‘CULTIVO ORGÂNICO’
A fabricação de
adubos orgânicos produz uma alimentação saudável
Através de um ciclo de produção e da compostagem de
resíduos orgânicos, produtor amapaense fabrica adubos orgânicos e mantem
plantio de hortaliças e frutíferas com maior resultado e garantia de colheita
de produtos de melhor qualidade, gerando empregos e renda para o pequeno
agricultor familiar, através de capacitação técnica. Isso é Amazônia!
Reinaldo Coelho
Um dos maiores
desafios enfrentados pela humanidade é a produção de alimentos para um número
cada vez maior de pessoas, sem levar à exaustão e à degradação ambiental. E a
produção e o cultivo da alimentação orgânica é uma das opções para que haja um
maior controle ambiental e de saúde da população, principalmente para os menos
favorecidos. E no Amapá é um segmento em expansão e economicamente favorável
para os produtores familiar.
Do ponto de vista agrícola, de acordo com o
IBGE, o Estado do Amapá se apresenta como um dos Estados menos produtivos do
Brasil. Um dos principais fatores que contribuem para a baixa produtividade é a
elevada acidez dos solos, comum em ambientes sujeitos a elevados índices de
precipitação pluviométrica. As chuvas no Amapá ocorrem, geralmente, entre os
meses de janeiro e junho.
Nesse período os agricultores familiares
realizam os cultivos das culturas de subsistência, principalmente mandioca,
feijão e milho, e na época de estiagem, julho a dezembro, parte desses
produtores sobrevive do extrativismo do açaí, da castanha-do-pará e da pesca, e
os demais desenvolvem atividades não-ligadas à agricultura/pecuária para
garantir a renda familiar.
Existe uma grande expansão mundial da opção
de utilização de alimentos produzidos organicamente, sem o uso de produtos
químicos, principalmente na adubação das áreas de cultivos. Esse segmento tem
crescido muito no Brasil e tem milhões de consumidores optando pelos produtos
hortigranjeiros para alimentação da família, com a garantia de estarem consumidos
produtos sadios e conhecendo o caminhos percorridos desses alimentos, desde o
seu plantio na campo até a sua mesa.
Hoje, essa produção já recebe certificação
pública ou de empresas especialistas que garantem a veracidade de que desde o
adubação, passando pelo plantio e colheita são realizados sem agregados
químicos.
Nos Estados da Região Norte esse tipo de
cultivo vem crescendo com o apoio dos órgãos que atuam no sistema agrícola e
incentivos ao produtor para uma produção cada vez maior, oferecendo aos
consumidores desse tipo de alimentos. É um nicho em franco crescimento e com
ofertas ainda pequenas, principalmente no Estado do Amapá.
Porém, aqui existem, e os governos federal,
estadual e municipal, mesmo em pequena escala vem executando projetos que miram
esse segmento, caso da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), RURAP
e IEPA. É os resultados tem surgidos, como no Distrito de Fazendinha, onde já desde
2014, onde a EMBRAPA buscou uma parceria com um horticultor local que seguisse
padrões de boas práticas na agricultura orgânica, recomendadas pela, para
desenvolver ações de ensino in loco. O produtor Domingos Gomes da Silva já
parceiro do projeto de Transferência de Tecnologia em Agroecologia da EMBRAPA Amapá,
passou a colaborar com a ação, recepcionando os alunos em sua propriedade
“Mundo das Plantas”, localizada no minipolo hortifrúti no Distrito de
Fazendinha, Macapá/ AP.
Compostagem orgânica
Mas uma produção orgânica tem como base um
importante elemento que o adubo orgânico, e como ele se compõem e os resultados
que deverão trazer para as diversas espécies que deverão cultivadas. A
reportagem do Tribuna Amapaense esteve na Linha D no Km 09, no Sítio do Gilmar,
onde está sendo realizado um experimento inovador na área de orgânicos, a
produção do adubo orgânico, e com sua aplicação no próprio sitio, com uma linha
de produção própria, que vai da criação de galinhas e cabras que produzem os
elementos para compor o adubo que irá ser aplicado no cultivo de uma horta
suspensa, pomar e plantio de mandioca, caju, manga, goiaba, cana de açúcar,
mamão, maracujá, bananeiras que rendem uma colheita maior e de qualidade
superior e ao mesmo tempo fornecem a alimentação (carne, leite e ovos e
hortifrutigranjeiros) do próprio produtor, ainda consegue vender a consumidores
que ali procuram um alimento saudável.
A CRIAÇÃO DE GALINHAS E CABRAS, COMPÕEM O CICLO DE RESÍDUOS ORGÂNICOS PARA COMPOSTAGEM |
Esse serviço é feito por um produtor simples,
afável e receptivo e orgulhoso do trabalho que produz e que pela sua aparência
simples, não reflete o conteúdo acadêmico adquirido nas universidades e sim o
aprendizado popular que trouxe como carioca e como ele afirma erradicado no
Estado do Amapá.
Gilmar Costa de Souza, 60 anos, carioca,
residente há 35 anos no Estado do Amapá contou que o amor pela terra e pelo
meio ambiente é de raiz, pois na sua infância no Rio de Janeiro, sua família
tinha um terreno rural e que teve influência na sua formação como Técnico
Agropecuário e Edificações e em Segurança do Trabalho, graduado como Tecnólogo
em Gestão Ambiental, pós-graduado em Auditoria e Pericia Ambiental com Mestrado
em Políticas Públicas.
No Estado do Amapá é servidor público federal
e atualmente atua na Secretaria da Agricultura. “Trabalhei no RURAP como
extensionista durante 15 anos atendendo os pequenos agricultores e desde essa
época, eu passava a mensagem de produzir o orgânico. Então já tenho uma
experiência vasta nesse campo”.
O sítio localizado no Ramal da Linha D é
local dos experimentos exitosos de Gilmar Costa há 13 anos. “Comecei a
construir esse sitio e é onde desenvolvo minhas atividades, com a ‘fabriqueta’
de produtos orgânicos, recolhendo caroços de açaí de Macapá, podas de árvores e
grama, tudo que se decompõe, eu faço as pilhas aqui no terreno para produzir
adubo orgânico e com esse produto eu faço troca com agricultor, faço a venda e
o utilizo aqui para produzir produtos orgânicos. Hoje eu tenho cinquenta tipos
de frutas e um pequena lavoura branca”, explica Gilmar.
Questionado pela reportagem o produtor orgânico
explica que a ‘lavoura branca’ produz o jerimum, a macaxeira, batata doce,
inhame, jiló, berinjela, pimentinha, maxixe, melão melancia, tudo em pequena
escala. “Esses produtos me possibilitam demonstrar aos agricultores que aqui
chegam para serem capacitados, possam visualizar que o nosso cerrado é
produtivo e eu passo essa minha experiência para eles. Porque dentro da Unidade
Produtiva da Agricultura Familiar se produz muitos resíduos orgânicos”.
Plantação de macaxeira, jerimum, goiaba e maracujá |
Gilmar Souza explicou que esses resíduos orgânicos
são as folhas que caem das árvores, a raspa da mandioca e da macaxeira. “E isso
tudo podemos aproveitar e fazer o composto orgânico. Em vez de tocar fogo nós
podemos transformar em adubo orgânico”.
Cadeia de produção orgânica
O produtor orgânico Gilmar Souza fez uma
apresentação completa do sitio, que foi dividido em diversas com produções
especificas que definiu uma cadeia produtiva de insumos que fornecem elementos
para a compostagem orgânica que ele fabrica.
“Temos uma tecnologia chamada permacultura. O
que é isso?
A permacultura dentro da unidade produtiva,
uma ação ajuda a outra. O que a galinha me fornece? Fornece o ovo, pena, o
esterco, os pintinhos, tudo isso serve para me auto sustentar. No caso o esterco
da galinha vai pra dentro da compostagem. A criação de ovinos que eles me dão?
O leite, carne, o esterco, o couro? O esterco vem para dentro do compostagem
ajudar a enriquecer meus compostos. Todo o mato que roçado no terreno, não é
queimado ele vai para a compostagem, vira adubo”.
Ele ressaltou que as próprias árvores
produzem elementos para ajudar na criação do adubo orgânico. “Aqui já foi mata
cerrada, que eu transformei em mata frutífera e elas soltam suas folhas que
apodrecem em cima do solo e o enriquecendo e auto sustentando as próprias
plantas. Isso já é natural eu somente preservo”.
Esse mato natural que cresce junto com o
plantio, ele não é eliminado, pois de acordo com o produtor Gilmar Souza, ele
protege e combate os insetos nocivos e servirá no verão para aumentar e
enriquecer o adubo fabricado.
Com referência a chegado do verão, pois no
período invernoso a utilização de água para regar é facilitado pela chuva.
Porém o técnico produtor montou uma rede de irrigação dentro de seu plantio, onde
retira a água de uma cisterna que está sendo construída para facilitar a
irrigação do plantio e da própria fábrica de composição orgânica, visto que ela
deve ser mantida com umidade para que as bactérias se mantenham vivas e
produtivas.
“Essa cisterna é para captar a água da chuva,
pois no processo de compostagem é preciso de muita água para molhar as pilhas
de compostos, pois se a umidade estiver baixa as bactérias não conseguem se
multiplicar, pois a pilha esquenta e as mata, é necessário um grau de umidade
para que elas proliferem e decomponham a matéria orgânica”.
Experiência Acadêmica X Experiência Popular
O doutor e mestre Gilmar Costa de Souza traz
em sua bagagem a experiência acadêmica e de execução no campo e adquiriu o
conhecimento empírico com o dia a dia com os produtores regionais o que lhe
garante uma matriz de conhecimentos ímpar, dentro da área de produção orgânica,
e o êxito alcançado é visto na execução do seus plantios no local onde tudo
acontece: seu sítio laboratório e fábrica de adubo orgânico. “Realmente isso
tudo me facilitou chegar ao ponto em que estamos. Meus 15 anos de extensão
rural me deram possibilidade de aprender muitas coisas com o homem do campo”.
Capacitando o produtor
Essa aprendizagem, e o exitoso resultado
alcançado, é comprovado com a transformação de 16 mil quilos de resíduos
orgânicos, gerando 10 mil sacos de 20 quilos de adubo orgânico que é vendido a
R$ 20 a unidade está sendo montado uma sede para ser ministrado aos produtores
uma capacitação com a transferência dos conhecimentos e que deverão ser
multiplicados, ampliando a utilização e aplicabilidade da adubação e produção
de alimentos orgânicos no Amapá.
“Estou construindo duas salas de aula para
capacitar o agricultor, o seu filho e o técnico nesse métier de produção
orgânica”.
Atender o público consumidor
Existe mercado para o consumo de produtos
orgânicos, isso é fato, porém a produção é pouca, o que encarece e dificulta o
acesso ao produto pelo consumidor amapaense. Perguntado sobre a expansão da
produção e o valor na economia local, Gilmar Sousa diz ser otimista.
“Vai expandir, pois a Delegacia Federal de
Agricultura, juntamente com a Secretaria de Desenvolvimento Rural, RURAP, SEBRAE,
SENAI, SENAR, está preocupada com essa produção orgânica. Porque? O índice de
agroquímico, colocado nas produções dentro do Estado, é muito grande e o que faz
isso no organismo humano, provoca uma desarmonia corporal, aparecendo várias
doenças, dentre elas o câncer. Se você não procurar se alimentar adequadamente,
organicamente, no futuro você pode adquirir uma dessas doença. Temos de mudar e
saber a origem da alimentação que você está consumindo”.
Reciclagem de resíduos sólidos em hortas suspensas
A atuação do produtor orgânico chega com
força no Meio Ambiente, pois utiliza material descartável, como PVC, baldes de
tintas e de construção civil, que ele aproveita para a construção de pequenos canteiros
suspensos, onde são plantados hortaliças, plantas medicinais, pimenteiras,
manjericão, alface, jiló, berinjela.
Esse tipo de produção pode ser expandido para
os municípios amapaenses e podendo ajudar na economia local, além de produzir
alimentos saudáveis, contribuir com uma melhoria ambiental, dando destino
correto aos resíduos produzidos pelos seus habitantes.
“Eu tenho um projeto denominado – “A Cidade
ajuda o campo e o campo ajuda a cidade” –, e nesse meio, podemos fazer, em cada
município, uma pequena unidade de compostagem, aproveitar os resíduos de dentro
dos municípios para fazer composto orgânico e botar a disposição da pequena
agricultura familiar”.
A divulgação dessa técnica de produção pode
ser aplicada nas escolas e pelo próprio morador urbano em suas residências e
apartamentos. “Claro que pode, eu dou palestras nas escolas, nas faculdades e
universidades sobre Educação Ambiental, onde sou especialista, e procuro passar
essa mensagem. As hortas orgânicas suspensas, podem ser feitas em apartamentos,
residências. Pode ser utilizado baldes, uma geladeira, caixas de madeiras,
pedaço de tubos e você terá uma hortinha no fundo de seu quintal e aproveitas
as folhas que caem e vez de tocar fogo ou colocar para o gari levar e fazer sua
compostagem”.
Gilmar de Souza explica que fabrica em seu sítio
os equipamentos para as hortas suspensas. “Se a pessoas quiserem, podem vir aqui
e eu fabrico os pequenos canteiros e os comercializo, com o adubo orgânico, e
plantados o coentro, a cebolinha, a couve, alface. Vendo a R$ 30,00 o balde e
quando a pessoa retorna para adquirir outra leva e traz um balde eu já diminuo
o valor”.
Finalizando a reportagem, Gilmar de Souza, o
mestre orgânico, conclama os gestores públicos federal, estadual e municipais e
os munícipes, que olhem esse trabalho de produção de adubo orgânico e o
transformem em política pública de Estado. “A cidade produz muita matéria
orgânica e em vez de jogar nas ressacas, vamos montar essas unidades de
compostagem incentivando os técnicos e agricultores que queiram montar, pois o
custo é baixo”.
Insumos e práticas de manejo em agroecologia
Adubo orgânico, um produto da compostagem. foto Marcia do Carmo |
Tecnologias e recomendações para produção de
composto orgânico, biofertilizantes e adubação verde com leguminosas são os
temas de novos fôlderes técnicos e de boletim de pesquisa da EMBRAPA Amapá,
como parte de uma programação de disseminação da informação voltada para a
agroecologia no Estado. O fôlder “Compostagem Orgânica” traz dicas para um
processo bem-sucedido de compostagem, desde a etapa da seleção do local até a
separação dos fragmentos de resíduos pouco compostados. A produção de composto
orgânico consiste na decomposição controlada de resíduos de origem vegetal e
animal. Com a compostagem é possível obter um material de boa qualidade e estável,
ou seja, sem mau cheiro, e que não atrai moscas e outros insetos e nem
roedores.
Pesquisador Wardsson Lustrino Borges_foto Dulcivania Freitas |
O fôlder “Produção de Biofertilizante” apresenta
o modo de produção de biofertilizantes de forma aeróbica e anaeróbica e o uso
deste tipo de insumo, além da lista de materiais necessários. De acordo com
Borges, “a produção de biofertilizantes consiste na condução controlada do
processo de digestão de resíduos orgânicos. O biofertilizante pode ser
enriquecido com a adição de nutrientes, durante o processo ou ao final”. A
digestão é o consumo e a transformação dos resíduos orgânicos, por meio da ação
de diversos micro-organismos, proporcionando sua estabilização. Ao final do processo
obtém-se um biofertilizante líquido sem cheiro desagradável e que pode ser
aplicado nas plantas ou no solo. Entre as vantagens do uso contínuo de
biofertilizantes estão a ciclagem e o fornecimento de nutrientes como o
fósforo, o potássio e o nitrogênio; aumento do teor de matéria orgânica e da
capacidade de troca de cátions do solo; correção da acidez e dos teores de
alumínio do solo; fornecimento de nutrientes em proporção adequada para as
plantas; produção de plantas mais saudáveis e melhor controle de pragas;
redução da necessidade de aquisição de insumos externos à propriedade; maior
atividade biológica no solo (microrganismos e insetos).
Produção orgânica gera emprego, renda e uma vida saudável
Desembargador Gilberto Pinheiro é um dos que usam os adubos organicos produzidos pelo Gilmar de Souza |
Para o desembargador Gilberto Pinheiro, que
reside em um sitio no KM 9, onde mantém plantações de hortifrutigranjeiros e é
adepto da produção orgânica, pois antém o prazer de colher suas hortaliças e
frutíferas diretamente das hortas e pomar, ali mesmo os consumindo, se
manifestou a reportagem do Tribuna Amapaense, sobre o valor dessa produção e do
consumo de alimentos saudáveis.
“A produção orgânica é importante para a
agricultura familiar e para o pequeno produtor. Primeiro porque os produtos são
orgânicos e portanto são saudáveis. Ele não tem nenhum defensivo agrícola ou
agrotóxico. Eles são ótimos para a saúde e para a vida humana, não vão lhe causar
nenhuma doença e as combate. E essa produção mantém a pessoa no campo, mantém
ele com um trabalho prazeroso e terceiro que é um nicho que ainda não foi
totalmente tomado ou seja, aqui no Amapá tem muitos consumidores que querem
consumir produtos orgânicos, uma fruta ou verdura orgânica e é difícil e temos
mercado para isso. Assim além de gerar empregos e rendas, e de manter o
agricultor no campo produz qualidade de vida”.
A horta orgânica consiste no cultivo de
hortaliças, temperos e ervas medicinais sem o uso de agrotóxicos e de maneira
ecologicamente correta, ou seja, é uma maneira de plantar e cuidar das
hortaliças com técnicas que não poluem a terra e a água, não contaminam as
plantas, nem os plantadores e consumidores.
São usados adubos orgânicos e não há uso de
produtos químicos. Podemos dizer que é uma maneira de cultivar imitando a
natureza, mas com o uso de modernas tecnologias.
A horta além de ser uma fonte alimentar é um
importante local de relaxamento que proporciona contato com a terra e a
natureza e o prazer de produzir algo, sem falar da economia que podemos
conseguir quando cultivamos nossos próprios alimentos, ao invés de comprá-los,
com possibilidades de vendê-los, ajudando na renda da família.
Ter uma horta em casa não é difícil, porém é
preciso alguns conhecimentos para ter um bom planejamento e uma boa produção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário