domingo, 5 de novembro de 2017

UM POEMA DA FRONTEIRA


A imagem pode conter: 1 pessoa, nuvem, céu, atividades ao ar livre, água e natureza
SILÊNCIO IMPRECISO

I

Vagando pela orla da cidade – um homem enxerga
avantesmas lúgubres que habitam o lugar

(são seus mortos que lhe surgem cuspidos do Rio Oiapoque).

II

Uma brisa leve lhe banha a face distorcida
tal qual uma tela surrealista de Dalí.
Oiapoque lhe surge entre risos & preces.
Ais & ave-marias ressoam da igrejinha.

As horas estacionadas lhe assombram & ele emurchece

(o indivíduo se prostra em desvarios – passando a ouvir
os açoites do silêncio impreciso).

III

No arremate da tarde – a cidade morna
se cobre de nuvens carregadas.
A chuva parece conter garras de aço inox a querer nos degolar!

Da Rampa de Embarque até Saint-Georges
habitantes de outros tempos brotam imponentes.

Sentado a olhar o rio – o homem espera o abrigo do acaso.
O crepúsculo lhe chega assombrador & nada permanecera igual.

A rua erma se traveste de sombras

(o ocaso lhe permanecerá até que ele morra
para esse espaço descolorado).

IV

A antemanhã sucumbe perante os olhos
esmaecidos do homem & seu corpo desperta em delírio morto.

A solidão lhe diz bom dia
& ele esboça um suspiro [com lágrimas densas nos olhos]

(domingo deve iniciar a nova ordem que dirigirá
seus últimos instantes).

VI

Seguindo pela rua indistinta
almas em decomposição esboçam devorar
seu coração de vento – olhos & formas lhe espreitam

(a partir dali – ele não ouvirá mais as lamentações
que outrora lhe acompanhavam.)

Oh, o homem jaz!
Enterrado na vala comum da indiferença humana.


Do Livro RIO OIAPOQUE IN BLUES, de MARVEN JUNIUS FRANKLIN.



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