sábado, 19 de janeiro de 2019

‘CULTIVO ORGÂNICO’


‘CULTIVO ORGÂNICO’
A fabricação de adubos orgânicos produz uma alimentação saudável




Através de um ciclo de produção e da compostagem de resíduos orgânicos, produtor amapaense fabrica adubos orgânicos e mantem plantio de hortaliças e frutíferas com maior resultado e garantia de colheita de produtos de melhor qualidade, gerando empregos e renda para o pequeno agricultor familiar, através de capacitação técnica. Isso é Amazônia!

Reinaldo Coelho

Um dos maiores desafios enfrentados pela humanidade é a produção de alimentos para um número cada vez maior de pessoas, sem levar à exaustão e à degradação ambiental. E a produção e o cultivo da alimentação orgânica é uma das opções para que haja um maior controle ambiental e de saúde da população, principalmente para os menos favorecidos. E no Amapá é um segmento em expansão e economicamente favorável para os produtores familiar. 
Do ponto de vista agrícola, de acordo com o IBGE, o Estado do Amapá se apresenta como um dos Estados menos produtivos do Brasil. Um dos principais fatores que contribuem para a baixa produtividade é a elevada acidez dos solos, comum em ambientes sujeitos a elevados índices de precipitação pluviométrica. As chuvas no Amapá ocorrem, geralmente, entre os meses de janeiro e junho.

Nesse período os agricultores familiares realizam os cultivos das culturas de subsistência, principalmente mandioca, feijão e milho, e na época de estiagem, julho a dezembro, parte desses produtores sobrevive do extrativismo do açaí, da castanha-do-pará e da pesca, e os demais desenvolvem atividades não-ligadas à agricultura/pecuária para garantir a renda familiar.
Existe uma grande expansão mundial da opção de utilização de alimentos produzidos organicamente, sem o uso de produtos químicos, principalmente na adubação das áreas de cultivos. Esse segmento tem crescido muito no Brasil e tem milhões de consumidores optando pelos produtos hortigranjeiros para alimentação da família, com a garantia de estarem consumidos produtos sadios e conhecendo o caminhos percorridos desses alimentos, desde o seu plantio na campo até a sua mesa.
Hoje, essa produção já recebe certificação pública ou de empresas especialistas que garantem a veracidade de que desde o adubação, passando pelo plantio e colheita são realizados sem agregados químicos.
Nos Estados da Região Norte esse tipo de cultivo vem crescendo com o apoio dos órgãos que atuam no sistema agrícola e incentivos ao produtor para uma produção cada vez maior, oferecendo aos consumidores desse tipo de alimentos. É um nicho em franco crescimento e com ofertas ainda pequenas, principalmente no Estado do Amapá.
Porém, aqui existem, e os governos federal, estadual e municipal, mesmo em pequena escala vem executando projetos que miram esse segmento, caso da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), RURAP e IEPA. É os resultados tem surgidos, como no Distrito de Fazendinha, onde já desde 2014, onde a EMBRAPA buscou uma parceria com um horticultor local que seguisse padrões de boas práticas na agricultura orgânica, recomendadas pela, para desenvolver ações de ensino in loco. O produtor Domingos Gomes da Silva já parceiro do projeto de Transferência de Tecnologia em Agroecologia da EMBRAPA Amapá, passou a colaborar com a ação, recepcionando os alunos em sua propriedade “Mundo das Plantas”, localizada no minipolo hortifrúti no Distrito de Fazendinha, Macapá/ AP.

Compostagem orgânica


Mas uma produção orgânica tem como base um importante elemento que o adubo orgânico, e como ele se compõem e os resultados que deverão trazer para as diversas espécies que deverão cultivadas. A reportagem do Tribuna Amapaense esteve na Linha D no Km 09, no Sítio do Gilmar, onde está sendo realizado um experimento inovador na área de orgânicos, a produção do adubo orgânico, e com sua aplicação no próprio sitio, com uma linha de produção própria, que vai da criação de galinhas e cabras que produzem os elementos para compor o adubo que irá ser aplicado no cultivo de uma horta suspensa, pomar e plantio de mandioca, caju, manga, goiaba, cana de açúcar, mamão, maracujá, bananeiras que rendem uma colheita maior e de qualidade superior e ao mesmo tempo fornecem a alimentação (carne, leite e ovos e hortifrutigranjeiros) do próprio produtor, ainda consegue vender a consumidores que ali procuram um alimento saudável.

A CRIAÇÃO DE GALINHAS E CABRAS, COMPÕEM O CICLO DE RESÍDUOS ORGÂNICOS PARA COMPOSTAGEM


Esse serviço é feito por um produtor simples, afável e receptivo e orgulhoso do trabalho que produz e que pela sua aparência simples, não reflete o conteúdo acadêmico adquirido nas universidades e sim o aprendizado popular que trouxe como carioca e como ele afirma erradicado no Estado do Amapá.
Gilmar Costa de Souza, 60 anos, carioca, residente há 35 anos no Estado do Amapá contou que o amor pela terra e pelo meio ambiente é de raiz, pois na sua infância no Rio de Janeiro, sua família tinha um terreno rural e que teve influência na sua formação como Técnico Agropecuário e Edificações e em Segurança do Trabalho, graduado como Tecnólogo em Gestão Ambiental, pós-graduado em Auditoria e Pericia Ambiental com Mestrado em Políticas Públicas.
No Estado do Amapá é servidor público federal e atualmente atua na Secretaria da Agricultura. “Trabalhei no RURAP como extensionista durante 15 anos atendendo os pequenos agricultores e desde essa época, eu passava a mensagem de produzir o orgânico. Então já tenho uma experiência vasta nesse campo”.



O sítio localizado no Ramal da Linha D é local dos experimentos exitosos de Gilmar Costa há 13 anos. “Comecei a construir esse sitio e é onde desenvolvo minhas atividades, com a ‘fabriqueta’ de produtos orgânicos, recolhendo caroços de açaí de Macapá, podas de árvores e grama, tudo que se decompõe, eu faço as pilhas aqui no terreno para produzir adubo orgânico e com esse produto eu faço troca com agricultor, faço a venda e o utilizo aqui para produzir produtos orgânicos. Hoje eu tenho cinquenta tipos de frutas e um pequena lavoura branca”, explica Gilmar.
Questionado pela reportagem o produtor orgânico explica que a ‘lavoura branca’ produz o jerimum, a macaxeira, batata doce, inhame, jiló, berinjela, pimentinha, maxixe, melão melancia, tudo em pequena escala. “Esses produtos me possibilitam demonstrar aos agricultores que aqui chegam para serem capacitados, possam visualizar que o nosso cerrado é produtivo e eu passo essa minha experiência para eles. Porque dentro da Unidade Produtiva da Agricultura Familiar se produz muitos resíduos orgânicos”.

Plantação de macaxeira,
 jerimum, goiaba e maracujá


Gilmar Souza explicou que esses resíduos orgânicos são as folhas que caem das árvores, a raspa da mandioca e da macaxeira. “E isso tudo podemos aproveitar e fazer o composto orgânico. Em vez de tocar fogo nós podemos transformar em adubo orgânico”.

Cadeia de produção orgânica

O produtor orgânico Gilmar Souza fez uma apresentação completa do sitio, que foi dividido em diversas com produções especificas que definiu uma cadeia produtiva de insumos que fornecem elementos para a compostagem orgânica que ele fabrica.

“Temos uma tecnologia chamada permacultura. O que é isso?
A permacultura dentro da unidade produtiva, uma ação ajuda a outra. O que a galinha me fornece? Fornece o ovo, pena, o esterco, os pintinhos, tudo isso serve para me auto sustentar. No caso o esterco da galinha vai pra dentro da compostagem. A criação de ovinos que eles me dão? O leite, carne, o esterco, o couro? O esterco vem para dentro do compostagem ajudar a enriquecer meus compostos. Todo o mato que roçado no terreno, não é queimado ele vai para a compostagem, vira adubo”.
Ele ressaltou que as próprias árvores produzem elementos para ajudar na criação do adubo orgânico. “Aqui já foi mata cerrada, que eu transformei em mata frutífera e elas soltam suas folhas que apodrecem em cima do solo e o enriquecendo e auto sustentando as próprias plantas. Isso já é natural eu somente preservo”.
Esse mato natural que cresce junto com o plantio, ele não é eliminado, pois de acordo com o produtor Gilmar Souza, ele protege e combate os insetos nocivos e servirá no verão para aumentar e enriquecer o adubo fabricado.
Com referência a chegado do verão, pois no período invernoso a utilização de água para regar é facilitado pela chuva. Porém o técnico produtor montou uma rede de irrigação dentro de seu plantio, onde retira a água de uma cisterna que está sendo construída para facilitar a irrigação do plantio e da própria fábrica de composição orgânica, visto que ela deve ser mantida com umidade para que as bactérias se mantenham vivas e produtivas.
“Essa cisterna é para captar a água da chuva, pois no processo de compostagem é preciso de muita água para molhar as pilhas de compostos, pois se a umidade estiver baixa as bactérias não conseguem se multiplicar, pois a pilha esquenta e as mata, é necessário um grau de umidade para que elas proliferem e decomponham a matéria orgânica”.

Experiência Acadêmica X Experiência Popular


O doutor e mestre Gilmar Costa de Souza traz em sua bagagem a experiência acadêmica e de execução no campo e adquiriu o conhecimento empírico com o dia a dia com os produtores regionais o que lhe garante uma matriz de conhecimentos ímpar, dentro da área de produção orgânica, e o êxito alcançado é visto na execução do seus plantios no local onde tudo acontece: seu sítio laboratório e fábrica de adubo orgânico. “Realmente isso tudo me facilitou chegar ao ponto em que estamos. Meus 15 anos de extensão rural me deram possibilidade de aprender muitas coisas com o homem do campo”.

Capacitando o produtor

Essa aprendizagem, e o exitoso resultado alcançado, é comprovado com a transformação de 16 mil quilos de resíduos orgânicos, gerando 10 mil sacos de 20 quilos de adubo orgânico que é vendido a R$ 20 a unidade está sendo montado uma sede para ser ministrado aos produtores uma capacitação com a transferência dos conhecimentos e que deverão ser multiplicados, ampliando a utilização e aplicabilidade da adubação e produção de alimentos orgânicos no Amapá.
“Estou construindo duas salas de aula para capacitar o agricultor, o seu filho e o técnico nesse métier de produção orgânica”.

Atender o público consumidor

Existe mercado para o consumo de produtos orgânicos, isso é fato, porém a produção é pouca, o que encarece e dificulta o acesso ao produto pelo consumidor amapaense. Perguntado sobre a expansão da produção e o valor na economia local, Gilmar Sousa diz ser otimista.
“Vai expandir, pois a Delegacia Federal de Agricultura, juntamente com a Secretaria de Desenvolvimento Rural, RURAP, SEBRAE, SENAI, SENAR, está preocupada com essa produção orgânica. Porque? O índice de agroquímico, colocado nas produções dentro do Estado, é muito grande e o que faz isso no organismo humano, provoca uma desarmonia corporal, aparecendo várias doenças, dentre elas o câncer. Se você não procurar se alimentar adequadamente, organicamente, no futuro você pode adquirir uma dessas doença. Temos de mudar e saber a origem da alimentação que você está consumindo”.

Reciclagem de resíduos sólidos em hortas suspensas

A atuação do produtor orgânico chega com força no Meio Ambiente, pois utiliza material descartável, como PVC, baldes de tintas e de construção civil, que ele aproveita para a construção de pequenos canteiros suspensos, onde são plantados hortaliças, plantas medicinais, pimenteiras, manjericão, alface, jiló, berinjela.
Esse tipo de produção pode ser expandido para os municípios amapaenses e podendo ajudar na economia local, além de produzir alimentos saudáveis, contribuir com uma melhoria ambiental, dando destino correto aos resíduos produzidos pelos seus habitantes.
“Eu tenho um projeto denominado – “A Cidade ajuda o campo e o campo ajuda a cidade” –, e nesse meio, podemos fazer, em cada município, uma pequena unidade de compostagem, aproveitar os resíduos de dentro dos municípios para fazer composto orgânico e botar a disposição da pequena agricultura familiar”.
A divulgação dessa técnica de produção pode ser aplicada nas escolas e pelo próprio morador urbano em suas residências e apartamentos. “Claro que pode, eu dou palestras nas escolas, nas faculdades e universidades sobre Educação Ambiental, onde sou especialista, e procuro passar essa mensagem. As hortas orgânicas suspensas, podem ser feitas em apartamentos, residências. Pode ser utilizado baldes, uma geladeira, caixas de madeiras, pedaço de tubos e você terá uma hortinha no fundo de seu quintal e aproveitas as folhas que caem e vez de tocar fogo ou colocar para o gari levar e fazer sua compostagem”.
Gilmar de Souza explica que fabrica em seu sítio os equipamentos para as hortas suspensas. “Se a pessoas quiserem, podem vir aqui e eu fabrico os pequenos canteiros e os comercializo, com o adubo orgânico, e plantados o coentro, a cebolinha, a couve, alface. Vendo a R$ 30,00 o balde e quando a pessoa retorna para adquirir outra leva e traz um balde eu já diminuo o valor”.
Finalizando a reportagem, Gilmar de Souza, o mestre orgânico, conclama os gestores públicos federal, estadual e municipais e os munícipes, que olhem esse trabalho de produção de adubo orgânico e o transformem em política pública de Estado. “A cidade produz muita matéria orgânica e em vez de jogar nas ressacas, vamos montar essas unidades de compostagem incentivando os técnicos e agricultores que queiram montar, pois o custo é baixo”.

Insumos e práticas de manejo em agroecologia
Adubo orgânico, um produto da compostagem. foto Marcia do Carmo

Tecnologias e recomendações para produção de composto orgânico, biofertilizantes e adubação verde com leguminosas são os temas de novos fôlderes técnicos e de boletim de pesquisa da EMBRAPA Amapá, como parte de uma programação de disseminação da informação voltada para a agroecologia no Estado. O fôlder “Compostagem Orgânica” traz dicas para um processo bem-sucedido de compostagem, desde a etapa da seleção do local até a separação dos fragmentos de resíduos pouco compostados. A produção de composto orgânico consiste na decomposição controlada de resíduos de origem vegetal e animal. Com a compostagem é possível obter um material de boa qualidade e estável, ou seja, sem mau cheiro, e que não atrai moscas e outros insetos e nem roedores.

 
Pesquisador Wardsson Lustrino Borges_foto Dulcivania Freitas
 O engenheiro agrônomo pesquisador, Wardsson Lustrino Borges, destaca uma recomendação no fôlder. “É importante atentar para o fato de que nunca se deve colocar na pilha de compostagem resíduos que não sejam de origem orgânica, como solo, plástico (sacolas e garrafas tipo pet), metal (alumínio) ou madeira tratada com pesticidas ou verniz”.
O fôlder “Produção de Biofertilizante” apresenta o modo de produção de biofertilizantes de forma aeróbica e anaeróbica e o uso deste tipo de insumo, além da lista de materiais necessários. De acordo com Borges, “a produção de biofertilizantes consiste na condução controlada do processo de digestão de resíduos orgânicos. O biofertilizante pode ser enriquecido com a adição de nutrientes, durante o processo ou ao final”. A digestão é o consumo e a transformação dos resíduos orgânicos, por meio da ação de diversos micro-organismos, proporcionando sua estabilização. Ao final do processo obtém-se um biofertilizante líquido sem cheiro desagradável e que pode ser aplicado nas plantas ou no solo. Entre as vantagens do uso contínuo de biofertilizantes estão a ciclagem e o fornecimento de nutrientes como o fósforo, o potássio e o nitrogênio; aumento do teor de matéria orgânica e da capacidade de troca de cátions do solo; correção da acidez e dos teores de alumínio do solo; fornecimento de nutrientes em proporção adequada para as plantas; produção de plantas mais saudáveis e melhor controle de pragas; redução da necessidade de aquisição de insumos externos à propriedade; maior atividade biológica no solo (microrganismos e insetos).


Produção orgânica gera emprego, renda e uma vida saudável

Desembargador Gilberto Pinheiro é um dos que usam os adubos organicos produzidos pelo Gilmar de Souza
Para o desembargador Gilberto Pinheiro, que reside em um sitio no KM 9, onde mantém plantações de hortifrutigranjeiros e é adepto da produção orgânica, pois antém o prazer de colher suas hortaliças e frutíferas diretamente das hortas e pomar, ali mesmo os consumindo, se manifestou a reportagem do Tribuna Amapaense, sobre o valor dessa produção e do consumo de alimentos saudáveis.


“A produção orgânica é importante para a agricultura familiar e para o pequeno produtor. Primeiro porque os produtos são orgânicos e portanto são saudáveis. Ele não tem nenhum defensivo agrícola ou agrotóxico. Eles são ótimos para a saúde e para a vida humana, não vão lhe causar nenhuma doença e as combate. E essa produção mantém a pessoa no campo, mantém ele com um trabalho prazeroso e terceiro que é um nicho que ainda não foi totalmente tomado ou seja, aqui no Amapá tem muitos consumidores que querem consumir produtos orgânicos, uma fruta ou verdura orgânica e é difícil e temos mercado para isso. Assim além de gerar empregos e rendas, e de manter o agricultor no campo produz qualidade de vida”.
A horta orgânica consiste no cultivo de hortaliças, temperos e ervas medicinais sem o uso de agrotóxicos e de maneira ecologicamente correta, ou seja, é uma maneira de plantar e cuidar das hortaliças com técnicas que não poluem a terra e a água, não contaminam as plantas, nem os plantadores e consumidores.
São usados adubos orgânicos e não há uso de produtos químicos. Podemos dizer que é uma maneira de cultivar imitando a natureza, mas com o uso de modernas tecnologias.
A horta além de ser uma fonte alimentar é um importante local de relaxamento que proporciona contato com a terra e a natureza e o prazer de produzir algo, sem falar da economia que podemos conseguir quando cultivamos nossos próprios alimentos, ao invés de comprá-los, com possibilidades de vendê-los, ajudando na renda da família.
Ter uma horta em casa não é difícil, porém é preciso alguns conhecimentos para ter um bom planejamento e uma boa produção.

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