Fogo em Brasília.
Bruno Belém
Foi-se o tempo que Brasília era a capital da diplomacia, dos
bons ventos e da ordem. Na contemporaneidade, a capital do Brasil parece uma
selva: onde raposas, lobos, serpentes e coelhos vivem em desarmonia e lutando
por sua subsistência.
Enquanto o presidente da república, Jair Bolsonaro,
recupera-se de uma cirurgia, no Hospital Albert Einstein, tudo tem acontecido:
nas redes sociais, o General Mourão, Vice Presidente, foi elogiado até pela
esquerda e criticado pelos mais conservadores ao ponto de ser entitulado como
“novo símbolo da esquerda no Brasil”; Do outro lado, Marco Aurélio, ministro do
STF, manteve as investigações que apontam transações anômalas de Fabricio
Queiroz, ex-assessor de Flavio Bolsonaro; porém, nada foi mais intenso que a
cerimônia de posse dos novos senadores, ontem, no Senado Federal. O senador
amapaense Davi Alcolumbre (DEM/AP) sentou-se à mesa por volta das 10h:00, não
respeitando as formalidades exigidas, iniciou os trabalhos sem nem mesmo pedir que
os colegas tomassem seus lugares, fato ironizado pelo senador Renan Calheiros
(MDB/AL). Após atrapalhar a ritualística, Alcolumbre resolveu inovar, levando
para proferir o juramento, o mais velho senador do primeiro estado, como de
costume, e também o mais novo senador da casa, fato jamais visto.
O clima era de congraça até que iniciou-se a segunda reunião,
destinada aos preparativos da eleição do novo presidente do congresso nacional.
Anteriormente, o Senador Randolfe Rodrigues (REDE/AP) havia apresentado uma
questão de ordem solicitando que a votação fosse aberta, não prestigiando o
regimento interno que determina, no artigo 60, que a eleição deve realizar-se
em “escrutínio secreto”. Logo após o início da segunda reunião, muito se
discutiu a legitimidade do senador do DEM para presidir a sessão. Tentando ser
democrático, Davi abriu votação para que os parlamentares definissem se a
votação se daria de forma aberta ou fechada. O resultado foi que mais da metade
do parlamento optou pela votação aberta. Era o início de novas discursões. A
temperatura subiu no parlamento e a pressão em cima do senador amapaense
também. O clima estava tão informal que teve senador dizendo que o presidente
da sessão estava usando um “fraldão geriátrico”, outro parlamentar usando de
bom português sugeriu que a reunião estava parecendo um bordel.
Como vergonha pouca em Brasília é prejuízo, Kátia Abreu
(PDT/TO), visivelmente a mando de Renam Calheiros (MDB/AL), subtraiu do senador
amapaense a pasta que estavam as questões de ordem, deixando Alcolumbre com uma
expressão mais fleumática que o habitual e interrompendo a condução dos
trabalhos. - Me pergunto se mais tarde a senadora irá justificar sua atitude
antiética dizendo que estava com síndrome de Gurgel: “Eu bebo. Estava de ressaca”.
Síndrome criada para homenagear um deputado do Amapá que ficou conhecido como
deputado da ressaca.
Com discursos xerocopiados, ataques pessoais, empurra aqui e
acolá, se tocassem a música tema do seriado A Grande Família, encaixaria-se
perfeitamente na dramatização dos senadores.
Após muita conversa flácida para gado bovino repousar,
adiou-se a sessão para hoje, por volta das 11h:00. A novidade é que o
presidente do supremo atendeu a uma manifestação do grupo do senador Renan
Calheiros e determinou que a votação para presidente do congresso seja
realizada por voto secreto, respeitando o regimento interno, além de que
Alcolumbre não poderá presidir, passando ao senador José Maranhão (MDB-PB) a
tarefa de condução dos trabalhos.
Certa vez um parlamentar disse que o Senado Federal poderia
ser comparado a um baile de debutantes, enquanto a Câmara seria um baile funk.
Ontem, os papéis se inverteram, a câmara reelegeu Rodrigo Maia como presidente
da casa em tom harmônico, enquanto o Senado teve sede de cultura popular e fez
um baile funk digno de favela não pacificada. Resta-nos saber qual som tocará
no Senado logo mais. Esperamos que seja o da democracia, da ética, do bom senso
e do respeito.

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