Convívio e falcatruas
O jornalismo de qualidade deverá criar e praticar os instrumentos para
coibir as fakenews, lembrando que boa parte dessas anti-notícias tem origem nos
próprios veículos de informação. Cabem uma reflexão e uma análise profunda em
relação à decisão da Folha de S. Paulo de não mais publicar conteúdo no
Facebook. A rede social, conhecida por “fakebook” e que tem o F de fofoca,
perpetuará ainda mais a mentira e o boato. Informação jornalística de qualidade
tem um custo e as pessoas estão fazendo a opção pela omissão. Uma vez que a
crença em um fato já está estabelecida, não é necessária sua confirmação.
Espero que a estratégia leve à maior busca pelo conteúdo, mas o real não é o
ideal. A ciência tem introduzido as boas práticas de conduta e muitos artigos
têm sido retirados – ou despublicados – em função de fraudes. Causa mal-estar e
alvoroço, mas é melhor cortar na própria carne do que ter suas vísceras abertas
por terceiros.
Como exemplo de que nem sempre o que é público é publicado, CartaCapital
fez denúncia sobre o envolvimento de integrantes do governo federal –
presidente à frente – em desvios no porto de Santos, questão que já se arrasta
há um bom tempo. A enorme lista dos envolvidos em mais uma falcatrua e
patacoada do governo que se apossou de Brasília é apenas indicação de que não
vai dar em nada. A regra, nestes sombrios dias correntes, é tornar
tudo tão podre que o roto se torna muito bom. Que se consiga manter a energia
para continuar a apurar situações como essa. Ao mesmo o registro histórico
estaria garantido, já que democracia e gestão pública foram às favas.
Em outro aspecto corrente, Veja fez uma edição sobre o convívio entre
homens e mulheres. A reportagem foi feliz desde a capa, pois se tratam de
regras a serem estabelecidas – e seguidas –, e não necessariamente de
determinismo biológico. Da mesma forma que misturamos inadequadamente outras
questões pessoais no âmbito público e profissional (religião é uma delas), a
abordagem amorosa e sexual precisa ter seus limites.
A revista aproveitou a efeméride de seus 50 anos de existência. Assim,
1968 é o ano que não terminou. Das transformações mundiais restou-nos o AI-5,
com ares de ressurreição nestes tempos incertos. Que aprendamos também com
nossa história, iniciando pela consulta ao acervo da semanal – plasmada nesse
mesmo ano – para não repetir os erros.
Adilson Roberto
Gonçalves, pesquisador no IPBEN – Unesp de Rio Claro, membro da Academia
Campineira de Letras e Artes e da Academia de Letras de Lorena
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