O idoso e a paciência
Por: Celia Lima
No início da vida, o bebê conta com a proteção e os
cuidados dos pais biológicos, de algum familiar ou de pais adotivos. O ser
humano depende disso para sobreviver e se desenvolver física, emocional,
afetiva e socialmente. Somos gregários, interdependentes, gostamos do contato
com outras crianças quando pequenos, formamos grupos na adolescência, buscamos
um companheiro ou companheira e desejamos formar uma família. Ou optamos por
seguir sem formar uma família, mas de qualquer forma, em condições normais,
seguimos unidos a amigos, colegas profissionais ou grupos de interesses comuns.
Muitas pessoas, na idade adulta, mantêm laços
estreitos com suas famílias de origem, seja por amor, por necessidade ou por um
senso de dever e solidariedade. O fato é que os pais envelhecem enquanto
estamos ainda numa fase produtiva e atuante, e precisam dos cuidados e da
atenção dos filhos: os papéis se invertem.
Os pais têm suas tábuas de
valores que já não são mais os nossos próprios. O idoso tem manias, mais
dificuldade de aceitar novas formas de viver e resistência em concordar que
seus filhos possam seguir sem depender de seus conselhos.
"O idoso tem manias, mais
dificuldade de aceitar novas formas de viver e resistência em concordar que
seus filhos possam seguir sem depender de seus conselhos."
Alguns se predispõem a uma certa abertura para
absorver e acompanhar a evolução social, mas outros não: como rochas, eles se
recusam a sair do lugar. Como crianças birrentas, eles se arvoram o direito de
viver a vida como bem entendem, ainda que isso provoque desconforto e embates
no seio familiar. Tudo isso pode fazer parte da difícil aceitação do processo
de envelhecer, especialmente quando o idoso foi uma pessoa ativa, um
profissional atuante ou o "cabeça" da família. E, por isso, perder
sua independência e autonomia pode ser muito doloroso.
Devemos lembrar que esses idosos fazem parte de uma
geração que não teve a oportunidade de entrar em contato com esse infinito
universo de informações que temos hoje. Eles fazem parte de um grupo ainda
preconceituoso com relação a terapias que promovem o autoconhecimento,
aprenderam a viver sem muitos questionamentos, todavia não com menos problemas
ou traumas. Mas nada disso significa que não seja trabalhoso, difícil e até
mesmo muito desgastante acompanhar o declínio desses pais, muitas vezes
intransigentes.
São inúmeras as formas de manifestar esse traço de
personalidade e temperamento que esbarram na lógica e na paciência dos filhos.
Vamos citar algumas:
·
se
recusar a ir ao médico ou tomar remédios conforme a prescrição;
·
driblar o
banho e os cuidados com a higiene;
·
não
considerar a opinião dos outros;
·
se
recusar a seguir determinada dieta;
·
insistir
em realizar tarefas que coloquem sua segurança em risco, como usar facas
afiadas na cozinha, trocar lâmpadas ou mesmo ir ao mercado atravessando ruas
perigosas. (continua)
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