pará, Amapá e Amazonas.
Reinaldo Coelho
Por atalaia
gigante
Ou por sinal de
defesa,
Do granito mais possante
Levanta uma
FORTALEZA
Negras muralhas ao
Sul.
Outrora, adornadas
de aço,
Faziam troar o
espaço
Dos canhões seus
co o fracasso,
no
vasto horizonte azul.
A fortaleza homenageada nesta estrofe do
poema Macapá, publicada na Revista Educação e Ensino do Pará, em Agosto de
1889, é a de São José de Macapá, escrita pelo poeta Alexandre Vaz Tavares, que
também foi prefeito da cidade em 1920. O forte foi construído pelos
portugueses, no período colonial, para combater os invasores e os piratas
caribenhos que percorriam a costa brasileira.
E infelizmente a era dos piratas não acabou
nas águas amazônicas. Ela apenas mudou de rota: da costa brasileira foi para os
rios da Amazônia. Em vez de olho tapado e espadas, eles usam capuz,
metralhadoras e fuzis AR 15. Para comunicação, sistema de rádio VHF. Também
chamados de “ratos d’água”, os piratas atuam sempre em grupos. Eles ficam de
tocaia e, usando rádios, articulam o ataque. O alvo predileto são embarcações
que transportam combustível e eletrônicos, além de passageiros e turistas.
Os rios da região Norte são parte integrante da
vida dos habitantes dessa região do Brasil. A característica dos rios
amazônicos é favorável à navegação, pois muitos são extensos e volumosos e suas
águas fluem lentamente. Tal condição faz com que os rios sejam uma importante
via de transporte para os seus habitantes.
O transporte hidroviário é praticamente a única alternativa de transporte, tendo em vista que as rodovias são bastante restritas e as que existem não possibilitam o trânsito, como por exemplo, a transamazônica.
Essa característica típica amazônica, onde os rios,
igarapés e furos são as vias de transporte dos moradores ribeirinhos e como
acontece nas ruas e avenidas das cidades, existem criminosos de tocaia para
cometerem os crimes, assaltos, roubos e latrocínios contra esses indefesos
cidadãos brasileiros.
Enquanto as ruas das cidades têm iluminação e
policiamento, mesmo precário, e recursos tecnológicos, como o sistema
telefônico de chamadas emergenciais, os ribeirinhos, contam com a sorte e suas
próprias defesas, pois os piratas dos rios ou como são conhecidos mundialmente
“Ratos d’agua’ estão agindo atacando as embarcações e as comunidades
ribeirinhas.
A medida que a população da região cresce e os traficantes de drogas
ampliam a influência, aumentam os ataques de homens mascarados armados com
rifles nos rios da Amazônia. Esses piratas não são exclusividade da Amazônia,
pois agem em todos os países onde o fluxo de embarcações comerciais ou de
turistas ricos os atraem.
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Embarcações de diferentes tamanhos têm sido alvos de criminosos (Foto Adneison Severiano-G1 AM) |
Aqui são os barcos que transitam repletos de
gêneros alimentícios, eletrodomésticos, peças de tratores e automóveis,
material de construção, medicamentos e muitas outras coisas, são os “tesouros”,
por eles ambicionados. Além das mercadorias, há diariamente um grande fluxo de
pessoas, o que lhes possibilita conseguir dinheiro em cache.
São milhares de ações,
que não constam das estatísticas policiais, pois acontecem sua maioria em
locais isolados, onde nem a polícia conhece. Roubam desde as canoas quanto
assaltam as embarcações com passageiros. Atacam as residências isoladas, onde
levam as rendas dos pescadores e pequenos agricultores.
Ações criminosas atingem estrangeiros

Um fato que atraiu os holofotes internacionais em
2001, foi o que aconteceu com navegador neozelandês
Peter Blake "Senhor dos Mares", assassinado em Fazendinha. A mais
nova noticia internacional foi o da família americana vítima de piratas no Pará
é já localizada e estão retornando a seu país.
Adam Harris Harteau, de 39 anos, e Emily Faith Harteau, de 37, e as duas
filhas, foram encontrados por ribeirinhos perto do rio Jacaré-Grande, de acordo
com pescadores.
O caso
A família viajava pelo Pará estava na balsa
com seu moto-hoje, onde vivem já faz cinco anos, quando a embarcação foi
invadida por assaltantes, conhecidos como “piratas”. Eles e outros passageiros
tiveram pertence roubados.
Após o crime, a polícia fez buscas perto do
local e conseguiu reaver alguns objetos. Entre eles, um notebook da família
americana, usado para portar fotos da jornada pela América Latina. As imagens
eram compartilhadas nas redes sociais, onde os Harteau têm mais de 120 mil
seguidores.
Ao retornar até a balsa para entregar o
computador, a família americana não foi encontrada. Segundo a Segup, no
automóvel que Adam e Emily conduziam na balsa, havia uma pequena quantidade de
maconha. “Não se sabe realmente o porquê eles saíram da embarcação. Se saíram
motivados do susto em decorrência do fato, ou talvez com medo da atuação da
polícia dentro da situação. Não se sabe se o medo era porque estavam com certa
quantidade de droga, que teria sido apreendida em Macapá pela Polícia Federal.
O fato é: após a polícia sair para fazer as diligências, eles saíram da
embarcação”, concluiu Cunha.
Os crimes no Amapá
Os furtos, roubos e ataques de piratas a
embarcações na Região Norte do Brasil preocupam o setor de transporte fluvial
de cargas e passageiros. Os principais alvos dos criminosos são as embarcações,
que navegam nos rios que banham os estados do Amazonas, Pará, Amapá e Rondônia.
Casos de latrocínios – roubos seguidos de mortes – são registrados nessas
regiões.
No Amapá, esses fatos são recorrentes e já estão
atingindo até os pecuaristas, que possuem pessoal para proteger seus
patrimônios, mas, vem sofrendo com as ações desses criminosos.
O município de Santana por ser uma cidade
portuária essas ações acontecem constantemente, os roubos acontecem nas
embarcações aportadas nos portos, o que não é muito diferente do que acontece
na Somália, onde os piratas aguardam a passagem dos grandes navios para os
abordarem e os “limparem” dos produtos.
Os piratas dos rios amazônicos
gostam de atacar quando a noite cai, usando máscaras de esqui, invadem as
embarcações enquanto dezenas de passageiros dormem nas redes. De repente, eles
acordam com rifles apontados para suas cabeças.
Os homens armados levaram
dinheiro, joias, smartphones, combustível e até comida, forçando todos a
ficarem deitados de bruços no convés. Depois, desapareceram em lanchas pelas via
navegável em plena escuridão.
"Todo capitão de barco fluvial
sabe estar à mercê desses desgraçados", disse o capitão Paiva, de 41 anos,
que cruza os rios das florestas tropicais brasileiras desde que era
adolescente. "Tivemos sorte de não ter sido pior", ele acrescentou
que o pior é quando acontece ataques nos quais passageiros foram estuprados,
torturados ou mortos.
Os piratas costumam usar lanchas, obtendo
uma rapidez e uma agilidade desconhecidas pelos grandes barcos fluviais. Os
piratas costumam vir de áreas urbanas pobres ou de vilarejos ribeirinhos
distantes, atacando moradores da floresta que se valem de barcos para comprar
alimentos, visitar parentes ou procurar assistência médica nas cidades
amazônicas.
A população amazônica a mercê
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Barcos de pesca perto de uma doca em Santana, próximo à capital Macapá Foto- Dado Galdieri-The New York Times |
São mais de 25 milhões de habitantes da
Região Amazônica e desse número mais de 5 milhões são moradores ribeirinhos que
vivem em comunidades isoladas e sãos os mais atingidos e os que estão alarmados
em relação à pirataria. A Amazônia
também é uma das regiões mais pobres do Brasil, e o crime organizado se
espalhou, alimentando uma sensação de desrespeito à lei na grande bacia do rio.
Em vilas ribeirinhas remotas, os moradores reclamam que os barcos da polícia
raramente se aventuram pelos igarapés onde ocorrem muitos dos ataques piratas.
"Não existe lei no Rio Amazonas",
afirmou Odete Souza França, de 49 anos, cuja família ganha a vida pescando e
cultivando açaí.
Ela descreveu um ataque recente no qual os
piratas abordaram a canoa de seu filho de 17 anos, amarraram-no e roubaram seu
aparelho de GPS e um botijão de gás de cozinha. Sua descrição foi publicada no jornal “The New York Time”.
Ações da polícia amapaense
Os piratas agem e as forças policiais
lutam para conter o crime, que culminou em uma série de eventos recentes que
apavoraram as tripulações e os passageiros dos barcos.
Porém, existe um aspecto legal, quando
as ações da polícia, a jurisdição, a Polícia do Amapá que recebe as denúncias
dos moradores das ilhas paraenses, não podendo agir, pois, é área de
responsabilidade da polícia paraense.
No 16º Fórum de Governadores da
Amazônia Legal e representantes de 23 estados defenderam a criação de um
Sistema Nacional de Segurança para combater o narcotráfico. A proposta foi
apresentada durante o Encontro de Governadores do Brasil pela Segurança e
Controle das Fronteiras – Narcotráfico, uma emergência nacional, que ocorreu na
capital acreana, Rio Branco e que virá ajudar a solucionar os problemas de
combate à criminalidade praticada pelos piratas em rios da Amazônia.
Pois, mesmo sendo um caso de polícia
estadual, muitas vezes acontecem crimes que passam para orbita federal como os
casos de estrangeiros atingidos por esse tipo de criminalidade.
É o caso lamentável (e constrangedor
para os brasileiros) a perda de Blake há 16 anos e não foi suficiente para que
medidas de segurança fossem tomadas para melhorar o policiamento das águas
amazônicas.
Agora, diante da escalada dos casos de
crimes cometidos contra barcos de transporte e de turismo nos rios da Amazônia,
parece que há uma iniciativa de aumentar a fiscalização e a presença das
autoridades policiais e da Marinha nas águas, mesmo não sendo responsabilidade
desse órgão nacional de defesa.
O episódio nos faz retornar a um tema
fundamental. O Brasil precisa ter uma Guarda Costeira, que haja na segurança da
navegação no nosso litoral, rios e hidrovias. O Brasil deve ser o único país
com grande extensão de águas navegáveis a não contar com uma Guarda Costeira.
A polícia faz o possível
"Pegar piratas é como combater
guerrilheiros. Eles são inimigos evasivos que tiram proveito do conhecimento
das correntes fluviais, da geografia e da topografia", comparou o capitão
Lúcio Lima, chefe da unidade de operações especiais da polícia do Amapá que
caça bandidos pelo rio.
Aqui em Macapá, cidade com 370 mil
habitantes, um esquadrão de elite de policiais camuflados do Batalhão Ambiental
patrulha regularmente o Rio Amazonas em busca de piratas, chamados de ratos
d'água na região. O batalhão ambiental do Estado do Amapá é composto por 135
membros.
Um píer para ajudar no combate aos “ratos
d’água” deverá ser construído no distrito da Fazendinha, a 9 quilômetros de
Macapá, informou a Secretaria de Estado da Justiça e Segurança Pública
(Sejusp). O projeto ainda está em formatação e a licitação deve acontecer até o
fim de 2017, confirmou a instituição.
No local devem aportar embarcações de órgãos
da segurança pública, que atuarão de forma integrada, como a Polícia Militar
(PM) e a Marinha do Brasil. A construção e a conclusão da obra não têm previsão
para acontecer.
“Estamos na fase de estruturar os nossos
projetos e um deles é construir um píer integrado de órgãos da segurança
pública na Fazendinha, para nos ajudar na patrulha em nossos rios, com a
polícia das embarcações e a Marinha, que pode nos ajudar muito com a
logística”, disse o titular da Sejusp, Ericlaudio Alencar.
De acordo com o secretário, os ataques têm
acontecido principalmente na rota de rios entre Macapá e Belém (PA). A ideia do
píer é de atuação preventiva e ostensiva nos rios do Amapá.
“Os ataques têm acontecido principalmente em
embarcações que fazem o trajeto Macapá-Belém, por esses rios. Geralmente os
ataques acontecem nas águas sob jurisdição do Pará, mas cabe a nós nos
precavermos aqui também. A Marinha dispõe de tecnologia para nos ajudar com
informações e monitoramento”, falou Alencar.
Segundo a Sejusp, o píer deve ser construído
com uma emenda federal de R$ 90 milhões repassadas ao estado em fevereiro, com
destinação à segurança pública. A previsão é de que a licitação aconteça ainda
em 2017.
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