domingo, 14 de outubro de 2018

RECANTO LITERÁRIO


      
ONCOÓLATRA




OBDIAS Alves de ARAÚJO, é amapaense da gema. Nasceu no município de Macapá no dia 22 de Fevereiro de 1957, filho de Zacarias Alves de Araújo e Odália Vieira de Araújo. Músico (trombone e flauta-doce), durante boa parte de sua vida foi amante da boémia e da noite, lançou seu primeiro livro em 1984. Vem participando dos movimentos literários de Macapá e mantendo intercâmbio com poetas e trovadores de outros estados. Embora de uma geração mais recente, fez parte do grupo de poetas que tinha como principal líder Alcy Araújo, ou seja: Isnard Lima, Álvaro da Cunha, Cordeiro Gomes, Manoel Bispo, Fernando Canto e Outros.
Livros Publicados: Apologia (1984) e Praça Pinga Poesia & Mágoa – Diário de um Vagabundo Lírico (1987), VERSÍCULOS DE SALOMÃO (Dezembro de 2017).
Os poemas de Obdias, curtos e de uma linguagem direta e contemporânea, por vezes irônica, conduzem o leitor para o imaginário de um poeta integrado ao seu tempo, que fala de amor e de saudade. Cultiva o humor, trazendo da vida quotidiana os elementos que constroem o seu tecido poético com cores, sons e ritmos.
Obdias é um escritor que gosta de viver intensamente, conta piadas de todos os gêneros, com nítida preferência para os temas eróticos. Entretanto, com perspicácia, é capaz de filtrar para a literatura tudo aquilo que pode ser aproveitado na poética. Não é um escritor que produza intensamente, mas através dos três volumes já publicados, podemos ter uma ideia de que ele está entre os melhores que o Amapá já produziu.
***
As enfermeiras da Oncológica têm vida na alma e lúmen no olhar! Os enfermeiros da Clínica Oncológica têm mãos efeminadas. Sedosas bonitas e cheirosas. Mãos humanizadas pelo trato Diário com a mazela que anda corredores afora.
Os vigilantes daquele lugar parecem o Incrível Hulk. Só que feitos de pelúcia. O Maestro Luiz Eduardo Werneck de Carvalho rege isso tudo com seu estetoscópio-batuta em cada mão!
Ah Jeová Rapha! Protege os médicos os peritos o corpo de enfermagem as secretárias
Os vigilantes os serventes e a troupe da Lanchonete. Faze com que nunca me falte o cafezinho Grátis. Fecha-lhes o corpo. Que nunca lhes alcance a sombra do infortúnio e o pranto da Doença.
E como sei que te sobeja a graça e o perdão genuflexo te peço :Protege a mim também!
oOo

WERNECKNIANA
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Hospital Porto Dias. Vigésima quinta sessão de Radioterapia. Acostumado a comer angu com Bem mais caroço no lanchinho de hoje a mim coube o pão que o diabo sentou em cima.
Assim que entrei no salão Marion emitiu estranhos e mecânicos sons girando frenéticos três Braços ao redor de meu único corpo. Braços em cujas extremidades moram mãos ameaçadoras Cada uma na palma um olho emissor de raios.
Tomando-me no colo Marion protegeu a minha pubiana região com um lençol de chumbo e um
Sibilante mantra jorrou de sua gárgula boca. Eliezer e Ray berravam desconexas ordens feito Porcos baiés recentemente castrados.

Patrícia Dias - neta dileta do Dr. Porto Dias chegou a duvidar de minha masculinidade.
Salvou-me a pátria a tecnóloga asteca Yareth Yoali Ehecalt Meztli Ypiranga que alisando com Longas unhas o dorso trêmulo de minha esquerda mão convenceu-me sob relativa facilidade
A voltar no dia seguinte.
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AVALON
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Sempre fui herbívoro. De repente vejo-me hematófago. Semana passada tomei 23 bolsas. Quando chega à minha medula óssea este alimento é microprocessado. As microparticulinhas resultantes são diluídas amassadas amassadas e vão para algum lugar em Caixinhas cinzas.
Ao longe o piston wengrill de meu amigo Feliciano executa moto perpétuo de Niccolò Paganini.
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PALAVRAS LEUCÊMICAS
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Pequeninos pontos molhados de rio. É uma cidade. Uma cidade. Nela vivem pessoas. Pontos Brilhantes molhados de rio. Pessoas são montadas em série com parafusos engrenagens Desreguladas salsugem e manganês.
Eu sou uma pessoa. Um pequeno ponto molhado de rio. Mas sempre levo minha neoplasia
Na coleira a por aí a passear...
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