Negligência
Flagra em posto da
família Alcolumbre mostra que o problema é muito maior e sem qualquer punição
devida
O armazenamento
irregular de combustível nas embarcações é uma constante na vida amazoniana. Um
crime cometido ano após ano, com frouxa fiscalização, ausência de cuidados por
parte de quem transporta e insensibilidade de quem vende o produto.
Nos últimos meses, uma
sequência de acidentes envolvendo esse transporte irregular de combustível tem
exposto cada vez mais a problemática. As autoridades se tentam se movimentar
sobre o assunto, mas logo a fiscalização baixa a guarda.
Em 2014, ano em que
ocorreu uma sequência sinistra de acidentes desta natureza, iniciou-se um
estudo de projetos que buscaram combater o transporte clandestino de
combustível. Não há como negar que a situações seja delicada: de um lado existe
a necessidade dos ribeirinhos que precisam do combustível. Do outro estão os
acidentes acontecendo e vitimando pessoas.
Em 2013, mais de 20 mil
litros de combustíveis foram apreendidos nos portos de Macapá e do município de
Santana, distante 17 quilômetros da capital. Segundo o Batalhão Ambiental, o número
foi considerado alto e preocupante.
A representação da
Agência Nacional de Transporte Aquaviário (Antaq), disse que "são
incontáveis" o número de embarcações que transportam combustíveis em
carotes (vasilhames usados para o armazenamento de líquido), desrespeitando as
normas da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Explosões
Em 2014, três casos de
explosões em barcos foram registrados pelo Corpo de Bombeiros em portos do
Amapá. Duas embarcações estavam ancoradas em portos de Macapá e uma no distrito
do Coração, a 10 quilômetros da capital. Quatro pessoas morreram e oito ficaram
feridas nos acidentes
Em um dos casos, registrado
no porto do Igarapé das Mulheres, no bairro Perpétuo Socorro, um barco que
armazenava 14 mil litros de combustíveis em vasilhames explodiu e causou o
incêndio de mais seis embarcações. A explosão teria ocorrido quando o dono da
embarcação improvisava uma "chupeta" (uso de cabos para repassar
carga elétrica de uma bateria para outra). Três pessoas morreram no acidente.
Na época, o comando da
Capitania dos Portos disse que as fiscalizações em portos de Macapá haviam sido
intensificadas para evitar acidentes desse tipo, porém hoje, três anos depois,
esse tipo de acidente continua acontecendo.
Fiscalização pífia
Os próprios donos de
embarcações chegaram a cobrar das autoridades mais fiscalizações nos portos e
rampas, mas diante do gigantismo da nossa região, a presença dos fiscais
buscando evitar acidentes dessa natureza seria missão impossível.
O administrador Samuel
Oliveira chegou a criar um projeto que, segundo ele, prometia evitar explosões nas
embarcações. Batizada de "Esse rio é minha rua, minha e tua", a
invenção consiste em um tanque revertido de chapas de aço de caborno
incorporado à proa da embarcação. O projeto foi motivado, justamente, pelos
constantes acidentes registrados no Amapá.
Na sua invenção, o barco
receberia o que ele chamou de "boca de descarga". A pessoa encheria esse
tanque com um sistema adequado de recepção, que é diferente dos carotes. Para a
entrega deste combustível, haveria uma bomba manual de média vazão e com
contador de litros. Isso, em tese, impediria que cargas elétricas entrassem em
contato com o combustível.
O criador disse ter
levado 16 dias para planejar o projeto. Ele acrescentou que o tanque de
combustível poderia ser expandido para a parte inferior do barco para evitar
instabilidades durante a navegação. A estrutura toda já foi montada por um
técnico especialista no assunto e o projeto foi acompanhado por um engenheiro
naval.
Ele disse, ainda, que o
projeto segue as normas da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis (ANP). O projeto chegou a ser analisado pelo comando da
Capitania dos Portos do Amapá, que destacou na época algumas correções. Pelo
visto, o projeto que poderia ser a solução para os acidentes não avançou.
Problema muito maior
A venda indiscriminada
de combustíveis nos postos do Amapá é um problema muito maior do que se
imagina. Em alguns casos, a irresponsabilidade não tem limites.
Esta semana, a
reportagem do Tribuna Amapaense flagrou no posto de combustíveis localizado na
Rua Cândido Mendes, em frente ao camelódromo, centro de Macapá, um caso que
revela, claramente, a prática desse ilícito.
Um veículo tipo pick-up
média estaciona em uma das bombas para abastecer. O motorista desce e se dirige
até a caçamba do veículo, de onde retira um carote de combustível. Sem contratempo
algum, ele mesmo pega a mangueira da bomba e começa a encher o vasilhame. O
frentista que deveria estar zelando pela segurança do ato e do local, estava em
outra bomba atendendo outro veículo. Via tudo sem qualquer reação que pudesse
evitar a atitude do motorista.
O posto em questão é
bastante conhecido em Macapá e de propriedade da família Alcolumbre, detentora
de outros postos espalhados pelo Estado.
De acordo com o artigo
56 da Lei 9.605/98, armazenar combustível ilegalmente é crime ambiental. Além
do artigo, há a resolução nº 41, de 5 de novembro de 2013, da Agência Nacional
de Petróleo (ANP) que reforça a proibição.
A venda de combustíveis
em garrafas pet e sacos plásticos é proibida em postos de todo o país. Quem
desobedece esta resolução da Agência Nacional do Petróleo pode pagar multas de
até R$ 1 milhão. Além das punições previstas em lei, as consequências desse ato
irresponsável colocam em risco vidas que, a qualquer momento, poderiam sofrer
um terrível acidente.
Influente no Estado, a
família Alcolumbre passa ao largo das fiscalizações que deveriam impor o rigor
da lei em prol da segurança pública. O certo é que se o motorista flagrado toma
a atitude de abastecer ele próprio o carote com combustível, outros devem se
sentir no direito de fazer o mesmo. E que garante que não acontece?
Nesse caso, o primeiro
errado é o proprietário do posto que não zela pela segurança do
estabelecimento, diga-se, localizado em uma área que tem grande concentração de
pessoas. Em segundo, o frentista que deveria fazer valer a normalidade do
atendimento faz vista grossa. Por último, o motorista se fosse mais responsável
com sua vida e a dos próximos, teria esperado para ser atendido da forma
correta.
O flagra feito pela
nossa reportagem pode acontecer a qualquer hora, a qualquer dia no posto em
questão. Punições e a exigência da lei pelo visto não existem naquele
estabelecimento. Se houvesse, naturalmente o atendimento seria normatizado como
manda a legislação.
Hoje, a lei prevê
reclusão de um a quatro anos e multa para os infratores. Pelo visto para os
outros, menos para a família Alcolumbre.
Quem já foi aos Estados
ou então já prestou atenção em certas cenas de filmes, notou que é comum (ou
quase regra) que as pessoas abasteçam sozinhas seu próprio carro, sem auxílio
do famoso frentista. No Congresso Nacional, o deputado Aldo Rebelo conseguiu
aprovar o projeto que proibia a instalação de bombas de combustível operadas
pelo próprio consumidor. Em janeiro de 2000, o presidente Fernando Henrique
Cardoso sancionou a Lei 9.956 que enterrou de uma vez por todas o projeto
absurdo da Esso. Além de proibir o funcionamento de bombas de autosserviço nos
postos de abastecimento de combustíveis, a Lei determinou aplicação de multa
aos estabelecimentos que descumprissem a norma.
Proíbe o funcionamento de bombas de auto-serviço nos postos de
abastecimento de combustíveis e dá outras providências
|
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o Fica
proibido o funcionamento de bombas de auto-serviço operadas pelo próprio
consumidor nos postos de abastecimento de combustíveis, em todo o território
nacional.
Art. 2o O
descumprimento do disposto nesta Lei implicará aplicação de multa equivalente a
duas mil UFIR ao posto de combustível infrator e à distribuidora à qual o posto
estiver vinculado.
Parágrafo único. A reincidência no
descumprimento desta Lei implicará o pagamento do dobro do valor da multa
estabelecida no caput deste artigo, e, em caso de constatação
do terceiro descumprimento, no fechamento do posto.
Brasília, 12 de janeiro de 2000; 179o da
Independência e 112o da República.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Rodolpho Tourinho Neto
Rodolpho Tourinho Neto
Acidentes
nos transportes fluviais da Amazônia estão crescendo – Falta fiscalização
Reinaldo Coelho
Infelizmente, o
noticiário nacional, apresenta diariamente notícias de acidentes de transito
nas rodovias e na zona urbana dos grandes centros brasileiros. Porém, esse fato
se repete diariamente nos rios da Amazônia, que são considerados as rodovias
dos amazônidas, que os utilizam para o transporte de passageiros e de insumos
alimentícios e de combustíveis. As notícias só chegam ao conhecimento público
nacional, quando acontecem tragédias que ceifam dezenas de vida, mas o
cotidiano dos ribeirinhos é constantes esses acidentes. Além da pirataria que
tem acerbado o comercio da Amazônia Legal.
A Marinha brasileira,
responsável pela fiscalização e acompanhamentos dessas embarcações, não tem
dado conta do serviço, e os acidentes se multiplicam.
Em todos os Estados da
Região Nortes, tem histórias. De acordo com o comandante da Capitania dos
Portos, capitão Aderson Oliveira Caldas, o setor de inteligência do órgão
continua observando a ocorrência de crimes sem uma fiscalização efetiva.
“Verificamos a presença
de menores sem nenhum tipo de autorização dos pais, o que pode dar uma ideia de
tráfico de crianças e prostituição infantil. Também temos problemas de crimes
ambientais quanto ao transporte irregular de combustível. Verificamos que, às
vezes, as linhas regulares de transportes não cumprem com os horários. É uma
série de delitos que verificamos durante as nossas fiscalizações, e uma maior
integração dessas instituições pode reduzir ou até acabar com eles”, falou
Caldas.
Com referência aos
transporte de combustível por pequenas embarcações, para consumo doméstico, é
os que tem levado mais perigos e os que tem sofrido com explosões e causando
mortes de tripulantes e passageiros.
Os pequenos portos e
atracadouros nas costa do Amapá, muitos localizados em pequenos igarapés, caso
do Igarapé das Mulheres, onde uma explosão causou um acidente destruindo
diversas embarcações em 2016. No Igarapé das Pedrinhas, anualmente tem
problemas com esses transportes.
O último ocorreu com
acidente ocorreu na tarde da última terça-feira (9), em Santana. Uma embarcação
de nome Rio Jordão 4 explodiu na área portuária de Santana. O barco, que ficou
totalmente destruído, estava ao lado de um posto de combustível, mas ainda não
há confirmação se estava abastecendo no momento do acidente. A estrutura de
abastecimento é flutuante e foi rebocada antes de ser atingida pelo incêndio.
O Centro Integrado de
Operações de Defesa Social (Ciodes) confirmou o total de sete feridos. Cinco
foram levados pelo Corpo de Bombeiros do Amapá para o Hospital de Santana e
dois, em estado mais grave, foram encaminhados ao Hospital de Emergência de
Macapá.
De acordo com o Corpo
de Bombeiros, a embarcação estava abastecida com botijões de gás, gasolina e
diesel. Seriam mais de 12 botijões que seriam levados para região ribeirinha do
Pará. A embarcação, segundo a Capitania dos Portos, era da região paraense de
Gurupá.
Bombeiros e agentes da
Defesa Civil fizeram a contenção das chamas. Buscas estão sendo feitas no rio
Amazonas na tentativa de encontrar supostos desaparecidos. A população da
região acompanha o trabalho de combate dos militares. Policiais militares
contiveram a movimentação de entrada e saída de veículos e de pessoas na área
do acidente.
“Houve uma explosão
seguida de incêndio numa embarcação de pequeno a médio porte. Ela estava
abastecida em carotes com três tipos de combustíveis. Agora estamos fazendo o
rescaldo do fogo que ainda tem na embarcação, que afundou. Também estamos
checando informações a respeito de vítimas, junto com a Marinha e a Polícia
Militar”, informou o comandante dos bombeiros, coronel Wagner Coelho.
Ainda segundo o
militar, as causas ainda estão sendo apuradas e um inquérito será instaurado
pela Marinha do Brasil, que também tem equipes no porto. Viaturas do Corpo de
Bombeiros do grupamento da Fazendinha e de Macapá foram acionadas para ajudar
no combate no local do acidente.
“Esse tipo de
ocorrência sempre requer reforço, até pelo tipo de material e combustível, que
é altamente inflamável. Há apoio de viaturas da Fazendinha e de Macapá”, falou
o coronel.
O comandante da Capitania dos Portos do
estado, Oliveira Caldas, informou que o barco estava com a documentação
regular. Ele diz que o acidente poderia ter tido proporções muito maiores não
fosse a rápida retirada do posto flutuante do local.
“Com a ajuda de um rebocador
os militares e a defesa civil conseguiram cortar os cabos de fixação, retirando
o posto para o meio do rio. Ele está abastecido com cerca de 5 mil litros de
combustível, entre gasolina e óleo diesel. A ação evitou uma tragédia ainda
maior”, falou o capitão.
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