Seja
bondoso, isso faz bem a você
O
Evandro Gama um amapaense brilhante que buscou a educação como companheira para
tirá-lo da vida modesta e pobre que sua infância lhe impôs, me faz uma falta
danada. Ele é um desses caras de bom papo, propositivo. Um cara que persegue o
aperfeiçoamento humano, através do conhecimento.
Eu
o conheci quando veio a Difusora lá pelos idos de 2007 responder uma crítica
que fazia sobre o modelo de assentamento usado pelo INCRA. Eu chamo de
confinamento. Mas isso não vem ao caso agora. O que sei é que o Evandro faz
falta pra mim. Um cara de um papo propositivo.
Nessa
semana que finda recebi dele um texto maravilhoso. Uma entrevista com Richard
Davidson, Phd em neuropsicologia e pesquisador na área de neurociência afetiva.
Não
posso ser egoísta e guardar esse ensinamento só pra mim. Reproduzo nesse espaço
para que os leitores do meu artigo tenham um enfrentamento com esse ensinamento
e tirem o melhor proveito disso. “ Texto”
“A base de um
cérebro saudável é a bondade, e pode-se treinar isso”
MARCH 31, 2017 ARTIGOS DESTACADOS
Por Ima Sanchís | 27
de março de 2017.
Richard Davidson,
PhD em neuropsicologia e pesquisador na área de neurociência afetiva
Nasci em Nova Iorque
e moro em Madison, Wisconsin (EUA), onde sou professor de psicologia e
psiquiatria na universidade. A política deve basear-se naquilo que nos une. Só
assim poderemos reduzir o sofrimento no mundo. Acredito na gentileza, na
ternura e na bondade, mas temos que nos treinar nisso.
Eu estava investigando
os mecanismos cerebrais ligados à depressão e à ansiedade.
…E acabou fundando o
Centro de Investigação de Mentes Saudáveis.
Quando eu estava no
meu segundo ano na Universidade de Harvard, a meditação cruzou o meu caminho e
fui para a Índia investigar como treinar a minha mente. Obviamente, meus
professores disseram que eu estava ficando louco, mas aquela viagem marcou meu
futuro.
…E assim que começam
as grandes histórias.
Descobri que uma
mente calma pode produzir bem-estar em qualquer tipo de situação. E quando me
dediquei a investigar, por meio da neurociência, quais são as bases para as
emoções, fiquei surpreso de ver como as estruturas do cérebro podem mudar em
tão somente duas horas.
Em duas horas!
Hoje podemos medir
com precisão. Levamos meditadores ao laboratório; e antes e depois da
meditação, tiramos uma amostra de sangue deles para analisar a expressão dos
genes.
E a expressão dos
genes muda?
Sim. E vemos como as
zonas com inflamação ou com tendência à inflamação tinham uma abrupta redução
disso. Foram descobertas muito úteis para tratar a depressão. Contudo, em 1992,
conheci o Dalai Lama e minha vida mudou.
Um homem muito
encorajador.
“Admiro seu trabalho
– ele me disse -, mas acho que você está muito centrado no estresse, na
ansiedade e na depressão. Nunca pensou em focar suas pesquisas neurocientíficas
na gentileza, na ternura e na compaixão?”.
Um enfoque sutil e
radicalmente distinto.
Fiz a promessa ao
Dalai Lama de que faria todo o possível para que a gentileza, a ternura e a
compaixão estivessem no centro da pesquisa. Palavras jamais citadas em um
estudo científico.
O que você
descobriu?
Que há uma diferença
substancial entre empatia e compaixão. A empatia é a capacidade de sentir o que
sentem os demais. A compaixão é um estado superior. É ter o compromisso e as
ferramentas para aliviar o sofrimento.
E o que isso tem a
ver com o cérebro?
Os circuitos
neurológicos que levam à empatia ou à compaixão são diferentes.
E a ternura?
Forma uma parte do
circuito da compaixão. Umas das coisas mais importantes que descobri sobre a
gentileza e a ternura é que se pode treiná-las em qualquer idade. Os estudos
nos dizem que estimular a ternura em crianças e adolescentes, melhora os
resultados acadêmicos, o bem-estar emocional e a saúde deles.
E como se treina
isso?
Primeiro, levando a
mente deles até uma pessoa próxima, que eles amam. Depois, pedimos que revivam
um momento em que essa pessoa estava sofrendo e que cultivem o desejo de livrar
essa pessoa do sofrimento. Logo, ampliamos o foco para pessoas não tão importantes
e, por fim, para aquelas que os irritam. Estes exercícios reduzem
substancialmente o bullying nas escolas.
Da meditação à ação
há uma distância.
Umas das coisas mais
interessantes que tenho visto nos circuitos neurais da compaixão é que a área
motora do cérebro é ativada: a compaixão te capacita para agir, para aliviar o
sofrimento.
Agora você pretende
implementar no mundo o programa Healthy Minds (mentes saudáveis).
Esse foi outro
desafio que o Dalai Lama me deu, e temos elaborado uma plataforma mundial para
disseminá-lo. O programa tem quatro pilares: a atenção; o cuidado e a conexão
com os outros; o contentamento de ser uma pessoa saudável (fechar-se nos
próprios sentimentos e pensamentos é uma das causas da depressão)…
…É preciso estar
aberto e exposto.
Sim. E, por último,
ter um propósito na vida. Que é algo que está intrinsecamente relacionado ao
bem-estar. Tenho visto que a base para um cérebro saudável é a bondade. E
treinamos a bondade em um ambiente científico, algo que nunca tinha sido feito
antes.
Como podemos aplicar
esse treinamento em nível global?
Por meio de vários
setores: educação, saúde, governo, empresas internacionais…
Por meio desses que
têm potencializado este mundo de opressão em que vivemos?
Tem razão. Por isso,
sou membro do conselho do Foro Econômico Mundial de Davos. Para convencer os
líderes de que é preciso levar às pessoas o que a ciência sabe sobre o
bem-estar.
E como convencê-los?
Por meio de provas
científicas. Tenho mostrado a eles, por exemplo, o resultado de uma pesquisa
que temos realizado em diversas culturas diferentes: se interagirmos com um
bebê de seis meses usando fantoches, sendo que um deles se comporta de forma
egoísta e o outro de forma amável e generosa, 99% dos bebês prefere o boneco
que coopera.
Cooperação e
amabilidade são inatas.
Sim, mas são
frágeis. Se não são cultivadas, se perdem. Por isso, eu, que viajo muitíssimo
(o que é uma fonte de estresse), aproveito os aeroportos para enviar
mentalmente bons desejos a todos com quem cruzo no caminho, e isso muda a
qualidade da experiência. O cérebro do outro percebe isso.
Em apensa um
segundo, seguem o seu exemplo.
A vida é só uma
sequência de momentos. Se encadearmos essas sequências, a vida muda.
Hoje, mindfulness
(atenção plena) tornou-se um negócio.
Cultivar a gentileza
é muito mais efetivo do que se centrar em si mesmo. São circuitos cerebrais
distintos. A meditação em si não interessa para mim. O que me importa é como
acessar os circuitos neurais para mudar o seu dia-a-dia, e sabemos como fazer
isso.
Ciência e Gentileza
A pesquisa de
Richard Davidson está centrada nas bases neuronais da emoção e nos métodos para
promover, por meio da ciência, o florescimento humano, incluindo a meditação e
as práticas contemplativas. Ele fundou e preside o Centro de Investigação de
Mentes Saudáveis na Universidade de Wisconsin-Madison, onde são realizadas
pesquisas interdisciplinares com rigor científico sobre as qualidades positivas
da mente, como a gentileza e a compaixão. Richard Davidson já acumula prêmios
importantes e é considerado uma das cem pessoas mais influentes do mundo,
segundo a revista Time. É autor de uma quantidade imensa de pesquisas e tem
vários livros publicados. Ele conduziu um seminário para estudos contemplativos
em Barcelona.
*Traduzido de
entrevista publicada no site do La Vanguardia
http://www.lavanguardia.com/lacontra/20170327/421220248157/la-base-de-un-cerebro-sano-es-la-bondad-y-se-puede-entrenar.html
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