‘INTOLERÂNCIA RELIGIOSA’
Pai Salvino denuncia agressão ao seu terreiro nas Pedrinhas
Manifestantes
pentecostais teriam cometido ataques verbais desairosos ao tradicional terreiro
no bairro das Pedrinhas. No
Brasil, a discriminação religiosa é crime e desde 27 de dezembro de 2007 e
celebra-se o "Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa" em 21
de janeiro. A chave para combater a intolerância religiosa é o conhecimento e o
respeito. Afinal, mesmo que uma pessoa não concorde com sua crença ela tem os
mesmos direitos que você para praticá-la.
Reinaldo Coelho
A
intolerância religiosa é caracterizada quando uma pessoa ou um grupo, não
aceita a religião ou crença de outro indivíduo. Tal atitude se manifesta desde
as críticas em âmbito privado, as piadas, agressões verbais e físicas, ataques
aos locais de culto e até ao assassinato. E foi isso que aconteceu na última segunda-feira
(24), no Bairro das Pedrinhas, Zona Sul de Macapá.
De acordo
com o pai de santo Pai Salvino as agressões foram de forma verbal, praticada
por integrantes da igreja pentecostal que recentemente foi instalada nas
Pedrinhas, perto do terreiro. (veja vídeos).
Membros da Igreja Pentecostal fazendo manifestações em frente ao Terreiro de Pai Salvino |
O
babalorixá registrou na Delegacia de Polícia Civil do Araxá Boletim de
Ocorrência (BO) denunciando o que ele chama de intolerância religiosa praticada
contra o seu terreiro no bairro das Pedrinhas, durante homenagem que a São
João, segunda-feira, 24, à noite.
Alessandro
Brandão, do Movimento Juventude de Terreiro completou a informação dizendo que
os manifestantes pentencostais, em tom agressivo, disseram palavras pejorativas
a Pai Salvino e falaram mal das entidades do terreno.
Professor
Moraes representando
o Núcleo de Direitos Humanos da Unifap, qualificou o ocorrido como intolerância
religiosa com discurso de ódio. Para ele, o ato atacou a própria segurança
jurídica e que o caminho é a judicialização.
Pai Salvino ainda disse temer o que poderá acontecer dia 29 próximo, quando em seu terreiro acontecerá o tradicional Tambor de Mina, evento tradicional que já dura 33 anos. É que os manifestantes do Dia de São João prometeram ocupar a praça em frente ao terreiro, dia 29, numa manifestação com potente sistema de som.
Intolerância
é histórica contra os terreiros no Brasil
A
intolerância religiosa no Brasil começou com a chegada dos portugueses. E
tem se intensificado atualmente com a pregação nas igrejas novas pentecostais.
No Brasil Colônia o catolicismo não admitia nenhuma
outra religião que não fosse a católica, as crenças dos indígenas passaram a
ser vistas como maléficas e, portanto, desprezadas.
Com a chegada dos negros que foram escravizados a
mesma atitude se repetiu. Para escapar da perseguição dos senhores e do clero,
os negros usavam as imagens dos santos católicos em suas cerimônias quando na
verdade estavam cultuando seus orixás. Assim começou a relação entre o
sincretismo e as religiões afro-brasileiras.
Durante o
Império, a religião católica foi declarada oficial pela Constituição de 1824.
Isso queria dizer que nenhuma outra religião poderia realizar cultos públicos.
Igualmente, os locais destinados às reuniões não poderiam ter, externamente,
símbolos que identificassem como um templo.
Com a abertura dos portos às nações amigas e a
chegada de vários ingleses ao Brasil, esta política foi revista na prática.
Afinal, os ingleses, protestantes, tinham que ser
enterrados em cemitérios diferentes dos católicos. Em várias cidades do Brasil
é comum a existência de um “Cemitério dos Ingleses” destinado aos protestantes
de várias denominações e judeus.
No Segundo Reinado, o aumento da imigração alemã
proporcionou a vinda de pastores luteranos que abriam seus templos para atender
as novas comunidades.
Um caso emblemático é o da Igreja Luterana de
Petrópolis cujo próprio imperador Dom Pedro II contribuiu para sua construção.
Com a chegada da república houve a separação da
Igreja e o Estado consagrada na Constituição de 1891. Em 1903 é revogada a lei
que impedia templos não católicos de terem características de “igreja” e desta
maneira são levantados vários locais de culto cristão.
Isso não quer dizer que a intolerância religiosa
tenha acabado, pois a própria Igreja Católica teve vários bens confiscados pelo
governo.
Também há casos de perseguição do clero católico
aos pastores batistas e metodistas.
No entanto, quem mais sofria intolerância religiosa
eram as religiões de matriz africana. Perseguidas pela polícia, os praticantes
deviam esconder-se ou suportar invasões e penas de prisão por estarem reunidos
em suas cerimônias religiosas.
Recentemente, as igrejas neopentecostais estão
cometendo atos de vandalismo contra a Igreja Católica e as religiões
afro-brasileiras.
Já foram registradas destruição de imagens de
santos em templos católicos, bem como ataques em terreiros de candomblé e
umbanda.
No Mundo
A intolerância religiosa pelo mundo se mostra
evidente contra os judeus, povo monoteísta no meio de tribos que praticavam o
paganismo.
Igualmente, o Império Romano se mostrou intolerante
face ao crescimento do cristianismo em seu território perseguindo e matando
cristãos.
Entretanto, uma vez que foi legalizado e admitido
como religião do Império, é a vez dos cristãos se tornarem intolerantes com os
pagãos, judeus e, mais tarde, os muçulmanos.
Atualmente, a intolerância religiosa no mundo se
manifesta em países que adotam o islamismo como religião oficial. Nestes
países, é comum os cristãos estarem proibidos de praticarem sua fé e serem
condenados por isso.
Da mesma forma, um grupo de muçulmanos radicais,
decidiu exterminar pessoas que não seguem a mesma linha de pensamento. Isso
vale tanto para pessoas de outras religiões como para muçulmanos moderados.
Tolerância
No Brasil, a discriminação religiosa é crime e
desde 27 de dezembro de 2007 e celebra-se o "Dia Nacional de Combate à
Intolerância Religiosa" em 21 de janeiro. A chave para combater a
intolerância religiosa é o conhecimento e o respeito. Afinal, mesmo que uma
pessoa não concorde com sua crença ela tem os mesmos direitos que você para
praticá-la.
STF
Os ministros do STF, em um
decisão polemica onde criaram o crime de
racismo homofóbico. Fizeram uma ressalva importante e que se adequa a atual
manifestação de intolerância religiosa.
A repressão penal à prática
da homotransfobia não alcança nem restringe ou limita o exercício da liberdade
religiosa, qualquer que seja a denominação confessional professada, a cujos
fiéis e ministros (sacerdotes, pastores, rabinos, mulás ou clérigos muçulmanos
e líderes ou celebrantes das religiões afro-brasileiras, entre outros) é
assegurado o direito de pregar e de divulgar, livremente, pela palavra, pela
imagem ou por qualquer outro meio, o seu pensamento e de externar suas
convicções de acordo com o que se contiver em seus livros e códigos sagrados,
bem assim o de ensinar segundo sua orientação doutrinária e/ou teológica,
podendo buscar e conquistar prosélitos e praticar os atos de culto e respectiva
liturgia, independentemente do espaço, público ou privado, de sua atuação indiv
idual ou coletiva, desde que tais manifestações não configurem discurso de
ódio, assim entendidas aquelas exteriorizações que incitem a discriminação, a
hostilidade ou a violência contra pessoas em razão de sua orientação sexual ou
de sua identidade de gênero.”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário