segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Teles Jr. um economista de mão cheia

Teles Jr. um economista de mão cheia





Roberto Gato
Especial pro TA

Dizem que uma tropa não logra êxito em sua missão se não tiver um bom comandante. Pode ser verdade, mas é verdade também que um bom comandante tem de ter o tirocínio de escolher bem seus comandados. Waldez Góes acertou na mosca na escolha do Secretário de Planejamento Antônio Teles Junior.
Um jovem, corajoso, obstinado e que aprendeu a pronunciar a mais difícil palavra do vocabulário brasileiro e mundial. Não! O Não dito na reta, como se diz na linguagem pop, causa aborrecimento e suscita muitas vezes mágoas, mas um não dito de forma convincente, educada, é aceito e até, elogiável. Antônio Teles Junior, filho do grande médico e deputado estadual Antônio Teles, de 34 anos, é um jovem ávido pelo conhecimento e economista com mestrado em finanças públicas recebeu o seu maior desafio profissional. Conduzir a Secretária de Estado de Planejamento, o coração do governo.
Ali se trabalha o planejamento, o orçamento, os cortes, os deslocamentos de recursos financeiros e tudo isso num momento de crise econômica e política do Brasil. O Brasil mergulhado numa depressão econômica, batendo recorde de desemprego, recorde de fechamento de estabelecimento industrial e o Congresso Nacional caindo pelas tabelas no aspecto moral. Mas é na crise que se vê os bons e Teles provou no comando da Seplan que ele, apesar da juventude, dava conta do recado. Conduziu a finança do Amapá com a responsabilidade esperada pelo governador e com a clareza necessária para dizer não até para seu chefe imediato.
Assim o Amapá conseguiu ultrapassar esses anos bicudos de crise solvendo seus compromissos, fazendo entregas importantes, lançando concursos públicos, solvendo seus compromissos com seus funcionários e fornecedores. Teles foi um bom soldado, não resta a menor dúvida que o staff do governo do Amapá é de excelente qualidade. Mas a Tribuna Amapaense foi conversar com Teles e sentir dele sua visão como economista das questões atuais da economia mundial. Ele sabe onde está e o que está fazendo. Dúvidas? Leiam a entrevista. 
Roberto Gato – A primeira pergunta será de caráter particular. Seu pai foi um excelente médico e um homem influente no cenário político amapaense. Um homem honrado. Como foi sua relação com seu pai?

Antônio Teles Junior – Eu tive uma relação com meu pai muito próxima e afetuosa, na forma dele de ser afetuoso. Meu pai tinha uma característica. Cobrava muito dos filhos. Sempre me cobrou bastante em retidão, na formação, porém me deu todas as oportunidades. As que ele não teve, em termos de estudo. Tudo ele teve de buscar por si. Eu sou o fruto do que meu pai fez por mim. Sou grato por isso, pois a maior graça foi ele me incentivar a estudar e foi meu estudo que me tornou em quem sou. Meu pai nunca nos ensinou a privilegiar a riqueza em detrimento do conhecimento. Ele sempre disse: O conhecimento é o foco do ser humano. A riqueza é consequência do conhecimento que ele adquire”.
Então, se você buscar o conhecimento, você vai ter riqueza, não necessariamente a riqueza material, mas a riqueza pessoal, de você se sentir realizado. Essa é a riqueza que meu pai me deu.
Roberto Gato – Você falou na transitoriedade de dois governos, no final do governo Pedro Paulo. Mas, o maior desafio mesmo é essa gestão do governador Waldez Góes, onde você assumiu a Secretaria de Planejamento, essa pasta muito importante que tem a função de planejar o desenvolvimento do Estado do Amapá. Como você encarou esse desafio e como tem visto o seu desempenho a frente dessa pasta?

Antônio Teles – Eu não gosto de me auto avaliar. Prefiro que as pessoas me avaliem e, também, como se trata de um momento histórico, espero que a história me avalie. A minha parte eu vou escrever. Fiz e tenho feito o que pude e o que foi possível fazer limitado pela legislação pública. Mas, é muito difícil você ter que lidar com planejamento em uma situação de adversidade, onde você tem que ser uma espécie de para choque e ter de dizer a população e aos agentes políticos o que eles não querem ouvir. Então, essa missão coube a mim e eu nunca me esquivei dela. Sempre quis tratar as coisas com a verdade. Roberto Campos tem uma frase que dizia: “meu único erro na política foi ter dito a verdade antes do tempo”. Mas, é o momento em que vivemos. Não podemos ignorar a verdade, você precisa estar com ela na “ponta da língua” e dizer quando é possível e quando não é. Durante muito tempo achava-se que o governo do Amapá, era passivo de promover tudo no Estado, nós criamos uma cultura territorialista, uma cultura estatizante e tive a missão de dizer para o povo e para toda a sociedade que não é possível. Está na hora do Estado do Amapá, de fato, tornar-se Estado e deixar de se comportar como território. De encarar a realidade, as limitações que envolvem a condição de Estado e a partir daí iniciar uma nova trajetória, um novo rumo, está na hora de chegarmos na maturidade. Nós temos 28 anos como Estado em que a visão de território precisa ser rompida. Temos de deixar de achar que o Estado é capaz de promover tudo. Não é. Precisamos criar as bases para o desenvolvimento econômico a partir da iniciativa privada.

Roberto Gato – Agora, você é economista, com especialidade em finanças. Essa crise econômica do Brasil era previsível?
Antônio Teles -  Era previsível. Porque a política fiscal a partir de 2008 - quando eu falo política fiscal, eu falo da política na qual os Estados e municípios estavam inseridos – ela tinha como viés a interversão do Estado na Economia. Criou-se uma estratégia de investimento público, a partir do endividamento público. No mercado regulado, houve diversas intervenções, inclusive o setor elétrico sofreu uma forte intervenção e o que você vê hoje na CEA, por exemplo, é a consequência daquela intervenção que houve em 2012. Os setores de Petróleo, Gás e de Combustível também.
Para termos uma ideia, a estimativa de perda de recursos da Petrobras, com a Lava-Jato e com a corrupção é algo em torno de R$ 10 bilhões e a estimativa de perda da Petrobras, em função da política de congelamento de preços de combustível, que ocorreu a partir de 2011, era de mais de R$ 300 bilhões. Ou seja, o grande motivo do colapso do Setor de Petróleo e Gás do Brasil, foi a política orientada pela União, que era uma política heterodoxa, uma política de intervenção do Estado, como se a vontade política pudesse condicionar a vontade da economia. Poucos ousavam dizer isso no passado, porquê no curto prazo, essa política deu resultado. Em tese, achava-se que o Brasil tinha ficado de fora da crise de 2008, mas na verdade retardamos o resultado da crise para 2015. E partir daí ficamos diante da maior recessão da história brasileira.

Roberto Gato – Essa questão da crise de 2008, que Lula chamou de “marolinha” ela também recebeu intervenção estatal. A caixa de bondade que foi aberta, para o Setor Privado, fez que essa crise fosse empanada, quer dizer, que fosse “mascarada”.
Antônio Teles – Mascarou-se. O ajuste que se faz hoje na economia, as reformas, que a boa parte delas, tem sofrido forte oposição na própria sociedade. Elas eram os remédios amargos da crise de 2008. O Brasil não quis encarar essa agenda, por que haveria uma eleição em 2010, o que fizemos foi potencializar o problema, por mais quatro anos. Essa é grande verdade. Está claro no Brasil. O Brasil tem duas histórias: Uma até 2010, com a política do Banco Central, do ministro Meirelles, que era uma política que vinha promovendo o crescimento. E a partir de 2011 com a intensificação da intervenção na economia. A coisa era tão absurda, que tínhamos um quadro de inflação, que era persistente, acima da meta. O Brasil, não vem cumprindo a meta da inflação desde 2009. E assim mesmo, o Banco Central, chegou a baixar os juros em quase 7.000% em 2013, ou seja, você tinha inflação alta com os juros baixos. Ai, você teve uma acumula e o que se fazia para controlar a inflação? Se congelava preço dos produtos básicos, e uma hora você teria de soltar esses preços. E quando soltou-se esses preços, tivemos uma inflação de dois dígitos.  Tentou-se mascarar os dados. De fato, esse processo político, costumo dizer, que foi um processo político, ele teve êxito. Pois, você elegeu um presidente em 2011 e teve uma eleição em 2014 que também teve êxito.
Agora, devemos tomar cuidado, na hora de fazer o julgamento histórico. Não vamos dizer: Vamos atribuir essencialmente ao governo federal. Havia um consenso, em termos de política fiscal na época e poucos economistas, poucos políticos ousavam discordar. Até porquê a avaliação do governo federal, até então, até 2014, era altíssimo. Então, ninguém discordou. Quem discordou? Ninguém discordou. Esse às vezes é o problema, hoje é muito fácil, discordar do que foi feito no passado. Mas, na época ninguém discordava.
Roberto Gato – Essa visão muito doméstica, nas diversas analises, temos que levar em consideração a questão internacional. O Brasil ainda vive muito disso. Nossos commodities lá fora, caíram, os preços caíram vertiginosamente. Teve um momento que houve uma euforia do Governo Federal.
Antônio Teles – Eu penso que o processo recente político no Brasil, nos habituamos a formar consenso em alguns temas. Um exemplo básico: Ninguém questionava a política de subsidio que o BNDES adotava. Ninguém questionava. Por que? Porque eram empresas brasileiras que estavam sendo financiadas para serem grandes empresas internacionais. Hoje, é muito fácil questionar. Não estou dizendo o que foi feito estava errado. Mas, o que foi feito, foi fruto de um consenso que houve e que tem seus reflexos hoje e servem de avaliação. Agora, é bom lembrar que a heterodoxia não é uma virtude que surgiu no governo do PT. Vou dar um exemplo aqui do governo militar.
Os governos militares foram também muito intervencionistas. E, o Brasil teve uma grande dívida externa na década de 80, quem é mais velho lembra disso, que se deu um função de dois planos de desenvolvimento, que era o consenso de toda a população. Nós temos de fazer uma reflexão, erramos em termos de política econômica, que não foi um erro puramente do PT ou do PSDB, foi um erro de consenso de política econômica e o Brasil tem agora oportunidade de rever e que bom que podemos rever, infelizmente com certa oposição da população. Entretanto, a história há de dizer o que de fato está correto. É bom lembrar que quando houve o Plano Real, havia também essa oposição. Hoje, ninguém é capaz de questionar o Plano Real porque entendem que houve de fato avanço na mudança de moeda. Às vezes eu vejo agentes políticos e a própria sociedade civil organizada, quando se manifesta, ela é muito havida por mudanças. Mas o primeiro passo para se fazer mudanças é aceitar as mudanças. A sociedade quer mudanças, mas, não quer aceitar as mudanças e toda mudança requer um preço. Não será diferente no Brasil de agora e do Amapá.
Roberto Gato – Estamos falando muito dessa questão histórica, da economia, cita a década perdida do governo militar, que foi considerado pelos projetos consensuais e que acabaram sendo abandonados, como a questão Nuclear. Transamazônica foi outro que não foi levado a cabo. Mas importantes todos os dois, foi mais uma questão de geopolítica verdadeiramente de que de fracasso. Lembro-me do Collor de Mello, jogando “pá de cal”, na Usina de Angra dos Reis e a Transamazônica sendo largada pelos governos civis, não tiveram o topete dos militares. Esse governo, estamos em um dilema hoje, essa discussão econômica, passa pela governo do PT, você acha que as concessões foi um grande pecado?
Antônio Teles – Não, existe um grande erro de diagnostico no Brasil atribuindo as políticas de transferências de renda, atribuindo víeis paternalistas ou elas sendo as causas do problema fiscal do Brasil. Não é. As causas não estão no programa de transferência de renda. Uma das causas do nosso problema fiscal, sobretudo da União. Era um programa que havia no governo de financiamento de setores, para se tornarem empresas, Bolsa Empresário, justificado na TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo). Que a União fazia. Ela pagava a Taxa Selic, captava recursos, injetava nos Bancos Estatais e financiava há juros subvencionados. Só a Bolsa Empresário, Gato, é dez vezes maior que a Bolsa Família, os subsídios que ela oferecia para o setor privado e setores concentradores de renda, nenhum país faz isso.
E o que se fez agora, mudou-se o regramento. Agora, foi criada a TLP é uma outra taxa que não é subvencionada, uma taxa que vem incentivar, mas é corrigida pela regra de mercado. E o trunfo disso é que os grandes projetos empresarias do Brasil agora terão de captar recursos, de onde? Da Bolsa de Valores e isso vai dar maior vitalidade para o mercado de capitais do País e também reduzir os riscos associados a esses projetos. Então, tem uma grande reforma que foi feita pelo Governo Temer. O grande problema do Brasil é a questão previdenciária. O Brasil tem déficit da previdência que cresce a uma taxa muito superior a receita pública.
Então, existe um grande erro em querer atribuir as transferências de renda o problema fiscal do Brasil. O problema fiscal do Brasil tem um excessivo número de subvenções, um excessivo volume de incentivos fiscais, que deveriam ser substituídos por uma reforma tributária, que permitisse a longo prazo a redução da carga tributária, assim por diante, existe um erro de diagnostico.

Roberto Gato – Você não acha, Teles, que houve leitura equivocada, sem olhar essas questões dos mercados internacionais. Quando houve a euforia. Tufou muito essas políticas, colocou-se muito dinheiro e depois não teve condições de bancar, pois a queda no rendimento nacional acabou provocando as pedaladas da Dilma Rousseff, que tirou dinheiro daqui para cobrir o Minha Casa, Minha Vida, os programas de financiamento universitários, todos esses benefícios que eram pagos.
                       
Antônio Teles – Uma coisa é a questão gerencial desses programas, pois eu creio que houve um grande avanço no governo Temer, que foi importante. Mas, atribuir o problema fiscal do Brasil, a programas sociais? O Bolsa Família é recurso para quem tem necessidade, para uma mãe desempregada, que não se consegue repor no mercado trabalho. De fato, esse programa atinge essa população. Acho que é um retrocesso, termos uma visão negativa desse programa. E é necessário nesse caso, a intervenção boa do Estado, justamente nessa área. Mas é obvio, tem que ter um olhar importante para a frequência escolar, os programas que visam à qualificação. Esse controle é necessário que ocorram e com mais eficácia. O que já vem acontecendo. Recentemente foram excluídos vários beneficiários que não preenchiam os requisitos. É isso que tem que acontecer, para oportunizar para as pessoas que realmente precisam. Agora sim, olhar o programa fiscal do Brasil e ignorar o fato de que o governo dar subversão em excesso, paga privilégios em excesso, tem uma distorção previdenciária que corresponde quase a metade do seu orçamento, isso é não querer resolver o problema fiscal do Brasil. É querer fazer demagogia. Porque dizer que vai fazer ajuste fiscal cortando cargos e ministérios e não fazer nada.

Roberto Gato – Vamos chegar para o nosso Estado. Demos esse passeio pelo Brasil, vamos falar do Amapá. Como você ver o Amapá nessa atual conjuntura. O Amapá como Estado que necessita evidentemente, como você falou que tem suas bases produtivas bem azeitadas e produzindo para invertermos essa lógica, desse paradigma do mercado que vivemos do FPE, FPM?
Antônio Teles – Temos dois aspectos importantes. Primeiro é reconhecer que o Amapá é ainda dependente da União. Nosso grau de dependência está em torno de 76%, isso quer dizer o seguinte: Em cada R$ 1 do Tesouro Estadual, R$ 0,75 é recursos da União. Isso por uma lado é uma fragilidade, pois depende do humor da União e das crises sistêmicas o Amapá vai ser atingindo também de forma pesada. Penso que nós conseguimos passar por esse processo de crise, que o Brasil viveu desde 2015, com certo êxito, pois, mesmo sendo um Estado mais dependente, conseguimos manter umas regularidades do ponto de vista do serviço público, coisa que não aconteceu com outros Estados. Se você olhar a situação de cada Estado ela é divergente e cada um tem seu problema. Mas, claro que não naquilo que desejamos. Ninguém faz nada que é impopular, porque quer, mas porque é necessário.
Vejo dois momentos: O Amapá do futuro – o Amapá começou a criar as bases para o processo de crescimento econômico. A parte de interligação que houve em 2015, a nova legislação da Zona Franca Verde e que depende dos projetos ser avaliados, aprovados e implementados no Estado. Com a mudança do Marco Regulatório que orienta a regularização fundiária do Estado. Temos tido mudança que são bases de regularização para o setor privado se estabelecer no Estado. Preciso ter essas mudanças e ao mesmo tempo reestabelecer a credibilidade nas instituições locais. Temos ainda problemas de credibilidade das instituições que com o tempo vai ser solucionado, mas precisa ser enfrentado. 
Eu vejo o Amapá com um futuro grandioso, sobretudo pelo movimento espontâneo da produção de alimentos no agronegócio que vi criar bases e soluções para outros negócios do Setor Primário do Estado e também a geração de oportunidades para o Setor de Serviços, pois hoje quando você fala em agronegócio, não podemos somente olhar para o produtor que está no campo. Pois o agronegócio tem na visão comercial tem toda uma estrutura de serviço e de suporte, inclusive de pesquisa e desenvolvimento que se desenvolve junto com atividade, por isso é uma atividade muito dinâmica. Recentemente, tivemos o lançamento do primeiro Programa  de Inovação e Tecnologia da Informação, estamos plantando essa semente, que vai ser coroada pelo Doutor Rafael Pontes.
Qual é a visão disso? É que o grande setor da economia mundial hoje, ele não é o setor primário, a indústria ou setor de serviços em si. Ele está ligado a Tecnologia da Informação. Um exemplo: A maior empresa de veículos do mundo, ela não possui nenhum carro em seu patrimônio. Ela gerencia a informação que é o UBER. Então a economia está mudando o perfil. Não podemos fazer uma política focada na indústria, no setor primário, no serviço, no comercio, desprezando a Tecnologia da Informação. Então o Estado já planta essa semente. Acho que o Amapá tem boa expectativa de desenvolvimento futuro, sobretudo no setor de agronegócio e de logística. O Estado é a saída da foz do Amazonas e a Amazônia é o grande canal de escoamento da produção do Centro Oeste, isso tudo está sendo trabalhado a nível de governo. Demora, mas tudo tem seu tempo. O Setor Privado, o empreendedor não se dispõe a investir do dia para noite. Precisamos avançar na Legislação Ambiental, precisamos flexibilizar, essa é a posição do economista, não é do secretário. Mas, precisamos flexibilizar nossa legislação ambiental, para poder dar oportunidade aos novos segmentos entrar no Estado.
Temos um problema grave na mineração, que o problema de mercado, porque você está com projeto mineral que está sob condições de uma legislação federal que é a Lei de Falência.    Então é preciso dar essa oportunidade, mas, também acredito que corre os preços internacionais das commodities, logo, logo essa atividade se restabelece no Estado com sua viabilidade. Hoje, os preços estão muito aquém do que é necessário para viabilizar um projeto mineral ou aos que já existem no Estado do Amapá.

Tivemos recentemente um debate sobre a Reserva do Cobre, que é uma reserva que hoje é explorada a partir da garimpagem clandestina, onde não há controle ambiental nenhum. Já é uma área antropizada, mas que infelizmente o governo federal recuou na medida de liberar para projetos minerais naquela região. E eu penso que foi uma questão muito mal debatida, essa foi uma oportunidade que o Estado perdeu para incrementar novos projetos minerais, além dos que já estão.

Roberto Gato – Como você ver essa interversão internacional na Amazônia e consequentemente acaba influenciando...?

Antônio Teles – Eu vejo de forma natural, porque é natural o sujeito que não more no Brasil, tenha certas desinformações sobre a Amazônia. Vejo anormal, agentes políticos locais, estarem de costa para os interesses locais, isso para mim que é distorção. Essa agenda preservacionista ela tem sua razão de ser, por outro lado, não podemos preservar o meio ambiente, sem ter recompensa por isso. A preservação por si só, não é garantia de renda. Se assim fosse o Amapá seria o Estado mais rico do Brasil, pois é o mais preservado. Esse papo, de dizer leva tempo, isso é engodo, porque estamos pagando o custo da preservação sem receber nada em troca. Estamos precisando deixar isso muito claro em termos de política econômica para o Estado.
Roberto Gato – Eu tive uma noticia aqui na secretaria de um técnico, que a nossa floresta já foi mensurada sobre a cidade e que ela vai começar...

Antônio Teles – Nós estamos trabalhando em cima de um projeto que é do Credito Fiscal, com base em preservação, esse é um trabalho feito via Confaz, e a ideia é você criar um banco de compra e vendas de créditos florestais em nível de Estados Brasileiros. Para quê? Para que aqueles Estados que não consigam manter reservas legais, vão compensar ambientalmente a partir da compra de créditos florestais em outros Estados. Estamos fazendo via Confaz e alguns Estados já começaram a ler as propostas e o Amapá já está        trabalhando a sua proposta para também se inserir nesse mercado. Estamos abrindo um novo mercado e neste mercado o Amapá seria o ofertante de credito florestal, ele receberia recursos financeiros para poder manter essa floresta em pé. Então a lógica seria diferente daquela que estamos vendo até então, a ideia é você criar a demanda desses créditos florestais do Amapá.

Roberto Gato -   Para finalizarmos, como você ver o ano de 2018 para o Amapá?

Antônio Teles – Vejo com otimismo. Pois já há horizontes de recuperação da economia nacional. Existem vantagens e desvantagens de seremos dependente da União.  Desvantagem é que quando a União entra em crise é ajuste fiscal e você vai junto. A vantagem quando entra em uma euforia de crescimento econômico, você também vai junto. Ultrapassamos um círculo de recessão, conseguimos manter a solvência, conseguimos manter a estabilidade funcional, conseguimos manter a situação de normalidade administrativa e vamos entrar agora no novo ciclo que é já de colhermos os frutos do crescimento brasileiro que o País está vivendo. Um cenário de recuperação. Não sabemos precisar ainda, se vamos recuperar aqueles valores de 2014/2015, ou se vamos nos manter abaixo ou igualar. Mas é uma informação que teremos daqui a 15 dias, nós vamos ter, a partir de uma projeção de dados do ano de 2018. Mas, o fato é que cenário de recuperação da economia está estabelecido no Brasil. O que temos de definir agora é a intensidade.
Vou te dar um dado aqui, que não sou eu que estou falando. É um trabalho que foi recentemente publicado de Simulação de Crescimento e diz o seguinte:
- Se aprovarmos a reforma da previdência em fevereiro, crescemos 6% em 2018. Se não aprovarmos cresceremos em torno de 3,5% a 2,5% - Em qualquer um dos cenários vamos ter um crescimento da economia e nesse cenário vamos ser beneficiado.

Roberto Gato – Embora impopular o Governo Temer tem feito o dever de casa direitinho?

Antônio Teles – Não é fácil fazer reforma, quando você faz uma reforma, você vai contrariar interesses. O julgamento de um político reformista não é o presente é o futuro. Infelizmente é essa grande verdade. Você ter que plantar a semente é mais complexo do que você entregar uma arvore em pé. O Lula colheu, ele também fez seu dever de casa, acho que o governo Lula, dividido em dois governos: um teve uma conduta mais liberal e o outro mais intervencionista. Mas, teve sua contribuição importante no desenvolvimento do Brasil. Tem que acabar com esse discurso, um tanto quanto xiita (ou eles ou nós), existe um meio termo a ser seguido e a ser compreendido. E acho que o meio termo que vai conduzir o processo eleitoral de 2018.
Eu acho com a retomada do crescimento, dependendo da intensidade dela, a sociedade tende a caminhar para o centro, caminhar com uma visão de sair dos extremos e manter o que já se conquistou.

Roberto Gato – Deixa eu colocar uns pinos no teu sapato para ver como tu andas com ele. Nós temos os indicadores da educação do Amapá, são negativas, O IDEB do Amapá é o pior do Brasil. O senador David Alcolumbre, veio com o ministro da Educação no Amapá, com o presidente do FNDE e não fez uma agenda oficial do Estado. Você acha que esse comportamento é prejudicial para o Estado do Amapá?

Antônio Teles – Não gostaria de atribuir ao político esse comportamento. Acho que houve uma falha na assessoria em não fazer a comunicação aos órgãos, poderia ter sido mais proveitosa, faltou orientação. Nós temos problemas que são básicos no sistema de educação, que vai do financiamento da educação no Estado até mesmo a discussão de um modelo de educação. Eu penso que foi uma oportunidade que foi perdida. Mas, não creio que tenha partido da vontade do senador ou do ministro, creio que teve ai um lapso da própria assessoria do senador. Veja bem, é importante o Hospital Universitário, porque é um projeto estratégico para o Estado do Amapá, sou professor da Universidade e sou interessado que esse hospital saia. Mas importante e até mais, é toda nossa Rede de Ensino Médio e Fundamental, que envolve 16 municípios e o Estado. E hoje temos um problema de transição desse modelo, porque boa parte das atribuições do município em educação é o Estado que absolve. Precisávamos se possível, que o senador faça outra agenda, para que possamos discutir essa relação entre município e Estado, para que possamos otimizar, pois, estaremos atendendo uma população extremamente importante que é a próxima geração desse Estado. Eu acho que houve um erro das assessorias políticas em pesagem. Em dividendo político, para o senador David teria sido muito maior, se além do Hospital Universitário, tivesse tratado dessa agenda que envolve o Estado e os municípios.

Roberto Gato – A Área de Livre Comércio, implantada em 1990/91, ela tem sido fundamental para a economia do Amapá, como você avalia isso?

Antônio  Teles -   A Área de Livre Comércio é a maior política social que já foi implementada no Amapá. Ela é hoje é o setor da economia que se desenvolveu, e tem o papel fundamental de reduzir o custo de transporte para o mercado amapaense. Entretanto, ela por si só, não foi suficiente para promover o processo de desenvolvimento econômico do Estado. Porque temos outras oportunidades como o setor industrial. É bom lembrar que o Amapá é um Estado que  se desindustrializou, até a década de 80, tínhamos uma considerável participação do Setor Industrial no Estado, com a participação da ICOMI e suas subsidiárias (BRUMASA) eram industrias muito fortes, existe poucas pessoas que reconhecem isso. Existe até um equívoco de análise, o que aconteceu na década de 90 uma restrição energética o que não permitiu que indústria pudesse se dinamizar no Estado, mas agora superamos isso, além disso....

Roberto Gato – O fracasso da Área de Livre Comércio ou o fracasso relativo, nãos sendo preponderante para o desenvolvimento da economia, ele se deu por essa guerra fratricida entre os Estados, com a declaração da Secretaria da Fazenda Nacional em considerar, três produtos da mesma marca, contrabando?

Antônio Teles – De fato, tivemos uma política para a ALCMS, repito é a principal política social do Estado, pois é a que mais gera emprego, o fracasso dela é relativo. Ela poderia ter um impacto maior, mais passamos a ter um problema que envolve a relação federativa, em nível de Confaz e que ai surgiu os interesses dos Estados, o que de fato restringiu bastante o desenvolvimento. Mas o que eu falo é que houve uma política industrial que cessou na década de 80 e tivemos a restrição energética por mais de 25 anos, que não nos permitiu ter uma dinamização maior do setor primário e do industrial, o que agora conseguimos superar. Não conseguimos parar no passado. Então, a área de Livre Comércio é uma conquista do povo amapaense, temos de preservá-la. Agora, tivemos uma outra conquista que é a Zona Franca Verde. Um dia desse, me questionavam; Teles, você põem muita fé na Zona Franca Verde, porque? Porque ela vem agregar valor aquilo que a floresta produz, que a preservação produz. Mas, está demorando muito. A Zona Franca de Manaus, Gato, o primeiro projeto industrial, levou quatro anos após a lei regulamentada, quatro anos. Então, o horizonte da ZFV não é um horizonte para um mandato, dois mandato é para vinte, trinta anos, isso demora. Existe uma necessidade imediata, porém, não é assim que funciona o mercado, você não faz investimento industrial em um horizonte de um ano dois anos. Não é um investimento curto-prazista, depende de avaliação de produto, de desenvolvimento, muito importante. Por outro lado, temos dois anos de lei regulamentada e temos mais de três projetos em andamento para implementação e vários outros em análise em Manaus. Então, podemos dizer o seguinte: Pelo menos estamos iniciando a mais tempo do que iniciou a Zona Franca de Manaus.

Roberto Gato – Você acha que a sociedade amapaense e a brasileira é uma sociedade muito imatura?

Antônio Teles – Não, eu penso que o mesmo dilema que você observa no Brasil entre mais Estado ou menos Estado na economia ou nas relações sociais e política é o dilema no mundo todo, o que muda são os valores da própria sociedade. Um exemplo: Se você falar nos Estados Unidos em estado subvencionado empresa vai ter uma gritaria contra, porque o peso do Estado na economia é muito visível. Hoje a principal política questionada no Congresso americano é o Plano de Saúde para pessoa pobre, os valores americanos não consideram isso. Nós vivemos em um Estado paternalista, devido a colonização portuguesa, que se intensificou coma Coroa Brasileira, temos a Velha República onde os interesses da República eram para atender interesses empresariais (Oligárquico) Tivemos o Estado Novo que foi um processo político para beneficiar... Então o Brasil vem se mandando, isso leva tempo você criar uma mentalidade de sociedade liberal, talvez nem possamos criar no futuro. O Brasil; hoje temos o enfrentamento do ente governamental, União, Estado e Município, que geram alguns privilégios, em descompasso com o mercado. Isso traz enfrentamento político e Constitucional, e que no futuro seja ultrapassado, são etapas desse processo.
Aprendi uma coisa com o Doutor Teles, ele era um homem muito bom de coração, você via nas ações de algumas pessoas para com ele, uma certa maliciosidade, ai você imaginava, ‘ele está sendo feito de besta’, não! Ele estava tendo compaixão, ele não questiona aquela postura porque era a forma que a pessoa foi criada, ela foi criada nesse sentido de tirar vantagens de tudo. A formação histórica do Brasil foi uma formação estatizante, que leva tempo para você superar, no Brasil como todo. Antigamente, eu era estudante de economia no Rio de Janeiro, o pessoal dizia; Ah! O comportamento ruim do Brasil era no Norte/Nordeste, e a Lava-Jato veio mostrar que o comportamento ruim do Brasil é no Sul/Sudeste, onde estão os grandes cartéis econômicos e políticos e de financiamento de Caixa 2. Os sociólogos diziam naquela época que o problema do Brasil, não era restrito ao Norte/Nordeste, mais sim, a todo o Brasil, então, vamos criando essa maturidade social, institucional e intelectual também.

 :  O teu pai foi um grande médico e um grande parlamentar também e você tem esse sonho...Com essa cabeça privilegiada...

Antônio Teles – Não, não tenho, não tenho afinidade, na verdade meu mundo é o da academia, meu mundo é o do estudo, da técnica e acho que a contribuição maior para o povo do Amapá é continuar meus estudos na academia e continuar fazendo esse debate de alto nível com os segmentos sociais. Meu pai foi parlamentar, mais a grande contribuição dele, não foi na política, foi na medicina, foi o trabalho que ele fez em cima da Malária, na Nefrologia e no Diagnóstico de doenças tropicais complexas, inclusive com referência em nível de Brasil, abrindo as portas para os novos médicos para pesquisa e medicina. Acho que você pode participar da política sem ter mandato, às vezes é tão gratificante traz tanto resultados para a sociedade sem que você tenha mandato.  Você lança luz sobre temas, onde não há consenso na política. Procuro me colocar acima dessas disputas e criar uma agenda de Estado, não de governante e nem de governo. Na minha atuação profissional, pude fazer isso estarei dando uma contribuição para o povo do Amapá.

Antônio Pinheiro Teles Júnior é graduado em economia e mestre em finanças pela Universidade Candido Mendes (RJ) e atualmente é servidor da Universidade Federal do Amapá como professor e pesquisador. E atualmente está como Secretário de Planejamento desde 2015, início da gestão de Waldez Góes.
Esteve na condição de secretário de Estado no final do governo de Pedro Paulo, participou da transição de governo de 2010 e da transição de governo de 2014. Foi funcionário da Agência de Desenvolvimento do Amapá (2009), no Governo do Amapá como assessor técnico (2010), membro efetivo do Conselho Regional de Economia, (2011-2014), e sócio da empresa Numeric Consultoria, é professor universitário na UNIFAP, no CEAP, UCAM. “Tive a oportunidade e prazer profissional de poder estar na condição de Secretário de Planejamento no momento mais tumultuado da história do Brasil e não tenho dúvida que talvez um dos momentos mais complexos da própria história do Amapá”.



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