'Rolo compressor' de Clécio Luís
E o compromisso social?
“O problema não são os empreendedores populares, ao contrário
(...) O problema mesmo é a ausência de governo, que, segundo, a vasta
legislação existente teria a obrigação de cuidar desse assunto, evitando a
ocupação desordenada do espaço urbano, sem o controle, aproveitamento e
democratização de suas potencialidades. Ou seja, o problema mesmo é a falta de
política pública sistemática”, vereador Clécio Luís (PSol) – 2009.
Reinaldo Coelho
Em pleno período natalina mais de 50 famílias, ou seja mais
de 200 pessoas não terão o que festejar este ano. “Em plena época de ganharmos
um dinheiro extra com a chegada de dezembro, quando acontece os festejos
natalinos e de Ano Novo, fomos os sorteados para voltarmos para casa de bolsos
vazios e com a ameaça de perdemos nossos equipamentos”, desabafou a Dona Maria
Elizabete Souza, batateira e uma das líderes da manifestação em frente ao
Palácio Laurindo Banhas contra as ações da prefeitura de Macapá em retirar os
vendedores da Orla de Macapá.
Segundo eles, não foi disponibilizado outro local para
continuarem trabalhando, e a decisão gera grandes prejuízos por se tratar da
única atividade econômica que garante o sustento das famílias. A prefeitura
esclareceu que segue Recomendação do MP-AP, argumentando, ainda, que o
reordenamento dos passeios públicos é prioridade da gestão.
Os ambulantes reclamaram a não concessão de prazo razoável
para que pudessem negociar com a administração municipal e com o MP outros
espaços para continuar trabalhando.
“Vamos ficar igual aos feirantes do Mercado Central e da
Feira do Camarão, que estão pior de que nós, cadê o Mercado Central e o
Shopping Popular? E o Feirão Popular, onde colocaram os ambulantes em um curral
e ali estão a cinco anos”. Previu a vendedora Maria Joana.
Ao todo, foram retirados mais de 30 batateiros, vendedores de
sorvete e de churrasco, donos de pula-pula e lanchonetes; além de 20 vendedores
de melancias e barracas usadas como desembarque de produtos no entorno da Feira
do Pescado.
“Nós não podemos trabalhar. Não podemos garantir o sustento
dos nossos filhos. Ainda fomos informados que se não saíssemos recolheriam
nosso material. Isso é uma palhaçada com o servidor”, disse o batateiro João
Nunes, que trabalha há 3 anos no local.
Vereador Clécio defende
x prefeito Clécio destrói
Essa é o presente do defensor do empreendedor individual, Clécio
Luís, quando ocupava a cadeira de vereador no parlamento municipal de Macapá (Lei a Carta do então vereador de 2009 no
box), mas ao assumir os dois mandatos com gestor do município de Macapá,
não os incluiu em suas prioridades e os deixou ao relento, desorganizados e por
pressão do Ministério Público, passou a deslocá-los, retirando-lhes o único
meio de sobrevivência, nesse período de crise econômica que atinge
indiscriminadamente a todos brasileiros, principalmente os que não ocupam cargos
eletivos, ou seja, os que vivem na linha da pobreza, desempregados e com filhos
para sustentar.
O hoje reeleito prefeito Clécio Luís, que sonha alto na sua
vida política e de seus parceiros, não recebe os representantes de classe e nem
os sindicatos. As pessoas atingidas pela decisão municipal, estiveram na
quarta-feira (1º) em frente à sede da prefeitura e prometem para essa
quarta-feira (8) um ato público, na principal via do comercio de Macapá, a
Avenida Cândido Mendes. A pauta apresentada será a volta do transporte público
através da Cândido Mendes, uma reivindicação da também da classe empresarial; e
a organização dos empreendedores populares.
O representante
a Associação dos Vendedores Ambulante declarou que são mais de 5000
empreendedores públicos que estão reivindicando melhores condições para
trabalharem, dentro da lei e com apoio e não perseguição.
Explicou que o prefeito Clécio Luís está quase seis anos à
frente do município, mas não fez nada em atualizar o Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano e Ambiental do Município de Macapá que está defasado, o
que não pode acontecer, pois ele é a legislação que regulamenta a vida na
cidade, inclusive os espaços públicos e suas ocupações.
“A Lei 027/04, diz que o passeio público poderá ser utilizado
com atividade econômica desde que esteja adequadamente com as determinações do
município. E o prefeito de Macapá, nunca realizou essas adequações, e sempre se
recusou a receber as entidades representativas da classe”.
Orla do Perpetuo
Socorro
![]() |
Vendedores de produtos hortifrutigranjeiros são retirados a força do seu local de trabalho |
Vendedores de hortifrutigranjeiros, que a décadas realizam
suas vendas na Feira do Pescado, no Bairro do Perpetuo Socorro e sempre
utilizaram o Igarapé das Mulheres para aportarem e realizarem suas vendas,
foram retirados e seus pontos destruídos.
Eles se revoltaram com a situação, pois muitos tem mais de 20
anos trabalhando no local, e devido ao grande assoreamento que o igarapé vem
sofrendo as embarcações não podem chegar ao local determinado e sem opção,
passaram a desembarcar as melancias, bananas e aboboras, na calçada da orla.
“Não temos opção e nem local para fazermos nossos negócios,
com a situação do igarapé, temos de vender aqui mesmo, e os nossos compradores,
já ficam esperando, a mercadoria não fica muito tempo exposta, pois o sol
inclemente as destrói imediatamente e cobrimos com lona plástica para proteger,
não é box como alega os fiscais”. Explicou Edson de Sousa Rocha, 28 anos.
A maioria dos vendedores tem família, com quatro filhos e é
esse serviços que criam esses filhos. “Esse problema aqui na Orla do Perpetuo
Socorro é antigo, e nunca deram solução, eles já deveriam ter planejado e
construído um local para nos trabalharmos de acordo com as exigências legais.
Porém, eles destroem, nos tiram o pão da boca de nossas crianças e vão embora.
É vamos ficar igual os feirantes do Mercado Central e da Feira do Camarão,
estão pior de que nós, cadê o Mercado Central e o Shopping Popular e a Feira do
Buritizal. E o Feirão Popular, onde colocaram os ambulantes em um curral e ali
estão a cinco anos”.
Prejuízo econômico
Essa decisão municipal, traz prejuízo incalculável, para o
produtor rural, que traz sua mercadoria, gastando combustível, para vender em
Macapá e aqui chegando não pode fazer, pois seus compradores estão impedidos de
receber essas mercadorias. “Eles produzem no interior do Pará e do Amapá, quem
compra somos nós que revendemos nas feiras e mercados de Macapá. Se não
fizermos quem e aonde vai ser feito esse negócios. Eles vão ter de procurar um
outro ponto fora de Macapá. E o cidadão vais ficar desabastecido e os preços
vão subir”.
Ou seja, prejuízo para todos, produtor, comprador e
consumidor. E tem ainda o varejista da orla, que sobrevive vendendo suas
mercadorias a esses embarcadiços, é uma cadeia econômica local. A própria
prefeitura não pode cobrar os impostos, pois não tem venda.
Por que bateram antes e solucionaram depois?
![]() |
Vereador Clécio Luís (PSol) |
Clécio
Luis – Vereador de Macapá - 2009
Ainda
sobre a ação de retirada dos empreendedores populares (camelôs e ambulantes) do
centro da cidade, gostaria de, respeitando o pensamento divergente, expor
minhas convicções e experiências sobre o tema, principalmente sobre o caso
concreto de nossa cidade, sem, no entanto, reduzir o debate ao argumento
simplista de que “eles precisam trabalhar”.
1º: A primeira de todas: tenho
a mais absoluta clareza, que do jeito que está, não pode continuar. Concordo
que a cidade está desorganizada e feia, por vários aspectos e problemas, entre
eles a proliferação desordenada da chamada economia informal sobre os
logradouros públicos, sobretudo, as calçadas das principais vias da cidade.
2º: Entendo também que este
problema é antes de tudo uma realidade que merece ser melhor entendida pelo
poder público e suas autoridades. Essa realidade, ou melhor, esse fenômeno é
fruto de um sistema econômico tão excludente, que mais parece um grande big
brother sem fim e compulsório, que tem que excluir
aos milhares todos os dias, sem direito a premiação nem fama aos seus
participantes. Essa economia existe e segundo o IBGE, movimenta cerca de R$ 43
Milhões/mês, gerando mais de 43 mil empregos diretos em seus mais de 35 mil
empreendimentos individuais espalhados em nosso estado.
3º: Essa realidade pode ser
perfeitamente aproveitada, para combater nossa baixa cultura empreendedora,
fruto do paternalismo e do clientelismo de Estado que ainda impera por aqui.
Essas pessoas são aquelas entre tantas, que diante da exclusão, resolveram
caminhar com as próprias pernas, não pediram e nem querem esmola nem favor.
Detalhe: não são reféns das bolsas dos governos. Mesmo que não sejam
reconhecidos, são empreendedores sim, caso contrário, não estariam onde estão.
Taí uma forma inteligente de encontrar uma alternativa nobre e viável à chamada
economia do contracheque: ter política pública afirmativa para esse seguimento
e não bordoada e repressão.
4º: Existem várias experiências
e bibliográficas que abordam este fenômeno de forma afirmativa, pelas vias da
organização, capacitação e crédito para esses empreendedores que ostentam as
menores taxas de inadimplência do nosso sistema financeiro, além de uma
progressiva legislação sobre a matéria, como a lei 027/2004 do plano diretor e
mais recentemente a lei federal do MEI – Micro Empreendedor Individual,
(empreendedor popular) que o reconhece e estende o marco legal vigente até ele.
5º: As experiências também nos gritam, mostrando que porrada e truculência,
nunca resolveram definitivamente esses problemas, da mesma forma criminalizar o
empreendedorismo de rua e tratá-lo como caso de polícia, não traz resultado
positivo algum, apenas dor, sofrimento e revolta, que somam para o sentimento
de descrença no poder público e sua capacidade de gerar oportunidades e fazer
justiça social. Por isso eu insisto: isso não é um caso de polícia e sim de
política pública, que deveria ser desenvolvida pelos órgãos de ordem
urbanística e desenvolvimento econômico.
6º: A prefeitura de Macapá, na gestão
do atual prefeito, nesses seis meses, poderia se quisesse, ter organizado pelo
menos um quarteirão da Candido Mendes, mas preferiu deixar a situação se
agravar mais ainda, talvez porque assim seja mais fácil justificar a retirada
dos ambulantes de qualquer jeito, afinal, todos querem uma resposta para as
calçadas ocupadas. A resposta veio unicamente em forma de repressão e
pancadaria, dessa forma a prefeitura ao invés de dar o exemplo, sequer tentou.
8º: Agora reflitam comigo: se uma
semana após a pancadaria que promoveu, a prefeitura encontrou um espaço
provisório para os empreendedores, eu pergunto indignado: porque não fez isso
antes de distribuir aquelas doses cavalares de agressão, dor e sofrimento? Pra
tentar mostrar trabalho com estardalhaço? Por que fizeram isso, se havia um
diálogo em curso, fruto da discussão organizada entre empreendedores e poder
público?
9º: Resumindo: o problema não
são os empreendedores populares, ao contrário eles são sintomas positivos da
capacidade empreendedora de uma parcela significativa da sociedade que não se
entregou a morrer de fome ou depender das bolsas do governo ou das esmolas de
políticos. O problema mesmo é a ausência de governo, que, segundo, a vasta
legislação existente teria a obrigação de cuidar desse assunto, evitando a
ocupação desordenada do espaço urbano, sem o controle, aproveitamento e
democratização de suas potencialidades. Ou
seja, o problema mesmo é a falta de política pública sistemática e conseqüente,
e não espasmos de pseudo-organização, sobretudo se vier apenas para mascarar a
incompetência e a falta de vontade de resolver, olhando para esse segmento como
um seguimento realmente de empreendedores.
Clécio
Luís é Vereador de Macapá, foi um dos fundadores do Banco do Povo e ativista do
empreendedorismo popular e economia solidária.
Nenhum comentário:
Postar um comentário