DIÁRIO DE BORDO
Saímos de Belém às 11 e 11. Bem apertado o nó desta viagem.
Mas largamos de Belém. Eu Telma Circe e uma boa centena de passageiros rezando
falando bebendo ou encolhidos na rede pensa contabilizando flatulências.
Logo o almoço estará
servido no primeiro piso a 15 reais o prato com direito a suco muito suco. Mais
5 reais e uma poquequinha de açaí. Aqui tem de tudo e tudo custa os olhos da
cara.
Para mim o Breno é um caso de amor que vem de uns cinco anos.
A Branquinha já pegou o bonde andando e já sabe que atrás da escada do terceiro
convés não faz muito calor e tem café.
Circe é cúmplice. Caladinha ela sabe que se não fizer barulho
passará desapercebida. Caso contrário será conduzida até o primeiro convés onde
será fichada caninamente e dividirá espaço com motos carros geladeiras outros
cães paneiros de açaí e ubuçu e uma cobra que nem consta no rol de animais a
bordo.
Tem um sujeito de branco exibindo enorme âncora no peito sob
a sigla SUNAMAM. Ele me manda vestir a camisa e eu o mando à merda que não sou
pão dos outros nem estou aqui pra capinar sentado!
Estrada Nova. Os motivos da parada não são claros
principalmente para os que têm pressa de chegar e seguir viagem Compromissos
afora.
Baía do Arrozal. A média é sessenta metros de profundidade e
cerca de duas horas e meia de travessia. E o Breno tranquilo e calmo em busca
do horizonte. Um santo qualquer nomeia a serraria de onde voam rabetas com
meninos e meninas mendicantes de pão e vestimenta. Breno satisfaz a quase
todos. Correm por aqui boatos de que 2 litros de óleo Diesel compram a
inocência de filhas da floresta. Os pais tudo sabem mas o combustível é escasso
e necessário. E à torpeza dos homens não se impõe limites.
É noite na Amazônia mas Breno tem visão noturna. Lucérnagas
de fartas cores o cercam e são cúmplices
neste navegar. Luzes de bombordo e
boreste avisam que Breno tem largura suficiente para passar à frente.
O possante facho de luz rasga ao meio a escuridão. As árvores
da margem troncos flutuantes e até mesmo trevinhos de Mururé alertam Mestre e
Contramestre que corrigem a rota regulando velocidade e prumo.
Seis e trinta e nove. O último dia de agosto espia cauteloso
por entre as folhas da espetacular castanheira. Açaizeiros emolduram a cena.
Serviram o café da manhã. O bom e velho pão com manteiga café
com leite mingau de milho melão maçã e banana Prata. O sol é quente e a água
faiscante é um paraíso de gaivotas.
Oito e quarenta. As águas têm gosto e cheiro bons. Águas
barrentas que afluem do Amazonas e têm cheiro e gosto de Laguinho e Santa Rita.
De trem e Pacoval. De tribos tucujuranas e caruanas criaús.
Onze horas. Adentrando a Baía da Cidade. Macapá ainda é um
pequeno risco pouquinho menos cinza no horizonte. As Três Marias e a Torre do
Tio Duca. Acolá um edifício inexistente na paisagem da última chegada.
Sinistras silhuetas de navios piratas. São os homens maus com
seus canhões bombeando nossa água doce para lastrear seus porões deixando em
troca uma salmoura que mata nossos peixes e afoga nossas samaúmas.
Estou de volta Santana para teus braços abertos! De volta
para tua eterna multidão de putas escreventes engraxates jogadores de porrinha
jesuitas um mergulhão entontecido e um telhado imenso de madeirite onde se lê
em fonemas de quatro metros por um e quarenta e cinco :Peter Von Schupemberg.
De volta para Santa Ana de olhos enormes abençoando
Alessandra Pantoja que vai ter criança e o Dr. Richardson Salomão a postos mode
carregar as bagagens.
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