ACONTECEU COMIGO
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Barbara Costa Ribeiro |
Por Barbara Azevedo Costa
Ontem aconteceu comigo uma coisa maravilhosa, tão maravilhosa
que a minha vontade era a de contá-la a todo o mundo, de modo que eu não
conseguia parar de chorar, pelo que esperei por mais de 15 anos. Ontem fui
batizada em línguas, pelo Espírito Santo (se quiser, conferir os livros de
João, capítulo 14; Atos dos Apóstolos, capítulo 2, versículos 1-13; e 1
Coríntios, capítulo 14:2, da Bíblia Sagrada). Isso diz respeito, basicamente,
ao fato de que, quando Jesus subiu aos céus, depois de ressuscitar, prometeu
que enviaria de lá o Espírito Santo a fim de que ele viesse nos consolar e
habitar no meio de nós e dentro de nós até que Jesus voltasse, na consumação de
todos os séculos. Desde então os cristãos pentecostais, sobretudo os
protestantes, modernamente ditos evangélicos, mas, de todo modo, cristãos, têm
vivido de geração em geração nessa busca, nessa fé e nessa comunhão. Ela diz
respeito a uma relação de profunda intimidade: quando o Espírito que habita em
você conversa espontaneamente com Deus numa língua que só eles podem entender.
Quando alguém é selado com o Espírito Santo, o sobrenatural acontece. Viver com
Cristo é, de fato, viver um passo sempre à frente do que os olhos podem ver e
mesmo o coração intuir. Alguns, ao receberem do céu esse presente, como um fogo
que queima por dentro, e desarticula a linguagem, e não desmonta o pensamento,
mas assume o comando da voz e do espírito, passam a falar em línguas estranhas
logo no momento mesmo de sua conversão; alguns passam anos sem que manifestem o
dom; outros ainda começam a falar em línguas sem sequer saber do que se trata:
os testemunhos, enfim, são variados.
Eu, de minha parte, comecei a andar com Jesus, quando o conheci, aos sete anos. O meu testemunho é o de uma criança que ouve falar e de todo o coração acredita, e passa a viver, mesmo na pouca idade, uma vida jamais imaginada, alimentando-se de uma paz indescritível, que excede qualquer ciência e que só pode ser presenciada diante mesmo do Inefável, o próprio Deus.
O meu coração acreditou naquela infância, no que ouviu, não como uma história, mas como a verdade, a Verdade única possível. E acreditei que Deus podia fazer o impossível por mim, por minha mãe, por minha família, por todos os que eu amava, mesmo por quem eu nem conhecia, e ele fez, e pode. Mas o dom de falar em línguas, que para muitos é entendido como uma confirmação de sua caminhada com Cristo e de intimidade com o Espírito Santo, eu nunca expressara.
Desde que cresci tenho aprendido que o tempo de Deus é diferente do tempo humano. De fato, Deus está fora de tempo: posto que Ele não tem duração, não tem princípio, nem fim, e o homem, que só conhece coisas findas, praticamente não alcança o conceito. Mas vive, dia após dia, os que creem, na espera de conhecer o único que é - verbo intransitivo. E sabem que neste mistério está toda a vida.
E, então, quando eu me sentia tão pequenina, tão mínima... Num momento muito singular em minha vida, montada e desmontada. A menor de todas, certamente. A tão errada dentre tantas, e certamente não a mais conexa, leal ou justa. Mas, frequentemente – tenho visto –, quando tudo parece estar em processo de ruína, de puimento de ossos e rasgar de alma, Deus resolve promover reviravoltas, reescrever histórias, instalar mudanças, retirar sentimentos, reconstruir certezas. Ele é quem passeia pelos corações - por todos, sem exceção -, e decide, sendo o único capaz de julgar até ao ponto de discernir a divisão entre a alma e o espírito humanos.
E é nesse momento, em que você se sente tão apequenado, em que se torna quase impossível ultrapassar uma grande angústia ou uma determinada composição de vida, que Deus se manifesta de maneiras indescritíveis - quando tudo o mais parece esgotado. Para que enfim a gente entenda que nada é por merecimento, mas por graça de Deus, favor imerecido, mas oferecido com a única verdadeira bondade que existe no universo.
Dificilmente somos aprovados com louvor, mas somos moídos, e remoldados, como argila. E eu não me importo de ser argila, e na verdade quero. Porque Dele é a vontade e o tempo, e ninguém pode ensinar a Deus até onde a onda do mar deve ir, e ninguém estava lá quando ele estabeleceu o limite do firmamento, e contou exatamente todos os dias que teríamos nesta Terra, cada um de nós, quando nem mesmo Terra havia ainda.
De mim, sei que nesses mais de quinze anos vivendo com Jesus, dia após dia, mesmo quando não penso Nele, Nele estou, mesmo quando sou desonesta com Ele, é a Ele que volto, mesmo quando meus pés se embaralham, ele amarra os meus cadarços, dia e dia, mesmo quando não, sim, buscando a voz Dele, clamando por Ele no escuro, como um bicho muito assustado e muito ferido por coisas indescritíveis e desconhecidas até mesmo de mim, mesmo no escuro de mim, quando tudo ao redor ofusca, é Nele em quem me deito, e muitas foram as noites em que dormi com meu travesseiro empoçado, rangendo por dentro e buscando amparo, não porque o merecesse, mas na certeza de que o encontraria Nele – justo aí, na dobra em que sou digna de nada ou de bem pouco, é neste espaço de infinita graça que o encontro.
Tem um Salmo muito bonito de Davi, o Salmo 6, que fala sobre isso:
Eu, de minha parte, comecei a andar com Jesus, quando o conheci, aos sete anos. O meu testemunho é o de uma criança que ouve falar e de todo o coração acredita, e passa a viver, mesmo na pouca idade, uma vida jamais imaginada, alimentando-se de uma paz indescritível, que excede qualquer ciência e que só pode ser presenciada diante mesmo do Inefável, o próprio Deus.
O meu coração acreditou naquela infância, no que ouviu, não como uma história, mas como a verdade, a Verdade única possível. E acreditei que Deus podia fazer o impossível por mim, por minha mãe, por minha família, por todos os que eu amava, mesmo por quem eu nem conhecia, e ele fez, e pode. Mas o dom de falar em línguas, que para muitos é entendido como uma confirmação de sua caminhada com Cristo e de intimidade com o Espírito Santo, eu nunca expressara.
Desde que cresci tenho aprendido que o tempo de Deus é diferente do tempo humano. De fato, Deus está fora de tempo: posto que Ele não tem duração, não tem princípio, nem fim, e o homem, que só conhece coisas findas, praticamente não alcança o conceito. Mas vive, dia após dia, os que creem, na espera de conhecer o único que é - verbo intransitivo. E sabem que neste mistério está toda a vida.
E, então, quando eu me sentia tão pequenina, tão mínima... Num momento muito singular em minha vida, montada e desmontada. A menor de todas, certamente. A tão errada dentre tantas, e certamente não a mais conexa, leal ou justa. Mas, frequentemente – tenho visto –, quando tudo parece estar em processo de ruína, de puimento de ossos e rasgar de alma, Deus resolve promover reviravoltas, reescrever histórias, instalar mudanças, retirar sentimentos, reconstruir certezas. Ele é quem passeia pelos corações - por todos, sem exceção -, e decide, sendo o único capaz de julgar até ao ponto de discernir a divisão entre a alma e o espírito humanos.
E é nesse momento, em que você se sente tão apequenado, em que se torna quase impossível ultrapassar uma grande angústia ou uma determinada composição de vida, que Deus se manifesta de maneiras indescritíveis - quando tudo o mais parece esgotado. Para que enfim a gente entenda que nada é por merecimento, mas por graça de Deus, favor imerecido, mas oferecido com a única verdadeira bondade que existe no universo.
Dificilmente somos aprovados com louvor, mas somos moídos, e remoldados, como argila. E eu não me importo de ser argila, e na verdade quero. Porque Dele é a vontade e o tempo, e ninguém pode ensinar a Deus até onde a onda do mar deve ir, e ninguém estava lá quando ele estabeleceu o limite do firmamento, e contou exatamente todos os dias que teríamos nesta Terra, cada um de nós, quando nem mesmo Terra havia ainda.
De mim, sei que nesses mais de quinze anos vivendo com Jesus, dia após dia, mesmo quando não penso Nele, Nele estou, mesmo quando sou desonesta com Ele, é a Ele que volto, mesmo quando meus pés se embaralham, ele amarra os meus cadarços, dia e dia, mesmo quando não, sim, buscando a voz Dele, clamando por Ele no escuro, como um bicho muito assustado e muito ferido por coisas indescritíveis e desconhecidas até mesmo de mim, mesmo no escuro de mim, quando tudo ao redor ofusca, é Nele em quem me deito, e muitas foram as noites em que dormi com meu travesseiro empoçado, rangendo por dentro e buscando amparo, não porque o merecesse, mas na certeza de que o encontraria Nele – justo aí, na dobra em que sou digna de nada ou de bem pouco, é neste espaço de infinita graça que o encontro.
Tem um Salmo muito bonito de Davi, o Salmo 6, que fala sobre isso:
"Senhor, não me repreendas na tua ira, nem me castigues no
teu furor. Tem misericórdia de mim, Senhor, porque sou fraco; sara-me, Senhor,
porque os meus ossos estão perturbados [...]. Já estou cansado do meu gemido,
toda a noite faço nadar a minha cama; molho o meu leito com as minhas lágrimas,
já os meus olhos estão consumidos pela mágoa [...]".
E tenho deixado que todos conheçam sempre o pior de mim, meus
erros, meus medos, minhas falhas, minhas grandes dificuldades, meus
aborrecimentos. Mas o que há de melhor em mim, que é Cristo, e meus cadarços,
que Ele mesmo amarrou, poucos sabem, pouco falo, e é por isso que, nesta hora,
resolvo compartilhar tais coisas, a quem as queira também. Porque antes mesmo
que eu tivesse um passado, quando eu mal possuía ainda uma história, eu tive o
privilégio de conhecer o nome daquele que é para mim tudo, hoje, o respirar, o
refúgio, o meu amor, aquele que manda, e obedeço - às vezes desobedeço, e é
difícil -, aquele que é, para mim, enfim, o começo, o fim, e o depois da minha
história.
Tenho penado todos os dias da minha vida para aprender e reaprender, e desaparecer, até que só reste em mim o que Ele queira de bom. E tenho tantas vezes falhado, mas sigo, e sei que o cristianismo é justamente um aprendizado da diminuição. Quero continuar a ser mínima. E espero que tudo o que acontece na minha vida, mesmo quando meus joelhos fraquejam, seja para que eu reconheça, e todos ao meu redor reconheçam quão grande é o Deus a quem sirvo com toda a sinceridade do meu coração, mesmo que tão pequeno e tão fraquinho esse coração.
Tenho aprendido tantas coisas. Nestes últimos anos, mas, de verdade, desde que comecei a minha caminhada, e entendi que havia alguém que me conhecera e me amara antes mesmo de eu ser formada, no ventre da minha mãe (o que também não foi em vão, já que hoje estou aqui, e isso vale para todos nós, sempre). Tenho aprendido que a mão direita do Senhor está estendida, e ela é cheia de misericórdias, para quem quer que a buque. E eu a quero buscar todos os dias. Sei que nem o conhecimento, nem a ciência, nem a linguagem, nem o poder, nem o muito pensar, nada, nada ultrapassa aquilo que Deus é. Esta dicção sempre esteve aqui, embora não amplamente aberta, embora tantas vezes eu a silencie para não invadir os espaços que não me pertencem. Mas hoje sinto vontade de gritar todas as maravilhas de Deus na Terra, e reconhecer mais uma vez que nada do que há de bom em mim ou em qualquer outra pessoa vem de outro lado que não seja da parte do próprio Deus. E o evangelho, este evangelho, de renovação, de vida, de paz, de esperança, não é motivo para mim de vergonha, mas de honra. De honra.
Tenho penado todos os dias da minha vida para aprender e reaprender, e desaparecer, até que só reste em mim o que Ele queira de bom. E tenho tantas vezes falhado, mas sigo, e sei que o cristianismo é justamente um aprendizado da diminuição. Quero continuar a ser mínima. E espero que tudo o que acontece na minha vida, mesmo quando meus joelhos fraquejam, seja para que eu reconheça, e todos ao meu redor reconheçam quão grande é o Deus a quem sirvo com toda a sinceridade do meu coração, mesmo que tão pequeno e tão fraquinho esse coração.
Tenho aprendido tantas coisas. Nestes últimos anos, mas, de verdade, desde que comecei a minha caminhada, e entendi que havia alguém que me conhecera e me amara antes mesmo de eu ser formada, no ventre da minha mãe (o que também não foi em vão, já que hoje estou aqui, e isso vale para todos nós, sempre). Tenho aprendido que a mão direita do Senhor está estendida, e ela é cheia de misericórdias, para quem quer que a buque. E eu a quero buscar todos os dias. Sei que nem o conhecimento, nem a ciência, nem a linguagem, nem o poder, nem o muito pensar, nada, nada ultrapassa aquilo que Deus é. Esta dicção sempre esteve aqui, embora não amplamente aberta, embora tantas vezes eu a silencie para não invadir os espaços que não me pertencem. Mas hoje sinto vontade de gritar todas as maravilhas de Deus na Terra, e reconhecer mais uma vez que nada do que há de bom em mim ou em qualquer outra pessoa vem de outro lado que não seja da parte do próprio Deus. E o evangelho, este evangelho, de renovação, de vida, de paz, de esperança, não é motivo para mim de vergonha, mas de honra. De honra.
Acredito num Deus que faz brotar uma flor em meio ao deserto, em
meio à solidão e à escassez. Converso com Ele nas madrugadas e quando fecho os
olhos tento contornar com a luz das minhas pálpebras o formato do rosto Dele.
Nunca o vi sentar-se ao meu lado na cama, mas sei que Ele está, e durmo à orla
de seus vestidos. Quando ando na rua, é por Ele que ando. Quando algo de muito
maravilhoso acontece a mim ou a qualquer outra pessoa, independente de quem
seja, sei quem foi o autor. Quando o meu corpo está prestes a se desmanchar e
meus olhos não aguentam mais a pressão, sei que Ele é refúgio. E queria deixar
essa mensagem aqui, para uma vez enfim dizer a quem quer que precise de todas
essas coisas, como eu poderia precisar e preciso. Ele é refúgio de todos nós,
sem exceção. Tenho vivido dia após dia habitando palavras na tentativa de
encontrar as palavras certas para dizer ao meu Deus, e a isto se resume toda a
minha vida, e talvez as palavras estejam justamente no silêncio das coisas que
ninguém sabe explicar, então paro por aqui. Verdade é que somos todos muito,
muito fracos, falhos, alquebrados, ínfimos, dependentes, medrosos, impotentes,
áridos, e nisto está toda a minha alegria: pois é na solidão, no medo, na
aridez e na desesperança que Deus faz brotar a paz e a alegria indizíveis: a
tua vara e o teu cajado me consolam, e unges a minha cabeça com óleo, que me
cura, e o meu cálice transborda. E Ele certamente não deixará pela metade nada
daquilo que começou a construir. Eu, você. A lembrar infinitamente que o fim é
sempre melhor do que todos os começos.
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