PETROBRÁS: O BRASIL EM PRIMEIRO LUGAR
(*)Marcos Cordeiro Pires
Pesquisa do DATAFOLHA divulgada no final de
2017 informava que 70% dos brasileiros eram contrários à privatização de
empresas estatais, entre elas a Petrobrás. No entanto, setores da sociedade que
exercem o controle dos meios de comunicação estão em forte campanha pela venda
das empresas públicas. Sob a desculpa de “acabar com a corrupção” ou de
“combater o déficit público” escondem interesses econômicos ligados ao mercado
financeiro e ao grande capital internacional, que buscam controlar os recursos
naturais no mundo inteiro.
É interessante notar o discurso contra a
corrupção sempre manipulado no Brasil para sustentar políticas retrógradas e
antinacionais, como ocorreu com a destituição de Vargas, em 1954, as tentativas
de golpe contra Kubistchek, em 1955, 1956 e 1959, o golpe militar de 1964 e,
mais recentemente, a operação lava jato, que levou à deposição de Dilma
Rousseff, em 2016. No entanto, tal postura é seletiva, pois sempre se busca
combater a corrupção dos “outros”; a corrupção dos “nossos” é sempre
escamoteada.
Parte do discurso que busca privatizar a
Petrobrás se baseia na eliminação da corrupção “pela raiz”, eliminando a
participação de agentes públicos que em essência são “naturalmente corruptos”,
pois somente haveria corrupção no Estado, já que o chamado “mercado” seria o
exemplo de puritanismo e de boas práticas de gestão. Nesse mesmo sentido, busca-se
de associar o fenômeno como algo essencialmente “brasileiro”, como se não
houvesse corrupção nos países mais ricos ou mais puritanos. Mas, afinal, a
corrupção é de fato um problema brasileiro? Quantas empresas norte-americanas,
alemãs ou japonesas não pagaram (e pagam) propinas para a obtenção de contratos
no Brasil e em todo o mundo? Ou ainda, quem está por detrás nos escândalos da
FIFA e do futebol mundial?
Aliás, o maior escândalo de corrupção dos
últimos anos ocorreu com o mercado financeiro dos Estados Unidos, em 2008. A
“crise do subprime” se espalhou pelo mundo e levou à ruína diversos países e
famílias, queimando dezenas de TRILHÕES de dólares de riqueza, centenas de
vezes maior do que se apura na lava jato. Naquele crime, estavam envolvidos
reguladores públicos (SEC), bancos privados e agências de classificação de risco.
Estas últimas colocaram o selo de ótima qualidade (AAA) em papeis podres, como
aqueles lastreados em dívida imobiliária. Venderam títulos podres no mundo
inteiro como se ouro fosse. Quando a verdade veio à tona, a pirâmide de papel
desabou, levando junto a economia mundial. Cabe uma pergunta: o governo dos EUA
acabou com o mercado financeiro local para assim eliminar a corrupção endêmica
nesse setor?
O outro argumento para a privatização da
Petrobrás se baseia no fato de que o petróleo não é uma questão estratégica,
mas apenas uma commodity qualquer. Este é outro argumento falacioso. Por muito
tempo ainda, apesar do desenvolvimento de novas fontes energéticas, o petróleo
continuará sendo a principal matéria-prima do mundo e uma questão de
sobrevivência para as nações. Vale citar dois exemplos de como o controle sobre
o setor do petróleo é uma questão deliciada, e o que é mais interessante, não é
discurso de “terceiro-mundistas ultrapassados e nacionalistas”, mas a ação de
governos de países desenvolvidos como Estados Unidos e Espanha.
Em 2005, a empresa chinesa China Nacional
Offshore Oil Company (CNOOC) ofereceu US$ 18,5 bilhões pelo controle da
petrolífera norte-americana UNOCAL. Seria uma operação de mercado em que uma
empresa listada nas bolsas de valores de Hong Kong e Nova York adquiriria uma
similar pelas regras do mercado. No entanto, não foi assim que pensou o governo
dos Estados Unidos. A administração de George W. Bush vetou a venda para os
chineses uma vez que considerava o setor de petróleo um ativo estratégico que
não poderia ir para as mãos de um governo estrangeiro.
Em novembro 2008, a diretoria da empresa
espanhola de petróleo REPSOL discutia a venda de 20% de suas ações para o grupo
russo LUKOIL. Quando esta discussão chegou ao parlamento espanhol, o então
líder do Partido Popular, de direita, Mariano Rajoy (hoje Primeiro-Ministro),
se opôs firmemente à negociação, considerando o controle espanhol sobre a
REPSOL uma questão de “segurança estratégica nacional”. Também qualificou a
venda como “imoral e lamentável” e por fim afirmou que “a REPSOL em mão russas
colocava a Espanha na quinta divisão mundial”.
Outro argumento proferido é o de que a
Petrobrás está “quebrada”. Daí a atual gestão organizar uma privatização
velada, ao vender importantes ativos da empresa a grupos estrangeiros, entre
eles campos do Pré-Sal, para arrecadar dinheiro. Isto é uma meia verdade. Houve
uma crise momentânea por conta da forte queda no preço internacional do
petróleo e também por conta dos impactos da operação lava jato. Em setembro de
2013, o preço do barril chegou a US$110,00. Mas por conta de uma manipulação
política de seu preço, uma ação patrocinada pela Arábia Saudita e pelos Estados
Unidos para quebrar a economia de seus inimigos (Irã, Rússia e Venezuela), o
valor do barril chegou a bater num piso de US$28,00, em janeiro de 2016. Com
essa situação excepcional, ocorreu um forte aumento na relação dívida/ativos.
Hoje, o preço do barril mais do que dobrou, melhorando substancialmente o valor
do patrimônio da Petrobrás. Em 16 /01/2018, o preço do Brent estava próximo a
US$70,00.
Para além da questão estratégica e da
garantia da soberania nacional num setor essencial para a vida economia do
país, a Petrobrás tem um importante papel em dinamizar a economia brasileira e
gerar empregos e renda no território nacional. A atual política de beneficiar o
acionista e o mercado financeiro, e não os interesses estratégicos do Brasil,
está arruinando a indústria de bens de capital do país e comunidades inteiras
que se organizaram para produzir equipamentos, plataformas e navios, como é o
caso de Suape, em Pernambuco, Angra dos Reis, Itaboraí e Niterói, no Rio de
Janeiro, e Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Como o acionista exige lucro no
curto prazo, é mais barato importar equipamentos de países com grande
especialização produtiva (China, Coreia do Sul, Cingapura) do que desenvolver
capacidades internas. Esta lógica de privilegiar o mercado financeiro também
está por detrás da destruição de iniciativas na área de energias alternativas e
dos aumentos abusivos nos preços dos combustíveis e do gás de cozinha. A atual
administração da empresa tem uma visão míope e enviesada do negócio, buscando
agradar o “mercado” no curto prazo e alienar o interesse da população
brasileira.
Concluindo este breve artigo, não se pode
pensar num país próspero e com grande capacidade produtiva sem o controle
nacional sobre os setores mais estratégicos da economia, como é o caso do
petróleo. Defender a Petrobrás como empresa pública é defender o interesse
nacional. Enquanto governos no mundo inteiro estão defendendo os seus
interesses nacionais, como por exemplo o “America First” de Donald Trump,
devemos fazer o mesmo e colocar o Brasil em Primeiro Lugar. Não à privatização
da Petrobrás!
(*)Marcos Cordeiro Pires é professor da Unesp
de Marília.
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