
SILÊNCIO IMPRECISO
I
Vagando pela orla da cidade – um homem enxerga
avantesmas lúgubres que habitam o lugar
(são seus mortos que lhe surgem cuspidos do Rio
Oiapoque).
II
Uma brisa leve lhe banha a face distorcida
tal qual uma tela surrealista de Dalí.
Oiapoque lhe surge entre risos & preces.
Ais & ave-marias ressoam da igrejinha.
As horas estacionadas lhe assombram & ele
emurchece
(o indivíduo se prostra em desvarios – passando a
ouvir
os açoites do silêncio impreciso).
III
No arremate da tarde – a cidade morna
se cobre de nuvens carregadas.
A chuva parece conter garras de aço inox a querer
nos degolar!
Da Rampa de Embarque até Saint-Georges
habitantes de outros tempos brotam imponentes.
Sentado a olhar o rio – o homem espera o abrigo do
acaso.
O crepúsculo lhe chega assombrador & nada
permanecera igual.
A rua erma se traveste de sombras
(o ocaso lhe permanecerá até que ele morra
para esse espaço descolorado).
IV
A antemanhã sucumbe perante os olhos
esmaecidos do homem & seu corpo desperta em
delírio morto.
A solidão lhe diz bom dia
& ele esboça um suspiro [com lágrimas densas
nos olhos]
(domingo deve iniciar a nova ordem que dirigirá
seus últimos instantes).
VI
Seguindo pela rua indistinta
almas em decomposição esboçam devorar
seu coração de vento – olhos & formas lhe
espreitam
(a partir dali – ele não ouvirá mais as
lamentações
que outrora lhe acompanhavam.)
Oh, o homem jaz!
Enterrado na vala comum da indiferença humana.
Do Livro RIO OIAPOQUE IN BLUES, de MARVEN JUNIUS
FRANKLIN.
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