sábado, 27 de janeiro de 2018

Fake News: a nova ameaça às eleições





Fake News: a nova ameaça às eleições




Como as notícias falsas têm mobilizado governos e empresas da era digital para combater esse mal que ameaça a vida de todos

Janderson Cantanhede

Em 2012 o Amapá enfrentou uma grave crise gerada pelo desabastecimento de combustíveis. Filas imensas se formavam nos postos e a venda do produto chegou a ser fracionada.
Contornado o problema, uma informação dada em uma emissora de rádio local levou, novamente, os motoristas a formarem ‘filas e filas’ afim de evitar ficarem sem o combustível. Desta vez o problema, que não existia de fato, passou a acontecer por conta de uma fake news, que no português significa notícia falsa.


Esta semana o papa Francisco condenou o "mal" das fake news, dizendo que jornalistas e usuários de redes sociais devem rejeitar e desmascarar "táticas de serpente", manipuladoras, que fomentam a divisão para servir a interesses políticos e econômicos.
O pontífice disse que a primeira fake news foi no início dos tempos bíblicos, quando Eva foi tentada a colher uma maçã do jardim do Éden, levada por informações falsas divulgadas pela serpente.
"A estratégia desse inteligente 'pai das mentiras' é precisamente a imitação, essa forma de sedução traiçoeira e perigosa que se insinua no coração com argumentos falsos e atrativos", disse Francisco, referindo-se à serpente.
A declaração foi emitida após meses de debate sobre o quanto notícias falsas podem ter influenciado a campanha presidencial dos Estados Unidos em 2016 e a eleição do presidente norte-americano, Donald Trump.
"Notícias falsas são um sinal de atitudes intolerantes e hipersensíveis e levam apenas a difusão de arrogância e ódio. Esse é o resultado final da mentira", disse Francisco, no primeiro documento do papa sobre o assunto, em que pede um retorno da "dignidade do jornalismo".
Um documento chamado "A verdade irá libertá-lo – notícias falsas e jornalismo para a paz", foi emitido em antecipação ao Dia Mundial das Comunicações Sociais da Igreja Católica, em 13 de maio.
"Difundir notícias falsas pode servir para atingir objetivos específicos, influenciar decisões políticas e servir a interesses econômicos", escreveu o papa, condenando o "uso manipulativo de redes sociais" e outras formas de comunicação.
A criação e compartilhamento de fake news vem alarmando governos do mundo todo, mas poucos países expressaram tanta preocupação quanto o Brasil. E com razão, já que vários relatórios concluíram que notícias falsas regularmente superaram notícias reais no país em 2016. O problema é tão grande que a polícia federal brasileira anunciou recentemente planos para encontrar e “punir autores de 'fake news'” antes da eleição presidencial que promete ser tensa neste ano.

Ameaça nas eleições de 2018


A nove meses das eleições gerais, agora é o Brasil que se vê diante do problema. Com um debate polarizado, o país corre contra o tempo. Diferentes instituições públicas convocam debates sobre medidas que podem ser adotadas para garantir um processo eleitoral democrático e transparente. Algumas propostas preocupam movimentos sociais, que temem que o alarde em torno das notícias falsas leve ao controle dos conteúdos pelas plataformas digitais e, com isso, à censura na internet.
Atualmente, o Marco Civil da Internet permite empresas como o Facebook a adotar políticas para manutenção ou remoção de determinado conteúdo, caso a informação ofenda os termos de uso. Além disso, estabelece que a plataforma remova os dados em caso de decisão judicial neste sentido.

Na Declaração Conjunta sobre Liberdade de Expressão e Notícias Falsas (Fake News), Desinformação e Propaganda, órgãos das Nações Unidas trataram da questão. Apontam que as fake news corroem a credibilidade da imprensa e interferem no direito das pessoas à informação.
Na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei 7.604 de 2017, do deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), prevê a responsabilização de provedores de conteúdo nas redes sociais em casos de divulgação de informações falsas, ilegais ou prejudicialmente incompletas. A multa nesses casos seria de R$ 50 milhões no caso de a plataforma não retirar o conteúdo em até 24 horas. De acordo com o texto, os provedores de conteúdo devem criar filtros e regras para a publicação de conteúdos de modo a definir e restringir o que pode ser veiculado em suas páginas, perfis e outros espaços virtuais.
Outro projeto do deputado, o de número 6.812 de 2017, transforma em crime “divulgar ou compartilhar, por qualquer meio, na rede mundial de computadores, informação falsa ou prejudicialmente incompleta em detrimento de pessoa física ou jurídica”. A pessoa que cometer o ilícito pode ser condenada a pena de dois a oito anos e pagar multa de R$ 1,5 mil a R$ 4 mil.
O PL 8.592 de 2017, do deputado Jorge Corte Real (PTB-PE), vai na mesma linha ao incluir no Código Penal a prática de “divulgar ou compartilhar, por qualquer meio de comunicação social capaz de atingir um número indeterminado de pessoas, informação falsa ou prejudicialmente incompleta, sabendo ou devendo saber que o são”. O texto prevê penas menores, de um a dois anos.
Em uma campanha eleitoral de apenas 45 dias, uma exposição negativa decorrente de notícia falsa pode significar o fracasso de um candidato, além de outros danos. “Não podemos nos negar a entender essa realidade”, ressaltou o presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes. Ele ponderou que a tentativa de prejudicar adversários por meio de informações falaciosas sempre existiu, mas que o novo é a velocidade da disseminação desses conteúdos e sua abrangência, por meio da rede de computadores.
A pesquisa TIC Domicílios 2016, do Comitê Gestor da Internet no Brasil, identificou que as atividades mais comuns executadas na rede são o envio de mensagens instantâneas (89%) e uso de redes sociais (78%). A maior parte desses fluxos se dá em plataformas de uma mesma empresa: o Facebook, que também controla o aplicativo para celulares Whatsapp. Além da concentração econômica, há o desafio de efetivar regras, pois as corporações que atuam na rede são, em geral, internacionais. “[No caso das fake news], muitos sites estão instalados em países longínquos e com a institucionalidade muito débil, o que dificulta a cooperação judicial”, ressalta Gilmar Mendes.
A empresa Google apontou que cerca de 0,25% do conjunto de pesquisas do tráfego diário que recebe contém conteúdo ofensivo ou claramente enganoso. Para ajudar a prevenir que conteúdo desse tipo se espalhem, a Google disse que trabalha, desde 2016, em iniciativas diversas para melhorar o serviço de buscas, esforço que inclui criação de um selo de verificação de fatos; medidas para impedir a monetização de fake news na plataforma de publicidade digital AdSense e mudanças no algoritmo da busca para privilegiar “conteúdo de qualidade”.
Novas diretrizes de busca “vão ajudar nossos algoritmos a rebaixar esses conteúdos de má qualidade e nos ajudar a fazer outras melhorias com o tempo”, destaca a companhia em resposta. A empresa não comentou o questionamento sobre a subjetividade da descrição que pode ser feita baseada no conceito de “teorias da conspiração”. Citou, sobre isso, que pessoas foram contratadas para avaliar os novos mecanismos e sinalizar “melhor o que pode ser uma informação enganosa ou forjada, resultados ofensivos inesperados e teorias da conspiração sem fundamento”.
Enquanto outros mecanismos não são definidos pelas instituições, cabe à população ficar alerta para não formar sua opinião sobre notícias falsas. Diretora da Agência Lupa, Cristina Tardáguila apontou ações que devem ser adotadas pelos internautas, como manter uma postura de desconfiança em relação ao que acessa; verificar a data da publicação do conteúdo; questionar o interesse do autor e ver se a URL – o endereço virtual – é estranha. Consultar bases de dados confiáveis, como as do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IGBE) também é uma dica para confirmar o que consta nas informações que circulam na rede.

Combate a Fake News no Brasil


Com as eleições gerais deste ano, a tendência é crescer esse crime cibernético. Porém, as instituições federais e estaduais como PF, TSE, PGR, PRE, MPE e MPF Eleitoral iniciam ofensiva contra a disseminação de notícias falsas em aplicativos de mensagens e nas redes sociais.
As autoridades federais fecharam o cerco contra as “fake news” e têm adotado mecanismo de punição para quem divulga as informações falsas. A atenção deverá ser redobrada, já que neste ano acontecem eleições gerais.
No início deste mês de janeiro, a PF anunciou em Brasília a formação de um grupo de trabalho para tentar frear a divulgação de notícias falsas. O TSE em dezembro montou o Conselho Consultivo sobre Internet e Eleições. A Corte Eleitoral irá montar um esquema de combate ao fake News em todo Brasil em parceria com os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs). A equipe será composta também por técnicos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e da Procuradoria Geral da República (PGR). Já em fevereiro, uma equipe do FBI ajudará a PF na montagem de um modelo de combate às fake news, com um conjunto de normas com punições em relação à disseminação de informações falsas.
O conselho reuniu-se na sede da Corte na segunda-feira (15) para tratar do tema fake news e eleições 2018. No encontro, foram discutidas as medidas a serem tomadas para coibir o uso e a propagação das fake news nas eleições deste ano, bem como eventuais normas que serão propostas.

Ações no Amapá


O assessor da presidência do Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Amapá (TRE) em conversar com a reportagem explicou que o assunto foi pauta de um encontro que realizou-se na quinta-feira (25) entre o TRE/AP, Escola Judiciária Eleitoral, Secretaria Judiciária e Procuradoria Regional Eleitoral. Na pauta a minirreforma eleitoral e o fake News.
“Através dessa reunião, deveremos promover um encontro com a participação de especialista em Tecnologia da Informação e sobre o centro da pauta o ‘fake news’. Queremos a participação além dos especialistas, das autoridades, partidos, pretensos candidatos e advogados. Principalmente da OAB/AP. Visto que o assunto já foi e está sendo preparado uma resolução a nível de TSE, que deveremos nos basear para montarmos o sistema de recebimento de denúncia e investigação”, dissertou o assessor Seixas.
Mesmo sem ainda ter uma legislação específica, alguns casos já começam a ser resolvidos. No Espírito Santo, por exemplo, um empresário foi indiciado por espalhar, em 2014, uma pesquisa eleitoral falsa na internet.  O inquérito foi fechado em 5 de julho de 2017. Agora, cabe ao Ministério Público Eleitoral (MPE) oferecer ou não denúncia contra o empresário.

Punições já estão acontecendo

As autoridades policiais explicam que dependendo do contexto da prática criminosa, a disseminação de notícias falsas pode ser qualificada como injúria, calúnia, constrangimento ilegal ou até identidade falsa, quando uma pessoa cria um perfil falso para realizar as publicações. Conforme o Código Penal (CP), os infratores poderão ser submetidos a penas de reclusão e multas.

MPF/Eleitoral preparado

Quanto as ações do MPE/AP a assessoria de comunicação do órgão explicou que cabe a Procuradoria Geral Eleitoral e ao Ministério Público Eleitoral as ações referentes ao pleito eleitoral que se aproxima.
O Ministério Público Eleitoral no Amapá vai acompanhar com atenção a ocorrência de fake news durante o período de eleições. Denúncias sobre ilícitos eleitorais podem ser feitas utilizando os canais destinados a esse fim. Pela internet, o usuário pode acessar a Sala de Atendimento ao Cidadão no endereço cidadao.mpf.mp.br ou utilizar o aplicativo gratuito SAC MPF. Também é possível noticiar ilícitos pessoalmente na sede do Ministério Público Federal a Avenida Ernestino Borges, 535 – Centro.

Delegacia especializada


O Amapá, não possui delegacia especializada para o crime cibernético. O Delegado Alan Moutinho, da Inteligência da Policia Civil do Amapá, explicou que om referência aos crimes expostos na internet, através das redes sociais, deve ser feito os Boletim de Ocorrências em qualquer delegacia do Bairro ou através da Delegacia Virtual. E que já ocorreram diversas denúncias em Macapá e que estão com a investigação em andamento.

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