Tork põe as cartas na mesa
O
Conselho Nacional de Justiça determinou e os Tribunais abriram suas portas para
os jornalistas dialogarem com o judiciário. No Amapá o presidente Carlos Tork
já exercitou pela terceira vez esse tete a tete. O resultado tem sido
satisfatório para todos, mas principalmente ao cidadão que acaba, via os
veículos, tendo acesso as informações estratégicas do Poder Judiciário.
Reinaldo
Coelho
Na
atualidade, a atenção para com a comunicação é uma questão de sobrevivência
para todas as instituições. Em qualquer que seja a área de atuação, o sucesso
só é possível por meio da adoção de estratégias eficientes, que levem a
instituição a ser vista — e bem-vista — pela sociedade. No Judiciário, a
necessidade afigura-se emergente, quando o objetivo é construir uma imagem de
imparcialidade, probidade, justiça e cumprimento do dever social.
É
dever do Poder Público prestar contas à sociedade acerca da sua atuação, e isso
somente é possível fazer, dialogando com a população, através dos meios de
comunicação. Não há mais espaço para um Judiciário que não se comunique. Tentar
implantar a semente de uma atitude reflexiva sobre este importante assunto, em
ordem a suscitar um diálogo sério e continuado, no seio da sociedade, com a
participação de magistrados e jornalistas
O
Tribunal de Justiça do Estado do Amapá, deu início a essa metodologia em
setembro de 2017 com o programa “Bate Papo com a Imprensa”. Na quinta-feira
(07), aconteceu a terceira edição.
Segundo
a assessora de comunicação do TJAP, Bernadeth Farias, a programação é mensal.
“A dinâmica estabelece um diálogo entre o desembargador-presidente Carlos Tork
e personalidades da imprensa amapaense, com pauta livre, de acordo com as
políticas de transparência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)”, definiu.
Nesta
terceira edição, contou com a presença dos jornalistas: Roberto Gato (Tribuna
Amapaense e Rádio Difusora); Luís Trindade (TV Record); Josiel Alcolumbre (TV
Band); Seles Nafes (Portal Seles Nafes); e Sílvio Sousa (Rádio Equatorial FM).
Ao
ser iniciado o bate papo, o jornalista Roberto Gato, pediu uma avaliação do
líder do Judiciário do Amapá quanto à imagem da Justiça, no estado e em todo o
Brasil.
O
desembargador Tork, explicou que o Poder Judiciário sofreu, em 2017, muitas
críticas e muita pressão de diversos setores, mas às quais a ministra Carmen
Lúcia (presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de
Justiça) soube responder muito bem. Foi um ano
difícil e trabalhoso, mas com implementações importantes encaminhadas nos
aspectos administrativo, financeiro e operacional. “Implementamos, por exemplo,
as Secretarias Únicas que centralizam boa parte do trabalho e dão eficiência
aos recursos humanos e financeiros, e houve ainda o ajuste administrativo de
Equalização da Força de Trabalho (conforme a resolução 219 do CNJ),
redistribuindo servidores conforme a demanda de cada unidade judicial”,
acrescentou o desembargador Tork.
Apesar da deficiência quanto à manutenção de
prédios, por razões orçamentárias não foi possível avançar muito nesse ponto, o
desembargador-presidente assegura que “mesmo com essas dificuldades, as metas
desta gestão foram cumpridas”.
“Este fechamento positivo do ano é
demonstrado pelos números do CNJ, que nos mantiveram com Selo Ouro pelo 4º ano
consecutivo, mesmo agora com o acréscimo da qualidade e eficiência no trabalho
jurisdicional”, ressaltou o magistrado, lembrando que até 2016 o ‘Selo Justiça
em Números’, só avaliava qualidade da informação, mas em 2017 passou a avaliar
o Índice de Produtividade Comparada da Justiça (IPCJUS), o que elevou a
pontuação do TJAP em mais de 50% – a poucos pontos do ‘Selo Diamante’.
Quanto ao questionamento de Josiel Alcolumbre
sobre as impressões de estar à frente da Justiça do Amapá e a contribuição de
experiências anteriores presidindo a Ordem dos Advogados do Brasil-Secção Amapá
(OAB-AP), Tork assegurou que a mudança da postura de advogado para magistrado é
uma experiência profunda e interessante.
“Já há três anos como “magistrado não me
identifico mais como advogado, mas a advocacia me deu o suporte para fazer essa
transição de forma rápida”, afirmou o desembargador.
E completou – “Conduzir a maior corte do
Estado é a maior honra, mas é de extrema responsabilidade. Felizmente esta
experiência da advocacia e da gestão – fui empreendedor na advocacia e na
iniciativa privada –, além de decidir com o colegiado na OAB e no Tribunal
Regional Eleitoral (TRE), e isso me permite uma perspectiva diferenciada de
outras pessoas com outros perfis, inclusive no trato com o coletivo,
respeitando as individualidades e a importância do coletivo”, acredita o
presidente do TJAP.
Questionado por Seles Nafes sobre seu
julgamento a respeito da apreciação, por parte do Supremo Tribunal Federal,
quanto à prisão para condenado em segunda instância, o desembargador Tork
lembrou que o TJAP opera sob a égide de uma decisão do STF, mas que se ele
mudar, o Tribunal precisará acompanhar.
“Estou certo de que advogados e defensores
tomarão as medidas cabíveis caso o entendimento mude, e certamente algumas
decisões podem eventualmente ser revistas, mas precisamos aguardar, pois o TJAP
não age de ofício e precisa ser provocados por advogados e Ministério Público”,
ponderou.
“Somos um dos poucos países do mundo em que a
pessoa condenada em segundo grau, com autoria e materialidade estabelecidas e
julgada por um colegiado, fica solta, pois não há mais dúvidas de que ela é
culpada a esta altura”, complementou Carlos Tork.
Respondendo a Sílvio Sousa, sobre a
possibilidade de nomear mais concursados, o presidente do TJAP explicou que acabou
de nomear um arquivista e que novas nomeações precisam ser estudadas caso a
caso. “Cada servidor custa R$ 150 mil ao ano – 10 servidores já são R$ 1,5
milhão. Como é dinheiro público e estamos em contenção de despesas, precisamos
perguntar: de onde vamos tirar?”, observou.
“Estamos conseguindo reduzir custos e
aumentar a eficiência sem incrementar a força de trabalho e fazendo frente à
demanda crescente, e só isso já é uma vitória”, garantiu. “Vamos fechar o ano
executando um orçamento menor que o do ano passado, e ainda investindo em tecnologia
da informação, por exemplo”, acrescentou.
Além do presidente da Justiça do Amapá,
desembargador Carlos Tork, participaram pelo TJAP: o juiz auxiliar da
Presidência, João Matos Jr.; o Diretor Geral do TJAP, Gláucio Bezerra; a
diretora da Assessoria de Comunicação do TJAP, Bernadeth Farias; e o diretor da
Secretaria de Gestão Processual e Eletrônica, Adelson Armando.
Primeiro “Bate papo”
A Justiça do Amapá ao inaugurar “Bate Papo
com o Presidente”, fixando como encontro periódico com jornalistas trouxe uma
identificação transparente entre o Poder Judiciário de os operadores da
notícia. Principalmente pelo tendo uma pauta livre e sem as formalidades
típicas de uma entrevista coletiva, o desembargador-presidente da Justiça do
Amapá, Carlos Tork, responde cada pergunta contemplando temas desde conjunturas
nacionais a minúcias do dia a dia da gestão.
O bate papo inaugurou um novo canal de
diálogo que promete estreitar ainda mais as relações da Justiça do Amapá com a
imprensa local, além de promover uma transparência ainda maior.
Um dos primeiros temas abordados, em pergunta
formulada pela jornalista Ana Girlene, foi a orientação do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), presidido pela ministra Carmen Lúcia, para ampliação da
transparência do Poder Judiciário em todo o país – em especial no quesito
remuneração de magistrados.
Em resposta, o desembargador-presidente
Carlos Tork informou que a média de remuneração do magistrado no Amapá –
somados subsídio, verbas rescisórias e demais benefícios – é bem abaixo da
média nacional.
O jornalista Seles Nafes questionou a
avaliação da presidência do TJAP sobre a decisão unânime da Câmara Única quanto
à remuneração de diligências negativas (sem sucesso) de oficiais de justiça,
com relatoria do desembargador João Lages.
O desembargador Tork comentou que a atividade
de Oficial de Justiça está sendo limitada pela redução das diligências
positivas (com sucesso) e pelo avanço das tecnologias eletrônicas de
notificação. “A atividade tende a quase desaparecer em alguns anos, provavelmente
reduzindo as vagas em concursos futuros. Mas é importante manter o poder
aquisitivo dos profissionais em exercício. Vamos pagar encaixando este novo
custo dentro do orçamento das diligências positivas”, observou.
O jornalista Janderson Cantanhede pediu
comentário do presidente do TJAP sobre os números recém-divulgados pelo CNJ,
atestando a alta produtividade da Justiça do Amapá – que alcançou 100% do
índice no âmbito do 1º Grau.
O desembargador-presidente observou que o
destaque da Justiça do Amapá tem sido, principalmente, na celeridade dos
processos, estando atrás somente da Justiça do Mato Grosso. “Estamos julgando
mais processos do que chegam, mesmo com o aumento de uma média de 95 mil
processos anuais em 2015 para 125 mil desde o ano passado”, acrescentou o
magistrado.
A jornalista Bianca Castro questionou quanto
à redução do horário do expediente interno do TJAP. O desembargador Tork
ponderou que a medida irá gerar economia de R$ 3 milhões anuais. “Pretendemos
economizar, só em energia, mais de R$ 200 mil anuais”, exemplificou. “Também
reduziremos o número de cargos comissionados e funções de confiança que se
mostrarem supérfluos ou incondizentes com a realidade atual”, acrescentou.
O jornalista Carlos Lobato comentou que
condenação de réus mais abastados a prisão em regime domiciliar gera uma
impressão quase generalizada de que a Justiça é leniente com tais crimes e tais
penas alternativas seriam menos frequentes quando se tratava de pessoas com
menor poder aquisitivo.
O desembargador Tork lembrou que o juiz não
pode, de ofício, oferecer benefícios não requisitados pela defesa, sob pena de
comprometer sua imparcialidade. “Tal omissão da defesa pode ser devida a uma
deficiência de especialização dos defensores criminais em execução penal ou uma
consequência natural da sobrecarga de trabalho para um reduzido número de
defensores”, acrescentou.
Lobato deixou como sugestão, que o Judiciário
protagonize um mutirão para analisar casos de presos com problemas graves de
saúde (tuberculose e portadores de HIV), que possam vir a progredir de regime e
ter o benefício da prisão domiciliar. O desembargador-presidente Carlos Tork
acatou a sugestão e encaminhou a agenda para o Juiz auxiliar da Presidência,
João Matos Júnior, com representações da Defensoria Pública do Amapá (DEFENAP),
para produzir um esforço neste sentido”.
No segundo encontro
Em especial, nesta segunda edição, o bate
papo começou com uma transmissão ao vivo feita pelo jornalista Pedro Velleda para
a Rádio Difusora de Macapá, que questionou sobre os R$ 3 milhões previstos como
economia pela readequação do horário. O presidente do TJAP respondeu que serão
prioritariamente investidos na construção do Fórum do Juizado Especial Virtual,
que tem projeto orçado em R$ 2,7 milhões. O Fórum ocupa hoje prédio alugado, o
que impacta negativamente sobre as finanças do Judiciário.
O desembargador-presidente informou aos
jornalistas que só em 2017 foram investidos R$ 4 milhões em inovação
tecnológica e em 2018 será investido igual valor. Na esteira dos dados
apresentados, o jornalista Cleber Barbosa perguntou sobre a virtualização dos
processos no Judiciário.
Segundo o presidente Tork havia cerca de 50
mil processos físicos só na capital. “A partir de 25 de outubro de 2016 todas
as petições e novos processos passaram a ser virtuais e os processos físicos
estão sendo digitalizados”.
Preocupado com a questão da segurança pública
no Estado, tema levantado pelo jornalista Cleber Barbosa, o presidente do TJAP
disse que o Amapá tem sim a presença do crime organizado. “Estou
particularmente preocupado com o que aconteceu nas últimas semanas, por isso
estamos reunindo com os demais poderes para, juntos, encontrarmos respostas
para a população”, afirmou. “Uma das características de nossa cidade é a
tranquilidade de podermos circular nas ruas. Não podemos permitir que se
instale o terror”, concluiu.



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