Caixa 2 é o crime eleitoral mais
apurado pela PF
Por: Agência Estado
O caixa 2 foi o crime eleitoral mais
investigado em 2018 pela Polícia Federal no País. Ao todo, o órgão abriu 1.188
investigações sobre esse delito, que representam 42% do total de apurações,
superando a corrupção eleitoral, a chamada compra de votos (354 casos). Os
dados da Divisão de Assuntos Sociais e Políticos da PF mostram ainda que, ao
todo, foram instaurados no Brasil 2.792 inquéritos por crimes eleitorais no ano
passado, um aumento de 150% em relação às eleições de 2014.
Os dados foram obtidos pelo Estado por
meio da Lei de Acesso à Informação. "O caixa 2 é uma exceção na Justiça
Eleitoral, em que a maioria dos crimes ainda é de pouca expressão, casos
periféricos ou cometidos no interior, como a compra de votos", afirmou o
procurador da República Pedro Barbosa Pereira Neto, que atua em São Paulo na
área eleitoral. Entre 2006 e 2016, a maioria dos procedimentos eleitorais
abertos pela PF estava relacionada à acusação de compra de voto.
No entanto, é Justiça Eleitoral que
deverá ter a atribuição, segundo decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal
(STF), de analisar todos os casos de corrupção cometidos em razão das eleições.
Previsto no artigo 350 do Código
Eleitoral (Lei 4.737/65), o caixa 2 é punido com até cinco anos de prisão,
sendo agravada quando o autor é funcionário público. "A investigação sobre
caixa 2 é mais técnica. Deve-se fazer a prova da movimentação financeira e
compará-la com o que foi declarado à Justiça Eleitoral", afirmou o
delegado Edvandir Paiva, presidente de Associação dos Delegados de Polícia
Federal. Para ele, não é só o caixa 2 que é um crime difícil de ser comprovado.
O mesmo acontece com a compra de votos. "Quase sempre você só consegue a
materialidade dela quando existe o flagrante."
O ex-juiz do Tribunal Regional
Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) André Jorge concorda que o problema é a
dificuldade em se encontrar provas de caixa 2. "Ninguém comete crime de
caixa 2 à luz do dia."
Em razão das dificuldades para tornar
uma investigação em um processo criminal, o Ministério Público Eleitoral tem
apostado em ações pedindo a cassação dos mandatos dos infratores eleitos.
"Isso é muito mais efetivo do que se brigar pela condenação criminal, que
só vai tornar o político inelegível no futuro, em razão da Lei da Ficha
Limpa", afirmou o procurador.
Dificuldade
A dificuldade para a apuração dos
crimes eleitorais pode ser medida por outro dado obtido pelo Estado. A Polícia
Federal demora em média um ano para concluir a investigação de uma denúncia de
crime eleitoral. O total de casos solucionados em cada ano representa em média
90% do número de inquéritos abertos para apurar esses crimes. Em 2018, por
exemplo, em 58,2% dos casos não foram encontrados indícios da existência do
crime ou de sua autoria. Em 34,3%, os acusados foram indiciados.
Para o delegado e o procurador, uma das
razões principais para isso acontecer é o denuncismo eleitoral. Políticos
adversários se denunciam mutuamente para usar as investigações em seus
palanques. "Tudo para provocar desgaste no adversário", disse o
procurador.
O número de casos concluídos com o
indiciamento de acusados, no entanto, vem crescendo no País. Em 2015, eles
somavam 26,8% do total e, neste ano, já são 35% - em menos de 3 meses já foram
abertas 609 investigações pela PF.
Para o advogado Anderson Pomini,
especialista em direito eleitoral e ex-secretário municipal de Justiça de São
Paulo, esses números jogam por terra o argumento que a Justiça Eleitoral tem
estrutura para julgar os crimes eleitorais. Para ele, "a Polícia Federal
não está conseguindo dar vazão". "Não tem estrutura. Os crimes
eleitorais, na ordem de importância da PF, se tornam subsidiários."
No caso da Justiça Eleitoral, o
Ministério Público Eleitoral tem em São Paulo apenas 2 procuradores da
República - nos outros Estados há apenas um procurador designado para os
tribunais eleitorais. "O STF quis nos colocar como responsáveis pelo
combate à corrupção no País. Estamos sobressaltados sobre o que vai
acontecer", afirmou o procurador da República. Para ele, a Justiça
Eleitoral sempre foi uma jurisdição de menor importância.
Além do caixa 2 e da compra de votos,
os crimes que mais foram investigados no País em 2018 foram o registro falso de
eleitor, a propaganda ilegal e a violação do sigilo do voto. Em terceiro lugar
no ranking, o registro falso de eleitor provocou a abertura de 275 inquéritos,
seguido pela propaganda irregular (258) e pela violação do sigilo, com 81 casos
- crime ligado ao fenômeno do uso de celular para fotografar a urna eletrônica.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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