Tempo
de Celebração
Nasci num tempo em que o catolicismo
estava em alta. Fui batizado e crismado, e muitas vezes frequentei as missas
dominicais.
Hoje entendo a vida como evolução e,
por isso, valho-me dos preceitos espíritas.
Mas claro, nessa
época do ano todo cristão se permite a reflexão, como uma forma de experimentar Deus, experimentar a
vida, como ela experimenta a si mesma diante da vida e diante de Deus.
A partir do judaísmo se entende essa
celebração absorvida pelo mundo cristão e estereotipada pelo capitalismo e
apelidada de Páscoa, com direito a coelhinhos e ovos de chocolate, o que na verdade
reflete a libertação do povo judeu da escravidão no Egito.
Haroldo Dutra Dias diz “ser óbvio que é impossível
traduzir uma experiência tão subjetiva, tão espiritualmente rica com a
linguagem da ciência, que é uma linguagem matemática, uma linguagem analítica;
ou com a linguagem da filosofia, que é uma linguagem especulativa cheia de um
vocabulário complexo e às vezes até prolixa. Por essa razão, a religiosidade
opta pela linguagem da metáfora, que é quase uma linguagem dos sonhos, uma
linguagem onírica e, portanto, a Páscoa tem muito dessa simbologia onírica dos
sonhos”.
Ele fala do
verdadeiro significado da páscoa segundo o Espiritismo, mas enfatiza as origens
judaicas, para que mais tarde fique claro o significado dessa comemoração na
era cristã. – “O que diz a Páscoa?
[Diz que] o povo hebreu estava escravo há 400 anos no Egito. O Egito foi
invadido, então, por um anjo da morte, mas naquelas casas que tivessem uma
marca de um sangue do cordeiro, o Anjo pularia aquela casa… Como verbo pular em
hebraico é “passach (pas-sac)”, daí vem “Páscoa”, que é o “pulo do anjo”;
o pulo que ele dá nas casas que tem a marca do cordeiro. E que, portanto,
foram poupados da tragédia de perderem o filho mais velho da casa. Essa é a
simbologia”.
Páscoa tem a ver com essa experiência espiritual, a
experiência da libertação espiritual, mas que é uma experiência de
desilusão. E você não se desilude sem perder, por isso o choque do cordeirinho
sendo sacrificado.
Na visão espírita,
– com a vinda de Jesus, o que é que
ele faz? Ele convive com 3 anos com seus discípulos; cura cegos, cura paralíticos,
janta todo dia na casinha de Simão Pedro… cura até mesmo a sogra de Simão Pedro
que morava com ele… Trabalha com eles, acorda cedinho e vai pescar com eles até
o entardecer, convive com eles diariamente… participa das suas dores e sofre
com as imperfeições de cada um deles… E no momento final dos três anos, reúne os doze e diz assim para eles:
“vocês vão me perder, eu estou agora me despedindo de vocês porque eu vou
deixar o mundo corpóreo para voltar ao incorpóreo e vocês vão experimentar uma tremenda
tristeza, uma profunda dor porque vocês criaram uma conexão emocional
comigo.
Eu não chamo vocês mais de servos, eu chamo vocês
de amigos, porque tudo que eu aprendi e compartilhei com vocês… eu amei vocês
da maneira maior que eu poderia amar… Eu amei tanto que você, Pedro, que vai me
negar, vai me trair, mas eu continuo te amando… nada vai alterar o meu amor por
você!
Eu amo tanto você, Judas, mesmo sabendo que você
vai me trair… eu não estou te expulsando, eu estou comendo com você, e eu te
perdoo! Mas eu irei embora! E vocês vão viver a maior experiência de solidão e
de ascensão espiritual das suas vidas. Mas o que eu posso prometer é que do
mundo espiritual estarei junto com vocês. Vou ampará-los em todas as suas
atividades, estarei eu mesmo do mundo espiritual comandando a expansão do
cristianismo, portanto, essa crise da morte é apenas um portal para a
imortalidade porque a vida não cessa no túmulo. E toda vez que vocês se
sentirem solitários, toda vez que vocês sentirem falta da minha amizade, do meu
amor, da minha dedicação, da minha presença… vocês vão se reunir vão celebrar a
Páscoa em minha memória, em memória da minha amizade, em memória do meu amor e
sobretudo em memória da libertação de que eu sou mensageiro”.
Porquê Jesus veio libertar o homem da escravidão da
matéria, da escravidão dos sentidos.
Fica a dica: “celebrem a Páscoa para celebrar o amor; para
celebrar a minha dedicação e para celebrar a imortalidade da alma; a vida
espiritual”.
Mas infelizmente os séculos passaram e nós transformamos
a Páscoa em coelhos e ovinhos coloridos de chocolate, apagando completamente a
dimensão espiritual e a experiência religiosa que a Páscoa propõe, que é uma
experiência de Deus. É uma experiência de amar e de se sentir amado, não
importam as circunstâncias.
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