domingo, 3 de fevereiro de 2019

CORUJA RETÓRICA - BRUNO BELÉM


Fogo em Brasília.

Bruno Belém

Foi-se o tempo que Brasília era a capital da diplomacia, dos bons ventos e da ordem. Na contemporaneidade, a capital do Brasil parece uma selva: onde raposas, lobos, serpentes e coelhos vivem em desarmonia e lutando por sua subsistência.

Enquanto o presidente da república, Jair Bolsonaro, recupera-se de uma cirurgia, no Hospital Albert Einstein, tudo tem acontecido: nas redes sociais, o General Mourão, Vice Presidente, foi elogiado até pela esquerda e criticado pelos mais conservadores ao ponto de ser entitulado como “novo símbolo da esquerda no Brasil”; Do outro lado, Marco Aurélio, ministro do STF, manteve as investigações que apontam transações anômalas de Fabricio Queiroz, ex-assessor de Flavio Bolsonaro; porém, nada foi mais intenso que a cerimônia de posse dos novos senadores, ontem, no Senado Federal. O senador amapaense Davi Alcolumbre (DEM/AP) sentou-se à mesa por volta das 10h:00, não respeitando as formalidades exigidas, iniciou os trabalhos sem nem mesmo pedir que os colegas tomassem seus lugares, fato ironizado pelo senador Renan Calheiros (MDB/AL). Após atrapalhar a ritualística, Alcolumbre resolveu inovar, levando para proferir o juramento, o mais velho senador do primeiro estado, como de costume, e também o mais novo senador da casa, fato jamais visto.

O clima era de congraça até que iniciou-se a segunda reunião, destinada aos preparativos da eleição do novo presidente do congresso nacional. Anteriormente, o Senador Randolfe Rodrigues (REDE/AP) havia apresentado uma questão de ordem solicitando que a votação fosse aberta, não prestigiando o regimento interno que determina, no artigo 60, que a eleição deve realizar-se em “escrutínio secreto”. Logo após o início da segunda reunião, muito se discutiu a legitimidade do senador do DEM para presidir a sessão. Tentando ser democrático, Davi abriu votação para que os parlamentares definissem se a votação se daria de forma aberta ou fechada. O resultado foi que mais da metade do parlamento optou pela votação aberta. Era o início de novas discursões. A temperatura subiu no parlamento e a pressão em cima do senador amapaense também. O clima estava tão informal que teve senador dizendo que o presidente da sessão estava usando um “fraldão geriátrico”, outro parlamentar usando de bom português sugeriu que a reunião estava parecendo um bordel.

Como vergonha pouca em Brasília é prejuízo, Kátia Abreu (PDT/TO), visivelmente a mando de Renam Calheiros (MDB/AL), subtraiu do senador amapaense a pasta que estavam as questões de ordem, deixando Alcolumbre com uma expressão mais fleumática que o habitual e interrompendo a condução dos trabalhos. - Me pergunto se mais tarde a senadora irá justificar sua atitude antiética dizendo que estava com síndrome de Gurgel: “Eu bebo. Estava de ressaca”. Síndrome criada para homenagear um deputado do Amapá que ficou conhecido como deputado da ressaca.
Com discursos xerocopiados, ataques pessoais, empurra aqui e acolá, se tocassem a música tema do seriado A Grande Família, encaixaria-se perfeitamente na dramatização dos senadores.

Após muita conversa flácida para gado bovino repousar, adiou-se a sessão para hoje, por volta das 11h:00. A novidade é que o presidente do supremo atendeu a uma manifestação do grupo do senador Renan Calheiros e determinou que a votação para presidente do congresso seja realizada por voto secreto, respeitando o regimento interno, além de que Alcolumbre não poderá presidir, passando ao senador José Maranhão (MDB-PB) a tarefa de condução dos trabalhos.

Certa vez um parlamentar disse que o Senado Federal poderia ser comparado a um baile de debutantes, enquanto a Câmara seria um baile funk. Ontem, os papéis se inverteram, a câmara reelegeu Rodrigo Maia como presidente da casa em tom harmônico, enquanto o Senado teve sede de cultura popular e fez um baile funk digno de favela não pacificada. Resta-nos saber qual som tocará no Senado logo mais. Esperamos que seja o da democracia, da ética, do bom senso e do respeito.

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