TVocê é um analfabeto digital?
Se você é daqueles
que, quando o computador apita, apita junto, trate de resolver logo sua
incompatibilidade tecnológica. Ela vai pesar cada vez mais contra você
Da Editoria
A alfabetização
tradicional começa na sala de aula. A proficiência digital também. Todos
concordam: escola que é escola tem tecnologia. Tem computador. Virou
até assunto de campanha eleitoral. Na recente disputa pela Prefeitura de
São Paulo, a atual prefeita, Marta Suplicy, deu ênfase à democratização do
acesso à internet. Argumentou que a familiaridade com o uso de programas de
computador e com a navegação na web são fundamentais para que o cidadão possa
competir no mercado de trabalho.
Analfabetismo digital é uma expressão
relativamente nova, e não se associa às letras, mas sim a exclusão digital. Tempos
modernos exigem comportamento moderno e até mesmo o aprendizado de novas
teorias e tecnologias. A ponto de um autor do quilate de Gilberto Dimenstein
criar esta nova categoria de analfabetos funcionais, o "analfabeto
digital".
Hoje em dia, dados os avanços
tecnológicos, é fundamental que todos tenham acesso a terminais de computadores
e saibam operar com alguns sistemas básicos que permitem, com grande velocidade
e eficiência, digitar textos, fazer cálculos, trabalhar com imagens e gráficos,
elaborar planilhas de contas, etc., etc.
Não cabe resistir ao avanço da
tecnologia nesta dimensão, naturalmente. Contudo, vivemos tempos difíceis, de
crises em múltiplos planos, o que pode fazer com que, sob a falsa argumentação
de que faltam recursos, prive-se o profissional de uma ferramenta hoje básica
para que possa trabalhar e assim deixe o empresário ou administrador de ganhar
em eficiência e até em lucratividade prática "porque precisava
economizar" e economiza privando o profissional de ferramentas de
trabalho. Guardadas as devidas proporções, fazer isso hoje é como, no início da
Revolução Industrial, deixar de prover os camponeses com pás e enxadas metálicas
sob a argumentação de que deveriam fazer como seus antepassados e utilizar os
mesmo instrumentos de madeira do tempo feudal. Naturalmente, quem assim se
posicionou frequentemente faliu diante do avanço da mecanização, da tecnologia
ascendente no ocidente.
Hoje, mesmo que abstraiamos a questão
da lucratividade ou da competitividade, cerne da mentalidade capitalista,
burguesa, temos de ceder aos avanços tecnológicos em nome da pura e simples
eficiência. A internacionalização das decisões em informática descentraliza e
faz com que todos os países do mundo estejam inseridos no contexto. As
exceções, que sempre existem, são muito poucas. Mais óbvios os casos de Cuba e
Iraque, ambas nações há anos sofrendo alguma espécie de bloqueio - provisório
por definição que quando o bloqueio acabar ambas as nações serão também
inseridas no contexto.
Mapa da exclusão digital (fonte: Fundação Getúlio Vargas)
.
Os gráficos acima mostram a proporção da população que tem acesso a computador em função da região de origem e da cor (fonte: Mapa da exclusão digital / FGV - Lázaro Chaves)
Invasão
de privacidade
“Me adiciona no Facebook” ou “me segue no Twitter”. Hoje, essas
frases são tão comuns de se escutar quanto “anota o meu telefone” já foi um
dia, principalmente entre os mais jovens. Segundo levantamento do Ibope, em
agosto 27,8 milhões de brasileiros com até 34 anos navegaram por sites de
relacionamento. Entre os que não participam, ainda existe no país a questão do
acesso à internet ser excludente, mas alguns, por opção, preferem levar a vida
desconectados.
A invasão de privacidade foi o principal motivo que levou a
produtora cultural Marcelle Machado, de 29 anos, a abandonar o Facebook. No ano
passado, a jovem se envolveu com uma pessoa que vive fora do país e fotos e
comentários postados na rede social começaram a prejudicar o relacionamento.
“Em julho decidi sair do Facebook. O engraçado é que o meu namoro
terminou no mesmo dia, porque a gente usava a rede para se comunicar”, conta.
Marcelle diz não se arrepender da decisão. Segundo ela, agora está
bem mais próxima dos amigos. Em vez da superficialidade de postagens e
mensagens, ela precisa telefonar ou marcar encontros para colocar o papo em
dia. Porém, uma funcionalidade do Facebook faz falta:
“Lembrar os aniversários dos amigos. Dos mais próximos eu sei de
cabeça, outros eu anotei na agenda, mas já esqueci o aniversário de algumas
pessoas”.
O funcionário público Dagoberto Heg, de 34 anos, só mantém contato
pela internet por e-mail. E, mesmo assim, porque é “necessário”. Facebook e
Twitter não fazem parte do vocabulário do jovem, que, nadando contra a sua
geração, prefere não expor sua vida aos curiosos de plantão.
“Até a minha mãe tem Facebook. Por um lado é legal, conecta as
pessoas, mas não é porque alguém estudou comigo na quinta série que a gente tem
algum vínculo. Com os meus amigos eu mantenho um contato mais profundo”, diz.
Uso de tecnologia gera status
Avesso à tecnologia, Heg também não possui smartphone. O
computador, usa “mais do que gostaria”. Preocupado com a privacidade,
principalmente após os escândalos de espionagem que envolveram grandes empresas
de tecnologia, o jovem considera “estranho” o comportamento das pessoas de
colocarem em público informações pessoais.
— É assustador! O risco é muito grande e não compensa os
benefícios.
Apesar disso, reconhece algumas desvantagens da escolha de se
manter isolado virtualmente. A principal é ficar por fora de eventos culturais
que são divulgados apenas pelas redes sociais. A falta de um canal para manter
informados parentes distantes também é citada.
A administradora Simone Vieira, de 36 anos, está passando por essa
transição agora. Cansada da “fofoca virtual”, ela resolveu encerrar sua conta
no Facebook no mês passado. Natural de Itapecerica, em Minas Gerais, ela teme sentir
falta do contato com a família, mas, ao menos até agora, está gostando da
sensação de liberdade.
— A primeira coisa que eu fazia quando ligava o computador era
entrar no Facebook. Agora estou mais leve, tranquila. Dedico mais tempo à
leitura, o que eu não fazia muito.
O Brasil é o segundo país do mundo em número de usuários do
Facebook, com 47 milhões de internautas que acessam a rede todos os dias, atrás
apenas dos EUA, onde a rede social foi criada. O doutor em Antropologia pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e consultor de mídias sociais Jonatas
Dornelles diz ser difícil encontrar uma pessoa que tenha acesso a computador e
internet e que não esteja em redes sociais. Em suas pesquisas, ele percebeu que
usar mídias sociais gera status; mas abrir mão delas também é uma forma de
afirmação social:
— Não é só porque lançam um celular mais moderno que a pessoa o
troca a cada seis meses. Existe um status em usar um modelo ou marca que
determinadas pessoas estão utilizando. Em nossa cultura, fortemente ligada à
tecnologia, a escolha de alguma rede social se transforma em um simbolismo
identificável.
Dornelles explica que as redes sociais criaram uma nova forma de
sociabilidade e abrir mão dessa ferramenta pode dificultar o processo de
interação com outras pessoas. Desde ficar sem ver uma foto, não participar de
uma discussão ou perder um evento, as desvantagens são muitas.
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