quarta-feira, 27 de março de 2019

Publicação sobre espécies de peixes vão subsidiar políticas públicas para o setor no Amapá

Livro faz um levantamento das espécies existentes no Parque Nacional do Cabo Orange e de que forma é feita a captura por pescadores da região.
Por: Ailton Leite
 

 Foto: Irineu Ribeiro / Secom
Livro lançado nesta quarta-feira apresenta, inclusive, quais espécies estão ameaçadas de extinção
54 espécies de peixes encontrados na zona costeira do parque Nacional do Cabo Orange agora estão catalogadas com informações científicas, descrição, hábitos e status de conservação inseridas em um livro lançado nesta quarta-feira, 27, no auditório da Universidade do Estado do Amapá (Ueap).
O livro “Peixes da Zona Costeira do Parque Nacional do Cabo Orange, Estuário Amazônico, Amapá, Brasil”, é fruto de um trabalho desenvolvido por uma oceanógrafa da Agência de Pesca do Amapá (Pescap), de professores do curso de engenharia de pesca da Ueap e de acadêmicos, que durante dois anos, fizeram o levantamento e estudo das espécies catalogadas na publicação.
Trata-se do primeiro livro publicado sobre o assunto no Amapá e a ideia dos organizadores é ampliar o trabalho para outras espécies que não foram inseridas nesta primeira edição. Segundo a oceanógrafa e analista de meio ambiente da Pescap, Érica Jimenez, o livro é resultado de um projeto chamado Plano de Ação Sustentável, Ações para Gestão Participativa da Pesca no Norte do Amapá, com financiamento do Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA), em parceria do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
“O objetivo do projeto era fazer um levantamento das espécies de peixes que ocorrem dentro do parque, assim como o mapeamento das áreas de pescas junto com os pescadores, ou seja, uma descrição da pesca e da situação socioeconômica desses pescadores”, relatou a oceanógrafa.
Por se tratar de uma unidade de conservação de proteção integral, o parque é um importante berçário, que serve para crescimento e reprodução de diversas espécies. Também é considerado sensível e vulnerável, inclusive, com espécies ameaçadas de extinção. Por isso, a pesca no local não deveria ser permitida.
Porém, a oceanógrafa explicou que, como já existiam pescadores e comunidades tradicionais que atuavam na referida área antes da criação do parque, um Termo de Compromisso, mediado pelo Ministério Público Federal (MPF), permite a pesca somente aos pescadores do município de Oiapoque.
O livro, que não será comercializado, é uma síntese de todas as espécies que a equipe conseguiu capturar durante a pesquisa como a pescada amarela, uritinga, bagre, robalos, vários tipos de arraias, dourada, piramutaba e até um tubarão-martelo, entre outros. Ele será distribuído para instituições de ensino e de pesquisas, e organizações de pescadores.
“O livro tem a função de difundir, de divulgar o conhecimento que temos sobre o parque, que ainda é uma área com poucas informações biológicas e econômicas. Queremos que as pessoas, tanto da área acadêmica, como aquelas que não estão inseridas neste contexto, possam conhecer um pouco do que tem no parque”, ressaltou Jimenez.
A professora do curso de engenharia de pesca da Uepa, Marilu Amaral, participou de duas das seis coletas e afirma que a maior dificuldade para a realização das pesquisas foi o acesso à região costeira do parque, que engloba toda a costa de Oiapoque e 70% do município de Calçoene.
“Fiquei onze dias embarcada e, para quem não é acostumada a isso, é bem complicado. Foi um trabalho difícil, por conta de ir ao local, coletar material e trazer para a capital, onde foram feitas todas as análises, imagens, que hoje fazem parte deste catalogo, porém, todo o sacrifício foi gratificante”, detalhou Amaral.
O engenheiro de pesca da Pescap, Ricardo Medeiros, que atua na região de Oiapoque, afirmou que o trabalho é de grande relevância para o setor o pesqueiro e vai corroborar com a tese de direito transfronteiriço que discute permissão aos brasileiros de pescarem em águas guianenses, o que atualmente não é permitido.
“Os sistemas biológicos dessas espécies têm um fluxo de migração Amapá/Guiana, através das correntes marítimas do norte do Brasil, e as informações contidas neste livro vão embasar políticas públicas de acordos bilaterais entre os dois países. A liberação da pesca em território francês vai ajudar no ordenamento pesqueiro de ambos os lados”, destacou Medeiros.
O diretor-presidente da Pescap, Edson França, ressaltou que a costa amapaense possui uma potencialidade grande de espécies de pescados e conhecer isso é importante para que se debatam políticas voltadas para o fortalecimento do setor, um dos mais importantes para a economia local.
“Com o livro, temos algumas espécies catalogadas. Agora, precisamos fazer o monitoramento para saber qual a capacidade de peixes que nós ainda temos na costa do Amapá, saber para onde esse peixe está indo, como ele sai, conhecer um pouco mais sobre a grude [bexiga natatória do peixe], que também é um trabalho novo que colocamos como um desafio para os pesquisadores do setor. Temos que saber de que espécies são retiradas, pra onde vai esse material, o que fica no Estado. Tudo isso pensando em potenciar isso e ordenar essa pesca na costa amapaense para que isso gere desenvolvimento econômico e social ao Amapá”, finalizou França.

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