‘Truculência com os
ambulantes’
A atual gestão municipal
de Macapá, em vez de transformar a relação entre prefeitura e comerciantes de
rua do medo para parceria, vem fazendo ao contrário, criou um ambiente
litigioso. Prefeito! E o Mercado Central, o Shopping Popular e a revitalização
das feiras de Macapá? Esses seriam os locais para esses empreendedores
informais trabalharem.
Reinaldo Coelho
Um homem está sentado no chão. Dois policiais tentam
algemá-lo, na base da gravata no pescoço e torção de braço. Ele grita, a voz
estrangulada: tira a mão de mim, tira a mão de mim. Os policiais, ao contrário,
se amontoam sobre ele. Seu crime foi participar de uma manifestação. A cena,
ocorrida na última terça-feira (7), pode ser vista em um vídeo na internet.
O Ápice
A força-tarefa da Guarda Municipal retornou a orla de
Macapá e aconteceu o choque com vários ambulantes na Avenida Beira-Rio, que
foram impedidos de continuar trabalhando de forma irregular pela fiscalização
da prefeitura de Macapá por Recomendação do Ministério Público (MP/AP). De
acordo com testemunhas, os guardas pediram aos ambulantes para que se
retirassem, mas alguns reagiram e partiram para o confronto. Três pessoas foram
conduzidas ao CIOSP do Pacoval por agressão e desacato.
O confronto entre a prefeitura de Macapá e os
empreendedores individuais, mais conhecidos como vendedores ambulantes e
camelôs, chegou ao clímax da pancadaria, os Guardas Municipais, cumprindo as
determinações da administração municipal e as recomendações do Ministério
Público, começaram na semana retrasada a notificar e retirar os ambulantes
localizados na Orla de Macapá, desde o Bairro do Perpetuo Socorro até o Araxá.
Os protestos são contra a retirada dos ambulantes das
ruas do centro de Macapá, pela prefeitura – que não propõe opção para
realocação desses trabalhadores. A PMM prevê uma reforma, mas não seria melhor
fazê-la antes e realocar depois. Muitas famílias sobrevivem das vendas.
Os ambulantes, mesmo tendo ciência da ilegalidade da
situação, partiram para o diálogo com a gestão de Clécio Luís, pedindo prazo e
local para se estabelecerem e principalmente que o município, os repassem as
orientações de como se padronizarem e os locais onde poderão se estabelecer.
Radicalismo
Esse imbróglio começou no início de novembro com a
notificação dos ambulantes na orla do perpetuo socorro que tiveram um prazo de
72 horas para saírem do local, na segunda foram deslocados. Os ficais então
chegaram aos batateiros da Orla de Macapá que realizaram protesto na Avenida
FAB, na frente da prefeitura e participaram de um protesto conjunto com os
empresários do Centro comercial da Rua Centro comercial da Rua Candido Mendes,
que reivindicam o retorno do corredor de ônibus para aquela artéria, pois após
a retirada o comercio local decaiu.
Ambulantes e sua
importância
Vendedores ambulantes são uma parte importante das
cidades e das economias urbanas por todo o mundo. Eles distribuem bens e
serviços acessíveis, oferecendo aos consumidores opções de varejo convenientes
e baratas. Eles também são parte vital da vida social e econômica de uma
cidade, e os turistas geralmente os veem como parte do desfrute de uma
experiência autêntica e local e de lugares públicos dinâmicos.
O questionamento agora é porquê o Ministério Público,
como poder moderador, não convoca as parte para uma mesa de negociação e
olhando pelo prisma social, que é seu papel como fiscal da lei, e chega-se a um
ponto comum de que as partes possam apontar caminhos democráticos para que
esses trabalhadores continuem obtendo suas rendas honestamente e atendam as
determinações da legislação municipal. Que a prefeitura apresente um projeto,
eficaz e com prazo fixado pelo MPE/AP para localizar decentemente esses
trabalhadores individuais.
Legalização
Ajudando esses cidadãos a se legalizar, pois existem
projetos em todos os níveis dos poderes para que isso aconteça, evitando as
armadilhas burocráticas para que um pequeno empreendedor se organize.
No Brasil, empreender e empregar legalmente são
atividades extremamente onerosas. Para abrir uma empresa são necessários 107
dias, em média. Pagar impostos requer 2.600 horas apenas para preencher
formulários (mais do que o dobro do segundo colocado, a Bolívia).
Empregar alguém traz um custo extra de 103% do salário só
com impostos e outros encargos trabalhistas. Isso significa que, além do
salário, você tem de pagar o equivalente a outro salário só com impostos,
encargos sociais e trabalhistas. (Coisas como imposto sindical ou contribuição
para a reforma agrária são comuns). E existem nada menos que 93 impostos diferentes.
Não sendo viável nem empreender legalmente e nem ser
contratado legalmente, só resta às pessoas irem buscar outros meios de
sobrevivência, como a informalidade, na qual não contam com nenhuma segurança
jurídica.
Para piorar ainda mais, o Brasil está mergulhado há três
anos em uma recessão e o governo central afundado num turbilhão de denúncias de
corrupção e de uma constante crise política. Esses ciclones estão trazendo além
da distribuição da economia nacional, o desemprego ao cidadão mais frágil,
fazendo ficar ao léu sem emprego e nem renda.
Mas tudo isso ainda é o de menos. Há várias outras
medidas e intervenções do governo que não apenas impedem que os pobres deixem
de ser pobres, como ainda agravam ainda mais a pobreza. Com tudo isso, começar
um pequeno negócio acaba sendo a única maneira que sobra para os pobres
conseguirem sobreviver honestamente.
Só que empreender legalmente significa ter de lidar com
um emaranhado de papeis, taxas, cobranças, cartórios, filas, carimbos, licenças
e encargos, além de todas as propinas exigidas por fiscais — os quais, se não
receberem o arrego, não liberam a documentação. Os governos, de todas as
esferas, são muito eficientes em esmagar micro-empreendimentos.
Daí essas pessoas são empurradas para o mercado informal,
que é onde elas encontram algum oxigênio. E então todo o ciclo se reinicia. E
tem ainda as Leis contra vendedores ambulantes que impedem pessoas de vender
comidas e produtos para pessoas que querem comprá-los. Em grandes cidades, os
mais vociferantes apoiadores das leis anti-ambulantes são os grandes
restaurantes e as lojas de departamento. Mas no Amapá, isso ocorre diferente,
na última semana os ambulantes e os empresários se uniram e realizaram um
protesto contra a prefeitura de Macapá.
Guerra aos ambulantes
A prefeitura de Macapá decidiu combater o comércio
ambulante na cidade. Desde janeiro, a fiscalização foi intensificada e as
apreensões de mercadorias passaram a ser feitas quase que diariamente nos
vários pontos do município onde os camelôs se concentram. Mas isso acontecia
pontualmente, porém, neste segundo semestre as ações passaram a ser ostensivas
e violentas.
Essa situação que vem se cristalizando em Macapá, é
justificada pela atual gestão municipal, que está cumprindo uma determinação do
Ministério Público Estadual de retirar os ambulantes da Beira Rio e da Orla do
Perpétuo Socorro e organizar os passeios públicos e o transito.
A ordem foi cumprida imediato, com notificações de 24
horas para cumprir, prazo exíguo, para quem possui equipamentos e em uma semana
mais de 400 pessoas ficaram sem poder conseguir renda para se manter e passar
um Natal e um Ano Novo digno.
A gestão de Clécio Luís frente à prefeitura de Macapá já
vai completar cinco anos e já deveria ter um projeto para resolver essa
situação dos empreendedores individuais na capital amapaense. A situação é crítica
para esse pessoal, trabalham sobressaltados, com medo de perder o que
conseguiram adquirir, muitos com recursos das indenizações trabalhistas,
empréstimos de parentes ou os que foram beneficiados pelo financiamento da
Agencia de Fomento do Estado do Amapá (AFAP).
A AFAP realizou em julho uma caravana que levou até esses
empreendedores linhas de créditos, para empreendedores informais,
microempreendedores individuais e microempresas, voltadas para a pessoa física,
isto é, o ambulante, o vendedor de cachorro quente, por exemplo, aquele que não
tem CNPJ, que pode acessar até R$ 10 mil; o microempreendedor individual, até
R$ 15 mil, e a micro empresa, que pode financiar até R$ 100 mil.
E é essa a grande preocupação os que acessaram os
financiamentos e tem prestações a pagar e como irão fazer isso, se estão
perdendo seu único meio de trabalho?
Dificuldade para
trabalhar sem especialidade
Ser ambulante ou empreendedor individual tornou-se
sinônimo de ilegalidade, pois os de Macapá, estão sendo arrastados de seus
pontos de vendas, que de acordo com a legislação vigente estão ali ilegalmente,
mas na sombra dos problemas sociais que hora o Estado e o município passa, com
a crise que ainda persiste, precisam trabalhar e gerar rendas para sustentos
familiar, se não, crescerá o número de marginais e o crime organizado será
fermentado por cidadãos desesperados e despreparados.
A maioria desses empreendedores individuais, estão sem estudo,
não tem profissão e trabalham de “bico”, eles são jovens e muitos já tem filhos
pequenos. Essas características sociais, não lhes dão uma boa perspectiva de um
emprego fixo e de boa remuneração.
Esses ambulantes reconhecem que causam problemas, mas não
é essa a intenção, eles querem se legalizar e ter um ponto fixo para
trabalharem.
A maioria dos vendedores ambulantes contatados pela
reportagem, explicitam que a atividade que exercem é um problema a ser
resolvido, mas que deve ser considerada enquanto propicia o desenvolvimento da
cidade, vez que não querem permanecer na informalidade, e sua regularização
pela prefeitura traria retornos variados para a municipalidade.
A iniciativa levou os ambulantes a se organizar para
tentar continuar trabalhando. Um grupo de cerca 80 vendedores tem procurado
tanto os vereadores quanto a prefeitura para buscar uma alternativa. Eles atuam
em todas as regiões do município, como os terminais do centro, Orla da Cidade,
a rua São José, Canal da Mendonça Junior. A gestão municipal, no entanto, tem
se mantido firme na decisão de não permitir a venda nas ruas da cidade e os
ambulantes reclamam da falta de diálogo.
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