Teles Jr. um
economista de mão cheia
Roberto Gato
Especial pro TA
Dizem que uma tropa
não logra êxito em sua missão se não tiver um bom comandante. Pode ser verdade,
mas é verdade também que um bom comandante tem de ter o tirocínio de escolher
bem seus comandados. Waldez Góes acertou na mosca na escolha do Secretário de
Planejamento Antônio Teles Junior.
Um jovem, corajoso,
obstinado e que aprendeu a pronunciar a mais difícil palavra do vocabulário
brasileiro e mundial. Não! O Não dito na reta, como se diz na linguagem pop,
causa aborrecimento e suscita muitas vezes mágoas, mas um não dito de forma
convincente, educada, é aceito e até, elogiável. Antônio Teles Junior, filho do
grande médico e deputado estadual Antônio Teles, de 34 anos, é um jovem ávido
pelo conhecimento e economista com mestrado em finanças públicas recebeu o seu
maior desafio profissional. Conduzir a Secretária de Estado de Planejamento, o
coração do governo.
Ali se trabalha o
planejamento, o orçamento, os cortes, os deslocamentos de recursos financeiros
e tudo isso num momento de crise econômica e política do Brasil. O Brasil
mergulhado numa depressão econômica, batendo recorde de desemprego, recorde de
fechamento de estabelecimento industrial e o Congresso Nacional caindo pelas tabelas
no aspecto moral. Mas é na crise que se vê os bons e Teles provou no comando da
Seplan que ele, apesar da juventude, dava conta do recado. Conduziu a finança
do Amapá com a responsabilidade esperada pelo governador e com a clareza
necessária para dizer não até para seu chefe imediato.
Assim o Amapá
conseguiu ultrapassar esses anos bicudos de crise solvendo seus compromissos,
fazendo entregas importantes, lançando concursos públicos, solvendo seus
compromissos com seus funcionários e fornecedores. Teles foi um bom soldado,
não resta a menor dúvida que o staff do governo do Amapá é de excelente
qualidade. Mas a Tribuna Amapaense foi conversar com Teles e sentir dele sua
visão como economista das questões atuais da economia mundial. Ele sabe onde
está e o que está fazendo. Dúvidas? Leiam a entrevista.
Roberto Gato – A primeira pergunta
será de caráter particular. Seu pai foi um excelente médico e um homem
influente no cenário político amapaense. Um homem honrado. Como foi sua relação
com seu pai?
Antônio Teles Junior – Eu tive uma relação
com meu pai muito próxima e afetuosa, na forma dele de ser afetuoso. Meu pai
tinha uma característica. Cobrava muito dos filhos. Sempre me cobrou bastante
em retidão, na formação, porém me deu todas as oportunidades. As que ele não
teve, em termos de estudo. Tudo ele teve de buscar por si. Eu sou o fruto do
que meu pai fez por mim. Sou grato por isso, pois a maior graça foi ele me
incentivar a estudar e foi meu estudo que me tornou em quem sou. Meu pai nunca
nos ensinou a privilegiar a riqueza em detrimento do conhecimento. Ele sempre
disse: “O conhecimento é o foco do ser humano. A riqueza é
consequência do conhecimento que ele adquire”.
Então, se você buscar o conhecimento,
você vai ter riqueza, não necessariamente a riqueza material, mas a riqueza
pessoal, de você se sentir realizado. Essa é a riqueza que meu pai me deu.
Roberto Gato – Você falou na
transitoriedade de dois governos, no final do governo Pedro Paulo. Mas, o maior
desafio mesmo é essa gestão do governador Waldez Góes, onde você assumiu a
Secretaria de Planejamento, essa pasta muito importante que tem a função de
planejar o desenvolvimento do Estado do Amapá. Como você encarou esse desafio e
como tem visto o seu desempenho a frente dessa pasta?
Antônio Teles – Eu não gosto de me
auto avaliar. Prefiro que as pessoas me avaliem e, também, como se trata de um
momento histórico, espero que a história me avalie. A minha parte eu vou
escrever. Fiz e tenho feito o que pude e o que foi possível fazer limitado pela
legislação pública. Mas, é muito difícil você ter que lidar com planejamento em
uma situação de adversidade, onde você tem que ser uma espécie de para choque e
ter de dizer a população e aos agentes políticos o que eles não querem ouvir.
Então, essa missão coube a mim e eu nunca me esquivei dela. Sempre quis tratar
as coisas com a verdade. Roberto Campos tem uma frase que dizia: “meu
único erro na política foi ter dito a verdade antes do tempo”. Mas,
é o momento em que vivemos. Não podemos ignorar a verdade, você precisa estar
com ela na “ponta da língua” e dizer quando é possível e quando não é. Durante
muito tempo achava-se que o governo do Amapá, era passivo de promover tudo no
Estado, nós criamos uma cultura territorialista, uma cultura estatizante e tive
a missão de dizer para o povo e para toda a sociedade que não é possível. Está
na hora do Estado do Amapá, de fato, tornar-se Estado e deixar de se comportar
como território. De encarar a realidade, as limitações que envolvem a condição
de Estado e a partir daí iniciar uma nova trajetória, um novo rumo, está na
hora de chegarmos na maturidade. Nós temos 28 anos como Estado em que a visão
de território precisa ser rompida. Temos de deixar de achar que o Estado é
capaz de promover tudo. Não é. Precisamos criar as bases para o desenvolvimento
econômico a partir da iniciativa privada.
Roberto Gato – Agora, você é
economista, com especialidade em finanças. Essa crise econômica do Brasil era
previsível?
Antônio Teles - Era
previsível. Porque a política fiscal a partir de 2008 - quando eu falo política
fiscal, eu falo da política na qual os Estados e municípios estavam inseridos –
ela tinha como viés a interversão do Estado na Economia. Criou-se uma
estratégia de investimento público, a partir do endividamento público. No
mercado regulado, houve diversas intervenções, inclusive o setor elétrico
sofreu uma forte intervenção e o que você vê hoje na CEA, por exemplo, é a
consequência daquela intervenção que houve em 2012. Os setores de Petróleo, Gás
e de Combustível também.
Para termos uma ideia, a estimativa
de perda de recursos da Petrobras, com a Lava-Jato e com a corrupção é algo em
torno de R$ 10 bilhões e a estimativa de perda da Petrobras, em função da
política de congelamento de preços de combustível, que ocorreu a partir de
2011, era de mais de R$ 300 bilhões. Ou seja, o grande motivo do colapso do
Setor de Petróleo e Gás do Brasil, foi a política orientada pela União, que era
uma política heterodoxa, uma política de intervenção do Estado, como se a
vontade política pudesse condicionar a vontade da economia. Poucos ousavam
dizer isso no passado, porquê no curto prazo, essa política deu resultado. Em
tese, achava-se que o Brasil tinha ficado de fora da crise de 2008, mas na
verdade retardamos o resultado da crise para 2015. E partir daí ficamos diante
da maior recessão da história brasileira.
Roberto Gato – Essa questão da crise
de 2008, que Lula chamou de “marolinha” ela também recebeu intervenção estatal.
A caixa de bondade que foi aberta, para o Setor Privado, fez que essa crise
fosse empanada, quer dizer, que fosse “mascarada”.
Antônio Teles – Mascarou-se. O
ajuste que se faz hoje na economia, as reformas, que a boa parte delas, tem
sofrido forte oposição na própria sociedade. Elas eram os remédios amargos da
crise de 2008. O Brasil não quis encarar essa agenda, por que haveria uma
eleição em 2010, o que fizemos foi potencializar o problema, por mais quatro
anos. Essa é grande verdade. Está claro no Brasil. O Brasil tem duas histórias:
Uma até 2010, com a política do Banco Central, do ministro Meirelles, que era
uma política que vinha promovendo o crescimento. E a partir de 2011 com a
intensificação da intervenção na economia. A coisa era tão absurda, que
tínhamos um quadro de inflação, que era persistente, acima da meta. O Brasil,
não vem cumprindo a meta da inflação desde 2009. E assim mesmo, o Banco
Central, chegou a baixar os juros em quase 7.000% em 2013, ou seja, você tinha
inflação alta com os juros baixos. Ai, você teve uma acumula e o que se fazia para
controlar a inflação? Se congelava preço dos produtos básicos, e uma hora você
teria de soltar esses preços. E quando soltou-se esses preços, tivemos uma
inflação de dois dígitos. Tentou-se mascarar os dados. De fato, esse
processo político, costumo dizer, que foi um processo político, ele teve êxito.
Pois, você elegeu um presidente em 2011 e teve uma eleição em 2014 que também
teve êxito.
Agora, devemos tomar cuidado, na hora
de fazer o julgamento histórico. Não vamos dizer: Vamos atribuir essencialmente
ao governo federal. Havia um consenso, em termos de política fiscal na época e
poucos economistas, poucos políticos ousavam discordar. Até porquê a avaliação
do governo federal, até então, até 2014, era altíssimo. Então, ninguém
discordou. Quem discordou? Ninguém discordou. Esse às vezes é o problema, hoje
é muito fácil, discordar do que foi feito no passado. Mas, na época ninguém
discordava.
Roberto Gato – Essa visão muito
doméstica, nas diversas analises, temos que levar em consideração a questão internacional.
O Brasil ainda vive muito disso. Nossos commodities lá fora, caíram, os preços
caíram vertiginosamente. Teve um momento que houve uma euforia do Governo
Federal.
Antônio Teles – Eu penso que o
processo recente político no Brasil, nos habituamos a formar consenso em alguns
temas. Um exemplo básico: Ninguém questionava a política de subsidio que o
BNDES adotava. Ninguém questionava. Por que? Porque eram empresas brasileiras
que estavam sendo financiadas para serem grandes empresas internacionais. Hoje,
é muito fácil questionar. Não estou dizendo o que foi feito estava errado. Mas,
o que foi feito, foi fruto de um consenso que houve e que tem seus reflexos
hoje e servem de avaliação. Agora, é bom lembrar que a heterodoxia não é uma
virtude que surgiu no governo do PT. Vou dar um exemplo aqui do governo
militar.
Os governos militares foram também
muito intervencionistas. E, o Brasil teve uma grande dívida externa na década
de 80, quem é mais velho lembra disso, que se deu um função de dois planos de
desenvolvimento, que era o consenso de toda a população. Nós temos de fazer uma
reflexão, erramos em termos de política econômica, que não foi um erro
puramente do PT ou do PSDB, foi um erro de consenso de política econômica e o
Brasil tem agora oportunidade de rever e que bom que podemos rever,
infelizmente com certa oposição da população. Entretanto, a história há de
dizer o que de fato está correto. É bom lembrar que quando houve o Plano Real,
havia também essa oposição. Hoje, ninguém é capaz de questionar o Plano Real
porque entendem que houve de fato avanço na mudança de moeda. Às vezes eu vejo
agentes políticos e a própria sociedade civil organizada, quando se manifesta,
ela é muito havida por mudanças. Mas o primeiro passo para se fazer mudanças é
aceitar as mudanças. A sociedade quer mudanças, mas, não quer aceitar as
mudanças e toda mudança requer um preço. Não será diferente no Brasil de agora
e do Amapá.
Roberto Gato – Estamos falando muito
dessa questão histórica, da economia, cita a década perdida do governo militar,
que foi considerado pelos projetos consensuais e que acabaram sendo
abandonados, como a questão Nuclear. Transamazônica foi outro que não foi
levado a cabo. Mas importantes todos os dois, foi mais uma questão de
geopolítica verdadeiramente de que de fracasso. Lembro-me do Collor de Mello,
jogando “pá de cal”, na Usina de Angra dos Reis e a Transamazônica sendo
largada pelos governos civis, não tiveram o topete dos militares. Esse governo,
estamos em um dilema hoje, essa discussão econômica, passa pela governo do PT,
você acha que as concessões foi um grande pecado?
Antônio Teles – Não, existe um
grande erro de diagnostico no Brasil atribuindo as políticas de transferências
de renda, atribuindo víeis paternalistas ou elas sendo as causas do problema
fiscal do Brasil. Não é. As causas não estão no programa de transferência de
renda. Uma das causas do nosso problema fiscal, sobretudo da União. Era um
programa que havia no governo de financiamento de setores, para se tornarem
empresas, Bolsa Empresário, justificado na TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo).
Que a União fazia. Ela pagava a Taxa Selic, captava recursos, injetava nos
Bancos Estatais e financiava há juros subvencionados. Só a Bolsa Empresário,
Gato, é dez vezes maior que a Bolsa Família, os subsídios que ela oferecia para
o setor privado e setores concentradores de renda, nenhum país faz isso.
E o que se fez agora, mudou-se o
regramento. Agora, foi criada a TLP é uma outra taxa que não é subvencionada,
uma taxa que vem incentivar, mas é corrigida pela regra de mercado. E o trunfo
disso é que os grandes projetos empresarias do Brasil agora terão de captar
recursos, de onde? Da Bolsa de Valores e isso vai dar maior vitalidade para o
mercado de capitais do País e também reduzir os riscos associados a esses
projetos. Então, tem uma grande reforma que foi feita pelo Governo Temer. O grande
problema do Brasil é a questão previdenciária. O Brasil tem déficit da
previdência que cresce a uma taxa muito superior a receita pública.
Então, existe um grande erro em
querer atribuir as transferências de renda o problema fiscal do Brasil. O
problema fiscal do Brasil tem um excessivo número de subvenções, um excessivo
volume de incentivos fiscais, que deveriam ser substituídos por uma reforma
tributária, que permitisse a longo prazo a redução da carga tributária, assim
por diante, existe um erro de diagnostico.
Roberto Gato – Você não acha, Teles,
que houve leitura equivocada, sem olhar essas questões dos mercados
internacionais. Quando houve a euforia. Tufou muito essas políticas, colocou-se
muito dinheiro e depois não teve condições de bancar, pois a queda no
rendimento nacional acabou provocando as pedaladas da Dilma Rousseff, que tirou
dinheiro daqui para cobrir o Minha Casa, Minha Vida, os programas de
financiamento universitários, todos esses benefícios que eram pagos.
Antônio Teles – Uma coisa é a
questão gerencial desses programas, pois eu creio que houve um grande avanço no
governo Temer, que foi importante. Mas, atribuir o problema fiscal do Brasil, a
programas sociais? O Bolsa Família é recurso para quem tem necessidade, para
uma mãe desempregada, que não se consegue repor no mercado trabalho. De fato,
esse programa atinge essa população. Acho que é um retrocesso, termos uma visão
negativa desse programa. E é necessário nesse caso, a intervenção boa do
Estado, justamente nessa área. Mas é obvio, tem que ter um olhar importante
para a frequência escolar, os programas que visam à qualificação. Esse controle
é necessário que ocorram e com mais eficácia. O que já vem acontecendo.
Recentemente foram excluídos vários beneficiários que não preenchiam os
requisitos. É isso que tem que acontecer, para oportunizar para as pessoas que
realmente precisam. Agora sim, olhar o programa fiscal do Brasil e ignorar o
fato de que o governo dar subversão em excesso, paga privilégios em excesso,
tem uma distorção previdenciária que corresponde quase a metade do seu
orçamento, isso é não querer resolver o problema fiscal do Brasil. É querer
fazer demagogia. Porque dizer que vai fazer ajuste fiscal cortando cargos e
ministérios e não fazer nada.
Roberto Gato – Vamos chegar para o
nosso Estado. Demos esse passeio pelo Brasil, vamos falar do Amapá. Como você
ver o Amapá nessa atual conjuntura. O Amapá como Estado que necessita
evidentemente, como você falou que tem suas bases produtivas bem azeitadas e
produzindo para invertermos essa lógica, desse paradigma do mercado que vivemos
do FPE, FPM?
Antônio Teles – Temos dois aspectos
importantes. Primeiro é reconhecer que o Amapá é ainda dependente da União.
Nosso grau de dependência está em torno de 76%, isso quer dizer o seguinte: Em
cada R$ 1 do Tesouro Estadual, R$ 0,75 é recursos da União. Isso por uma lado é
uma fragilidade, pois depende do humor da União e das crises sistêmicas o Amapá
vai ser atingindo também de forma pesada. Penso que nós conseguimos passar por
esse processo de crise, que o Brasil viveu desde 2015, com certo êxito, pois,
mesmo sendo um Estado mais dependente, conseguimos manter umas regularidades do
ponto de vista do serviço público, coisa que não aconteceu com outros Estados.
Se você olhar a situação de cada Estado ela é divergente e cada um tem seu
problema. Mas, claro que não naquilo que desejamos. Ninguém faz nada que é
impopular, porque quer, mas porque é necessário.
Vejo dois momentos: O Amapá do futuro
– o Amapá começou a criar as bases para o processo de crescimento econômico. A
parte de interligação que houve em 2015, a nova legislação da Zona
Franca Verde e que depende dos projetos ser avaliados, aprovados e
implementados no Estado. Com a mudança do Marco Regulatório que orienta a
regularização fundiária do Estado. Temos tido mudança que são bases de
regularização para o setor privado se estabelecer no Estado. Preciso ter essas
mudanças e ao mesmo tempo reestabelecer a credibilidade nas instituições
locais. Temos ainda problemas de credibilidade das instituições que com o tempo
vai ser solucionado, mas precisa ser enfrentado.
Eu vejo o Amapá com um futuro
grandioso, sobretudo pelo movimento espontâneo da produção de alimentos no
agronegócio que vi criar bases e soluções para outros negócios do Setor
Primário do Estado e também a geração de oportunidades para o Setor de
Serviços, pois hoje quando você fala em agronegócio, não podemos somente olhar
para o produtor que está no campo. Pois o agronegócio tem na visão comercial
tem toda uma estrutura de serviço e de suporte, inclusive de pesquisa e
desenvolvimento que se desenvolve junto com atividade, por isso é uma atividade
muito dinâmica. Recentemente, tivemos o lançamento do primeiro Programa
de Inovação e Tecnologia da Informação, estamos plantando essa semente, que vai
ser coroada pelo Doutor Rafael Pontes.
Qual é a visão disso? É que o grande
setor da economia mundial hoje, ele não é o setor primário, a indústria ou
setor de serviços em si. Ele está ligado a Tecnologia da Informação. Um
exemplo: A maior empresa de veículos do mundo, ela não possui nenhum carro em
seu patrimônio. Ela gerencia a informação que é o UBER. Então a economia está
mudando o perfil. Não podemos fazer uma política focada na indústria, no setor primário,
no serviço, no comercio, desprezando a Tecnologia da Informação. Então o Estado
já planta essa semente. Acho que o Amapá tem boa expectativa de desenvolvimento
futuro, sobretudo no setor de agronegócio e de logística. O Estado é a saída da
foz do Amazonas e a Amazônia é o grande canal de escoamento da produção do
Centro Oeste, isso tudo está sendo trabalhado a nível de governo. Demora, mas
tudo tem seu tempo. O Setor Privado, o empreendedor não se dispõe a investir do
dia para noite. Precisamos avançar na Legislação Ambiental, precisamos
flexibilizar, essa é a posição do economista, não é do secretário. Mas,
precisamos flexibilizar nossa legislação ambiental, para poder dar oportunidade
aos novos segmentos entrar no Estado.
Temos um problema grave na mineração,
que o problema de mercado, porque você está com projeto mineral que está sob
condições de uma legislação federal que é a Lei de Falência.
Então é preciso dar essa oportunidade, mas, também acredito que corre os preços
internacionais das commodities, logo, logo essa atividade se restabelece no
Estado com sua viabilidade. Hoje, os preços estão muito aquém do que é
necessário para viabilizar um projeto mineral ou aos que já existem no Estado
do Amapá.
Tivemos recentemente um debate sobre
a Reserva do Cobre, que é uma reserva que hoje é explorada a partir da
garimpagem clandestina, onde não há controle ambiental nenhum. Já é uma área
antropizada, mas que infelizmente o governo federal recuou na medida de liberar
para projetos minerais naquela região. E eu penso que foi uma questão muito mal
debatida, essa foi uma oportunidade que o Estado perdeu para incrementar novos
projetos minerais, além dos que já estão.
Roberto Gato – Como você ver essa
interversão internacional na Amazônia e consequentemente acaba
influenciando...?
Antônio Teles – Eu vejo de forma
natural, porque é natural o sujeito que não more no Brasil, tenha certas
desinformações sobre a Amazônia. Vejo anormal, agentes políticos locais,
estarem de costa para os interesses locais, isso para mim que é distorção. Essa
agenda preservacionista ela tem sua razão de ser, por outro lado, não podemos
preservar o meio ambiente, sem ter recompensa por isso. A preservação por si
só, não é garantia de renda. Se assim fosse o Amapá seria o Estado mais rico do
Brasil, pois é o mais preservado. Esse papo, de dizer leva tempo, isso é
engodo, porque estamos pagando o custo da preservação sem receber nada em
troca. Estamos precisando deixar isso muito claro em termos de política
econômica para o Estado.
Roberto Gato – Eu tive uma noticia
aqui na secretaria de um técnico, que a nossa floresta já foi mensurada sobre a
cidade e que ela vai começar...
Antônio Teles – Nós estamos
trabalhando em cima de um projeto que é do Credito Fiscal, com base em preservação,
esse é um trabalho feito via Confaz, e a ideia é você criar um banco de compra
e vendas de créditos florestais em nível de Estados Brasileiros. Para quê? Para
que aqueles Estados que não consigam manter reservas legais, vão compensar
ambientalmente a partir da compra de créditos florestais em outros Estados.
Estamos fazendo via Confaz e alguns Estados já começaram a ler as propostas e o
Amapá já está trabalhando a sua proposta
para também se inserir nesse mercado. Estamos abrindo um novo mercado e neste
mercado o Amapá seria o ofertante de credito florestal, ele receberia recursos
financeiros para poder manter essa floresta em pé. Então a lógica seria
diferente daquela que estamos vendo até então, a ideia é você criar a demanda
desses créditos florestais do Amapá.
Roberto Gato - Para
finalizarmos, como você ver o ano de 2018 para o Amapá?
Antônio Teles – Vejo com
otimismo. Pois já há horizontes de recuperação da economia nacional. Existem
vantagens e desvantagens de seremos dependente da União. Desvantagem é
que quando a União entra em crise é ajuste fiscal e você vai junto. A vantagem
quando entra em uma euforia de crescimento econômico, você também vai junto.
Ultrapassamos um círculo de recessão, conseguimos manter a solvência,
conseguimos manter a estabilidade funcional, conseguimos manter a situação de
normalidade administrativa e vamos entrar agora no novo ciclo que é já de
colhermos os frutos do crescimento brasileiro que o País está vivendo. Um
cenário de recuperação. Não sabemos precisar ainda, se vamos recuperar aqueles
valores de 2014/2015, ou se vamos nos manter abaixo ou igualar. Mas é uma informação
que teremos daqui a 15 dias, nós vamos ter, a partir de uma projeção de dados
do ano de 2018. Mas, o fato é que cenário de recuperação da economia está
estabelecido no Brasil. O que temos de definir agora é a intensidade.
Vou te dar um dado aqui, que não sou
eu que estou falando. É um trabalho que foi recentemente publicado de Simulação
de Crescimento e diz o seguinte:
- Se aprovarmos a reforma da
previdência em fevereiro, crescemos 6% em 2018. Se não aprovarmos cresceremos
em torno de 3,5% a 2,5% - Em qualquer um dos cenários vamos ter um crescimento
da economia e nesse cenário vamos ser beneficiado.
Roberto Gato – Embora impopular o
Governo Temer tem feito o dever de casa direitinho?
Antônio Teles
– Não é fácil fazer reforma, quando você faz uma reforma, você vai
contrariar interesses. O julgamento de um político reformista não é o presente
é o futuro. Infelizmente é essa grande verdade. Você ter que plantar a semente
é mais complexo do que você entregar uma arvore em pé. O Lula colheu, ele também
fez seu dever de casa, acho que o governo Lula, dividido em dois governos: um
teve uma conduta mais liberal e o outro mais intervencionista. Mas, teve sua
contribuição importante no desenvolvimento do Brasil. Tem que acabar com esse
discurso, um tanto quanto xiita (ou eles ou nós), existe um meio termo a ser
seguido e a ser compreendido. E acho que o meio termo que vai conduzir o
processo eleitoral de 2018.
Eu acho com a
retomada do crescimento, dependendo da intensidade dela, a sociedade tende a
caminhar para o centro, caminhar com uma visão de sair dos extremos e manter o
que já se conquistou.
Roberto Gato –
Deixa eu colocar uns pinos no teu sapato para ver como tu andas com ele. Nós
temos os indicadores da educação do Amapá, são negativas, O IDEB do Amapá é o
pior do Brasil. O senador David Alcolumbre, veio com o ministro da Educação no
Amapá, com o presidente do FNDE e não fez uma agenda oficial do Estado. Você
acha que esse comportamento é prejudicial para o Estado do Amapá?
Antônio Teles
– Não gostaria de atribuir ao político esse comportamento. Acho que houve
uma falha na assessoria em não fazer a comunicação aos órgãos, poderia ter sido
mais proveitosa, faltou orientação. Nós temos problemas que são básicos no
sistema de educação, que vai do financiamento da educação no Estado até mesmo a
discussão de um modelo de educação. Eu penso que foi uma oportunidade que foi
perdida. Mas, não creio que tenha partido da vontade do senador ou do ministro,
creio que teve ai um lapso da própria assessoria do senador. Veja bem, é
importante o Hospital Universitário, porque é um projeto estratégico para o
Estado do Amapá, sou professor da Universidade e sou interessado que esse
hospital saia. Mas importante e até mais, é toda nossa Rede de Ensino Médio e
Fundamental, que envolve 16 municípios e o Estado. E hoje temos um problema de
transição desse modelo, porque boa parte das atribuições do município em
educação é o Estado que absolve. Precisávamos se possível, que o senador faça
outra agenda, para que possamos discutir essa relação entre município e Estado,
para que possamos otimizar, pois, estaremos atendendo uma população
extremamente importante que é a próxima geração desse Estado. Eu acho que houve
um erro das assessorias políticas em pesagem. Em dividendo político, para o
senador David teria sido muito maior, se além do Hospital Universitário,
tivesse tratado dessa agenda que envolve o Estado e os municípios.
Roberto Gato – A
Área de Livre Comércio, implantada em 1990/91, ela tem sido fundamental para a
economia do Amapá, como você avalia isso?
Antônio Teles
- A Área de Livre Comércio é a maior política social que já
foi implementada no Amapá. Ela é hoje é o setor da economia que se desenvolveu,
e tem o papel fundamental de reduzir o custo de transporte para o mercado
amapaense. Entretanto, ela por si só, não foi suficiente para promover o
processo de desenvolvimento econômico do Estado. Porque temos outras
oportunidades como o setor industrial. É bom lembrar que o Amapá é um Estado
que se desindustrializou, até a década de 80, tínhamos uma considerável
participação do Setor Industrial no Estado, com a participação da ICOMI e suas
subsidiárias (BRUMASA) eram industrias muito fortes, existe poucas pessoas que
reconhecem isso. Existe até um equívoco de análise, o que aconteceu na década
de 90 uma restrição energética o que não permitiu que indústria pudesse se
dinamizar no Estado, mas agora superamos isso, além disso....
Roberto Gato – O
fracasso da Área de Livre Comércio ou o fracasso relativo, nãos sendo preponderante
para o desenvolvimento da economia, ele se deu por essa guerra fratricida entre
os Estados, com a declaração da Secretaria da Fazenda Nacional em considerar,
três produtos da mesma marca, contrabando?
Antônio Teles – De fato,
tivemos uma política para a ALCMS, repito é a principal política social do
Estado, pois é a que mais gera emprego, o fracasso dela é relativo. Ela poderia
ter um impacto maior, mais passamos a ter um problema que envolve a relação
federativa, em nível de Confaz e que ai surgiu os interesses dos Estados, o que
de fato restringiu bastante o desenvolvimento. Mas o que eu falo é que houve
uma política industrial que cessou na década de 80 e tivemos a restrição
energética por mais de 25 anos, que não nos permitiu ter uma dinamização maior
do setor primário e do industrial, o que agora conseguimos superar. Não
conseguimos parar no passado. Então, a área de Livre Comércio é uma conquista
do povo amapaense, temos de preservá-la. Agora, tivemos uma outra conquista que
é a Zona Franca Verde. Um dia desse, me questionavam; Teles, você põem muita fé
na Zona Franca Verde, porque? Porque ela vem agregar valor aquilo que a
floresta produz, que a preservação produz. Mas, está demorando muito. A Zona
Franca de Manaus, Gato, o primeiro projeto industrial, levou quatro anos após a
lei regulamentada, quatro anos. Então, o horizonte da ZFV não é um horizonte
para um mandato, dois mandato é para vinte, trinta anos, isso demora. Existe
uma necessidade imediata, porém, não é assim que funciona o mercado, você não
faz investimento industrial em um horizonte de um ano dois anos. Não é um
investimento curto-prazista, depende de avaliação de produto, de
desenvolvimento, muito importante. Por outro lado, temos dois anos de lei
regulamentada e temos mais de três projetos em andamento para implementação e
vários outros em análise em Manaus. Então, podemos dizer o seguinte: Pelo menos
estamos iniciando a mais tempo do que iniciou a Zona Franca de Manaus.
Roberto Gato – Você
acha que a sociedade amapaense e a brasileira é uma sociedade muito imatura?
Antônio Teles –
Não, eu penso que o mesmo dilema que você observa no Brasil entre mais Estado
ou menos Estado na economia ou nas relações sociais e política é o dilema no
mundo todo, o que muda são os valores da própria sociedade. Um exemplo: Se você
falar nos Estados Unidos em estado subvencionado empresa vai ter uma gritaria
contra, porque o peso do Estado na economia é muito visível. Hoje a principal
política questionada no Congresso americano é o Plano de Saúde para pessoa
pobre, os valores americanos não consideram isso. Nós vivemos em um Estado
paternalista, devido a colonização portuguesa, que se intensificou coma Coroa
Brasileira, temos a Velha República onde os interesses da República eram para
atender interesses empresariais (Oligárquico) Tivemos o Estado Novo que foi um
processo político para beneficiar... Então o Brasil vem se mandando, isso leva
tempo você criar uma mentalidade de sociedade liberal, talvez nem possamos
criar no futuro. O Brasil; hoje temos o enfrentamento do ente governamental,
União, Estado e Município, que geram alguns privilégios, em descompasso com o
mercado. Isso traz enfrentamento político e Constitucional, e que no futuro
seja ultrapassado, são etapas desse processo.
Aprendi uma coisa
com o Doutor Teles, ele era um homem muito bom de coração, você via nas ações
de algumas pessoas para com ele, uma certa maliciosidade, ai você imaginava,
‘ele está sendo feito de besta’, não! Ele estava tendo compaixão, ele não
questiona aquela postura porque era a forma que a pessoa foi criada, ela foi
criada nesse sentido de tirar vantagens de tudo. A formação histórica do Brasil
foi uma formação estatizante, que leva tempo para você superar, no Brasil como
todo. Antigamente, eu era estudante de economia no Rio de Janeiro, o pessoal
dizia; Ah! O comportamento ruim do Brasil era no Norte/Nordeste, e a Lava-Jato
veio mostrar que o comportamento ruim do Brasil é no Sul/Sudeste, onde estão os
grandes cartéis econômicos e políticos e de financiamento de Caixa 2. Os
sociólogos diziam naquela época que o problema do Brasil, não era restrito ao
Norte/Nordeste, mais sim, a todo o Brasil, então, vamos criando essa maturidade
social, institucional e intelectual também.
: O teu
pai foi um grande médico e um grande parlamentar também e você tem esse
sonho...Com essa cabeça privilegiada...
Antônio Teles –
Não, não tenho, não tenho afinidade, na verdade meu mundo é o da academia, meu
mundo é o do estudo, da técnica e acho que a contribuição maior para o povo do
Amapá é continuar meus estudos na academia e continuar fazendo esse debate de
alto nível com os segmentos sociais. Meu pai foi parlamentar, mais a grande
contribuição dele, não foi na política, foi na medicina, foi o trabalho que ele
fez em cima da Malária, na Nefrologia e no Diagnóstico de doenças tropicais
complexas, inclusive com referência em nível de Brasil, abrindo as portas para
os novos médicos para pesquisa e medicina. Acho que você pode participar da
política sem ter mandato, às vezes é tão gratificante traz tanto resultados
para a sociedade sem que você tenha mandato. Você lança luz sobre temas,
onde não há consenso na política. Procuro me colocar acima dessas disputas e
criar uma agenda de Estado, não de governante e nem de governo. Na minha
atuação profissional, pude fazer isso estarei dando uma contribuição para o
povo do Amapá.
Antônio Pinheiro Teles Júnior é
graduado em economia e mestre em finanças pela Universidade Candido Mendes (RJ)
e atualmente é servidor da Universidade Federal do Amapá como professor e
pesquisador. E atualmente está como Secretário de Planejamento desde 2015,
início da gestão de Waldez Góes.
Esteve na condição de secretário de
Estado no final do governo de Pedro Paulo, participou da transição de governo
de 2010 e da transição de governo de 2014. Foi funcionário da Agência de
Desenvolvimento do Amapá (2009), no Governo do Amapá como assessor técnico
(2010), membro efetivo do Conselho Regional de Economia, (2011-2014), e sócio
da empresa Numeric Consultoria, é professor universitário na UNIFAP, no CEAP,
UCAM. “Tive a oportunidade e prazer profissional de poder estar na condição de
Secretário de Planejamento no momento mais tumultuado da história do Brasil e
não tenho dúvida que talvez um dos momentos mais complexos da própria história
do Amapá”.
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